https://www.youtube.com/watch?v=zN0ruk2SJ2Q
Anos 80: uma década de estrelas e grandes jogos
Ao longo de suas três primeiras décadas, a NBA expandiu-se pelos Estados Unidos e consolidou-se como a principal liga de basquete do país. Com a construção de diversas franquias sólidas do ponto de vista financeiro e administrativo, tudo estava pronto para que deslanchasse a nível global. Na década de 1980, o salto de popularidade veio por uma série de fatores – o combate ao vício em drogas entre os jogadores, aumento das transmissões na televisão, a maior abertura para a contratação de craques internacionais, a chegada de um comissário visionário chamado de David Stern, etc.
Mas nada foi mais importante do que a reedição da grande rivalidade entre Celtics e Lakers – que já havia sido um dos destaques dos anos 1960. O domínio de Boston no passado, porém, deu lugar a um maior equilíbrio de conquistas. E o sucesso das equipes tinha nome e sobrenome: Larry Bird e Earvin “Magic” Johnson. Eles foram não apenas os dois grandes jogadores da década e entraram no rol dos maiores atletas que já pisaram em uma quadra de basquete.
Johnson e Bird já tinham sido rivais na NCAA e os olhos se voltaram novamente para eles quando, ao se profissionalizarem, cada um foi para um lado da rivalidade mais antiga da história da NBA. A polarização era reforçada pela forma de jogar deles: enquanto “Magic” ganhou seu apelido pelo estilo aberto e solto de jogar, cheio de passes e fintas que impulsionaram o Lakers do “Showtime”, Bird personificava a eficiência e dedicação com seu caráter aguerrido (que ressuscitou o “Celtics Pride” em uma nova geração de torcedores) e sem movimentos particularmente plásticos.
Este foi um dos raros casos em que a realidade superou a expectativa sobre dois atletas. O ídolo do Lakers foi o primeiro a vencer: levou o título de 1980, com uma de suas atuações mais memoráveis na partida decisiva da decisão. Kareem Abdul-Jabbar, então MVP da liga, sofreu uma torção de tornozelo durante a série final e Johnson – um armador de 2.06m – atuou como pivô. Ele anotou 42 pontos, 15 rebotes e sete assistências naquele confronto. Tudo isso em sua temporada de calouro.
Bird respondeu no ano seguinte: em 1981, o lendário ala foi o destaque do Celtics e ganhou o título sobre o Houston Rockets. Em seguida, o Lakers venceu novamente o Sixers na decisão para recuperar o troféu. A cada vitória de um ou outro, a expectativa de um embate entre os angelinos e o time de Boston crescia. A hora finalmente chegou em 1984.
Com um triunfo emocionante em sete partidas, o Celtics venceu a primeira batalha contra o Lakers em sete partidas. Bird, eleito MVP da temporada regular, teve performance espetacular e terminou a série com médias de 27.0 pontos e 14.0 rebotes naquela decisão. A resposta veio na revanche do ano seguinte, quando o Lakers superou as grandes atuações do astro adversário e bateu Boston em seis jogos.
A disputa particular entre os dois astros estava com três títulos a dois em favor de Johnson, mas um a um no confronto direto. Isso parece ter motivado Bird a ter mais uma temporada de MVP em 1986 e conduzir o Celtics às finais, mais uma vez contra o Rockets – que “atropelou” o Lakers em cinco jogos na final de conferência. A equipe de Massachussets superou o campeão do Oeste por 4 a 2 e o ala igualou Magic com três aneis na carreira.
O duelo mais simbólico entre os dois astros aconteceu em 1987. Bird vinha em sequência mais consistente, ganhando dois dos últimos três títulos da liga e levando o troféu de MVP para casa nos três anos. O Celtics tinha uma base sólida, que circundava seu craque com valores como Robert Parish, Kevin McHale e Bill Walton. Já Johnson contava com dois títulos no começo da década, mas o Lakers dava sérios sinais de decadência: Abdul-Jabbar estava com idade avançada e cresciam as dúvidas sobre a eficiência de uma equipe cheia de atletas mais “plásticos” – como James Worthy, Byron Scott e Michael Cooper. Parecia ser, mais do que nunca, um confronto de extremos. E a surpresa aconteceu: os angelinos retomaram o título em seis jogos.
O arremesso mais icônico da carreira de Magic viria na quarta partida daquela série. Liderando a série por 2 a 1, seu time perdia por um ponto no Boston Garden com dez segundos no cronômetro. A reposição de bola era do Celtics e, após confusão, a posse ficou com o Lakers. O armador recebeu a bola e driblou para o meio do garrafão marcado de perto por Bird, Parish e McHale. Ao se ver sem condições de conseguir um arremesso equilibrado, ele tentou um gancho que caiu sem nem pegar no aro. Com essa improvável conversão, o Lakers abriu vantagem que sacramentaria a conquista. Seria a última decisão entre as duas lendas.
Após a final, Bird viria a dizer que Johnson tinha sido o melhor jogador que ele viu jogar e o Celtics não voltaria a ganhar um anel, com um elenco envelhecido e afetado por lesões. O Lakers ainda disputaria mais alguns títulos nos anos seguintes. Rejuvenescido pela grande vitória de 1987, a equipe repetiu a façanha e defendeu o troféu com sucesso no ano seguinte, diante do Detroit Pistons.
Apesar da dominância de Celtics e Lakers, outras grandes equipes também marcaram época nos anos 1980, como o Rockets finalista de 86, o Atlanta Hawks de Dominique Wilkins e o Chicago Bulls de um “emergente” Michael Jordan. Destacaram-se neste grupo o Sixers campeão de 1983 (que contou com as lendas Julius Erving e Moses Malone para bater o Lakers), e os “Bad Boys” do Pistons. O time, que perdeu para os angelinos em 88, voltaria às finais no ano seguinte e “varreu” a cansada equipe para quebrar a alternância de forças que durou meia década. Detroit ganhou fãs e desafetos pelo jogo extremamente físico – flertando com o desleal, dependendo do ponto de vista – tendo como “pilares” atletas como Isiah Thomas, Joe Dumars e Dennis Rodman. Foi, durante as últimas décadas, uma referência mundial de basquete físico e defensivo que conquistaria o bicampeonato em 1990.
https://www.youtube.com/watch?v=QDFa4BChz5w
A década de 1980 foi uma das épocas mais interessantes da NBA. Um período repleto de estrelas e grandes jogos. Jogadores como Magic, Bird, Worthy, Parish, McHale, Wilkins, Malone, Clyde Drexler, Bernard King, Hakeem Olajuwon, Bob McAdoo, Sidney Moncrief, Adrian Dantley, entre outros. Anos tão repletos de estrelas que nem falamos sobre a maior delas: Michael Jordan, que entrou na liga em 1984 e veio a ganhar seus títulos na década de 90. É justamente aí que o nosso próximo capítulo começa.