O que aconteceu com a franquia de 2006 para cá?
Há quem diga que o Portland Trail Blazers é a franquia mais zicada da NBA. Páreo duro com o Los Angeles Clippers… Nos últimos anos, o Blazers tinha tudo para formar um esquadrão e se tornar um contender (postulante ao título). Só que muita coisa deu errado e o time de Portland vai passar por mais um processo de reconstrução de elenco. Essa renovação já começou na última trade deadline, com as saídas do ala Gerald Wallace e do pivô Marcus Camby, além da demissão do técnico Nate McMillan, que estava no cargo desde 2005. Neste artigo vou recapitular o que aconteceu com o Blazers nos últimos seis anos, além de adiantar o que poderá rolar na próxima temporada.
Vamos voltar ao draft do ano de 2006, quando a franquia contou com a chegada do ala-armador Brandon Roy (que já tinha um histórico de problemas nos joelhos) e do ala-pivô LaMarcus Aldridge. Roy havia sido selecionado pelo Minnesota Timberwolves (sexta escolha), mas foi negociado para o time de Portland em troca do armador Randy Foye. Já Aldridge chegou a Portland depois de uma negociação, na noite do draft, com o Chicago Bulls. O ala-pivô Tyrus Thomas, também selecionado no draft daquele ano, foi enviado para o Bulls. Ponto para o dirigente Kevin Pritchard, que acertou em cheio nas duas negociações. Em 2006/2007, Roy ganhou o prêmio de novato do ano e a direção do Blazers o via como futuro franchise player. Em quadra, o time de Portland fez uma campanha ruim: 32 vitórias e 50 derrotas. Mas tudo foi calculado. O time estava em reconstrução e não havia pressão por resultados.
Em junho de 2007, o Blazers se livrou do ala-pivô Zach Randolph (último remanescente do time apelidado de Portland Jail Blazers, que já teve Darius Miles, Ruben Patterson, Rasheed Wallace, Bonzi Wells, Damon Stoudamire e Qyntel Woods, atletas que tiveram muitos problemas extra-quadra), trocado para o New York Knicks. Pritchard foi promovido a gerente-geral da franquia e Larry Miller contratado como novo presidente de operações de basquete. Além disso, a equipe venceu a loteria do draft. Com a primeira escolha do recrutamento daquele ano, o Blazers optou por selecionar Greg Oden, projetado para ser um dos pivôs dominantes na NBA. O ala Kevin Durant, outro nome forte daquele draft, foi a segunda escolha.
Logo na pré-temporada, Oden sofreu uma grave lesão no joelho direito, que o deixaria de fora de toda a temporada. Duro golpe para o time comandado por Nate McMillan, que via no tripé Roy-Aldridge-Oden uma ótima possibilidade de alcançar voos maiores já naquela temporada. Com uma campanha de 41 vitórias e 41 derrotas, o Blazers voltou a ficar de fora dos playoffs. A notícia boa é que, em 2008, Roy foi selecionado para o Jogo das Estrelas.
Em 2008/2009, os resultados começaram a aparecer. Oden se recuperou do problema no joelho e atuou em 61 partidas. Roy e Aldridge estavam cada vez melhores. Foi a única vez em que o time de Portland contou com o trio em boa parte de uma temporada. Além disso, o Blazers adicionou mais dois jovens de talento: o ala-armador espanhol Rudy Fernández e o ala francês Nicolas Batum. Ambos chegaram a Portland via draft. Com um elenco mais qualificado e, sobretudo, saudável, o Blazers fez a quarta melhor campanha da conferência Oeste, com 54 vitórias e 28 derrotas. No entanto, o time caiu na primeira rodada dos playoffs. Mesmo com a vantagem no mando de quadra, a equipe de Portland sentiu a falta de experiência e foi superada pelo Houston Rockets, em uma série de seis partidas. Na época, mesmo com esse revés na pós-temporada, os analistas de NBA afirmavam: o time de Portland, com o trio Roy-Aldridge-Oden saudável, tinha tudo para brigar por títulos.
Em dezembro de 2009, as coisas começaram a se complicar em Portland. Oden teve outra grave lesão, desta vez no joelho esquerdo, e ficou de fora de quase toda a temporada. O outro pivô da equipe, Joel Przybilla, também machucou o joelho e perdeu boa parte da temporada. Com o time sem pivôs, o GM Kevin Pritchard foi ativo no mercado. Trouxe o veterano Marcus Camby, que estava no Los Angeles Clippers, por Steve Blake e Travis Outlaw. Roy, que havia assinado, na offseason, uma extensão de contrato no valor de 82 milhões de dólares (por cinco anos), ficou de molho em algumas partidas por causa de lesão no joelho. A zica foi tão grande em 2009/2010 que até o técnico McMillan rompeu o tendão de Aquiles durante um treino. Mesmo com todos esses problemas de lesões, o Blazers terminou a temporada regular com a sexta melhor campanha do Oeste. Novamente, o time caiu na primeira rodada dos playoffs, desta vez para o Phoenix Suns.
