Nova geração de pivôs já brilha na NBA

Gustavo Lima analisa a talentosa safra de jovens pivôs que vem chamando a atenção na NBA

Fonte: Gustavo Lima analisa a talentosa safra de jovens pivôs que vem chamando a atenção na NBA

Shaquille O’Neal, que se aposentou das quadras em 2011, foi o último pivô dominante da NBA. Acho que isso é inquestionável, não é verdade? Hoje, estamos na era do small ball, com formações mais baixas em quadra, em que o jogo, cada vez mais acelerado, privilegia o atleticismo, o espaçamento de quadra e os arremessos do perímetro. Além disso, os super armadores, dotados de atleticismo de elite, e que priorizam a pontuação ao invés da criação de jogadas para os companheiros, ganham cada vez mais destaque. Mas engana-se quem pensa que os pivôs não têm vez na liga moderna.

A temporada 2016/17 é um verdadeiro oásis para quem aprecia os grandes jogadores de garrafão. Neste artigo, vou destacar os representantes da nova geração de pivôs da NBA. São atletas abaixo dos 25 anos, dos mais variados estilos, que já fazem a diferença em seus times e que têm tudo para serem dominantes nos próximos anos. Temos de tudo na classe: pivôs à moda antiga, que jogam essencialmente na área próxima à cesta, pivôs que têm a capacidade de espaçar a quadra, pivôs com visão de quadra privilegiada e que passam melhor que muitos armadores por aí.

Pivôs não estão extintos; apenas se adaptaram à nova realidade

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Antes de falar da talentosa turma de jovens pivôs, vale a pena recapitular uma discussão que entrou em cena nos últimos anos. Até pouco tempo atrás, ouvi e li muito que os pivôs estão com os dias contados na liga, pois a atual NBA privilegia o binômio correria e arremessos de longa distância, e que o jogo perto da cesta está cada vez mais deixado de lado. Tudo bem, desde a aposentadoria de Shaq, o último pivô a ser eleito MVP (2000), o melhor basquete do mundo ficou meio órfão de grandes pivôs. Dwight Howard parecia ser o próximo grande nome da posição na liga. Ele teve uma ótima trajetória no Orlando Magic, conquistou o prêmio de melhor defensor da NBA em três anos seguidos (2009, 2010 e 2011) e levou a equipe, inclusive, até a final da temporada 2008/2009. Mas depois que deixou a Flórida, de forma conturbada, em 2012, a carreira de Howard entrou em nítido declínio devido às polêmicas extra-quadra e à queda física. Howard não deixou saudades no Los Angeles Lakers e no Houston Rockets. Aos 31 anos, ele tenta se reerguer jogando na cidade natal, pelo Atlanta Hawks, mas nunca mais será o mesmo.

Nos últimos dois anos, DeMarcus Cousins, do Sacramento Kings, é, na minha opinião, o melhor pivô da liga. Além dele, temos os habilidosos e versáteis Marc Gasol (Memphis Grizzlies) e Al Horford (Boston Celtics), além dos limitados tecnicamente DeAndre Jordan (Los Angeles Clippers) e Hassan Whiteside (Miami Heat). Mas dominante mesmo só vejo Cousins. Pena que atue em um time tão desorganizado e tenha uma cabeça fraca.

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Até ano passado, os pivôs não estavam com muita moral na liga. O limitado Jordan foi eleito para o quinteto ideal da temporada (o que eu não concordei de forma alguma) e nenhum pivô de ofício foi selecionado para o Jogo das Estrelas. Com a mudança no estilo de jogo na NBA, já mencionada acima, aquele “cincão” tradicional começou a perder espaço para os pivôs modernos, que impactam tanto dentro quanto fora do garrafão. É preciso aceitar que os tempos mudaram e o protótipo de pivô ideal também. Os pivôs não estão extintos. Eles (a maioria deles) se adaptaram à nova realidade, se tornaram versáteis em quadra. Cousins, Gasol e Horford, três pivôs que admiro muito, são os grandes exemplos disso.

Não falta mais talento na posição 5

Os últimos cinco recrutamentos da NBA nos brindaram com jogadores de garrafão de muito potencial e que vêm demonstrando em quadra que podem ser destaques na liga pelos próximos anos. Destaco Anthony Davis, Andre Drummond, Rudy Gobert, Joel Embiid, Nikola Jokic, Karl-Anthony Towns, Jahlil Okafor, Myles Turner e Kristaps Porzingis. Alguns deles já são referências em seus times, como Davis, Towns e Embiid. Talento na posição 5, que até há algum tempo faltava na NBA, agora tem de sobra. A partir do Draft de 2012, vimos grandes talentos de garrafão entrando na melhor liga de basquete do mundo. Vamos a eles.

