Artigo – Jordan, hipócrita?

Michael Jordan já foi chamado de várias coisas. Acho que é seguro dizer que cada um de nós já chamou o considerado melhor jogador de basquete de todos os tempos de diversas coisas. Nem sempre boas, é verdade, mas ele causou incontáveis reações nos torcedores. E, no fim das contas, é por isso que continuamos […]

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Michael Jordan já foi chamado de várias coisas. Acho que é seguro dizer que cada um de nós já chamou o considerado melhor jogador de basquete de todos os tempos de diversas coisas. Nem sempre boas, é verdade, mas ele causou incontáveis reações nos torcedores. E, no fim das contas, é por isso que continuamos a reverenciá-lo.

Após a última reunião entre jogadores e donos de franquias, que deixou a temporada próxima do cancelamento, Jordan ganhou mais um adjetivo para sua coleção: hipócrita. Ele foi assim chamado pelo ala Paul George (Indiana Pacers) e pelo ala-armador Klay Thompson (draftado pelo Golden State Warriors). O comportamento “radical” do agora dono do Charlotte Bobcats nas negociações do novo acordo coletivo de trabalho da liga foi o motivo da revolta dos atletas.

A frente de uma das equipes menos rentáveis da NBA, Jordan se tornou um dos donos mais intransigentes do comitê. Ele seria contrário até mesmo à proposta de divisão igualitária (50-50) dos lucros gerados pela liga, já recusada pelos jogadores (que ficavam com 57% até julho). Seu número ideal – e fora de realidade – seria destinar apenas 47% da renda para os atletas.

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O comportamento é uma completa inversão daquele que Jordan mostrava como jogador, na década de 1990. O astro-mor da NBA era um ferrenho defensor dos atletas nas negociações de acordos coletivos de trabalho e conseguiu ótimos acertos para a classe. Acertos que, ironicamente, levaram ao panorama atual.

Talvez o momento mais marcante do “ativista” Jordan aconteceu em uma reunião de 1998, quando bateu boca com o então dono do Washington Wizards, Abe Pollin. Na época, o ex-jogador (diante de vários outros executivos e 100 atletas) disse ao mandatário que, se não conseguia lucrar, deveria vender a equipe.

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Em resumo, ele mudou de lado e discurso nestes últimos 15 anos. “Você acha que o Jordan de 96 faria isso?”, questionou Thompson. Então, ele é um “tremendo hipócrita, cara”, como definiu logo em seguida George. Certo?

Não sei. De fato, Jordan passou para o outro lado da briga. No entanto, seu objetivo continua o mesmo de antigamente. Que é o mesmo de Paul George. O mesmo de Abe Pollin em 1998. O mesmo que jogadores e donos compartilham hoje. Todos querem dinheiro, não importa o lado em que estejam. E quer saber: eu também iria atrás da grana. Você não?

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Será que dá para chamar o “maior de todos” de hipócrita por causa disso? Eu não chamaria. Sei que, na posição de atletas, Thompson e George veem a situação como uma batalha de classes, mas Jordan sempre me pareceu deixar claro que sua atitude era para defender os interesses dele (que, por extensão, coincidiam com o de todos jogadores). Neste momento, ele nada mais faz do que, mais uma vez, proteger seu bolso (sem fundo). Só que, dessa vez, os interesses se alinham com os donos.

Não consigo chamá-lo de hipócrita por seu atual comportamento, por querer ganhar dinheiro. É o que todos fazem em tempos de locaute. O que evidencia uma possível hipocrisia de Jordan não é o que os atletas dizem, mas, ironicamente, o que o próprio já chegou a dizer. Como Abe Pollin, há 13 anos, ele não deveria passar a franquia para frente se não está conseguindo lucros?

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Afinal, nunca se esqueça, foi ele mesmo quem ajudou a montar o tabuleiro e criar as regras do jogo.

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