Você pode até não conhecer o significado da palavra tank, mas com certeza odeia e entenderá exatamente do que estou falando.
É simples.
Quando um time vê que não possui chances de classificação para os playoffs, sua direção avisa: “vamos perder por querer”. Claro que isso não é totalmente exposto. É algo velado, porém ao mesmo tempo fica claro o que está acontecendo.
E nesta temporada, algumas equipes já começaram a fazer o uso dessa artimanha. Mas por que fariam isso? Aí é bem fácil de entender.
Pelas regras da NBA ou de qualquer esporte norte-americano, o time que fica entre os últimos, possui maiores chances de escolhas altas no próximo draft. E como os prospectos de 2012 são considerados fortíssimos, a chance de se dar bem é boa.
O San Antonio Spurs, time que vive brigando por títulos nos últimos 15 anos, fez uso disso em 1996-97, ao melhor estilo de “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”.
Foi um ano terrível para a equipe texana. O Spurs perdeu o seu principal jogador, o pivô David Robinson, por 76 partidas. Robinson machucou-se e teve de passar por uma cirurgia no pé. Sean Elliott, que chegou a atuar no Jogo das Estrelas, também pouco jogou naquele ano. No fim, o San Antonio contava com Dominique Wilkins em fim de carreira, e o único que esteve nos 82 jogos foi o fraco Greg “Cadilac” Anderson.
O que fazer em um ano que é notório que não dará em nada? Bem, você já sabe. Perder é o caminho. Ainda mais que no draft teriam jogadores do calibre de Tim Duncan, Keith Van Horn, Tracy McGrady, e Chauncey Billups. Acabou com a primeira escolha e Duncan foi para lá. Resultado: 20 vitórias em 96-97, mas quatro títulos depois disso. Nada mal.
Entretanto, nem sempre isso dá certo.
Em 2007-08, o Chicago Bulls nem foi assim tão mal. Não obteve a classificação para os playoffs, obtendo o 11° lugar na conferência Leste. O Miami Heat, que ficou com a pior campanha da NBA, teve a segunda escolha. Adivinha de quem foi a primeira? Sim, Bulls. Quem o Bulls escolheu? Derrick Rose. O Heat foi de Michael Beasley. Tem uma certa diferença nos dois, não?
Agora, alguns times estão claramente perdendo por querer. Mas não. Não estou falando do Charlotte Bobcats. A equipe foi mal a temporada toda, e ainda teve problemas de contusões com alguns de seus melhores (?) jogadores, como Corey Maggette, Tyrus Thomas, e D.J. Augustin. O fato de o time estar sem vencer há nove jogos, não significa nada além de um elenco fraco, com atmosfera ruim, e uma diretoria que parece não saber o que está fazendo. Kwame Brown lembra algo?
Também não falo do Golden State Warriors, que despencou depois da saída de Monta Ellis para o Milwaukee Bucks, vencendo apenas três dos 14 jogos seguintes. Todo mundo sabe que o planejamento é para os próximos anos, com a chegada de Andrew Bogut. Isso se o australiano não se machucar de novo.
Mas nessa semana, o provável vencedor do prêmio de calouro do ano, o armador Kyrie Irving, poderá não atuar mais em 2011-12 pelo Cleveland Cavaliers. Também, com a contusão do brasileiro Anderson Varejão, a equipe ficou sem referência dentro do garrafão. Muitos podem dizer que Varejão não é bom tecnicamente, porém é notório que o Cavs perdeu o rumo depois de sua lesão.
Em 25 partidas com o ala-pivô em quadra, o time ganhou apenas dez, o que dá 40% de aproveitamento. Só que sem ele, nos 27 embates seguintes, venceu somente sete (26% de vitórias). Já são nove derrotas seguidas e 12 nos últimos 13 jogos. Sem Irving e Varejão, a tendência é perder mais ainda. Hoje, o Cavaliers é o 13° do Leste.
O que falar do Washington Wizards, então?
A nova equipe de Nenê é ruim. Isso é fato. O time é cercado por jogadores jovens e alguns deles até são promissores. Tanto é, que nove deles possuem 25 anos ou menos. John Wall é o melhor nome da equipe. E ele está apenas em sua segunda temporada.
O caso do Wizards parece com o do Bobcats, mas não é. O time da capital não faz esforço nenhum para vencer. Isso ficou claro em alguns jogos, como na derrota para o Indiana Pacers, no dia 22 de março. O Washington vencia por 22 pontos de diferença e ainda assim perdeu. Dois dias depois, contra o Atlanta Hawks, a mesma coisa. Chegou a estar na frente pelos mesmos 22 pontos e saiu de quadra derrotado. Tank?
Para que a coisa não ficasse tão na cara, a filosofia da equipe passou a ser a seguinte: jogar mal nos três primeiros quartos e depois, no último, atuar de igual para igual. Foi assim nos últimos quatro jogos.
O New Orleans Hornets pode estar passando pelo mesmo processo, depois da saída de Chris Paul. Os problemas são gigantes. Tanto que a NBA é a própria NBA quem administra a franquia. Mas que a contusão de Emeka Okafor foi estranha, foi. Vou deixar para que o meu xará, o Gustavo Lima, fale mais sobre isso nos próximos dias.
Aparentemente, o projeto Anthony Davis é a meta de todos os times que perdem por querer neste final de temporada. Davis acabou de ser campeão por Kentucky na NCAA e ainda precisa ser lapidado. Mas quem ficar com a primeira posição, fatalmente brigará pelos playoffs nos próximos três anos.
Historicamente é assim. De 1990 até 2001, apenas cinco equipes não conseguiram a classificação para os mata-matas nos três anos seguintes: Milwaukee Bucks (Glenn Robinson, 1994), Golden State Warriors (Joe Smith, 1995), Los Angeles Clippers (Michael Olowokandi, 1998), Chicago Bulls (Elton Brand, 1999), e Washington Wizards (Kwame Brown, 2001).
Não por menos, dois dos cinco são considerados os maiores erros em todos os tempos do draft (Olowokandi e Brown).
O Clippers, que só não se classifica nesse ano por milagre, poderia emplacar a lista pela segunda vez. Na temporada que vem, se o Wizards não se cuidar, aparecerá. Coincidência ou má administração?
David Stern, o chefão da Liga, quer mudar as regras do draft por causa dessas derrotas por querer. Não poderia concordar menos.
A temporada regular está chegando ao fim e acaba no próximo dia 26. Até lá, outros times podem fazer uso dessa prática. Condenável ou não, já provou-se os dois lados da moeda.
E você, se fosse o manda-chuva de uma franquia, faria o mesmo?