Vamos ser objetivos aqui: qual era a posição mais carente do Miami Heat nas quatro temporadas anteriores? Se você respondeu pivô, acho que acertou. A equipe disputou as últimas quatro finais, mas ainda sem um jogador de ofício com condições físicas e técnicas, conseguiu dois títulos — Chris Bosh exercia a função na defesa, mas no ataque jogava aberto, dando espaço para as infiltrações de LeBron James e Dwyane Wade.
Passaram por lá em finais de carreiras o lituano Zydrunas Ilgauskas, Erick Dampier, em 2010. Porém, a derrota acachapante para o Dallas Mavericks evidenciou outros problemas na formação daquele elenco. Estava claro que havia uma lacuna ali, no entanto, como resolver? Até Greg Oden foi testado, sem sucesso algum.
O técnico Erik Spoelstra tentou de tudo até que Bosh se ajeitou por ali. Não estava nos planos. Não era a ideia inicial do treinador e da diretoria. Foi o que deu para fazer.
Udonis Haslem, unanimidade na torcida, perdeu créditos com Spoelstra por se lesionar em demasia e isso abriu uma chance para o veterano Chris Andersen. Tudo bem que Andersen não é lá um jogador técnico, mas sua raça e disposição sempre o fizeram indispensável no grupo.
LeBron foi embora após perder a final para o San Antonio Spurs, e Pat Riley teve sucesso ao contratar jogadores bons de mercado e de qualidade, como Luol Deng e Josh McRoberts. O problema é que o estado físico de Wade não o permite mais ser aquele do título de 2005. Ele precisa de alguém para assumir a responsabilidade ofensiva. Bosh, por mais que tente, não vai fazer isso o tempo todo. E Deng, convenhamos, jamais teve cacoete para ser um cestinha de fato.
Então, McRoberts chegou lesionado, atuou por algumas partidas e se machucou outra vez. Shawne Williams não passa de uma opção para o banco, assim como o Danny Granger de hoje. Mais uma vez, a parte física desses atletas está longe da melhor fase de suas carreiras.
O Heat naufragava, enquanto Spoelstra seguia sem opções para mudar o cenário de um time outrora campeão. E não havia mesmo o que fazer. Norris Cole foi colocado como titular, depois Shabazz Napier, até que constataram que Mario Chalmers era a melhor solução.
Ainda assim, a equipe da Flórida estava perdida sem o camisa 6.
Até que um dia, Spoelstra resolveu dar espaço para um pivô pouco experimentado na NBA, com passagem apagada no Sacramento Kings. Alguns devem se lembrar de Hassan Whiteside no final do banco do Kings, praticamente sem ser aproveitado. Entretanto, quando o técnico o colocou em quadra, as coisas mudaram.
Whiteside está jogando em um nível até pouco tempo inimaginável. Sobram rebotes e bloqueios, como em seu primeiro triplo duplo da carreira, diante do forte Chicago Bulls. Em apenas 22 jogos pela equipe, o jogador já ganhou a titularidade e mais, a chance de ser algo que o Heat não tem desde Alonzo Mourning e Shaquille O’Neal: um pivô de verdade.
Claro que isso pode acabar em questão de tempo. Isso já aconteceu no passado, com Jeremy Lin no New York Knicks. Quando os treinadores observaram que ali era uma fonte perigosa contra suas equipes, trataram de reforçar a marcação. Mas seria legal se ele conseguisse passar por cima disso.
Eu reclamo há tempos. A NBA não privilegia jogadores de garrafão. Quer o jogo mais solto, mais leve. A fase dos grandes pivôs acabou há quase uma década, por mais que Shaq ainda tenha estendido sua carreira até o limite. A verdade é que não existe um cara na área pintada que seja dominante. Nem Dwight Howard, nem Marc Gasol. Ou eles se ajustam com arremessos de média distância, ou apenas começam a cair de rendimento. Howard não vai ao Jogo das Estrelas pela primeira vez desde 2005-06, seu primeiro ano na liga. Gasol já faz parte daqueles mais técnicos, com bom passe e chute.
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Se Whiteside vingar, e com os bons prospectos vindos da NCAA para a próxima temporada, acho que finalmente essa entressafra vai acabar. Isso sem contar com as evoluções do francês Rudy Gobert, do Utah Jazz, e de Jusuf Nurkic, do Denver Nuggets, e claro, Joel Embiid, do Philadelphia 76ers.
Após perambular pela D-League e até na China e no Líbano, ele ganhou uma chance de retornar aos Estados Unidos. É definitiva? Não sei. Só espero que sim.
Agora, jogando neste nível, com uma presença marcante dentro do garrafão, Whiteside poderia ter ajudado ao Heat no ano passado. Mas eu sei que o “se” não joga. A única coisa que entendo é que ele seria o que Oden não foi. Disso, eu não tenho a menor dúvida.
Para esta temporada, é difícil conseguir algo. Até porque o Heat pode e deve se classificar para os playoffs mesmo com uma campanha negativa. Porém, existem hoje quatro times que se destacam claramente e uma eliminação na primeira rodada não está descartada.
Se é possível projetar o futuro, o que eu posso dizer é que Whiteside está com a chance da carreira. Basta aproveitar.