Traição ou recorrente?

Assim como Kyrie Irving, Scottie Pippen pediu para ser trocado

Fonte: Assim como Kyrie Irving, Scottie Pippen pediu para ser trocado

Agora há pouco, a cabeça raspada de Michael Jordan poderia ser bem um lindo aquecedor de mãos ou um prato quente. Melhor ainda, Sua Carequice poderia servir como projeto de ciência – toque aqui para se aproximar da temperatura do sol.

Jordan deve estar pensando, o que, em nome de 1.8 segundo, Scottie Pippen está pensando nesses dias? Aqui está Jordan, jogando com um pulso machucado, por muitos minutos em quadra, contando os jogos até que o contundido Pippen retorne ao Chicago Bulls, e então, do nada, vem o pedido para ser trocado.

Pippen quer ser trocado. Ontem.

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Isso não é o pior de tudo. De acordo com notícias publicadas, Pippen está saudável o suficiente para correr, pular, enterrar, e claro, provocar o General Manager Jerry Krause, quem Pippen despreza mais do que o New York Knicks, Toni Kukoc e aspargos cozidos no vapor, juntos. Em outras palavras, Pippen está saudável para jogar, ou passar em qualquer exame físico em outro time em caso de troca.

O incrível pedido acontece em um período cruel em que o Bulls não retorna ao United Center antes do dia 5 de dezembro. Isso também acontece quando Jordan, sozinho, consegue manter o Bulls acima dos 50% de aproveitamento e acima das quase sempre bobagens de Dennis Rodman.

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Mas isso é diferente. Para Pippen escolher esse exato momento para pedir a troca e trair a confiança de Jordan é quase inesquecível quanto aquela sua cesta, restando 1.8 segundo, quatro temporadas atrás. Nunca se importe com as razões, o tempo de Pippen é repleto de egoísmo e despeito.

Além do mais, Pippen deve a Jordan um pouco de lealdade. Foi Jordan quem usou o púlpito das Finais da NBA de 1997 para fazer campanha não só pelo retorno de Phil Jackson, mas também de seu amigo Pippen. E sempre é Jordan que constantemente nos relembra da importância de Pippen ao Bulls, cheio de jogadores com capacidade de conduzir a bola, cestinhas e defensores.

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Em retorno, Pippen decidiu fazer cara feia, assim como ele fez contra o Knicks em uma estranha noite em 1994. A única diferença é que, desta vez, Pippen está usando roupas comuns durante sua birra.

Jordan merce melhor. Os colegas de Pippen merecem melhor. Ao contrário disso, Pippen talvez precise de uma nova cirurgia para remover sua Cole-Haans de sua boca.

Pippen agitou-se durante a offseason, quando o seu nome apareceu em uma troca em potencial com o Boston Celtics. Ele estava nervoso com o seu status de poder ser negociado. Então, sua vingança é… pedir uma troca?

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E agora aparecem as notícias de que Pippen estava irritado com a carta que recebeu em setembro de Krause, o proibindo de jogar em seu próprio jogo de caridade. Krause teria o intimidado com uma multa caso Pippen aparecesse em quadra.

Sim, bem, eu certamente vejo como Pippen ficou tão irritado. Seu time não queria que ele se machucasse ainda mais o pé que teve de passar por cirurgia no mês seguinte. Isso significa, Krause mau. Ele deveria se envergonhar por colocar a temporada do Bulls acima do jogo de caridade de Pippen.

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Existe uma chance de Pippen estar apenas dando um beliscão em Krause, fazendo jogos cerebrais com o homem que ele claramente detesta. Talvez, esta seja uma tentativa de Pippen em ver Krause torcer por uma troca. Até porque, faltam apenas 86 dias para o prazo limite de trocas.

Se essa é a intenção de Pippen, ele errou o cálculo. Ele não ganha nada além de dizer coisas ridículas. Ele se transforma em Rodman. Ele se torna mesquinho.

Novamente, Pippen pode estar sendo sério sobre sua promessa de nunca mais jogar pelo Bulls. Essa estratégia é excelente. Em uma mudança imbecil, Pippen pode alienar seus colegas, a direção e uma cidade inteira. Ele pode fazer ainda pior para que o Bulls o negocie.

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Por que? Porque Krause e o dono do Bulls Jerry Reinsdorf são teimosos o bastante para mantê-lo na equipe. Porque até que Pippen jogue novamente, qual General Manager se interessaria em se arriscar em uma troca e investir milhões em Pippen? Porque alguns General Managers talvez não queiram um cara que se vire contra o seu time duas vezes em quatro temporadas.

Eu pensei que Pippen fosse mais esperto que isso. Eu certamente pensei que ele tivesse mais classe que isso. Grandes jogadas não o transformam, especialmente quando ele não está lidando com uma posição de força.

Claro, o Bulls caiu de produção sem ele. Pippen é um jogador fantástico. Mas ele está com 32 anos. Ele está vindo de uma cirurgia no pé. E ele pode perder ainda mais.

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Existem melhores meios de forçar algo. Pippen escolheu desenhar uma linha na areia com o seu dedo do meio. O que ele deveria fazer é se lembrar de um certo número.

Número 23.

O texto acima é do jornalista Gene Wojciechowski, que trabalhava no Chicago Tribune. Seu artigo foi escrito no dia 25 de novembro de 1997. Ou seja, há quase 20 anos.

Vejam bem como as coisas podem ser transportadas pelo tempo sem estarmos em um DeLorean voador. Claro que é apenas uma alusão, mas sim, o que aconteceu nos últimos dias no Cleveland Cavaliers não é apenas uma coincidência.

