Os pedidos de troca de astros viraram uma notícia comum na NBA. A impressão é que sempre existe um craque descontente e, por isso, forçando a saída da equipe em que está. A mídia agradece, pois a “máquina” de rumores e especulações não para. As franquias, por sua vez, saem obviamente enfraquecidas. Mas será que esse tipo de movimento é saudável para a liga?
Existe dois grandes nomes na tentativa de sair dos seus times, por exemplo, nesse momento: James Harden e Damian Lillard. O armador do Philadelphia 76ers já tem um histórico de saídas pela “porta do fundos” na liga. Por sua vez, o ídolo do Portland Trail Blazers busca melhores chances de título depois de uma década no mesmo time. Mas só quer ser negociado para um lugar.
Essa postura divisiva dos jogadores da NBA é o que vamos discutir hoje. Os astros pedem trocas ainda sob contrato enquanto vão atrás dos seus interesses. Mas, no caminho, limitam o poder de barganha das franquias. Então, como lidar com esses interesses tão diferentes envolvidos na mesma situação?
Convocamos a equipe do Jumper Brasil e o convidado Leonardo Paglioni, do podcast Splash Brothers, para analisar a situação. É justo que os astros ignorem os seus contratos com os pedidos de troca cada vez mais constantes na NBA? E, afinal, isso é bom ou ruim para a liga? É o que nós vamos discutir agora…
1. Os pedidos de troca são um movimento legítimo dos astros da NBA?
Gustavo Lima: sim, do mesmo jeito que as franquias têm o direito de trocar um atleta. São negócios e contratos precisam ser cumpridos, mas, se o jogador está infeliz, o melhor caminho para as duas partes é uma troca. A situação complica-se, obviamente, quando o atleta define um só destino e tenta ditar a negociação.
Victor Linjardi: sim. O jogador tem o direito de não estar feliz com a equipe. Mas exigir só um time como destino não é legítimo. Ainda mais se o atleta estiver sob contrato. Afinal, o time também precisa ter a chance de buscar o melhor cenário para si.
Leonardo Paglioni: sim. Assim como as franquias trocam jogadores quando bem entendem, o atleta deve ter o direito de entender que outro lugar é melhor para a sua carreira. Para resumir, é uma questão de reciprocidade.
Gustavo Freitas: sim e não. Apesar de gostar da movimentação, alguns pedidos são meio “fora da caixinha”. A última exigência de Harden, por exemplo. Entendo plenamente, por outro lado, a decisão de Lillard. Depende muito da situação.
Ricardo Stabolito Jr: sim. Não é porque não gosto de uma coisa que isso não seja legítimo. Não existe nenhum problema, a princípio, em astros darem um “pontapé inicial” para uma saída em comum acordo. Só não acredito que o direito de pedir uma troca deve sobrepor-se ao dever de cumprir um contrato.
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2. Verdadeiro ou falso: o alto volume de movimentação de astros sinaliza que os jogadores nunca tiveram tanto poder.
Gustavo Lima: verdadeiro. Isso não começou agora, pois os craques do passado também pediam troca. Mas o volume aumentou com o tempo. Com os maiores salários e visibilidade, os astros passaram a ter mais poder. E o “The Decision”, de LeBron James, foi o divisor de águas. Aquele show empoderou os atletas de vez.
Victor Linjardi: verdadeiro em partes. Havia jogadores insatisfeitos com os seus times no passado, mas isso era mais sigiloso. A postura dos atletas, então, pode não ter mudado. A mudança está na exposição. E eles sabem utilizar isso, como resultado, para pressionar as equipes a não “ficarem com o mico na mão”.
Leonardo Paglioni: verdadeiro. Os jogadores, certamente, possuem muito mais poder hoje do que em outros instantes da história da liga. E, mesmo com alguns óbvios exageros, eu considero que seja correto. É assim que deve ser.
Gustavo Freitas: verdadeiro, mas os astros já tinham muito poder. Já faziam o que bem entendiam e a liga não conseguia frear. As franquias até possuem os recursos para isso, mas, quando tentam usar, a Associação dos Jogadores entra em ação. Acho, por fim, que só termina de estabelecer quem é que manda.
Ricardo Stabolito Jr: falso. Os astros sempre tiveram muito poder na NBA, mas utilizavam isso de forma diferente. Eram mais “sócios” da liga, como bem definiu David Falk. Eles são mais “egoístas” hoje e não digo isso com juízo de valor. Se você não defender as suas vontades, afinal, quem vai fazê-lo?
3. Os pedidos de troca “arranham” a imagem dos astros da NBA?
Gustavo Lima: depende do caso. Lillard, por exemplo, sempre foi leal ao Blazers. Tem 33 anos e disputou 11 temporadas em Portland. Não vê perspectiva de título e, com razão, perdeu a paciência. O único erro, em síntese, é ser inflexível sobre o seu próximo time. Harden, por sua vez, banalizou o pedido de troca. Pediu para sair de todos os lugares em que jogou.
