Tim Duncan quebrou o silêncio. O ídolo do San Antonio Spurs falou pela primeira vez como um ex-jogador de basquete na tarde desta quarta-feira, em entrevista informal a uma rádio online norte-americana. Ele reconheceu que tinha condições de estender a carreira por mais uma temporada, mas chegou a um ponto em que não via mais sentido em continuar em quadra.
“Eu ainda posso jogar. Até poderia seguir jogando, mas era o momento de parar. Comecei a não me sentir bem comigo mesmo. Já não era mais divertido. Sempre disse que, quando tudo isso já não fosse mais divertido, seria o fim para mim. E, quando a hora chega, não se discute. Então, parei”, contou o ex-ala-pivô, que não participou nem da própria entrevista de aposentadoria organizada pelo Spurs.
Desde o anúncio da aposentadoria, Duncan recebeu uma enxurrada de mensagens de agradecimento de fãs, amigos, atletas, técnicos e ex-atletas. Tantas que, após dois dias, ainda não conseguiu ler e responder todas. “Recebi tantas homenagens incríveis de pessoas tão diferentes que fiquei impressionado. Não esperava isso e nunca pensei que causaria uma comoção desse tipo”, confessou.
Ele poderia receber mais e maiores homenagens se tivesse sido uma figura mais preocupada com marketing pessoal. O ex-jogador sempre representou a antítese do astro da NBA em quase duas décadas de carreira, caracterizando-se pelo jeito contido em quadra, estilo calado e postura avessa aos holofotes. Algo que nunca entendeu como alguns podem confundir com falta de espírito competitivo.
“Competitividade é algo diferente para diferentes pessoas. Nunca fui de gritar em quadra, pular mais alto do que todos ou brigar com os outros. Não é quem sou. Não fazia essas coisas, mas sempre fui competitivo. Desde meu primeiro dia. Só não entrava em quadra para machucar alguém, fazer performances ou vencer a qualquer custo”, argumentou, defendendo seu comportamento nos jogos.
Elogiado ou não, foi assim que Duncan tornou-se o melhor ala-pivô de todos os tempos para analistas e torcedores da liga. Tornou-se, pelo menos, para os outros. “Eu não sei como as pessoas fazem seus rankings e digo que não me importo com essas coisas. Estou na discussão com os melhores e isso é ótimo, algo com que nunca sonhei. Só estar em um debate desses é uma enorme honra”, celebrou.
Mas não foi somente pela postura contida, inteligência ou técnica refinada que o ídolo texano ficou conhecido ao redor da NBA. O astro também foi extensamente elogiado em diferentes momentos da carreira por aceitar cortes salariais para dar ao Spurs melhores condições de contratar reforços para o elenco. Mais uma prova de sua “competitividade calada” e vontade de vencer.
“Eu aceitei um pouco menos de dinheiro de vez em quando para que pudéssemos continuar competitivos e ganhar campeonatos. É por isso que jogamos, certo? Eu nunca me importei com quem ganhava mais e, honestamente, não sabia o salário dos outros atletas. Acho que é a melhor perspectiva para se ter”, disse o craque, que receberá o salário que ganharia na próxima temporada (quase US$6 milhões) como um prêmio da equipe de San Antonio pelos serviços prestados.
Agora, a carreira de jogador é passado. Suas 19 temporadas, cinco títulos da liga e dois prêmios de MVPs são história. E o que o futuro reserva para Tim Duncan? Seu único técnico na NBA, Gregg Popovich, não acredita que o ex-comandado vá fazer carreira à beira da quadra (“inteligente demais para isso”), mas quer vê-lo em um cargo na franquia. O Spurs, certamente, tem interesse em sua permanência.
No entanto, o que Duncan quer? Aos 40 anos, o sempre racional jogador só parece querer ser surpreendido e improvisar um pouco. “Eu não estou morrendo, só estou partindo para um novo capítulo. Essa é a beleza da vida: não tenho o script do que vai acontecer”, resumiu.