Jogador é pivô de crise no Orlando Magic
Durante o concurso de enterradas do All-Star Game de 2008, o pivô Dwight Howard, do Orlando Magic, se auto-intitulou “Superman“. Vestindo o uniforme do super-herói da DC Comics, ele venceu a competição e causou frisson junto aos fãs que acompanhavam o torneio. No entanto, nos últimos meses, as ações de Howard não condizem com a conduta do herói dos quadrinhos. Ele está mais para um super-vilão. Primeiro, o imbróglio envolvendo uma possível saída do Magic. Agora, a tentativa de derrubar o técnico da equipe, StanVan Gundy. Vamos recapitular os fatos.
A novela mais chata desta temporada foi a indecisão de Howard, que durou até o período final para trocas (trade deadline). No início da temporada, o melhor pivô da NBA havia colocado em dúvida se cumpriria o último ano de contrato com o time de Orlando. Ele tinha a opção de deixar a equipe ao final de 2011/2012 e testar o mercado de agentes livres. Já vislumbrando uma saída do Magic, Howard chegou, inclusive, a elaborar uma lista com seus destinos preferidos na Liga. New Jersey Nets, Los Angeles Lakers e Dallas Mavericks foram os escolhidos.
Na véspera da trade deadline, dia 14 de março, Howard teria decidido permanecer em Orlando por mais uma temporada. Horas depois, ele mudou de ideia e disse que iria testar o mercado de agentes livres. No entanto, ao final do mesmo dia, o pivô voltou atrás e, finalmente decidiu que iria continuar no time da Florida para a próxima temporada. O pivô admitiu que sua indecisão havia causado um desgaste desnecessário junto aos fãs do Magic e demonstrou arrependimento pela situação que criou. “Eu recebi alguns maus conselhos. Peço desculpas aos fãs por esse circo que causei. Os fãs merecem um herói melhor e eu vou fazer isso acontecer”.
Repararam na última frase? Ele novamente se colocando como um herói. Tá bom, Howard, você é um “herói” que brincou com os sentimentos de quem gosta do Magic. Ele falou que causou um circo ao mudar de ideia várias vezes sobre cumprir ou não o último ano de contrato com a franquia. Só que o palhaço foi ele. Na época da trade deadline, surgiu a informação de que o jogador teria ganhado da alta cúpula do Magic o poder de dar pitaco nas decisões gerenciais da franquia. Tudo para que ele assinasse uma extensão contratual na próxima temporada. Howard se sentiu poderoso, um Superman mesmo. Se ele quisesse, o gerente-geral Otis Smith e o técnico Stan Van Gundy seriam demitidos. Pois bem…
Como esperado, o Magic negou a informação. No final do mês passado, a ESPN americana divulgou que Howard teria pedido à direção da franquia que demitisse Van Gundy. Na época, ambas as partes negaram esse rumor. É, mas nos últimos dias a situação mudou. Nessa quinta-feira, Van Gundy surpreendeu a todos ao revelar, em uma entrevista coletiva durante o treino da equipe, que Howard teria sim pedido a sua cabeça. O técnico disse ter sido informado por pessoas da direção da franquia sobre o pedido do pivô. Van Gundy está tranquilo porque tem mais um ano de contrato com o Magic e, se a franquia demiti-lo agora, vai receber uma generosa multa rescisória. Mas a relação com Howard nunca mais será a mesma… São cinco anos de convivência e agora tudo está desmoronando…
Logo após Van Gundy ter feito essa revelação aos repórteres, o Superman se aproximou, parou a coletiva (sempre sorrindo) e deu um abraço no técnico, em uma clara tentativa de abafar os rumores (que deixaram de ser rumores após a confidência do treinador). Foi uma das cenas mais patéticas que vi nos últimos tempos. E Howard ficou com cara de paisagem após saber o que Van Gundy havia dito na coletiva. Constrangedor demais!
Ainda nessa quinta-feira, para colocar ainda mais lenha na fogueira na situação, o renomado jornalista Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports, revelou que as dores que o jogador afirma estar sentindo nas costas podem ser falsas. Em razão desse suposto problema, Howard ficou de fora de duas partidas da equipe nesta semana. O time perdeu os dois jogos. Para algumas pessoas que trabalham no Magic, ele estaria fingindo estar contundido para não jogar, e assim, fazer o time mais fraco, a culpa cair em Van Gundy e a franquia demitir o técnico. Isso é atitude de super-herói?
O fato é que Howard queimou seu filme e mostrou uma falta de maturidade gigantesca para quem se considera um líder de equipe e um Superman. O comportamento do pivô tem superado, inclusive, o que Carmelo Anthony fez com o Denver Nuggets, em fevereiro de 2011, quando forçou sua saída da franquia do Colorado. Na época, o episódio ficou conhecido como Melodrama. E superou também o patético The Decision, protagonizado por LeBron James, em julho de 2010, quando ele decidiu deixar o Cleveland Cavaliers e assinar com o Miami Heat para buscar o tão sonhado anel de campeão.
E na partida de ontem, contra o New York Knicks, Howard voltou a jogar. Ele teve uma atuação, no mínimo, estranha: oito pontos, oito rebotes e cinco erros, em quase 40 minutos em quadra… Muitos falam em falta de esforço. O Magic foi atropelado e perdeu por 96 a 80. Ao final do jogo, as câmeras mostraram o Superman sorrindo no banco de reservas, como se nada estivesse acontecendo no seu reino. Era a imagem perfeita para fechar o dia e mostrar que ele não é um super-herói, mas um super-vilão. A faceta de mau caráter veio à tona. Resta saber se a torcida do Magic vai bater palmas para as atitudes de seu “herói”. Resta saber até quando vão segurar Van Gundy no cargo. Resta saber se o time de Orlando vai conseguir a façanha de ficar de fora dos playoffs (já são cinco derrotas seguidas e o time caiu para o sexto lugar na conferência Leste). Resta saber qual a próxima sacanagem que Howard vai aprontar…