Dos filhos dos filhos

Gustavo Freitas analisa o possível fim de uma parceria que durou seis anos em Los Angeles

Fonte: Gustavo Freitas analisa o possível fim de uma parceria que durou seis anos em Los Angeles

Uma carreira brilhante na NBA nem sempre é coroada com um título. Karl Malone, John Stockton, Charles Barkley, Patrick Ewing, Chris Mullin, ídolos do Dream Team, deixaram a liga sem o anel de campeão. Da atualidade, astros como Chris Paul e Blake Griffin, jamais estiveram próximos disso. E o pior: o Los Angeles Clippers não aproveitou as poucas chances que teve de dar isso a eles. Agora, corre sérios riscos de perder ambos na agência livre.

Tudo bem. O Clippers até montou times interessantes desde a chegada de Paul, naquela troca que o Los Angeles Lakers reclama (em partes, com razão) até hoje. O problema é que os altos salários de seus melhores jogadores acabaram impedindo contratações de impacto ao grupo que já tinha DeAndre Jordan. Ficou engessado e sem ter para onde ir. Buscou veteranos ou jovens em ascensão, mas era muito pouco para as pretensões de uma franquia que ia atrás do campeonato.

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Paul não deve ficar. Será uma surpresa, inclusive. Por mais que exista ambiente nos vestiários, carinho da torcida e tudo mais, chega uma hora em que as prioridades começam a ser revistas. A ambição de um jogador, aos 32 anos e próximo de seu último grande contrato, passa a ser apenas uma: o título.

Essa busca frenética que levou Barkley ao Houston Rockets, Mullin ao Indiana Pacers e Malone ao Lakers, às vezes custa caro. Gary Payton, por exemplo, após fracassar ao lado de Malone em Los Angeles, passou pelo Boston Celtics e só conseguiu aos 45 do segundo tempo, no Miami Heat, como reserva. Não que seja demérito para ninguém sair do banco, mas a reputação de um jogador está em jogo. Deron Williams, que no início da década era discutido com Paul sobre quem era o melhor armador da época, largou tudo no Dallas Mavericks para se juntar ao Cleveland Cavaliers. Também como reserva.

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Vamos pensar na parte financeira. Paul ainda está no auge. É um dos melhores jogadores de sua posição, sem dúvida alguma, e teria mais cerca de US$ 24 milhões a receber em 2017-18. Ele tem uma cláusula em seu contrato que o permite optar por sair. Vale lembrar que em sua carreira, o armador recebeu aproximadamente US$ 245 milhões apenas em acordos na NBA, fora publicidades ou utilização de determinado material esportivo aqui e ali. Na cotação de hoje, ele contabiliza mais de R$ 845 milhões em 12 anos. Isso corresponde a nada menos que o sujeito vencer 13 vezes sozinho na Mega Sena, que estava acumulada em R$ 60 milhões no último dia 31. Acha mesmo que o problema dele é financeiro? Seus filhos, os filhos dos filhos, e os filhos dos filhos dos filhos, estão assegurados por décadas, já que o atleta não é daqueles que você aponta como esbanjador, ou que torra a grana em apostas tolas.

A parte esportiva, então, é uma questão importante. Haveria competitividade suficiente para seguir sendo um dos melhores jogando no San Antonio Spurs, tido como o principal candidato a contar com seus serviços? É importante ressaltar que Tony Parker está lesionado e a melhor previsão para o seu retorno é em dezembro ou janeiro. Além disso, Parker é três anos mais velho e já mostrou estar em decadência física. Apareceu bem nos playoffs, mas ainda longe do que fizera antes. Paul teria pelo menos dois meses para se garantir por ali sozinho, com tempo para compreender o sistema de jogo de Gregg Popovich e liderar o time texano com Kawhi Leonard.

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Seu salário no Spurs, porém, ficaria longe de suas últimas pedidas. E voltamos sobre o financeiro. Paul não precisa mais de grandes contratos. Está realizado nisso. A equipe, no entanto, está com o teto salarial próximo de estourar para a próxima temporada. Apenas com LaMarcus Aldridge, Pau Gasol, Leonard e Parker, o time está comprometido em cerca de US$ 71 milhões. Gasol tem uma player option de US$ 16 milhões e ninguém em sã consciência acredita que ele vai abrir mão disso, especialmente após uma temporada decepcionante. Parker será expirante.

Existe a possibilidade de um sign and trade, ou seja, o Clippers assina com o astro para então, negociá-lo com o Spurs ou seja lá qual for o time. Para dar certo, Paul, mais uma vez, precisaria abrir mão dos US$ 24 milhões que teria direito em 2017-18 e tornaria-se agente livre irrestrito. A partir disso, o Spurs teria de “empacotar” alguns contratos e enviar ao time californiano para o salário bater. Não chega a ser uma manobra tão complicada assim.

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Já Griffin, na mesma situação, ainda pode fazer com que outros agentes livres se juntem a ele no Clippers. A tendência, hoje, é de ficar onde está. Não com o mesmo salário, pois ficou defasado após o novo teto da NBA. Mas com todo o seu talento e versatilidade, é capaz de manter a equipe nos playoffs, desde que com as peças certas. Jrue Holiday e Jeff Teague, por exemplo, são free agents daqueles subestimados e que não chegariam para receber contrato máximo. Na ala, Danilo Gallinari é uma das melhores opções do mesmo estilo dos armadores. Ou seja, dá para fazer algo interessante ali. Mas, assim como o Spurs, o Clippers é engessado. J.J. Redick é agente livre, Luc Richard Mbah a Moute tem player option, Jamal Crawford, aos 37 anos, possui mais dois de contrato garantido pela bagatela de US$ 14 milhões anuais. Doc Rivers não se ajuda. Ainda mais com o seu filho, Austin, ganhando quase US$ 35 milhões em três temporadas.

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Este parece ser o fim de uma parceria que foi mais impactante em highlights do que em resultados na hora em que mais importava. O Clippers falhou por seis anos seguidos. Sem essa de que fulano foi “amarelão”. Os contratos estão aí para provar que não basta ter dois ou três astros. É preciso ter elenco equilibrado suficiente para superar adversários cada vez mais fortes. Se não deu título agora, quando vai dar?

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