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https://www.youtube.com/watch?v=_f44v98eVn8

Anthony Davis
New Orleans Pelicans
23 anos
Médias em 2016/17: 29.0 pontos (segundo na liga), 12.0 rebotes (sexto na liga), 2.2 assistências, 2.5 tocos (segundo na liga), 1.3 roubada de bola, 50% de aproveitamento nos arremessos de quadra e 30.0% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 36 minutos em quadra

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A ótima safra de big men começou com Anthony Davis, que não é bem um pivô de ofício, mas que nesta temporada vem atuando na posição 5 pelo New Orleans Pelicans dada a fragilidade do elenco da equipe. Primeira escolha do recrutamento de 2012, Davis causou impacto de imediato na liga e hoje é, seguramente, um dos dez melhores jogadores da NBA. Ele é o segundo cestinha da liga e permite aos adversários acertarem apenas 40.8% dos arremessos. Davis é um jogador completo, faz de tudo em quadra, carrega o time nas costas e até conseguiu levar o Pelicans aos playoffs há duas temporadas. Se, nos próximos anos, a franquia não se movimentar e qualificar o elenco ao redor dele, é quase que certo que Davis vá deixar New Orleans para alçar voos maiores e pensar em título. Um pecado ver um jogador de um talento absurdo como o camisa 23 fora dos playoffs.

https://www.youtube.com/watch?v=gAJiuwNs2JA

Andre Drummond
Detroit Pistons
23 anos
Médias em 2016/17: 14.5 pontos, 13.5 rebotes (terceiro na liga), 1.5 roubada de bola, 1.2 toco e 53.5% de aproveitamento nos arremessos de quadra; 31 minutos em quadra

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No mesmo ano em que Davis foi recrutado, outro jogador de garrafão com muito potencial entrou na liga: Andre Drummond, selecionado pelo  Detroit Pistons na nona escolha geral. Na época, era consenso que ele estava muito cru para o basquete profissional e que ia precisar de alguns anos para se desenvolver. Drummond, que é um pivô à moda antiga, já é um reboteiro de elite (foi o líder na liga em 2015/16) e melhorou muito seu jogo de costas para a cesta, apesar de estar recebendo menos bolas nesta temporada. Um aspecto que ele precisa melhorar é a proteção de aro (não que seja ruim, mas vejo muito potencial nele como marcador). Quando se tornar um intimidador na defesa, Drummond vai se consolidar no grupo de melhores pivôs da NBA. Ah, não vou nem falar do lance livre (apenas 44.0% de aproveitamento) porque já considero isso uma causa perdida…

https://www.youtube.com/watch?v=EL0u5gXL9B8

Rudy Gobert
Utah Jazz
24 anos
Médias em 2016/17: 12.4 pontos, 12.5 rebotes (quinto melhor), 2.6 tocos (líder na liga) e 66.2% de aproveitamento nos arremessos de quadra (segundo na liga); 33 minutos em quadra

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Em 2013, o Utah Jazz selecionou um desconhecido pivô francês na 27ª escolha do Draft. Rudy Gobert também era visto como um atleta ainda muito cru, que precisaria de algumas temporadas para melhorar seu jogo, mas que tinha potencial de ter carreira sólida na liga por causa do seu tamanho e envergadura. Sua habilidade em dar tocos e a agilidade para um jogador de seu tamanho chamam a atenção. Ainda em processo de aprimoramento no que tange ao jogo ofensivo, hoje ele é o melhor protetor de aro da liga e forte candidato ao prêmio de defensor da temporada. Na temporada passada, Gobert já havia se destacado na proteção da cesta e, se não fossem as lesões (que o tiraram de 21 jogos da temporada regular), provavelmente teria ficado entre os três primeiros na disputa pelo prêmio. O jogador de 24 anos é o pilar defensivo do Jazz, time que tem a defesa mais eficiente da NBA. Gobert lidera a liga em tocos e é o quinto maior reboteiro. Os adversários acertam apenas 40.9% dos arremessos quando são marcados pelo francês. Ganhar o prêmio de melhor defensor será questão de tempo. Pode ser este ano.

https://www.youtube.com/watch?v=X_u_k6ycirA

Joel Embiid
Philadelphia 76ers
22 anos
Médias em 2016/17: 19.7 pontos, 7.7 rebotes, 2.0 assistências, 2.4 tocos (quarto na liga) e 46.1% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 34.5% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 25 minutos em quadra