A temporada seguinte começou com uma surpresa. A uma hora do draft de 2010, Pritchard foi demitido inexplicavelmente. O curioso é que ele ainda participou das escolhas da equipe no recrutamento (os armadores Armon Johnson e Elliot Williams) e de uma troca com o Minnesota Timberwolves que levou o ala Luke Babbitt para Portland. O novo GM da franquia, Rich Cho, contratou, na offseason daquele ano, o ala Wesley Matthews, que era agente livre. O time estava mais encorpado e a esperança era a de ter, enfim, todos os atletas saudáveis. Mas não foi isso que aconteceu. A bruxa continuava solta no Blazers. Oden machucou novamente o joelho esquerdo e perdeu toda a temporada. Roy ficou de fora de quase metade da temporada regular por causa de lesões nos dois joelhos. Além disso, Camby perdeu mais de 20 jogos por conta de uma lesão no joelho esquerdo. Sem esses três jogadores, o talento de Aldridge ficou ainda mais evidente. Ele chamou a responsabilidade e foi o líder da equipe. Matthews também provou que Cho fez certo em contratá-lo. Em fevereiro de 2011, o Blazers qualificou seu elenco ainda mais com a chegada do ala Gerald Wallace. Pelo terceiro ano seguido, o time caiu na primeira rodada dos playoffs. O algoz da vez foi o Dallas Mavericks, que seria campeão ao final da temporada.
Com menos de um ano no cargo, Rich Cho foi demitido, supostamente por problemas de comunicação com o dono do Blazers, o bilionário Paul Allen (um dos fundadores da Microsoft). A franquia ficou cada vez mais sem rumo no campo administrativo. Em dois anos, Allen demitiu dois GMs. E até hoje não contratou alguém em definitivo para o cargo. Na quadra, o time de Portland sofreu um duro golpe. Em dezembro do ano passado, Roy anunciou que estava se aposentando das quadras porque seus joelhos já não aguentavam mais. Aos 27 anos… Uma tristeza para a NBA, que perdeu um de seus grandes talentos. E adivinha quem se machucou de novo? Pela terceira vez, Oden perderia uma temporada inteira por conta de problemas no joelho. Em cinco anos na Liga, o pivô disputou apenas 82 jogos. Na última semana, assim que acabou a trade deadline, o Blazers anunciou a dispensa de Oden. A carreira dele está cada vez mais ameaçada e um anúncio de aposentadoria poderá vir à tona ainda este ano. Detalhe: Oden tem apenas 24 anos. É muito azar um mesmo time perder dois jogadores que tinham tudo para firmar carreiras sólidas na NBA. Falar hoje que a franquia deveria ter selecionado Durant ao invés de Oden é fácil, soa como oportunismo. Em uma Liga tão carente de pivôs, o time de Portland apostou em Oden. Deu errado, paciência…
Para assustar ainda mais os fãs do Blazers, pouco antes do início da temporada, Aldridge ficou sabendo que precisaria fazer um novo tratamento para uma doença coronária chamada Síndrome de Wolf-Parkinson-White. Por sorte, ele não teve nada de grave e ficou de fora de poucas partidas. O problema já havia sido detectado em 2007, quando ele perdeu os últimos nove jogos daquela temporada para se tratar.
Para completar, o time de Portland vem tendo um péssimo desempenho nesta temporada. O técnico Nate McMillan foi demitido porque não conseguiu fazer o time jogar bem. O jovem assistente técnico Kaleb Canales assumiu o comando da equipe até o final da temporada. Os experientes e caros Gerald Wallace e Marcus Camby foram trocados. Em contrapartida, o Blazers recebeu escolhas de draft e contratos expirantes.
Enfim, a segunda reconstrução do elenco, em seis anos, já começou. Mas o time continua sem um gerente-geral. Chad Buchanan ocupa o cargo de forma interina desde a saída de Cho. Há quem diga que a “chutada de balde” dada pela direção do Blazers tenha a ver com um possível desejo de Paul Allen de vender a franquia. Também há quem garanta que esta será a última chance que Allen dará ao time para que conquiste algo (o Blazers tem apenas um título da NBA, conquistado em 1977). Caso a segunda opção seja concretizada, a franquia será agressiva no próximo período de agentes livres e tentará contratar um técnico de ponta e um GM de respeito.
