Por Ricardo Romanelli
Quando se fala em decisões “dentro de quadra”, o modelo de gestão da NBA tem sido relativamente o mesmo nas últimas décadas. As franquias estruturam-se a partir do dono da equipe, que possui a última palavra em questões gerais. Abaixo dele, está a figura do gerente geral e/ou presidente de operações em basquete, um executivo com experiência e vivência na liga contratado para gerenciar a formação do elenco – desde a escolha da filosofia a ser implementada até a contratação dos jogadores e da comissão técnica. Por fim, o treinador é quem tem o contato mais próximo com os atletas, armando as rotações e o esquema de jogo, bem como trabalhando a motivação e a disciplina dos comandados.
De maneira bastante simples, este é o modelo que a maioria das franquias adota. No entanto, alguns experimentos bem sucedidos tem feito com que tal panorama se altere lentamente e vejamos novas propostas surgindo. Nenhuma delas parece mais em moda no momento do que o técnico/dirigente. Aqui, nos referimos à recente contratação de Stan Van Gundy pelo Detroit Pistons, como treinador do time e presidente de operações. Esta alternativa de trabalho cresce como uma tendência a nível estratégico, ao passo que o irmão de Stan, Jeff Van Gundy, também teria negociado uma posição similar com o Memphis Grizzlies, antes do anúncio da permanência de Dave Joerger.
O acúmulo formal das funções de técnico e dirigente é novidade, mas a prática, nem tanto. Doc Rivers, por exemplo, já assume a dupla função no Los Angeles Clippers. Poucos sabem, mas Gregg Popovich era GM do Spurs até a efetivação de R.C. Buford. Ainda existem alguns executivos que têm contratado técnicos sob os quais possuem maior influência para que tenham melhor “controle” com o que acontece em quadra. O maior exemplo é Pat Riley, presidente do Miami Heat, que tem em Erik Spoelstra um técnico obediente a seus comandos. Phil Jackson, que assumiu a presidência do New York Knicks recentemente, também busca um treinador nos mesmos moldes.
Este fenômeno ocorre paralelamente ao relativo enfraquecimento da figura dos mandatários. Antigamente, os donos de franquia tinham maior poder sobre as decisões de um time. Hoje, a imagem do dono centralizador e obstinado (como Mark Cuban, no Dallas Mavericks), é algo em extinção. Cada vez mais grupos de investidores, conglomerados sem uma pessoa proeminente, compram equipes e entregam sua gestão a executivos.
Por tais motivos, temos duas mudanças no equilíbrio organizacional de forças na NBA. Inicialmente, temos um dirigente com grande poder sobre as decisões gerais e a escolha do técnico. Em um segundo e mais recente momento, o executivo que não apenas monta o elenco, mas também atua como treinador. Este modelo é bastante utilizado, por exemplo, no futebol europeu, especialmente na Inglaterra. Tem como vantagens maior dinamismo na tomada de decisões que exijam esforço conjunto dos aspectos dentro e fora de quadra, além de maior sintonia entre a montagem do elenco e o que se espera dele dentro de quadra.
Como ponto negativo, podemos apontar a excessiva dependência de um único profissional para o sucesso da franquia. Apenas indivíduos preparados e com uma história de sucesso, como os irmãos Van Gundy, vão poder assumir este tipo de papel até que esteja devidamente implementado e assimilado pela liga – se é que realmente emplacará.
Se este modelo é o certo para o futuro da NBA, apenas o tempo dirá. No entanto, é bastante interessante ver que as equipes estão buscando alternativas criativas para criar elencos mais coesos e com filosofias de trabalho bastante definidas. Isso faz com que a equipe crie uma maneira de jogar mais constante e, inclusive, uma identidade que é bastante salutar: a franquia torna-se menos dependente de atletas individualmente e também consegue maior identificação com a torcida. Se a estratégia for desenvolvida desta forma, a liga tem a muito a ganhar.