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Já no Draft de 2014, dois jovens estrangeiros foram selecionados. O primeiro, um camaronês que disputou apenas uma temporada pela Universidade Kansas, e foi a terceira escolha do recrutamento. Joel Embiid era o maior talento daquela classe, que ainda tinha Andrew Wiggins e Jabari Parker. Ele só não foi a primeira escolha por causa de problema de lesão. Depois de seguidas lesões no pé direito, que o deixaram de molho por dois anos, o camaronês estreou na NBA somente nesta temporada. Alguns já o consideravam como o novo Greg Oden, que nunca jogaria na NBA devido às lesões. Para a nossa alegria, isso não aconteceu. Quem acompanha o Jumper Brasil há mais tempo sabe que sempre elogiamos Embiid e que víamos nele um potencial absurdo. Pessoal, ele é aquilo tudo e mais um pouco. Com restrição de minutos, Embiid já impacta o Sixers de uma maneira que poucos imaginavam logo de cara. É impossível não dizer que seus movimentos refinados na área próxima à cesta lembram bastante os do melhor pivô que vi atuar, Hakeem Olajuwon. Além do excelente jogo de costas para a cesta, Embiid tem a capacidade de acertar arremessos do perímetro, é um ótimo passador e protege o aro com eficiência (os adversários acertam apenas 40.2% dos arremessos quando são marcados pelo camaronês). Sem contar o carisma, é claro! Imaginem os números de Embiid sem a restrição de minutos. Assustador!

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Nikola Jokic
Denver Nuggets
21 anos
Médias em 2016/17: 14.2 pontos, 8.2 rebotes, 3.8 assistências (quinto entre os pivôs) e 59.1% de aproveitamento nos arremessos de quadra (quinto na liga), 34.5% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 25 minutos em quadra

O segundo representante do recrutamento de 2014 é um pivô sérvio, que já é titular da seleção do seu país aos 21 anos. Nikola Jokic foi apenas a 41ª escolha do Draft daquele ano. Um verdadeiro achado do Nuggets. Bola dentro dos scouts e do gerente-geral da franquia de Denver, Tim Connelly, por terem visto potencial e acreditado em um prospecto europeu na segunda rodada do recrutamento. Jokic é um atleta capaz de fazer de tudo um pouco em quadra. O que mais me chama a atenção nele é a capacidade de criar jogadas para os companheiros. Visão de quadra privilegiada e controle de bola refinado que me fazem recordar (guardadas as devidas proporções) do lendário pivô lituano Arvydas Sabonis. Hoje, Jokic já é um dos melhores pivôs passadores da NBA ao lado de nomes como Marc Gasol, Al Horford, DeMarcus Cousins e Mason Plumlee. Seu jogo ofensivo está em franca evolução e ele se sente muito confortável arremessando do perímetro. A maior lacuna em seu jogo é a defesa. Jokic precisa ganhar massa muscular para bater de frente e dar conta do jogo físico contra os outros pivôs.

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https://www.youtube.com/watch?v=yOhalFOK_a4

Karl-Anthony Towns
Minnesota Timberwolves
21 anos
Médias em 2016/17: 22.0 pontos, 12.0 rebotes (sétimo na liga), 2.9 assistências, 1.5 toco, 49.0% de aproveitamento nos arremessos de quadra e 31.4% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 35 minutos em quadra

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Primeira escolha incontestável do Draft de 2015, Karl-Anthony Towns foi melhor que a encomenda logo em seu primeiro ano na NBA. Eleito novato do ano por unanimidade, o dominicano cravou médias de 18.3 pontos e 10.5 rebotes em 2015/16. Passador em franca evolução, o pivô é capaz de pontuar na área próxima à cesta, ainda mete bola do perímetro e protege o aro com eficiência. Além disso, ele apresenta mobilidade e agilidade incomuns para alguém do seu tamanho. Aos 21 anos, ele já é o ‘dono’ do Timberwolves. Que a franquia de Minnesota tenha a capacidade de formar um elenco qualificado ao redor de Towns.

https://www.youtube.com/watch?v=mig9OzqFzUs

Jahlil Okafor
Philadelphia 76ers
21 anos
Médias em 2015/16: 17.5 pontos, 7.0 rebotes, 1.2 toco e 50.8% de aproveitamento nos arremessos de quadra; 30 minutos em quadra

