“Quem é melhor?”
“Quem foi melhor?”
Essas frases já começaram muitas discussões sobre esportes. Não importa o momento histórico ou nível de jogadores, as comparações fazem parte do imaginário popular e são um dos exercícios mais fascinantes entre fãs e analistas. E, com a pausa da temporada da NBA, existe um melhor momento para retomarmos um de nossos quadros mais polêmicos?
Nessa segunda edição de retomada, vamos com uma comparação é entre dois dos melhores pivôs de todos os tempos: Hakeem Olajuwon e Shaquille O’Neal.
Hakeem Olajuwon
Posição: pivô
Altura: 2,13
Peso: 115
Universidade: Houston
Draft: Houston Rockets, primeira escolha em 1984
Temporadas: 18
All Star: 12
MVP: 1 (1993-94)
MVP de finais: 2 (1993-94 e 1994-95)
Finais: 3
Títulos: 2
Primeira escolha do draft de 1984, o mesmo de Michael Jordan, Hakeem Olajuwon teve impacto imediato na NBA. Para evidenciar o que o Houston Rockets fez naquele recrutamento, o time texano já contava com Ralph Sampson no elenco, pivô, assim como ele. As similaridades não param por aí. Sampson também havia sido escolhido pelo Rockets no ano anterior e, para variar um pouco, primeira escolha. Vale lembrar que o Portland Trail Blazers optou por Sam Bowie, pois Clyde Drexler estava na equipe. Michael Jordan “sobrou” para o Chicago Bulls. O resto, você já sabe.
A chegada de Olajuwon forçou Sampson a jogar como ala-pivô, embora o último fosse ainda maior que ele (2,24 metros). Com os dois juntos, o Rockets saltou de uma campanha modesta em 1983-84 com 29 vitórias em 82 jogos para os playoffs nos próximos dois anos, incluindo uma final, em 1985-86, perdida para o Boston Celtics. Sampson deixou o Rockets no meio da temporada 1986-87 em uma troca para o Golden State Warriors, deixando a equipe de Houston para que Olajuwon fosse, de fato, o grande nome da franquia. Com Olajuwon no grupo, o Rockets obteve 15 campanhas positivas consecutivas, se classificando para a pós-temporada em 14 delas.
Mesmo com tantas classificações, o Rockets “patinava”. Foram cinco quedas na primeira rodada, sendo quatro delas seguidas. O técnico Don Chaney foi demitido em 1991-92 e Rudy Tomjanovich assumiu. No ano seguinte, o time se ajustou ao estilo de seu novo treinador e, com os jovens Sam Cassell e Robert Horry, além de Kenny Smith e Otis Thorpe, a equipe finalmente obteve seu primeiro título, contra o New York Knicks de Patrick Ewing. No meio de 1994-95, o Rockets negociou Thorpe e recebeu Drexler. O resultado: outro campeonato, agora, diante do Orlando Magic de Shaquille O’Neal.
Olajuwon ainda teve ao seu lado jogadores como Charles Barkley e, depois, Scottie Pippen em Houston. Entretanto, o time não conseguiu as mesmas performances. O nigeriano sofreu com contusões. Em 2000-01, aos 38 anos, ele fez sua última temporada pela equipe. Na campanha seguinte, foi trocado para o Toronto Raptors, onde fez apenas um ano antes de se aposentar.
Jogos | 1.238 |
PPG | 21.8 |
RPG | 11.1 |
APG | 2.5 |
SPG | 1.7 |
BPG | 3.1 |
TO PG | 3.0 |
FG% | 51.2 |
FT% | 71.2 |
3P% | 20.2 |
Shaquille O’Neal
Posição: pivô
Altura: 2,16
Peso: 147
Universidade: LSU
Draft: Orlando Magic, primeira escolha em 1992
Temporadas: 18
All Star: 15
MVP: 1 (1999-00)
MVP de finais: 3 (1999-00, 2000-01, 2001-02)
Finais: 5
Títulos: 4
Conhecido como jogador mais dominante nos anos 90 e 2000, Shaquille O’Neal rapidamente tirou o Orlando Magic do ostracismo, um time recentemente criado e, até então, sem qualquer história. A chegada de Shaq ao Magic teve impacto não só no time da Flórida, mas na liga. Carismático, falastrão, O’Neal tornou-se favorito dos fãs de toda a NBA. O “próximo Michael Jordan” era um pivô, gigantesco, com talento suficiente para levar seu time ao topo. Mas, claro, ele precisava de ajuda.
Em sua segunda temporada, Shaq começou uma parceria que parecia duradoura com Anfernee Hardaway. “Penny” era um armador alto, fisicamente diferente daqueles que estavam na liga na época. Em 1993-94, O’Neal disputava jogo a jogo o posto de cestinha da temporada. Tudo foi resolvido até a última partida daquele ano, quando David Robinson fez 71 pontos e superou o pivô do Magic por 0.5 ponto.
