O novo acordo coletivo de trabalho da liga não resolveu todos os problemas e discussões que existiam entre donos de times e jogadores. Na verdade, alguns deles foram “jogados debaixo do tapete” para acelerar um acerto e o início da temporada. A idade mínima para inscrição no draft foi um desses assuntos polêmicos. Está previsto que, a partir deste ano, mandatários e atletas vão realizar reuniões com o objetivo de chegar a uma nova regra – ou manter a atual.
A norma atual, conhecida no meio universitário como one-and-done, não é exatamente como se acredita. Para ser elegível ao recrutamento, um prospecto não precisa ter passado um ano na universidade. Na verdade, ele precisa completar 19 anos no ano em que se realiza o draft e ter se formado no ensino médio (high school) há, pelo menos, um ano. Geralmente, uma temporada na NCAA sela o caso. Mas nada impede casos excepcionais.
Brandon Jennings, por exemplo, completou o colegial e foi jogar na Itália. Um ano depois, retornou e foi o 10º selecionado no recrutamento de 2009. Ele tinha 19 anos e estava fora da escola desde 2008, então era elegível sem passar pela faculdade. Assim como se um jovem completar o ensino médio no ano em que fez 17 anos, vai ter que disputar obrigatoriamente duas temporadas universitárias antes de poder se inscrever. Tudo gira em torno da idade do prospecto, não propriamente do tempo de universidade que acumula.
Para atletas internacionais, vale a mesma regra sem a questão do ensino colegial: podem começar a se inscrever no ano em que completam 19 e são automaticamente elegíveis aos 22.
A NBA e a NCAA não gostam desse modelo. David Stern e Mark Cuban, inclusive, já falaram sobre isso. Querem que aumente o limite de idade para 20 ou até 21 anos. Argumentam que os garotos precisam se preparar mais e que, por extensão, ajudaria as equipes a terem uma ideia melhor sobre cada um dos prospectos. Os jogadores não querem (mas não duvido que aceitem, no fim das contas) e não seriam contrários até ao retorno do “salto” direto do high school para o basquete profissional.
Cada lado tem seu discurso ensaiado, mas a verdade é que ambos estão defendendo seus interesses. Só isso. Aumentar a idade do prospecto protege mais a franquia dos busts e faz com que gastem menos em salários com um atleta no decorrer da carreira (chega mais velho, joga menos tempo). A NCAA e as universidades, por sua vez, ganham mais controle sobre os jogadores e mais dinheiro também com direitos de exibição (imagine a audiência que todos os astros de Kentucky atrairiam na TV se retornassem para tentar o bicampeonato).
O Sindicato dos Jogadores querem o contrário da NBA: atletas chegando mais jovens à liga significa mais dinheiro circulando e associados ganhando (ainda) mais dinheiro no decorrer de suas carreiras.
Minha posição sobre isso mudou com o tempo. Em 2005, quando houve a última importante reforma no sistema de recrutamento (o fim da elegibilidade direta do colegial), eu fui totalmente a favor da mudança. Não sei se isso conta, porém, porque sabia pouquíssimo sobre a NBA. Hoje, por incrível que pareça, minha visão mudou totalmente: eu não apenas sou contrário ao aumento da idade, mas permitiria o salto direto do high school.
Sei que 90% das pessoas que estão lendo isso não concordam comigo, mas pelo menos sigam lendo.
Primeiramente, acredito que a escolha de se inscrever no recrutamento deve ser unicamente do jogador, não de interesses da NCAA ou NBA. Esse é o ponto principal: trata-se de um direito do indivíduo. Com 18 anos, um norte-americano pode (deve, vão dizer os militares) defender os EUA em uma das inúmeras guerras que arranjam aí – correndo risco de morte, ficar paralítico ou transtornado –, mas não pode se tornar profissional de basquete. Alguém pode indicar a lógica aqui?
Em segundo lugar, não é certo forçar alguém que se julga preparado para a NBA a não se profissionalizar, por mais que os garotos estejam quase sempre errados. LeBron James, Dwight Howard e Kobe Bryant são exceções? Sim. No entanto, muitos outros atletas saíram do colegial e acabaram estourando alguns anos depois. Caras como Andrew Bynum, Monta Ellis e Josh Smith ferraram suas carreiras ao decidirem não passar pela universidade?
Outros ferraram, você vai dizer. Sem querer ser grosso, mas azar o deles. O atleta, por mais jovem que seja, tem que se responsabilizar pelos seus atos. Isso faz parte da vida. E culpar o sistema – na NBA e na vida – não te leva a lugar nenhum.
Terceiro e último: forçar um jogador a ir para a universidade não faz com que ele queira isso. Caso rápido: Josh Selby. Foi recrutado por Kansas em 2010 e passou a temporada inteira de cara feia (teve lesões também), jogando pouco e mal. Na primeira chance que teve de pular fora da faculdade e treinar para o draft, foi rápido. Acabou sendo 49ª escolha, bem abaixo do que poderia ser se tivesse se inscrito saindo do colegial. Alguém ganhou alguma coisa no final?
Cuban citou os grandes jogadores colegiais que inscreveram no recrutamento, não foram selecionados e acabaram com suas carreiras. Na minha proposta, isso não aconteceria. O atleta colegial que não for selecionado no draft teria a chance de jogar na universidade, mas só poderia se inscrever novamente após três anos na NCAA. Seria um tipo de castigo. Aquele que não quiser isso também pode ir para a D-League, Europa ou qualquer parte do mundo. Um sistema que ajude e agrade todo mundo é virtualmente impossível mesmo.
Sobre aumentar a idade mínima de inscrição no recrutamento, só tenho uma pergunta: como justificar forçar Anthony Davis, inevitável primeira escolha deste ano, a ficar mais um ano em Kentucky? E John Wall? Derrick Rose? Greg Oden? Kevin Durant? Carmelo Anthony? A escolha não deveria ser deles, afinal? Nem todo mundo precisa de um ano extra, no high school ou na faculdade.
O engraçado, de qualquer forma, é ver como todos parecem não estarem satisfeitos com uma regra que, por bem ou por mal, funciona. O one-and-done é eficiente e pode ser derrubado por razões puramente mercadológicas. Você garante que garotos recebam o mínimo de formação universitária e a NCAA ganha uma grana em cima dos seus talentos. Isso sem contar que não são centenas de freshmen estão pulando fora do barco por ano. Na verdade, são uns 15 por temporada – e muitos treinadores já os recrutam sabendo o prazo de validade.
Além disso, a certeza de poder sair após uma temporada para a NBA evita que grandes jogadores colegiais busquem a “alternativa estrangeira” – o que vai acontecer, não tenha dúvidas, se o limite for aumentado para dois anos. Todos já conhecem a história de Brandon Jennings e sabem que podem esperar o (longo) período até se tornarem elegíveis ganhando uma boa grana fora dos EUA e conhecendo uma nova cultura. Sabem também que as franquias estão de olho em todo o mundo, não só nas universidades. E os agentes vão ganhar comissões gordas para dar este tipo de conselho a “crianças”.
Então, meu conselho para a NBA e NCAA é: não estraguem algo que “até que funciona”. Poderia ser muito pior para vocês.