Quem acompanha o Jumper Brasil já notou que a relação entre os jogadores da NBA e a imprensa está virando uma guerra. Há uma crescente tensão e, como resultado, cada vez mais notícias de um lado atacando o outro. Os atletas detonam a qualidade e rumo da cobertura da liga. Enquanto isso, os profissionais de mídia – que, vale lembrar, nem sempre são jornalistas – acusam os atletas de não saberem lidar com críticas.
Essa é uma troca de acusações, a princípio, previsível e vazia. Os dois lados têm parte da razão, mas não estão dispostos a olharem para os próprios problemas. A imprensa não ensinará os atletas a jogarem basquete, assim como os atletas não vão ensinar a mídia a cobrir a liga. Ou seja, a tendência é que essa rixa só aumente – e siga sem solução. Uma guerra fria, digamos assim.
Mas, mesmo vazia, a troca de acusações começa a ter efeitos práticos. Nós já tivemos uma prova clara dessa quebra de relação no último mês. LeBron James confrontou o analista Stephen A. Smith dentro de quadra por causa de um comentário sobre o seu filho, Bronny. Esse foi um passo além (e perigoso) em comparação com as trocas de farpas já comuns dos dois lados no dia a dia.
Leia mais sobre LeBron James
- Lenda da NBA critica e pede multa a LeBron James
- Barbie lança boneco Ken inspirado em LeBron James
- Shaquille O’Neal questiona longevidade de LeBron James
O comentário mais emblemático que li sobre esse assunto, curiosamente, não veio de uma discussão sobre isso. O autor e jornalista Jack McMullan fez uma rápida reflexão sobre LeBron James e Michael Jordan, em entrevista ao site HoopsHype. E, para mim, sem querer, o integrante do Hall da Fama resumiu a guerra entre os jogadores da NBA e a imprensa atual.
“LeBron é a sua própria empresa desde antes de chegar à NBA. E sempre entendeu isso. Michael, por sua vez, era a pessoa mais poderosa do mundo dos esportes em sua era. Mas era um período pré-internet. Então, ele meio que precisava da Sports Illustrated. LeBron precisa de quem? Ele não precisa de ninguém hoje em dia. Aliás, não precisa nem do próprio basquete ou da liga” (Jack McMullan)
Simbiose
Uma das palavras que melhor resumem a relação entre a imprensa e jogadores da NBA nessas quase oito décadas é “simbiose”. Era uma relação harmônica e funcional, para resumir, entre dois grupos em interação constante. Os atletas ofereciam a imagem e competição, enquanto a mídia dava a plataforma e alcance. Então, o sucesso de um simbolizava o sucesso do outro.
McMullan explica como Jordan, por exemplo, foi um produto direto disso. Os jogadores aproveitavam a visibilidade que a imprensa oferecia para promoverem o seu esporte e serem conhecidos. Dependiam não só de jogos na televisão, mas também de matérias em revistas/jornais e publicidades. Ao mesmo tempo, essa imprensa se alimentava de uma relativa “exclusividade de acesso” sobre os jogadores.
Ou, pelo menos, assim acontecia na época de Jordan. Pois, como McMullan apontou, a internet mudou tudo. LeBron é o símbolo de uma era em que os atletas ganharam os meios para visibilidade. Eles não são só a imagem, mas também a sua plataforma de amplo alcance – redes sociais, sites próprios, assessorias, podcasts… E como fica a simbiose nessa história?
Leia mais sobre Michael Jordan
- LeBron James revela detalhes de relação com Michael Jordan
- Ex-jogador detona críticos de Michael Jordan: “Faz muito em silêncio”
- Magic Johnson revela opinião de Michael Jordan sobre atual NBA
Exploração
O curioso sobre uma simbiose é que, quando uma das partes para de ter um ganho na relação, a outra passa a ser visto como um parasita. Pode não ser, mas assim é visto. E o parasita, em essência, é um inimigo. Esse tornou-se o sentimento dos atletas quando olham a mídia. É um ente que explora as imagens deles, mas, agora, sem dar nada em troca.
Essa sensação se acentua pela comparação do conteúdo próprio com aquele produzido pela imprensa. O primeiro é controlado e direcionado para divulgação da imagem. Por isso, é “chapa-branca”. Afinal, ninguém quer publicar algo que o prejudique. Isso vira um tipo de versão oficial. E, se só se alimentar disso, a mídia passa a ser só mais um meio de veiculação controlado pelo jogador.
A imprensa vira um intermediário desnecessário nessa história, mas vai além disso. A presença dela na equação representa a possível divulgação de conteúdo que não está controlado. É alguém que pode dizer ou mostrar algo que, mesmo positivo, pode não convir para o jogador. Nós temos um choque de interesses aqui e, como resultado, a mídia vira uma ameaça.
Para que?
