A seleção dos EUA, pela segunda edição consecutiva, volta para a casa sem o título da Copa do Mundo. Os comandados de Steve Kerr caíram na semifinal do torneio, depois da derrota contra a Alemanha. Foi o segundo resultado negativo da equipe norte-americana em sete jogos de uma campanha muito pouco convincente. Aliás, essa já virou a marca das participações recentes do Team USA em Mundiais FIBA.
Os estadunidenses ainda não terminaram a sua trajetória na competição, pois ainda disputam o terceiro lugar contra o Canadá. Mas o objetivo é sempre o título – e ele não veio. Uma eventual medalha de bronze não vai trazer mais do que um “sorriso amarelo” no pódio. É claro que o elenco passa longe de ser o melhor que a NBA oferece, mas chegou a hora de olhar para os resultados.
Então, o que deu errado? O que dá para tirar de lições para, dentro de um ano, não falhar na defesa do tetracampeonato olímpico? E, afinal, foi um fracasso mesmo? Vamos dar a nossa visão sobre essas perguntas!
Convocamos a equipe do Jumper Brasil e o convidado Gabriel Martins, do podcast “Cara dos Sports”, para analisar a campanha. O que dá para criticar e o que ainda pode ser relevado na derrota da seleção dos EUA na Copa do Mundo? É o que nós vamos discutir agora…
1. Verdadeiro ou falso: a USA Basketball errou MUITO em sua convocação.
Gustavo Freitas: verdadeiro. Faltou um pivô de ofício melhor do que Walker Kessler. Aliás, nem precisava ser melhor. Só alguém que tomasse conta do garrafão. Mas, se não havia outro, que dessem mais tempo para o próprio Kessler.
Gustavo Lima: falso. Não diria que errou muito, mas houve equívocos. A ausência de pivôs mais físicos, por exemplo, foi um problema e pesou nos rebotes ofensivos dos adversários. Único pivô de ofício, Walker Kessler parece que não agradou. Após essa derrota, a USA Basketball vai para cima de Joel Embiid de todo jeito.
Gabriel Martins: falso. Os EUA levaram o melhor que poderiam, provavelmente. Ficaria surpreso se algum atleta melhor tenha se comprometido, mas recusado pelos técnico. E, sim, prefiro os dois armadores do elenco do que Trae Young mesmo.
Mateus Carvalho: falso, pois essa é a abordagem tradicional da seleção quando não estão nas Olimpíadas. Dito isso, houve problemas. Sobraram peças que poderiam produzir um time versátil, mas faltou um pivô de ofício que pudesse ser utilizado de fato. Walker Kessler, afinal, foi a passeio.
Ricardo Stabolito Jr: falso. Houve erros, certamente. Mas o fato é que o processo de convocação dos EUA é muito nebuloso para falarmos em “MUITO”. Não sabemos quem se colocou à disposição, por exemplo. Sabemos, no entanto, que os caras de primeira linha da NBA só disputam os Jogos Olímpicos.
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2. Quem foi a maior decepção da seleção dos EUA na Copa do Mundo?
Gustavo Freitas: Brandon Ingram, por muito. Esperava-se que ele comandasse um time na pontuação, mas o ala foi extremamente passivo nas ações ofensivas. Apesar de saber jogar sem a bola nas mãos, realmente foi produtivo apenas nas assistências aos companheiros.
Gustavo Lima: Brandon Ingram. Deixou a impressão de que não queria estar ali porque tinha uma preguiça danada toda vez que entrava em quadra. E, ainda por cima, conversou fiado publicamente. Enfim, não ajudou em nada.
Gabriel Martins: Brandon Ingram. A expectativa era que fosse um dos líderes da seleção, mas nem jogou contra a Alemanha. Foi regularmente péssimo enquanto esteve em quadra.
Mateus Carvalho: Brandon Ingram e a comissão técnica. O primeiro simplesmente não jogou nada. Foi terrível para alguém que deveria ser uma estrela. Os técnicos, por sua vez, não acharam variações para os problemas do time. E eu não compro a narrativa de que não eram os favoritos. Esse elenco alternativo está cheio de bons jogadores.
Ricardo Stabolito Jr: Jalen Brunson. Ingram é a resposta óbvia, mas sempre foi um jogador irregular. Jaren Jackson Jr. mostrou os problemas que todos já sabíamos (rebotes, faltas). Brunson, por outro lado, foi convocado para ser o líder após um ótimo ano. E o seu jogo de retenção de bola foi duro de assistir nesse Mundial.
