A trade deadline mais insana da história

Gustavo Lima analisa todas as trocas fechadas nessa quinta-feira

Fonte: Gustavo Lima analisa todas as trocas fechadas nessa quinta-feira

Foi o caos! O caos! O caos, como diria o grande narrador Rômulo Mendonça, da ESPN. Foi essa a reação de todos que acompanharam nessa quinta-feira o período final de negociações na NBA, que se encerrou às 18h (horário de Brasília).

Sempre falo que a trade deadline é um dos períodos mais bacanas da NBA (junto com o draft e o início da offseason), mas neste ano ela superou todas as expectativas.

Trinta e oito jogadores mudaram de time e sete escolhas de primeira rodada do draft foram incluídas em um total de 11 trocas envolvendo 17 times. O detalhe é que quase todas as negociações foram divulgadas exatamente na hora do fechamento. 

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A linha do tempo da conta do Jumper Brasil no Twitter simplesmente enlouqueceu. Era uma troca atrás da outra sendo divulgada, quase sempre pelo mito dos furos jornalísticos, Adrian Wojnarowski, do Yahoo! Sports. Insanidade pura.

Trocas que até então eram consideradas barbadas como as saídas de Brandon Bass do Boston Celtics, Brook Lopez do Brooklyn Nets, Wilson Chandler do Denver Nuggets e Gerald Green do Phoenix Suns não se concretizaram. Mantendo a tradição, o veterano John Salmons foi negociado pela milésima vez na trade deadline.

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No entanto, tivemos muitas negociações impactantes. Colocado contra a parede, o Suns liberou o insatisfeito Goran Dragic junto com seu irmão, Zoran, para o Miami Heat, um dos três times que estavam na lista de preferências do esloveno, em troca de duas escolhas de primeira rodada do draft (2017 e 20121). Com Dragic, o Heat promete fazer barulho nos playoffs do Leste. O problema da equipe da Flórida é ter os principais jogadores saudáveis.

Já o Suns, que trocou outros dois armadores – Isaiah Thomas e Tyler Ennis -, além do pivô Miles Plumlee, fez uma perigosa reformulação a essa altura da temporada. A imprensa de Phoenix aponta que Thomas foi trocado a pedido do dono da franquia, Robert Sarver. Vale lembrar que o armador foi contratado na última offseason, com um vínculo de quatro temporadas. A impressão que tenho é que a chegada dele acabou com a química do elenco. E o comando do time preferiu cortar o mal pela raiz.

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Para a armação, o Suns trouxe Brandon Knight, que faz uma grande temporada pelo Milwaukee Bucks. Ele está no último ano de contrato e deve fechar um acordo generoso na próxima offseason. Acho que a dupla com Eric Bledsoe pode dar certo porque Knight é capaz de se sair bem sem a bola (41% de aproveitamento nas bolas de três pontos), e porque Thomas foi trocado. O detalhe é que, agora, o Suns tem como armadores três jogadores oriundos da Universidade de Kentucky – Bledsoe, Knight e Archie Goodwin.

Além de Kinght, a equipe do Arizona recebeu Marcus Thornton, Danny Granger, John Salmons e Kendall Marshall. Os dois últimos serão dispensados, e Granger tem boas chances de seguir o mesmo caminho. Então, apenas Thornton será mantido no elenco. Por tudo o que aconteceu nas últimas semanas, trocas de ontem e subida de produção do Oklahoma City Thunder, acredito que o time de Phoenix não irá se classificar aos playoffs. Mais uma vez.

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Quatro equipes se deram muito bem nesta trade deadline: Portland Trail Blazers, Oklahoma City Thunder, Milwaukee Bucks e Houston Rockets. A equipe de Portland trouxe o ala-armador Arron Afflalo, que promete impulsionar a produção dos suplentes. Com um quinteto titular acima da média e um jogador da qualidade de Afflalo vindo do banco, o Blazers tem totais condições de pensar em algo além da primeira rodada nos playoffs.

Já o Thunder liberou o insatisfeito Reggie Jackson, que tinha problemas de relacionamento com o técnico Scott Brooks e boa parte do elenco, e o sempre criticado Kendrick Perkins. Para suprir a saída da dupla, o time de Oklahoma City trouxe D.J. Augustin, que faz uma temporada satisfatória no Detroit Pistons, e Enes Kanter, que pediu para ser trocado pelo Utah Jazz. O turco, aliás, chega para ser uma peça útil no garrafão ofensivo, apesar dele adorar os chutes de média distância. Além deles, o Thunder trouxe mais dois arremessadores do perímetro, Kyle Singler e Steve Novak. A equipe de OKC tem tudo para chegar bem aos playoffs.