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Terceira escolha do recrutamento de 2015, Jahlil Okafor mostrou tudo o que se esperava dele logo no ano de estreia no basquete profissional. Campeão universitário pela Universidade de Duke, o pivô foi o cestinha do Sixers e, consequentemente, eleito para o time de novatos. Okafor é um pivô à moda antiga, pois pontua basicamente no low post. Aliás, seus movimentos refinados e a capacidade de pontuar na área próxima à cesta saltam aos olhos, já que são habilidades cada vez mais raras na NBA atual. Só o seu talento natural como pontuador já chama a atenção. O calcanhar de Aquiles em seu jogo é a defesa, pois deixa a desejar como protetor de aro. Nesta temporada, atrapalhado por lesões, e ofuscado pelo brilho de Joel Embiid, Okafor não vem repetindo o bom desempenho da temporada de calouro. Mas quando atuou como titular, como por exemplo na partida contra o Washington Wizards, disputada na semana passada, anotou 26 pontos e pegou nove rebotes. O Sixers tem um abacaxi para descascar, pois o experimento com Embiid e Okafor atuando juntos não foi tão bem sucedido. É bastante provável que o segundo seja trocado nos próximos meses. Cá entre nós, seria um pecado ver um pivô tão talentoso como Okafor esquentar banco na NBA.

https://www.youtube.com/watch?v=HafXoUEFRBc

Myles Turner
Indiana Pacers
20 anos
Médias em 2016/17: 15.6 pontos, 7.7 rebotes, 2.4 tocos, 52.4% de aproveitamento nos arremessos de quadra e 42.6% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 30 minutos em quadra

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Ainda no Draft de 2015, tivemos um pivô com bastante potencial, mas que ainda estava cru para o basquete profissional. Selecionado na 11ª escolha daquele recrutamento, Myles Turner mostrou “bola” logo no primeiro ano de liga. Reserva de Ian Mahinmi em boa parte da temporada, o novato deixou uma ótima impressão ao entrar nos jogos com muita disposição e impactar o time nos dois lados da quadra. Seu desempenho foi tão bom que ele terminou 2015/16 como titular e foi eleito para o segundo time ideal de calouros. Nesta temporada, Turner, assumiu naturalmente a condição de pivô titular e é o segundo cestinha do Pacers (empatado com Jeff Teague). Ele é capaz de pontuar na área próxima à cesta e tem um bom arremesso de média e longa distância. Quanto à extremidade defensiva, o camisa 33 do time de Indiana mostra eficiência: os adversários acertam apenas 42.6% dos arremessos quando são marcados por ele.

https://www.youtube.com/watch?v=cZuORcnpvOQ

Kristaps Porzingis
New York Knicks
21 anos
Medias em 2016/17: 19.4 pontos, 7.4 rebotes, 1.4 assistência, 2.0 tocos (sétimo na liga), 44.9% de aproveitamento nos arremessos de quadra e 40.2% de aproveitamento nas bolas de três pontos; 34 minutos em quadra

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Vou aproveitar a oportunidade e abrir uma exceção. O artigo é sobre atletas que jogam na posição 5, mas não poderia deixar de falar de um big man que já caiu nas graças de quem acompanha o melhor basquete do mundo. Vaiado quando foi selecionado pelo New York Knicks na quarta escolha geral do recrutamento de 2015, o letão Kristaps Porzingis já é uma das sensações na NBA. Eleito para o time de novatos na última temporada, o ala-pivô chama a atenção pelo tamanho, atleticismo, habilidade invejável para um jogador de garrafão e capacidade de pontuar tanto na área próxima à cesta quanto no perímetro. Os adversários acertam apenas 40.2% dos arremessos quando são marcados pelo letão. Ainda muito magro, Porzingis pode atuar, em breve, na posição 5. Quando tiver mais força e aguentar o jogo físico no garrafão, ele deve atingir todo o seu potencial. Um grandalhão com todo o seu pacote de habilidades é uma arma e tanto na NBA moderna. O Knicks tem uma joia no elenco e precisa tratá-la com muito cuidado e carinho. Quem vaiou Porzingis na noite do draft deve estar com uma vergonha hoje…

Em meados da década de 90, quando comecei a acompanhar a NBA, a liga tinha Olajuwon (o melhor que vi jogar a posição 5), Patrick Ewing, David Robinson, Alonzo Mourning, Shaq, Sabonis. Todos pivôs de alto nível. Com os jovens grandalhões que começam a fazer sucesso na NBA moderna, fica a esperança de que a era dos grandes jogadores de garrafão esteja de volta.

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Enfim, particularmente, estou bastante animado com a turma destacada no artigo. Eles já são bons hoje, com tão pouca idade! Imaginem quando atingirem o ápice físico e técnico! Por isso, estou seguro de que veremos pivôs do mais alto calibre brilhando na liga pelos próximos anos. Que o papo de que não existem mais bons pivôs na NBA seja sepultado definitivamente.

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