Vamos analisar a situação do atual elenco do Blazers e o que pode ser feito na próxima temporada.
Armadores
Raymond Felton (27 anos): tem um contrato expirante de 7,5 milhões de dólares.
Jamal Crawford (32 anos): tem um contrato expirante de 5 milhões de dólares e uma player option de 5 milhões de dólares.
Jonny Flynn (22 anos): tem um contrato expirante de 3,4 milhões de dólares.
Nolan Smith (23 anos): tem um contrato de 2,7 milhões de dólares até o final da próxima temporada e uma team option de 1,5 milhão de dólares em 2014.
Elliot Williams (22 anos): tem um contrato de 2,8 milhões de dólares até o final da próxima temporada e uma team option de 2,3 milhões de dólares em 2014.
Alas
Wesley Matthews (25 anos): tem um contrato de 26,7 milhões de dólares válido até 2015.
Nicolas Batum (23 anos): tem um contrato expirante de 2,1 milhões de dólares e uma oferta qualificatória de 3,1 milhões de dólares em 2012/2013.
Shawne Williams (26 anos): tem um contrato expirante de 3 milhões de dólares e uma player option de 3,1 milhões de dólares.
Luke Babbitt (22 anos): tem um contrato de 3,6 milhões de dólares até o final da próxima temporada e uma team option de 2,9 milhões de dólares em 2014.
Craig Smith (28 anos): tem um contrato expirante de 992 mil dólares.
Pivôs
LaMarcus Aldridge (26 anos): tem um contrato de 54,1 milhões de dólares válido até 2015.
Mehmet Okur (32 anos): tem um contrato expirante de 10,9 milhões de dólares.
Hasheem Thabeet (25 anos): tem um contrato expirante de 5,1 milhões de dólares.
Joel Przybilla (32 anos): tem um contrato expirante de 600 mil dólares.
Kurt Thomas (39 anos): tem um contrato expirante de 1,3 milhão de dólares.
Da espinha dorsal da equipe para esta temporada, saíram Gerald Wallace e Marcus Camby. Raymond Felton não vem agradando e deve sair, já que seu contrato é expirante. A situação de Jamal Crawford ainda é uma incógnita. Ele pode testar o mercado de agentes livres ou cumprir o último ano de contrato com o Blazers. O ala francês Nicolas Batum vai ser agente livre restrito e testar o mercado. O time de Portland vai fazer de tudo para renovar seu contrato. Wesley Matthews e LaMarcus Aldridge deverão continuar na equipe.
Sobre os outros jogadores do elenco e que não têm muito tempo de quadra, os jovens Nolan Smith, Luke Babbitt e Elliot Williams também deverão continuar no Blazers. Já Craig Smith, que tem contrato expirante, deverá deixar a equipe. Os recém-contratados Jonny Flynn, Mehmet Okur e Hasheem Thabeet, todos com contratos expirantes, não deverão permanecer em Portland. Os veteranos Joel Przybilla e Kurt Thomas também deverão sair. Shawne Williams tem uma player option, mas deverá ser dispensado.
Caso Crawford, N. Smith, E. Williams, Matthews, Babbitt, S. Williams e Aldridge permaneçam, o Blazers terá, na próxima temporada, cerca de 27 milhões de dólares de espaço na folha salarial. Uma parte desse dinheiro (entre 6 e 8 milhões de dólares, acredito eu) deverá ser usada para a renovação de Batum. O restante ficará reservado para o mercado de agência livre. Alguns nomes interessantes que serão agentes livres na próxima temporada: Deron Williams, Steve Nash, Chauncey Billups, Kirk Hinrich, Andre Miller, D.J. Augustin, Goran Dragic, Leandrinho e Jason Terry (armadores); Ray Allen, Eric Gordon, Courtney Lee, O.J. Mayo, Landry Fields, Antawn Jamison, Ersan Ilyasova, C.J. Miles e Michael Beasley (alas); Kevin Garnett, Ryan Anderson, Kris Humphries, Chris Kaman, Brook Lopez, Roy Hibbert, JaVale McGee e Jason Thompson (pivôs).
Vale lembrar ainda que o time de Portland terá duas escolhas de primeira rodada e uma de segunda rodada no draft deste ano. Uma dessas picks, que foi obtida na negociação que enviou Gerald Wallace para o New Jersey Nets, é TOP 3 protegida, ou seja, caso ela não seja uma das três primeiras, irá para o Blazers. Se a equipe continuar em queda livre na temporada, a outra escolha de primeira rodada também deverá ser alta, com grandes chances de ser TOP 10. É a reconstrução do elenco em curso…
E aí, quem você gostaria que a equipe de Portland contratasse para a próxima temporada?