3. E qual foi o maior erro estadunidense durante o Mundial?
Gustavo Freitas: o aproveitamento de Kessler. O pivô do Jazz é menos móvel do que Jaren Jackson e Bobby Portis, mas dá mais segurança nos rebotes. Jackson, em particular, tem “alergia” à tábua e comete várias faltas bobas. Em uma equipe que quer ser física, faltou esse tipo mais físico exatamente onde mais precisava.
Gustavo Lima: ausência de um pivô impactante. Faltou uma ameaça no pick-and-roll, alguém que protegesse o aro e pegasse rebotes. Além disso, a desorganização em quadra foi flagrante. Confiaram na individualidade e, por isso, pareceu um ‘catado’ em vários momentos. Arrogância?
Gabriel Martins: não encurtar a rotação, talvez. Mas, sinceramente, não acredito que tenha sido um problema tão grave assim. As falhas dos EUA, afinal, são mais estruturais do que específicas.
Mateus Carvalho: Jaren Jackson Jr. como pivô e Paolo Banchero como alternativa principal. São dois jogadores que não estão acostumados à função, para começar. Funcionam melhor com um pivô de ofício ao lado e, por isso, o time foi destruído defensivamente. Kerr mirou em versatilidade, mas sofreu com faltas e rebotes.
Ricardo Stabolito Jr: não jogar mais “pesado”, provavelmente. Seguindo a visão do jogo da NBA, os EUA apostam em times leves que “trocam” tudo. Não deu certo, mas dobraram a aposta durante o torneio. Faltou pivôs, rebotes, fisicalidade contra os rivais mais capazes. E sobraram, por outro lado, mismatches para serem explorados.
4. Qual é a maior lição que a seleção dos EUA tira dessa Copa do Mundo?
Gustavo Freitas: medalhões não deveriam dispensar convocações. Eles não vão e a bomba sobra para quem não deveria estar lá. Exceto um passivo Ingram, acho que todo mundo tentou. Faltou qualidade técnica e tática, enquanto os europeus “castigaram” os norte-americanos em todas as oportunidades possíveis.
Gustavo Lima: que eles não são campeões mundiais por causa da NBA. A diferença para as outras potências do basquete caiu, sobretudo pela globalização da liga. Não vai ganhar só com atributos físico-atléticos e jogo um contra um. É preciso ter organização em quadra. A Copa do Mundo é diferente da NBA e, com isso, os EUA foram expostos.
Gabriel Martins: eles precisam de força máxima para compensar o entrosamento dos oponentes. Se os EUA levarem esse catado a cada Mundial e Olimpíada, por exemplo, vão sempre estar em desvantagem em termos de tática e química. Só talento de ponta da NBA pode compensar esse desnível hoje.
Mateus Carvalho: individualidades, talento e profundidade são importantes, mas, se você pega alguém mais organizado, um abraço. Precisam voltar a ser um time, acima de tudo, pensando em 2024.
Ricardo Stabolito Jr: nenhuma. Não me entendam mal, pois há muita coisa que poderia aprender. Mas eu não acho que os EUA estejam interessados nisso. É só notar como vários dos problemas que vivenciaram nesse ano foram os mesmos vistos em 2019. Isso é da natureza dos estadunidenses.
5. E, por fim, a seleção dos EUA parar nas semifinais da Copa do Mundo é…
Gustavo Freitas: fracasso. Mas é um fracasso de todos, de jogadores que estão lá e aqueles que recusam ir. Depois, fica difícil você ficar trocando o pneu com o carro andando. Kerr ainda encontrou uma forma de minimizar a perda dos rebotes em Josh Hart, mas é um cara só.
Gustavo Lima: bom para a valorização do basquete internacional. A Alemanha tem quatro atletas da NBA, mas nenhum é um astro. A Sérvia, enquanto isso, está sem Nikola Jokic. O que é comum entre elas? O jogo coletivo e a disciplina tática. Não há ego, pois cada um está disposto a fazer o que for preciso pelo sucesso coletivo.
Gabriel Martins: grande decepção. Não classifico como um desastre, pois, a esta altura, qualquer pessoa que acompanha o basquete FIBA sabe que os tempos de título automático dos EUA acabaram. Mas é uma grande decepção.
Mateus Carvalho: forte decepção. Não é um vexame porque a Alemanha já foi a Cinderela do pré-Copa. Mas fica a decepção pelo tanto que os norte-americanos falaram no torneio e fora dele (campeões mundiais). É perceptível, no fim das contas, que os EUA não se impõe com a supremacia de antes.
Ricardo Stabolito Jr: normal. Não sejamos hipócritas: quando saiu a convocação dos EUA, a maioria das pessoas criticou e disse que perderia. Já tinha uma derrota antes na competição, contra os lituanos. O resultado, por isso, foi esperado. Todos falamos que não é mais 1992. Então, vamos agir de acordo.
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