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Confesso que fiquei surpreso com as movimentações do Bucks, que faz uma boa campanha. Knight vinha sendo o melhor jogador da equipe, mas a franquia achou melhor liberar o armador, que será agente livre ao final da temporada. O time de Milwaukee está apostando as suas fichas em Michael Carter-Williams, eleito melhor novato da temporada passada. Acho que ser comandado por Jason Kidd vai fazer muito bem a MCW, principalmente no quesito cuidar melhor da bola. Ah, não contem com os mesmos números que ele tinha no horroroso Philadelphia 76ers.

Ennis também foi uma boa sacada do Bucks, já que ele era considerado um dos melhores armadores do último draft. O problema é que o canadense não teve chance alguma no Suns, pois o time de Phoenix tinha três armadores com muito tempo de quadra. E fechando o pacote de reforços, Plumlee não deve acrescentar muita coisa ao time de Milwaukee. Acho que John Henson e Zaza Pachulia continuarão sendo as principais opções na posição 5. Já pararam para pensar na base que o Bucks terá na próxima temporada? Carter-Williams, Kris Middleton, Jabari Parker, Giannis Antetokounmpo e John Henson. A envergadura e o talento desse time assustam.

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O Houston Rockets se deu bem ao trazer o ala K.J. McDaniels, que vinha bem no Sixers. Obviamente, a contratação é pensando a curto prazo porque McDaniels será agente livre nesta offseason e, provavelmente, o Rockets não terá grana suficiente para mantê-lo no elenco. O banco do time texano está ainda mais forte com o novo reforço, somado a Corey Brewer, Josh Smith e Terrence Jones. É muita qualidade defensiva junta. A chegada de Pablo Prigioni não vai fazer diferença, já que Jason Terry deverá continuar sendo a primeira opção na armação vindo do banco. O Rockets está pensado no presente e vai com tudo para o título nesta temporada.

O New York Knicks de Phil Jackson não saiu de mãos vazias da trade deadline. Trocou o veterano Prigioni pelo russo Alexey Shved e abocanhou duas escolhas de segunda rodada do Rockets. Mas o que eu não entendi é que o Knicks estava tentando evitar o pagamento da Luxury Tax (taxa especial para times que excedem o teto da folha salarial), mas trouxe um jogador que ganha o dobro do salário do que o que saiu. A troca valeu mesmo pelas escolhas de draft.

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O Detroit Pistons vai ter alguns pepinos para descascar na próxima offseason. Ao trazer o armador Reggie Jackson, suponho que o Pistons já tenha em mente a extensão contratual que o jogador tanto almeja. Dizem que, em outubro passado, Jackson recusou uma oferta de US$48 milhões por quatro temporadas em Oklahoma City. A franquia de Detroit terá que por a mão no bolso em 2015/16. Jackson deverá ser o titular na armação pelos próximos anos, o que suscita uma questão: como ficará Brandon Jennings, que tem mais um ano de contrato (US$8 milhões)? A tendência é Jennings ser trocado na noite do draft ou no começo da offseason. Não dá para ter um armador reserva ganhando esse valor e o time carente de arremessadores nas alas. Ah, e o retorno de Tayshaun Prince parece ser uma homenagem ao veterano, campeão pelo Pistons em 2004 e que está perto de encerrar a carreira.

E o Sixers, hein? O que se passa na cabeça do GM Sam Hinkie? A princípio, todos devem achar que ele enlouqueceu. Trocou o melhor jogador do time nas últimas duas temporadas (Carter-Williams) e um calouro que vinha atuando bem (McDaniels). Vou tentar explicar o que eu acho que motivou a saída da dupla. Carter-Williams teve números “enganosos” porque o time é muito ruim. A franquia deve ter sentido que ele não é o cara indicado para armar a equipe nos próximos anos. E claro, a direção do Sixers deve estar pensando seriamente em selecionar um armador no draft deste ano. Emmanuel Mudiay ou D’Angelo Russell? Dúvida boa essa, não é? Para falar a verdade, vejo esses dois com mais potencial do que Carter-Williams. McDaniels saiu porque seu contrato expira ao final da temporada e ele deve ter dado sinais de que não ficaria em Philadelphia. 

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A chegada de McGee e e seu singelo contrato de US$12 milhões foi puramente para que o Sixers não ficasse abaixo do teto salarial mínimo permitido pela NBA. O pivô deverá ser dispensado nos próximos dias. Nas trocas, o time da Philadelphia ganhou duas escolhas de primeira rodada e uma de segunda, além do armador Isaiah Canaan, que deverá ser o armador titular no restante na temporada. Canaan vai ter a oportunidade de mostrar serviço, agradar e permanecer no elenco em 2015/16. A cada dia fico mais curioso para saber no que vai dar esse rebuild do Sixers.

