NBA perde tempo mudando formato do All-Star Game

Constantes reformas na forma do evento não conseguem atacar problema real do Jogo das Estrelas

nba all-star game Fonte: Reprodução / Instagram

As mudanças de formato do All-Star Game da NBA já começaram a virar uma tradição. Afinal, a cada dois ou três anos, surge um novo modelo de disputa para mexer com as bases do jogo. Essa alteração tornou-se necessária nos últimos tempos porque a festa virou uma coisa impossível de assistir. Até para os norte-americanos, que adoram um show de “tapinha nas costas” coletivo, o negócio desandou.

Eu entendo o esforço da liga em propor mudanças, pois esse é o seu papel. A NBA tem que tomar ações que mostrem que se importa com o Jogo das Estrelas. Por que você assistiria a um evento que nem o próprio organizador se esforça para melhorar? Mas, nos bastidores, todos já anunciam essas alterações sabendo que a tendência é não funcionar. Ou, na melhor das hipóteses, funcionar só no primeiro ano.

Mudar o formato, em síntese, significa “sacodir” só a superfície. E isso nunca é o ideal para a alteração significativa. Mas não digo isso como uma crítica à NBA. É o que os organizadores, a princípio, podem fazer. Quando discutimos o que vai acontecer em quadra, o jogo em si, o modelo de disputa é o limite em que o controle da liga para. Dirigentes não entram em quadra.

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Mas o real problema do All-Star Game está no conteúdo. Ou seja, no resultado entregue pelos seus protagonistas. Se eles não querem ou não estão motivados a entregarem um produto bom, para resumir, não vai rolar. Algo ruim, não importa a embalagem em que venha, não deixa de ser ruim.

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Jogadores

Mudar o formato, antes de tudo, não muda a forma como os jogadores da NBA encaram o All-Star Game hoje. E esse é um grande problema. Desde o começo, essa é a questão que gera valor para a partida festiva. Ela existe, a princípio, como celebração e presente da liga para os seus torcedores – que votam em quem vai jogar. Mas o seu valor estava no espírito competitivo que os eleitos colocavam em quadra.

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Afinal, do ponto de vista da temporada, o Jogo das Estrelas nunca valeu nada. Há bônus contratuais dos atletas atrelados ao evento, mas isso não os obriga a competir. Ou seja, tudo girava em torno do desejo pessoal dos melhores competirem contra os melhores e vencerem. Era algo mais essencial do que dinheiro ou prêmios. É um senso que (quase) não existe mais.

A questão, de certa forma, reflete o momento que vivemos na liga e o empoderamento dos jogadores. A postura de alguns atletas e respostas às críticas do público ao evento mostram pessoas que creem estar fazendo um favor aos fãs entrando em quadra. Eles podem entregar um produto qualquer, pois, em suas visões, somos privilegiados por poder vê-los em um aquecimento glorificado.

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Lembra, em certo nível, a seleção brasileira de futebol cobrando apoio porque os atletas abrem mão de dias de descanso para defendê-la. “Estamos fazendo um favor a vocês, então aceitem qualquer coisa que entregamos”.

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Mundo diferente

Mas a postura dos jogadores também tem os seus motivos. O fato é que vivemos em um mundo diferente de outros tempos e, com isso, o All-Star Game perdeu significado como evento da NBA. O que era uma ocasião única e especial, por várias razões, virou só mais um jogo dentro de um calendário inchado. E o único benefício para os atletas está na semana de descanso que traz.

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Antes, as chances de grandes astros atuarem pelo mesmo time ou estarem todos juntos eram bem raras. Por isso, o Jogo das Estrelas tinha muito valor para os fãs e os atletas. Isso mudou demais nos tempos atuais, em um processo sem volta. Jogadores treinam juntos nas férias. A seleção dos EUA tem períodos de treinos e torneios quase sempre. E, acima de tudo, astros pedem para serem trocados e atuarem com outros o tempo inteiro.

O sentido do All-Star Game como uma festa estava nessa reunião dos melhores. E, com menos acesso aos jogos, era a chance dos torcedores verem alguns atletas a que nem tinham acesso. Mas, hoje, será que isso ainda se justifica?

Além disso, como já citado, você precisa levar em conta o calendário. A diminuição de jogos da temporada não é uma discussão tão realista, mas está sempre em pauta. Os atletas, contanto que não mexa em seus salários, querem isso. Então, como justificar “pisar no acelerador” em um jogo que – na prática – não vale nada? Na era do load management, o Jogo das Estrelas virou um inimigo dos jogadores.

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Agregar valor

A solução óbvia para recuperar o All-Star Game seria a NBA “agregar valor” ao evento. Ou seja, criar motivos para que seja competitivo a fórceps. Outras ligas fizeram isso e há alguns resultados positivos. É o que impulsiona os fãs que defendem que o jogo valha, por exemplo, mando de quadra nas finais. Já fiz parte desse grupo, mas percebi que estava errado.