Victor Linjardi: sim, certamente. Além de parecer pouco profissional, eles podem ser vistos como mimados. Mas, ao mesmo tempo, depende do histórico do atleta. Harden, por exemplo, já pediu troca seguidas vezes e é isso que prejudicou a sua imagem. Já Lillard o fez pela primeira vez. É uma questão de quantidade.
Leonardo Paglioni: sim. O público, certamente, não gosta de tantos pedidos de troca. Como resultado, isso arranha a imagem de alguns jogadores que mudam muito de equipes em pouco tempo. É o que ocorre com Harden e Kevin Durant.
Gustavo Freitas: depende. É verdade em um caso como Harden, mas não afeta Lillard. Afinal, ele tentou tudo o que era possível para competir com o Blazers. É claro que não costuma ser legal, mas cada caso é um caso. Outro dia, o Furkan Korkmaz pediu para ser trocado. No entanto, como não é um astro, passa batido.
Ricardo Stabolito Jr: sim. É uma questão lógica, pois estou para ver um jogador que torna-se mais amado após pedir para sair de uma franquia. Além disso, salvo raras exceções, as pessoas torcem por times. Ou seja, os atletas devem ter mais poder… até que isso prejudique a minha equipe. Aí é pessoal.
4. Se você tivesse que apostar, os pedidos de troca de astros vão aumentar nos próximos anos?
Gustavo Lima: sim. Porque os salários também vão aumentar. A NBA vai fechar um novo acordo de direitos de transmissão e, assim, o teto salarial vai subir. Os donos de franquias tinham o controle da liga antigamente. Hoje, a coisa mudou. Os jogadores ganham mais dinheiro e, como resultado, definem os seus destinos.
Victor Linjardi: sim. E aí é que está o problema, pois a exposição atual possibilita que todos saibam o que acontece nos rivais. Abre portas, então, para que outros sintam-se no mesmo direito. Já estamos discutindo outros grandes jogadores em possíveis trocas, como Giannis Antetokounmpo.
Leonardo Paglioni: sim. Imagino que seja uma tendência que veio para ficar, pois os atletas não veem mais problema em pedir para sair. Mas acredito que a NBA vai tentar ao máximo criar regras para inibir isso. Até porque é um tema cada vez mais debatido entre os torcedores.
Gustavo Freitas: sim. Já existe uma lista de próximos candidatos, né? Virou uma tendência, então, e as franquias que se virem. Fica uma coisa artificial: o cara vai lá, assina um grande contrato e pede troca quando as coisas não são do jeito que queria. Mas, ao mesmo tempo, o time sempre negocia os atletas sem pedir qualquer permissão.
Ricardo Stabolito Jr: sim. Em primeiro lugar, criou-se o precedente. A decisão de um astro respalda que o seguinte tome o mesmo caminho e por aí vai. Além disso, a pressão das redes sociais e imprensa a cada derrota incentiva o imediatismo dos grandes nomes. Ser julgado não é divertido.
5. E, por fim, os pedidos de troca de astros fazem mal à NBA?
Gustavo Lima: não. Acho que, em geral, não fazem mal. Afinal, já ocorrem há um bom tempo. Mas situações específicas são reprováveis, como Harden no Sixers. O melhor caminho é as partes sempre chegarem a um acordo. Chutar o balde, como o que aconteceu na Philadelphia, só “queima o filme” do atleta.
Victor Linjardi: sim. O prejudicial está na formação de “panelas”, mais do que os pedidos em si. Se um astro pede para ser trocado, mas abraça uma reconstrução, existe um equilíbrio mantido. Pedir troca para juntar-se a outros astros, por outro lado, concentra o poder nas mãos de poucas franquias.
Leonardo Paglioni: não. É óbvio que muitos pedidos de troca podem chatear os fãs e geram polêmicas. Mas são as trocas e especulações que movimentam a liga. Só notem quais são os assuntos que mais rendem clicks, por exemplo. Não vejo, então, como algo que atrapalha.
Gustavo Freitas: não. Não vejo problemas em um ou dois pedidos de troca por temporada, pois movimentam a liga e criam novos cenários. Mas, se a proporção aumentar muito, aí é necessário fazer algo. Vai ser necessário estudar algum tipo de regra que proíba isso nos primeiros anos de contratos máximos, por exemplo.
Ricardo Stabolito Jr: sim. Para começar, é a posição do comissário Adam Silver. Ele é a pessoa mais indicada para julgar isso. Mas vejo os astros em uma situação muito confortável. Assinam extensões máximas porque é a sua melhor alternativa financeira. E, se necessário, pedem trocas depois de menos de um ano. Impõem, às vezes, até para onde querem ir. Isso é tão prejudicial quanto os times com pleno controle.
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