Já o Boston Celtics trouxe o “peladeiro” Isaiah Thomas. Para isso, cedeu ao Suns o ala-armador Marcus Thornton (contrato expirante) e uma escolha de primeira rodada no draft de 2016. Parece até que o Celtics, em fase de reconstrução de elenco, está querendo se classificar para os playoffs. E cá entre nós, com essa pouca qualidade da maioria dos times do Leste, o time de Boston pode perfeitamente beliscar uma das duas vagas restantes (Atlanta Hawks, Cleveland Cavaliers, Toronto Raptors, Chicago Bulls, Washington Wizards e Milwaukee Bucks não ficarão de fora da pós-temporada). Só espero que a chegada de Thomas, que tem contrato até 2018, não atrapalhe no desenvolvimento de Marcus Smart. Na troca que culminou na ida de Prince para o Pistons, o Celtics recebeu os expirantes de Luigi Datome e Jonas Jerebko, dois estrangeiros que devem atuar pouco e sair ao final da temporada.

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Denver Nuggets e Utah Jazz são equipes que já chutaram o balde na temporada e pensam apenas na reconstrução de seus elencos. O Nuggets liberou o titular Afflalo (que sairia do time ao final da temporada), o reserva Gee e conseguiu a proeza de se livrar do contrato de McGee. Cedeu ao Sixers uma escolha de primeira rodada e recebeu do Blazers os jovens Thomas Robinson, Will Barton e Victor Claver, além de uma escolha de primeira rodada no draft de 2016. Robinson, aliás, vai para o quarto time em três anos de NBA. Quinta escolha do draft de 2012, o ala-pivô precisa mostrar serviço em Denver para continuar a ter alguma relevância na liga. Barton vai enfrentar a concorrência de Randy Foye e Gary Harris na posição 2 e, por isso, deve atuar pouco. Já Claver está no último ano de contrato e deverá retornar ao basquete europeu na offseason.

Quanto ao Jazz, que perdeu Enes Kanter e Steve Novak, vale dizer que a futura escolha de primeira rodada do Thunder foi a melhor aquisição da equipe na troca tripla que também envolveu o Pistons. Kendrick Perkins, que tem contrato expirante, será dispensado. Grant Jerrett não é jogador para a NBA e também não deve permanecer no elenco. Além disso, o time de Salt Lake City recebeu os direitos do pivô alemão Tibor Pleiss, de 25 anos, que tem contrato com o FC Barcelona até o final da próxima temporada, e uma futura escolha de segunda rodada de draft do Pistons. Com a ascensão de Rudy Gobert, a saída do insatisfeito Kanter não será sentida.

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George Karl nem bem chegou ao Sacramento Kings e já trouxe o seu “protegido” Andre Miller. Para ter o armador de 38 anos, a equipe californiana cedeu Ramon Sessions, que pouco fez em Sacramento, ao Washington Wizards. Já o time da capital perdeu um armador experiente e ganhou um inconsistente. Sei não se isso pode fazer alguma diferença nos playoffs

Finalizando, abordarei a troca mais emblemática desta trade deadline, e que pegou todo mundo de surpresa: Thaddeus Young por Kevin Garnett. Sem escolha de draft envolvida. Young chega ao Nets para ajudar o time a conquistar uma vaga para os playoffs. Atualmente, a equipe novaiorquina é a nona colocada na conferência Leste, com 21 vitórias e 31 derrotas. Ele tem um contrato de US$ 9.4 milhões nesta temporada e a opção de renovar por mais um ano (player option) para receber US$ 10 milhões em 2015/16. O Nets, que não conseguiu trocar os medalhões Deron Williams, Joe Johnson e Brook Lopez, pode ter mais um contrato oneroso na próxima temporada. Parabéns, Billy King. Seu projeto não deu e não vai dar em nada.

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E quase oito anos depois, o veterano Kevin Garnett retorna ao Minnesota Timberwolves. O maior jogador da história da franquia está de volta, pronto para ser uma influência positiva junto ao jovem elenco do Wolves. O ala-pivô de 38 anos é apenas  o recordista da franquia em pontos (19.041), rebotes (10.542), assistências (4.146), roubadas (1.282), tocos (1.576) e minutos jogados (35.535). E mais, Garnett vai reviver a dobradinha com Flip Saunders. Juntos, eles levaram a equipe às finais do Oeste em 2004. Só não me venham com o papo de que Garnett vai jogar mais uma temporada. Espero que ele tenha voltado ao Wolves para encerrar a carreira no próximo mês de abril, diante da torcida que o idolatra.

Foram tantas trocas que o post ficou longo… Agradeço aos que tiveram ânimo e não abandonaram o barco no terceiro parágrafo. Encerro o artigo deixando o agradecimento da equipe do Jumper Brasil pelo voto de confiança de todos vocês em mais uma trade deadline. Os quase 90 mil pageviews dessa quinta-feira devem significar algo. Até a próxima!

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