Aconteceram algumas coisas interessantes na NBA na temporada de 1987/88. O Los Angeles Lakers foi campeão da NBA pelo segundo ano consecutivo, algo que não acontecia desde o Boston Celtics de Bill Russell nas temporadas de 68 e 69. Michael Jordan foi o ‘cestinha’ da temporada, campeão do torneio de enterradas, MVP do All Star Game, MVP da temporada regular e Defensive Player Of the Year, uma das melhores performances individuais em uma temporada da história do basquete. A liga anunciou novas franquias em Charlotte, Orlando, Miami e Minneapolis para os próximos anos. E James Worthy teve a atuação mais brilhante da história em um jogo 7 de playoffs, fazendo 36 pontos, 11 rebotes e 10 assistências no último jogo das finais contra o Detroit Pistons, garantindo o título e o troféu de MVP das finais. Tudo muito bacana.
No entanto, o destaque dessa temporada não foi nenhum desses fatores. Pelo menos na minha opinião. Se me pedissem para citar o ‘highlight’ deste ano, diria que foi a explosão de John Stockton, que passaria a figurar entre os melhores armadores da liga a partir desse momento. E o duelo fenomenal contra Magic Johnson nos playoffs.
Diferente de Michael Jordan, Hakeem Olajuwon, Charles Barkley e outros companheiros de draft daquela safra monumental de 1984, Stockton não ‘chegou chegando’ na NBA. Apesar de ter sido um dos melhores jogadores da história de Gonzaga, John tinha uma grande desvantagem em relação aos demais: seu porte físico. Se Stephen Curry e Steve Nash já tiveram que provar seu valor por não serem altos, fortes e atléticos, imagine em uma época que Magic Johnson e Isiah Thomas dominavam a posição de PG. Stockton passou suas primeiras três temporadas como reserva de Rickey Green, com médias de 7.8 pontos e 8.0 assistências nesse período.
Seu papel mudaria em seu quarto ano na liga. Em seu draft de expansão, o Charlotte Hornets escolheria Rickey Green e Stockton passou a ser o dono absoluto da posição. Sua visão de jogo surreal, sua velocidade e, principalmente, seu entrosamento fora do normal com Karl Malone começaram a chamar a atenção. ‘Hot Rod Hundley’, que narrava os jogos do Utah Jazz na época, passou a chamar o armador de “The fastest of ‘em all” toda vez que Stockton puxava um contra-ataque. Com médias de 14.7 pontos e 13.8 assistências, John bateria seu primeiro recorde envolvendo assistências logo em seu primeiro ano como titular. O armador distribuiu 1.128 passes naquela temporada e quebraria o recorde de Isiah Thomas de jogador com mais assistências em uma única temporada da NBA.
O Utah Jazz terminou a temporada regular na quinta posição do oeste naquele ano. No primeiro round (que ainda era melhor de 5), venceria o Portland Trail Blazers de Clyde Drexler por 3 a 1 e no segundo round, o grande problema. A equipe de Utah enfrentaria o único time que não gostaria: o atual campeão Los Angeles Lakers, o melhor time da temporada regular e um dos melhores da história do jogo.
A maior preocupação, é claro, era na posição 1. Magic Johnson é 21 centímetros mais alto que Stockton. O pensamento da mídia era o mesmo. “John Stockton é um bom jogador de basquete, mas eles têm um problema. Ele é muito pequeno, muito fraco, muito branco, seus braços não são longos. Vocês vão colocar ESSA CRIANÇA contra Magic Johnson?! Vocês estão de brincadeira comigo. Vocês vão pedir para esse rapaz com essa cara de bebê atravessar a quadra com a bola na mão contra um dos maiores guards da história do jogo? Ele vai ser morto ali.” Escreveu Jim Murray, colunista do jornal Los Angeles Times.
O jogo 1 foi uma vitória relativamente tranquila do Lakers, por 110 a 91. Magic contribuiu com 19 pontos, 9 assistências e, conforme esperado, deu muito trabalho à Stockton. Apesar dos 29 pontos de Malone, o armador do Jazz teve muitos problemas em pontuar, acertando 3 arremessos em 13 tentados e terminando o jogo com 7 pontos e 16 assistências. A situação mudaria no jogo 2. Com 19 pontos e 13 assistências, Stockton liderou seu jovem time à uma inesperada vitória em Los Angeles no jogo 2. O Utah Jazz venceria novamente o jogo 3 em Utah e de repente ninguém mais queria saber de como o Pistons estava surrando o time de Michael Jordan. O Utah Jazz roubou o mando de quadra do Los Angeles Lakers. E a eliminação do time de Magic Johnson precocemente passou a ser uma possibilidade real.
O Lakers venceria o jogo 4 em Utah e o que se viu no jogo 5 foi um dos melhores jogos dos playoffs de 1988. James Worthy e Karl Malone travavam um duelo pessoal, sendo os principais pontuadores das equipes, e Stockton estava tendo uma partida formidável. Magic simplesmente não conseguia cortar as linhas de passe do armador. ‘Não importa nossa diferença de tamanhos’ – Magic afirmou mais tarde – ‘o que importa é o que ele tem no coração, a vontade de vencer. E Stockton é um leão em quadra.’
O Lakers venceria o jogo 5 por 111 a 109. John Stockton garantiu 23 pontos e 24 assistências, empatando o recorde do próprio MJ de mais assistências em um jogo de playoff. No último lance do jogo, Stockton deu um passe certeiro para Thurl Bailey, que levaria o jogo à prorrogação e quebraria o recorde de Magic em assistências. A bola deu air ball. Mas a história estava escrita. Ninguém mais duvidaria do armador do Jazz.
A equipe de Utah conseguiu levar a série para o sétimo jogo, mas não foi suficiente para derrotar os atuais.
Jogo 1:
Magic: 19pts, 9asts
Stockton: 7pts, 16asts
Jogo 2 :
Magic: 19pts, 10asts
Stockton: 19pts, 13asts
Jogo 3:
Magic: 16pts, 6asts
Stockton: 22pts, 12asts
Jogo 4:
Magic: 24pts, 9asts
Stockton: 21pts, 13asts
Jogo 5:
Magic: 20pts, 13asts
Stockton: 23pts, 24asts
Jogo 6:
Magic: 10pts, 9asts
Stockton: 14pts, 17asts
Jogo 7
Magic: 23pts, 16asts
Stockton: 29pts, 20asts
É claro que Jim Murray precisou se retratar sobre o que havia dito antes da série. “O que ninguém imaginava era que, com uma bola de basquete nas mãos, John Stockton é como Billy the Kid com um revólver, ou John Dillinger com uma metralhadora – um homem muito perigoso. Fora da quadra, ele parece como um garoto de igreja. Dentro de quadra, um assassino brutal”.