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Ano a ano, acompanhamos astros formalizando pedidos de trocas. Isso não nasceu com Kyrie Irving. Ele não foi o responsável por iniciar essas exigências por negociações. O mercado faz isso com as pessoas, com os jogadores. Mas mais que isso, ele quer ter a chance de ser protagonista.

Irving não é Pippen, tampouco está com 32 anos, como no artigo de 97. Ele faz parte de um grupo especial de armadores absurdamente talentosos e decisivos. Irving não é apenas mais um. É um jogador com capacidade de decisão, com atributos infinitos no ataque, mas que carece de duas coisas no momento: defesa e altruísmo.

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Todo mundo sabe que defensivamente, Irving não passa de um jogador comum. Aliás, o Cavs era meio que o São Caetano de 2000, um time que levava muitos gols, mas fazia mais e vencia. OK, foi uma comparação com o futebol, mas tem outra: ele está sendo o Neymar de hoje. Quer ser enaltecido por suas qualidades individuais em detrimento ao coletivo.

Isso é questionável.

Claro que a NBA é um comércio gigante, feito para render milhões a poucos, mas não passa de entretenimento. Nós, espectadores, aplaudimos ou vaiamos na mesma intensidade em que bebemos uma  ̶c̶e̶r̶v̶e̶j̶a̶  água gelada no verão. O problema é que nos esquecemos disso a cada rodada, a cada troca, a cada crítica, construtiva ou não.

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Jogadores, especialmente nos tempos modernos, são seguidos por uma massa gigantesca em redes sociais, gostam de ser paparicados e endeusados. São tratados como reis — embora alguns se autoproclamem assim — e querem que seus súditos os entendam.

Sim, de certa forma, nós entendemos. São eles quem ganham todo aquele dinheiro, pago por nós, de inúmeras formas possíveis, seja em compras de ingressos, camisas, planos de TV ou internet. Talvez, você não tenha pensado nisso, né? Mas é fato. Esses valores são sempre redestinados às franquias, mesmo que seja por frações. Agora, imagine bilhares dessas frações. Pois é.

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O que também é fato é que agimos de forma passional quando falamos de ídolos, construídos a cada dia por uma jogada de efeito ou por uma série delas. Nós, meros apreciadores do esporte, buscamos isso sempre. Eu mesmo, já tive uma leva deles: Jamie Feick, Jerome Williams, Charles Oakley, Danny Fortson e o citado pelo texto, Dennis Rodman.

Nós observamos seus passos, suas atitudes dentro e fora das quadras. Tentamos interagir com quem tem o mesmo sentimento. No fim das contas, acabamos traídos por nós mesmos. Sabemos que esses mesmos ídolos podem deixar nossos times em uma fração de segundo, pois é o que o mercado faz. Mas mesmo assim, ficamos chateados. É a paixão falando mais alto, como sempre.

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Se Irving vai de fato deixar o Cavaliers por conta de LeBron James, eu não sei. Pippen, por exemplo, não deixou o Bulls naquela ocasião. De fato, foi negociado pela equipe com o Houston Rockets, mas não sem antes comemorar o seu sexto título da carreira. Só saiu quando Michael Jordan, Phil Jackson e Rodman, foram embora, quando viu que não teria mais chances de ser campeão. Depois disso, tentou o mesmo no Rockets com Charles Barkley e Hakeem Olajuwon ou no Portland Trail Blazers, ao lado de figuras como Rasheed Wallace, Detlef Schrempf, Steve Smith, Arvydas Sabonis e o então jovenzinho Jermaine O’Neal. Não deu em nada. Retornou ao Bulls, já em fim de festa, para fazer uma média com a torcida e despedir-se das quadras pela equipe que começou.

LeBron pode sentir-se traído, como foi noticiado aos quatro cantos. Principalmente porque o mercado esfriou e os melhores agentes livres já tomaram seus rumos. Foi o famoso batom no colarinho. Não tem muito o que fazer. É aceitar o que aconteceu e tentar buscar novas peças. Derrick Rose, MVP de 2011, era a melhor opção em uma cada vez mais mirrada prateleira. Falam em Carmelo Anthony, mas o astro pede para ir para o Rockets. Falaram até em Damian Lillard. Vão continuar falando. Os rumores servem para isso, até que uma solução seja tomada em definitivo.

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Mas James está irritado com o seu talvez ex-escudeiro. Não por Irving querer ir atrás de algo de seus interesses, mas por ter envolvido o seu nome. LeBron não contestou a decisão do camisa 2. Contestou a forma como ela foi feita.

Traições existem há décadas. Isso se você, depois de ter lido até aqui, considerar que seja isso ou apenas isso. A dupla James e Irving pode não existir mais, mas quantas outras já não desapareceram desde que Pippen pediu para sair daquele Bulls vitorioso?

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Ser vice não é demérito. Isso significa que foi melhor que outros 28 times. Abandonar o barco após três finais consecutivas tem consequência. Pular fora dele quando não existem grandes alternativas, talvez seja ainda pior. Mas nós já vimos filmes parecidos no passado. E não! Não estou falando sobre Kevin Durant, que era agente livre e poderia fazer o que bem quisesse da vida. Falo de alguém sob contrato, que só chegou às finais por três anos seguidos e foi campeão em um deles, apenas porque um outro camisa 23 optou por retornar ao time e elevou não só seu patamar, mas de uma equipe, de uma cidade. Mas agora, ele quer reinar sozinho.

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