Da NBA ao Brasil

Renan Ronchi escreve hoje sobre ex-jogadores da NBA que atuaram no basquete brasileiro em suas carreiras

Fonte: Renan Ronchi escreve hoje sobre ex-jogadores da NBA que atuaram no basquete brasileiro em suas carreiras

Se você acompanha e torce por algum time do basquetebol brasileiro, você entende o que eu vou falar agora. Seu time anuncia um jogador norte-americano. Provavelmente uma combinação de nomes que já existe na NBA, tipo o gerador automático de calouros dos antigos NBA 2k. Jason Smith, Greg Robertson, Jonas Williams. Você entra no Google e começa a pesquisar sobre esse jogador. Você lê que ele jogou na Division I da NCAA antes de ser draftado na 57ª escolha do draft de 2005 pelo Seattle Supersonics. Seu olho brilha. “Excelente reforço”, você pensa, “afinal conseguiu jogar 23 partidas na NBA há dez anos. Deve ser bom”.

Pois é. Todo mundo sabe que em ordem de grandeza a liga brasileira de basquete não ocupa uma boa posição. Tem (praticamente todas) as ligas do basquetebol europeu, a liga Chinesa, e até ligas menores dos EUA como a CBA acabam sendo um negócio melhor que o NBB. Mesmo assim, de vez em quando pintam uns gringos com passagens pela NBA. A maioria dos que fazem sucesso por aqui sequer conseguiram chegar lá, como Larry Taylor e Charles Byrd. Mas alguns casos são interessantes.

Muitos deles, apesar de não serem tão talentosos, possuem histórias bacanas. O Palmeiras possuiu por duas temporadas um norte-americano chamado Antwaine Wiggins. Wiggins, sim, era primo de primeiro grau de Andrew Wiggins, estrela canadense que hoje brilha na NBA. Além disso, a faculdade de Antwaine era grande rival de Davidson, portanto o jogador protagonizou diversos jogos com Stephen Curry, inclusive dando um toco sensacional no mesmo que está registrado no youtube. Mas não se enganem. O Wiggins do Palmeiras não tinha 20% do talento do Wiggins do Timberwolves. Depois de ser dispensado da equipe alviverde, jogou um tempo em Hong Kong e hoje atua na Argentina. Steve Toyloy, hoje pivô do Paulistano, atuou na NCAA no mesmo time de Lance Stephenson. Os dois mantém contato até hoje e, segundo ele, o ala sempre foi maluco da cabeça. Essa é a (única) vantagem do basquetebol daqui: no fim dos jogos, os jogadores saem do ginásio pela mesma porta dos torcedores. É só espera-los tomar uma ducha e praticar o seu inglês.

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Contratar um estrangeiro, principalmente um norte-americano, é bem arriscado no final das contas. Por mais que o jogador já teve passagens pela NBA ou elite europeia, nem sempre ele joga o que se espera dele. Talvez ficar mais de seis meses longe do esquema puxado de treinos dos principais centros de basquete acabam prejudicando o jogador. O fato é que alguns acabam dando bem certo. É o caso de Dexter Shouse. O norte-americano jogou no começo dos anos 90 em Franca e até hoje é considerado o melhor gringo a passar por aqui. Shouse não foi draftado. Rodou mundo afora até ir para as Filipinas e ter médias de 50 pontos por jogo (!!!), o que atraiu a atenção do Philadelphia 76ers. A passagem pela NBA acabou sendo frustrada e ele veio parar no interior de São Paulo. Temperamental e problemático, Shouse era uma bomba relógio. Mas era simplesmente espetacular. Infelizmente não há muitos vídeos ou recordações daquela época, mas Shouse encantou a todos enquanto ganhava o brasileiro de 93 ao lado de Demétrius, Helinho e Rogério.

