Como é bom ver o basquete brasileiro “na boca do povo”. Que legal é abrir o Twitter e encontrar assuntos relacionados ao basquetebol nacional – isso mesmo, basquete com “qu” e “bol” – entre os tópicos mais comentados do país. Jovens e adolescentes que nunca viram o Brasil atuar em Jogos Olímpicos terão, em breve, a chance de fazê-lo. Resta saber, porém, o que esses garotos irão presenciar. Veremos a mesma equipe que venceu os argentinos em “território hostil” e conquistou a vaga ou teremos mudanças na equipe com o intuito de fortalecer o esquadrão em busca de uma medalha?
Como o Jumper é especializado em NBA, falarei apenas dos três atletas que atuam na Liga e não estiveram no Pré-Olímpico: Leandrinho, Varejão e Nenê. Sobre os que atuam no Brasil e na Europa, há vários outros sites que acompanham tais atletas e podem dar opiniões mais precisas (ali no canto direito inferior da sua tela, inclusive, há uma lista com links bem proveitosos).
Começando do menos polêmico, temos Anderson Varejão. Perdeu quase uma temporada inteira por causa de uma grave lesão. Gostaria de jogar, mas estava impossibilitado. Virou o protegido entre os excluídos. Clamam pela presença dele, mesmo sem saber em quais condições estará após tanto tempo parado. O motivo? Varejão tem muita qualidade, e é capaz de ajudar, e muito, frente aos melhores do mundo que lá estarão.
Leandro Barbosa, ou Leandrinho, para os leigos, foi um dos que optou por não defender a seleção. Os motivos, poucos sabem. Algumas teorias foram colocadas, mas, daqui, não há como julgar. A minha única certeza é que, tecnicamente, Leandrinho é melhor do que muitos que lá estavam. Se ele jogaria melhor que os que lá atuaram, faria bem ao grupo e daria o melhor de si, já é outra conversa. Mas para os que começaram a acompanhar a nossa seleção apenas agora, “nas boas”, um aviso: Leandrinho, segundo ele próprio, já defendeu a seleção brasileira por mais de uma década. Mesmo com a nau à deriva.
Por fim, o predileto dos “modinhas”. Está na moda massacrar Nenê. Ficou atual acusar o jogador disso e daquilo. Proferir as palavras “patriota” e “Nenê” como antônimos é cool. Para não me alongar demais, vou resumir Nenê, para os “modinhas”, porque os que já acompanham o basquete sabem o valor do jogador, com uma estatística: o atleta do Denver Nuggets – sim, é lá que ele joga – foi o líder em aproveitamento (61,5%) de arremessos de quadra na última temporada da NBA. Isso mesmo, todos aqueles que você já ouviu falar ou viu no comercial de TV estiveram atrás dele no quesito. Sem contar todas as outras qualidades do jogador, você gostaria de tê-lo na sua equipe? E na sua seleção?
Sobre o grupo que deve ir a Londres, algo que tenho visto e lido por aí ultimamente é que “quem roeu o osso, tem o direito de comer o filé”. Com o perdão do trocadilho, mas essa não dá pra engolir. Primeiro, porque vários dos que usam tal evasiva e esdrúxula justificativa, incluindo o judicioso Mestre Schmidt, apóiam o retorno de Varejão ao time. Afinal de contas, ele queria ir, mas estava lesionado. Mas para o cabeludão entrar, um vai ter que sair. Alguém me explica a regra, por favor? Qual dos roedores tem que deixar a carne pro companheiro contundido? O reserva do reserva roeu menos osso do que o quinteto titular? Não ralou durante 70 dias? Não merece ir aos jogos Olímpicos? Não há regras, aparentemente. Portanto, ficam os que estavam ou muda-se o que for necessário, certo?
E outra, o que é exatamente “comer o filé”? Participar das Olimpíadas como figurante? Desfilar no estádio Olímpico atrás da bandeira verde e amarela, acenando para a “torcida” com uma mão e filmando a festa com a outra? Foi por isso que esperamos durante esses longos 16 anos? Será que é isso que Rubén Magnano, técnico com DNA de vencedor, chamaria de filé? Pouco provável. E esperar mais do que o papel de coadjuvante se não levarmos o melhor time é remar contra a maré. A competição é outra. O nível é absurdamente superior. Absurdamente.
Você não encontrará aqui uma conclusão sobre quem deve ir ou não para Londres. Como bem disse Giovannoni, “problema de Magnano e da CBB”. São eles que terão que suportar as críticas, em caso de fracasso. Será do técnico a responsabilidade de montar um grupo que não chegue rachado aos Jogos. E sim, “grupo unido” conta muito mais do que se imagina no esporte coletivo. E já que não sabemos nem uma pequena parte da missa, eles que façam o que acharem melhor. Torço apenas que o discurso e as atitudes sejam de quem está indo para ganhar. Sem essa de que “o importante é participar”. O basquete brasileiro já participou demais nos últimos anos. Tá na hora de pensar num algo a mais.
Como torcedor e amante do esporte, que também roeu o osso durante esses 16 anos, sofrendo com a falta de estrutura interna e com seguidos vexames da nossa seleção, faço apenas um apelo: não joguem o filé no lixo.