Não dá para entregar uma vantagem crucial para os rumos da competição a uma partida festiva. É loucura pensar que LaMelo Ball, digamos, teria influência se o Boston Celtics conseguiria mando de quadra nas finais do ano passado. Os atuais campeões, afinal, tiveram absurdos sete jogos de vantagem sobre qualquer outro time da liga na temporada passada. Isso seria justo?

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É fato que, em menor grau, a NBA já promove esse tipo de injustiça nos últimos anos. E também por uma questão mercadológica. O play-in, em síntese, é uma forma que a liga encontrou de aumentar as suas rendas ignorando o aspecto competitivo. Permite que o décimo colocado de uma conferência, depois de ter várias vitórias a menos por meses, elimine o sétimo em uma noite.

Mas isso precisa ser a exceção, não a regra. No fim das contas, não há cabimento em correr o risco de comprometer os resultados da temporada inteira para salvar um jogo festivo.

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Hipocrisia

A reação da maior parte dos jogadores da NBA ao novo formato do All-Star Game, por enquanto, não foi boa. Era esperado, pois quem fala mais é quem não concorda. E as críticas, não elogios, são o que costuma virar notícia. Os astros Kevin Durant e Devin Booker, por exemplo, estiveram entre aqueles que reprovaram. Ambos disseram que gostariam da volta do tradicional duelo entre as conferências Leste e Oeste.

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A declaração é irônica. Uma grande hipocrisia, na verdade, pois esses jogadores falam com saudades de uma tradição que ajudaram a destruir. Durant e Booker estavam em quadra no Jogo das Estrelas do ano passado, atuando mais de 19 minutos cada um. E, assim, fizeram parte do espetáculo lamentável que forçou a mudança para um formato que agora criticam.

Antes do jogo do ano passado, a NBA levou as lendas Larry Bird e Julius Erving para os vestiários para conversarem com os atletas. Eles enfatizaram a importância de entregar um jogo competitivo para os fãs. Mais do que isso, mostrar esforço à altura da história do evento. A resposta desses jogadores, que tanto prezam a tradição, foi uma partida com quase 400 pontos e 170 arremessos de três.

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Os jogadores não são os únicos culpados, mas são os maiores e não podem reclamar das mudanças. Isso só acontece porque a NBA e os seus torcedores não esqueceram o que eles fizeram no verão passado.

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Hipocrisia 2

Quando falamos da situação atual do All-Star Game, no entanto, é ingênuo não analisar os “fãs” da NBA também. Na era das redes sociais, a participação deles no fracasso do evento também precisa ser avaliado. Esses meios de emitir opinião incentivam o lado mais ácido das pessoas. E, ao mesmo tempo, é curioso ver como alguém pode cobrar que os outros valorizem o que ele próprio desvaloriza.

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O mesmo público que critica a falta de competição do Jogo das Estrelas, muitas vezes, é aquele que ajuda a minimizá-lo. Geralmente, escondido no argumento de que só vale ser campeão. São eles que debocham de jogadores que fazem campanha, por exemplo, para entrarem na partida festiva. Além disso, ironizam aqueles que reclamam por terem sido ignorados.

Quando algum atleta que não gostam ganha como MVP do jogo, eles são os primeiros a dizerem que não vale nada. Jayson Tatum, em 2023, foi um exemplo disso. “Mas o que importa é o título”, dizem. Ora, como pedir que os jogadores levem a sério um evento que você menospreza? O atleta vai ser criticado se esforçando ou não, então para que esforço?

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Isso expõe, aliás, um problema essencial do All-Star Game no cenário contemporâneo da NBA. A partida deveria ser um presente da liga – para tirar dinheiro, mas um presente – e dos seus maiores astros para o público. Mas, em 2025, será que o público ainda quer ou precisa disso?

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Conclusão

A NBA, certamente, está correta em se mexer para tentar salvar o All-Star Game. E acho que o novo formato, com um playoff entre quatro elencos, é uma ideia razoável. Ter mais de dois times, para começar, divide mais os jogadores e aumenta a importância de cada um. A inclusão do vencedor do Rising Stars Challenge, por sua vez, inclui uma equipe jovem que pode estar mais motivada a jogar a sério no domingo.

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Mas, no fim das contas, tudo depende da boa vontade dos jogadores. Esse é o problema essencial, pois tudo indica que vão ignorar o aspecto competitivo da partida. E, de certa forma, ninguém pode criticá-los por isso. O torcedor deve torcer para que o placar fique equilibrado até o fim. Assim, às vezes, alguns atletas até podem se motivar para jogar sério por uns minutos.

No ano passado, Anthony Edwards foi criticado depois de dizer que nunca vai competir pesado no Jogo das Estrelas. Mas, talvez, a sua sinceridade devesse ser valorizada em uma situação que parece não ter salvação.

Por isso, a aposta segura é em um jogo bem “chapa branca”. Todos os atletas vão dar risada, comemorar, cumprimentar uns aos outros em quadra. E o público deve terminar com aquela sensação de um filme que todos os atores se divertiram filmando, mas não tem graça nenhuma. A embalagem é bonita, mas o conteúdo é uma bosta.

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