Um bom exemplo sobre essa postura de guerra dos jogadores da NBA em relação à imprensa aconteceu na semana passada. O pivô Ivica Zubac deu uma entrevista nos estúdios da ESPN que teve uma grande repercussão. Mas, ao ser questionado, o colega Kawhi Leonard não pareceu muito contente com isso. Mais do que isso, com a sua postura habitual, ele minimizou qualquer impacto positivo que pudesse ter.
“Eu não acho nada sobre essa entrevista, pois não assisto ao SportsCenter ou qualquer coisa do tipo. Não sei o que estava fazendo lá. Mas, se Ivica estiver feliz, bom para ele. Só não vejo qual seria o ganho nisso” (Kawhi Leonard)
Leia mais sobre Kawhi Leonard
- Kawhi Leonard volta a ganhar prêmio de melhor da semana na NBA
- Analista culpa Kawhi Leonard por não confiar no Clippers
- “A NBA estava horrível em minha ausência”, opina Kawhi Leonard
Hot takes
Eu sei que, por enquanto, esse texto “pinta” a imprensa como uma vítima “indefesa” de jogadores mimados, né? Mas, obviamente, esse não é o caso. Ela viu a situação e, da mesma forma, teve uma resposta hostil. A verdade é que até o público entendeu que aquela “exclusividade de acesso” da mídia aos atletas acabou. E, por isso, a procura para ver conteúdos diferentes.
Hoje, o conteúdo da cobertura da NBA está cada vez mais focado em opinião. E não só isso: ele é um reflexo dos dias atuais. Ou seja, ela é direta, chamativa, para consumo rápido e com um tom bem crítico. A maior parte do público quer polêmica, pois deseja um jornalismo esportivo que funcione como entretenimento. E, seguindo a tendência global, a imprensa da liga passa a se comunicar por hot takes.
A ESPN deu uma prova na prática dessa postura há alguns meses. A “líder mundial em esportes” dispensou Zach Lowe e, em seguida, já negociava um contrato de US$100 milhões com Stephen A. Smith. Foi uma mensagem bem clara sobre os rumos da sua cobertura, com o interesse do público como cúmplice. É uma imprensa que não quer mais ver o jogo, mas sim socar achismos contra jogadores que a escanteiam.
E o jornalismo?
Vejam que falei bem mais nesse texto sobre imprensa e mídia do que jornalismo em si. E, a princípio, não é difícil entender o motivo. Na disputa entre os dois lados pelos seus interesses, o jornalismo fica “espremido” em um meio termo quase inexistente. E, para ser sincero, vamos dizer uma coisa aqui: o lado dos jogadores não precisa ter nenhum compromisso com isso mesmo.
A imprensa, por outro lado, precisa ter esse compromisso. Mas não é fácil também. Os atletas não só não querem dar qualquer informação que não lhes convenha – como em qualquer época –, mas, agora, veem qualquer um que o faça como um inimigo. Não se pode, além disso, criticá-los de forma alguma.
Enquanto isso, hot takes não podem ser a base de qualquer tipo de jornalismo. O fato é que eles viraram uma parte da cobertura esportiva – viraram um mal necessário, pode-se dizer –, mas não podem ser o pilar. Pois, em essência, costumam representar o total contrário do que deve ser a prática. São rasos, agressivos e, acima de tudo, tem pouco valor como informação. Isso sem contar que, muitas vezes, passam do ponto.
Leia mais sobre Kendrick Perkins
- “Clippers é mais confiável do que Lakers nos playoffs”, dispara analista
- Kendrick Perkins: “Warriors deve tentar troca por Zion Williamson”
- Para Kendrick Perkins, Sixers pode ser maior fracasso da história
Guerra quente
A guerra entre os jogadores da NBA e a imprensa, ao que tudo indica, só vai aumentar. Há vários motivos para isso, mas o principal deles é que o fim da simbiose entre os dois lados é um caminho sem volta. Cada um tende a depender cada vez menos do outro – em particular, os jogadores. E, mais do que isso, uma reconciliação seria abrir mão de poder em uma relação de forças complicada.
O que a gente espera é que essa seja uma guerra fria, assim como aquela entre EUA e União Soviética. Era uma briga declarada, mas que não levou a um conflito direto entre as duas maiores potências militares da época. O que isso significa? Que seja mais Kevin Durant usando contas falsas para rebater críticas nas redes sociais. E menos LeBron “peitando” Stephen A. Smith ou Ja Morant batendo boca com Shannon Sharpe em quadra.
Assine o canal Jumper Brasil no YouTube
Todas as informações da NBA estão no canal Jumper Brasil. Análises, estatísticas e dicas. Inscreva-se, mas dê o seu like e ative as notificações para não perder nada do nosso conteúdo.
E quer saber tudo o que acontece na melhor liga de basquete do mundo? Portanto, ative as notificações no canto direito de sua tela e não perca nada.
Então, siga o Jumper Brasil em suas redes sociais e discuta conosco o que de melhor acontece na NBA