Anos 2000-07: expansão global e alternância de poder
E eis que chegamos à penúltima parte de nosso especial sobre a história da NBA. Como agora iniciamos um período muito mais próximo da atualidade, nós optamos por passar de maneira mais breve pelos acontecimentos – que ainda presentes na mente de todos os torcedores.
Depois de uma década dominada por Michael Jordan, o novo milênio começou com um novo período de dominância de uma das franquias mais tradicionais da liga. O Los Angeles Lakers venceu três títulos de maneira consecutiva (entre 2000 e 2002) com um time que tinha como base a dupla Shaquille O’Neal, então o grande astro da NBA, e o jovem Kobe Bryant, um astro em ascensão meteórica. A equipe era comandada por Phil Jackson, treinador dos títulos do Chicago Bulls na década de 1990. O restante do elenco foi sendo formado após a contratação do pivô (1996), mesmo ano da chegada do calouro Kobe. Quando finalmente chegou ao anel, a equipe era também composta por Robert Horry, Glen Rice e Derek Fisher.
Rice ficou apenas durante o primeiro título e seria substituído por Rick Fox, que já era reserva em 2000. Os angelinos tiveram embates memoráveis nos playoffs, como a final da conferência Oeste contra o Portland Trail Blazers em 2000 – vencida após um emocionante sétimo jogo em que o Lakers virou o último quarto perdendo por dígitos duplos –, a série contra o Sacramento Kings em 2001, quando Robert Horry converteu o mais icônico arremesso de sua carreira e por aí vai.
Nas finais, três adversários diferentes em três anos. Em 2000, a vítima foi o Indiana Pacers do veterano Reggie Miller. O time perdeu apenas um jogo nos playoffs do ano seguinte, justamente diante do Philadelphia 76ers do então MVP Allen Iverson, o defensor do ano Dikembe Mutombo e o melhor técnico da liga, Larry Brown. Em 2002, o New Jersey Nets de Jason Kidd foi o derrotado da vez.
Em 2003, o Lakers já estava cansado e o caminho abriu-se para o segundo título de outro grande campeão. Tim Duncan, já duas vezes vencedor do MVP e campeão em 1999, levou o San Antonio Spurs a mais um anel no ano de aposentadoria do grande David Robinson. A rápida ascensão de Tony Parker e Manu Ginobili, aliada ao melhor momento da carreira de Duncan e a comoção pela aposentadoria do “Almirante”, fizeram desse um dos títulos mais marcantes da última década.
Ao final daquela temporada, nós tivemos um dos melhores drafts da história. Chegariam à liga pelo recrutamento de 2003 atletas como Carmelo Anthony, Chris Bosh, Dwyane Wade, Chris Kaman, Kirk Hinrich, T.J Ford, David West, Boris Diaw, Josh Howard, Mo Williams, Kyle Korver e, é claro, aquele que tornou-se o jogador mais badalado da história recente, LeBron James.
A NBA, porém, ainda pertencia aos veteranos. Abalado pela perda do tetracampeonato, o Lakers resolveu investir: não renovou o contrato de Robert Horry para trazer os experientes Karl Malone e Gary Payton, formando um dos elencos mais estrelados da história. A formação da superequipe era uma forma de atenuar os vários rumores de um racha no elenco por conta das dificuldades de relacionamento entre Bryant e O’Neal: o primeiro era mais reservado e dedicado, enquanto o segundo encarnava estilo mais brincalhão e como poucos o papel de estrela do esporte.
Payton e Malone já eram nomes certos no Hall da Fama, mas não haviam conquistado títulos nos anos 1990 por terem esbarrado em Michael Jordan. Era a grande chance deles. Paralelamente, Kevin Garnett teve sua melhor temporada na carreira e foi eleito MVP com a camisa do Minnesota Timberwolves. Além disso, o Spurs continuava uma grande força e candidato ao bicampeonato. Com isso, tivemos grandes séries nos playoffs do Oeste, onde os angelinos derrotaram ambas as equipes com atuações memoráveis. Contra os texanos, Fisher acertou seu famoso arremesso com apenas 0,4s no relógio. Na decisão da conferência, Malone anulou Garnett e o Lakers avançou.