Outros casos (e esses são os mais comuns) acabam dando absurdamente errado. Caso de Darington Hobson no Brasília. Com porte físico diferenciado, Hobson veio para substituir Alex Garcia no time da capital e contava com uma passagem pelo Milwaukee Bucks em seu currículo. Acabou sendo dispensado antes da metade da temporada. Abaixo, escrevo sobre os três estrangeiros com o melhor currículo antes de chegar no basquetebol brasileiro. Entenda: não foram necessariamente os melhores, e sim os que tiveram o melhor passado antes de acabarem no Brasil.

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Walter Herrmann: O primeiro campeão olímpico da história a atuar no basquetebol brasileiro. Herrmann faz parte da ‘geração dourada’ argentina que derrotou os EUA no mundial de Indianapolis e se sagrou campeã olímpica dois anos depois. O jogador tinha talento e potencial para se tornar algo como um Dirk Nowitzki no basquetebol mundial, mas infelizmente alguns problemas pessoais bagunçaram a cabeça de Herrmann e este nunca chegou a ser o que se esperava dele. Ainda assim, tem um currículo formidável. Após ganhar tudo na Argentina, passou 4 anos na Espanha, onde foi o MVP da Liga ACB. Jogou mais três anos na NBA, sendo uma temporada no (urght!) Charlotte Bobcats e outras duas no Detroit Pistons. Voltou para a Espanha, se aposentou, voltou a jogar basquete e foi parar no Flamengo no ano passado, onde foi campeão inter-continental e brasileiro ao vencer o Bauru na final do NBB. Herrmann voltou ao basquetebol argentino, onde pretende jogar até encerrar em definitivo sua carreira.

Carey Scurry: Se você atou três anos ao lado de John Stockton e Karl Malone e depois vem atuar no Brasil, é porque algo está errado. Scurry era um Small Forward relativamente talentoso na NBA. Atuou de 1985 a 88 no Utah Jazz como banco de Thurl Bailey. Infelizmente, Scurry tinha sérios problemas com a bebida alcoólica e isso o tirou da NBA. Após registrar médias de 4.7 pontos e 2.9 rebotes em três anos com o Jazz, Scurry foi trocado e dispensado logo em seguida pelo New York Knicks. Jogou na Bélgica, França, Espanha, Chile e Argentina antes de vir parar no Franca. Não teve uma passagem longa por aqui, mas o suficiente para o técnico Hélio Rubens o considerar um dos jogadores mais talentosos que já treinou. Se não fossem seus problemas com a bebida provavelmente passaria uma década na liga norte-americana.

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Wes Matthews: Sim! O pai do ala do Dallas Mavericks Wesley Matthews encerrou sua carreira no Brasil, e sem a menor sombra de dúvidas é o jogador com o currículo mais interessante a jogar por aqui. Draftado pelo Bullets em 1980, Matthews jogou a temporada 1984/85 pelo Bulls do rookie Michael Jordan. Jogou no Philadelphia 76ers de Charles Barkley e Moses Malone. Jogou três temporadas no Los Angeles Lakers da era showtime (!!!), onde teve média de 20 minutos por jogo e foi bicampeão da NBA com Magic Johnson, James Worthy e Kareem Abdul-Jabbar. Após seu auge, atuou por ligas menores dos EUA e jogou um tempo na Itália antes de vir parar no COC/Ribeirão Preto. Aos 36 anos, Matthews foi um dos pilares no começo de um dos projetos de basquete mais vencedores do país. Seu físico o permitia jogar 40 minutos por jogo apesar da idade e era um dos principais pontuadores do time que protagonizou grandes jogos com o Marathon/Franca. Infelizmente, sua carreira se encerrou de um jeito bem triste. Em um dos jogos da final do brasileiro de 98, Matthews se irritou com uma jogada do pivô dominicano de Franca, Vargas, e deu um soco na cara do jogador. Maluco de pedra. Vargas tinha 20 centímetros a mais que o armador e foi pra cima sem dó do jogador. Após o quebra-pau, diziam que Vargas iria para o hotel dos jogadores do COC tirar satisfação com Matthews, que estaria armado o esperando. Nada aconteceu, o Franca foi campeão e Wes dispensado em seguida. Hoje mora em Chicago e tenta restabelecer uma relação com seu filho, que abandonou com sua mãe quando era criança.

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