No Leste, o Detroit Pistons surpreendeu a todos e desbancou o favorito Indiana Pacers com um toco incrível de Tayshaun Prince em Reggie Miller nos segundos finais de uma partida decisiva. Era o azarão frente ao favoritíssimo Lakers. Sua base tinha sido formada naquele ano, por vários jogadores desacreditados. Uma troca no último dia de transferências trouxe Rasheed Wallace, então jogador de maior popularidade do elenco que ainda contava com Chauncey Billups, Richard Hamilton, Ben Wallace, Tayshaun Prince e Larry Brown no comando. À exceção de Prince, que estava em seus primeiros anos como profissional, todos já tinham algum tempo de carreira e não haviam conseguido se firmar em lugar algum.
O desacreditado Pistons chegou à decisão com um jogo defensivo impecável e, em história digna de um roteiro de Hollywood, desbancou o estrelado Lakers em cinco jogos. Claro que o adversário foi afetado pela perda de Malone (lesionado na série contra o Wolves) e a rixa interna entre seus astros, mas o Pistons jogou um basquete coletivo, defensivo e dedicado como poucas vezes se viu na NBA. O título colocou os “obscuros” atletas no mapa nos anos seguintes: enquanto Billups passou a ser presença constante listas de candidatos a MVP, Hamilton e os Wallaces passaram a ser convocados com frequência para Jogos das Estrelas.
A derrota motivou a implosão do time: Kobe se tornou agente livre e exigiu a saída de O’Neal para renovar. O pivô tinha se envolvido em polêmica com o dono da franquia, Jerry Buss, por conta de sua extensão de contrato e acabou envolvido em uma troca com o Miami Heat, por Lamar Odom e Caron Butler. Phil Jackson se aposentou, Fisher foi para o Golden State Warriors e Fox encerrou a carreira após ser trocado com Gary Payton para o Celtics.
Com o Lakers em reconstrução e o fracasso do Twolves em repetir a campanha do ano anterior, o Spurs chegou de maneira relativamente tranquila à decisão do ano seguinte, passando pelo Phoenix Suns do MVP Steve Nash no caminho. Lá, enfrentaria o campeão Detroit Pistons e protagonizou uma das séries mais disputadas da história das finais – que venceu em sete partidas, com performances decisivas do argentino Manu Ginobili.
Ginobili, por sinal, foi um dos expoentes da expansão global da NBA que marcou a década. Nomes como Yao Ming (China), Leandrinho Barbosa, Anderson Varejão, Nenê Hilário (Brasil), Carlos Delfino e Luis Scola (Argentina) capitanearam uma invasão estrangeira que mudou a cara da NBA. Isto internacionalizou a liga e aproximou-a de diversos mercados. Com o comissário David Stern a frente do processo, os anos 2000 foram responsáveis pelos jogos do melhor basquete do mundo serem transmitidos em diversos países e populares nos quatro cantos do planeta.
Na temporada 2005-06, chegou a vez do Heat. A equipe de O’Neal e Dwyane Wade venceu o Dallas Mavericks em uma final inédita por seis jogos, mostrando poder de reação sensacional após ter perdido as duas primeiras partidas da série. Segundo alguns críticos, o título de Miami foi vencido na linha do lance livre pela quantidade absurda de faltas marcadas em favor de Wade ao longo do confronto. O Mavs havia alcançado seu primeiro campeonato do Oeste depois de desbancar o Suns de Nash, que venceu seu segundo MVP consecutivo naquele ano, em série memorável.
No entanto, o reinado de Heat durou pouco. O’Neal sentiu a idade, Wade sofreu com lesões e o Heat não teve elenco para suportar a defesa do título na temporada seguinte. Resultado: acabou eliminado pelo Chicago Bulls já na primeira rodada. Isto abriu novamente caminho para que o Spurs ganhasse mais uma vez. A decisão foi disputada contra o Cleveland Cavaliers, de LeBron James, que aproveitou um momento de fraqueza e envelhecimento do Leste para levar seu jovem time ao topo da conferência. O time de Anderson Varejão não foi páreo para os veteranos do Texas e sucumbiu em uma série bastante desigual: 4 a 0.
Com isso, a primeira metade da década inicial do novo milênio se foi. Na última parte de nosso especial, nós cobriremos os anos restantes para ver o despertar de dois gigantes adormecidos e a passagem de bastão de Kobe para LeBron como melhor jogador da NBA. Além disso, o que esperar do futuro da NBA e quais são os próximos capítulos da história que repassamos aqui?