Já em 1994-95, o Magic liderou a conferência Leste, contando agora, também com o ala-pivô Horace Grant, ex-Chicago Bulls. O time foi para a sua primeira final, superando o Chicago Bulls de Jordan, que acabara de retornar às quadras depois de uma aposentadoria precoce. Não foi campeão, entretanto. Perdeu para o Houston Rockets, de Hakeem Olajuwon em quatro jogos. O primeiro deles, no entanto, é lembrado até hoje pelos quatro lances livres errados de Nick Anderson. A história poderia ser diferente. No ano seguinte, o seu último na Flórida, Shaq foi muito bem marcado por Dennis Rodman nas finais do Leste e o Bulls deu o troco.
Agente livre, O’Neal mudou-se para o Los Angeles Lakers, onde atuou ao lado de Kobe Bryant. Shaq e Kobe formaram uma das melhores duplas de todos os tempos. Eles foram quatro finais e o time californiano obteve três títulos, sempre com o pivô sendo eleito o MVP das finais. Entretanto, a parceria ficou amarga em 2003-04, quando a equipe tinha ainda Karl Malone e Gary Payton. Naquele ano, tudo deu errado. Mesmo com quatro futuros Hall da Fama, o time vencia, mas não convencia. Malone se machucou pela primeira vez na carreira, Payton não entendia o triângulo ofensivo de Phil Jackson, O’Neal estava muito pesado e Bryant o criticava por isso. Nas finais, contra o Detroit Pistons, Shaq foi anulado por Ben Wallace e Rasheed Wallace enquanto, na defesa, Chauncey Billups e Rip Hamilton abusaram dos arremessos na lateral da tabela. O’Neal, muito lento, não conseguia sair na ajuda e o Pistons venceu aquela série.
Shaq foi trocado para o Miami Heat, Jackson deixou o cargo de treinador, Malone se aposentou, Payton assinou com o Boston Celtics e Bryant ficou sozinho em Los Angeles. Mas novamente na Flórida, O’Neal encontrou um novo jovem em ascensão, o ala-armador Dwyane Wade. Porém, o Heat foi eliminado em sete jogos na final do Leste de 2004-05, justamente para o Pistons. Então, em 2005-06, a equipe de Miami, agora muito mais encorpada por Antoine Walker, Jason Williams, Payton e Alonzo Mourning, bateu o mesmo Pistons na final de conferência e superou o Dallas Mavericks na decisão em seis jogos. Foi o seu quarto e último título.
O’Neal ainda fez uma temporada e meia no Phoenix Suns. Aos 36 anos, ele obteve 17.8 pontos, 8.4 rebotes e liderou a liga em porcentagem de arremessos pela décima vez na carreira. De quebra, foi para o Jogo das Estrelas. Ali, ele foi eleito o MVP da partida festiva ao lado de Kobe, dando o pontapé para o fim de anos de brigas. Depois do Suns, ele atuou um ano no Cleveland Cavaliers com LeBron James, mas com um papel diminuto. Por fim, em 2010-11, aos 38 anos, ele encerrou a brilhante carreira no Boston Celtics.
Jogos | 1.207 |
PPG | 23.7 |
RPG | 10.9 |
APG | 2.5 |
SPG | 0.6 |
BPG | 2.3 |
TO PG | 2.7 |
FG% | 58.2 |
FT% | 52.7 |
3P% | 4.5 |
Um contra um
Pontuação (20)*
Difícil decisão aqui. Enquanto Hakeem Olajuwon conseguia superar seus oponentes utilizando um fantástico trabalho de pernas, com vários movimentos para enganar seus marcadores, Shaquille O’Neal sempre foi aquele pivô que usava a força como seu principal atributo, batendo qualquer um. Olajuwon fez, em média, 21.8 pontos, contra 23.7 de Shaq em toda a carreira. O nigeriano anotou 52 pontos como sua melhor marca pessoal, enquanto O’Neal fez 61. No confronto direto, em 20 jogos de temporada regular, O’Neal venceu 14 e obteve 22.1 pontos contra 18.4 de Olajuwon. Por mais que tecnicamente, o ex-jogador do Rockets tivesse mais recursos ofensivos, Shaq foi melhor.
Resultado: O’Neal, 20 a 18.
Rebotes (20)
Nos rebotes, Olajuwon sempre ficou entre os melhores da liga, liderando a NBA em duas temporadas. Shaq, no entanto, também foi muito bom nisso. Só que ele simplesmente não se importava com os rebotes. Ele chegou a dizer isso algumas vezes, que esse não era o trabalho principal dele. Embora O’Neal tenha obtido 28 em um jogo, contra 25 de Olajuwon como melhor marca na carreira, o nigeriano foi superior.
Resultado: Olajuwon, 20 a 18.
Assistências (5)
Novamente difícil. Não era o principal atributo dos dois nem a principal responsabilidade deles. De novo, tecnicamente, Olajuwon tinha facilidade para sair do garrafão e dava opções aos seus colegas. Porém, como O’Neal era marcado, muitas vezes por até três, ele adicionou o passe para jogadores posicionados na linha de três em seu repertório. Isso facilitou as vidas de Dennis Scott e Nick Anderson no Orlando Magic, assim como de Rick Fox, Kobe Bryant, Robert Horry e Glen Rice no Lakers. Os dois terminaram suas carreiras com 2.5 assistências. Não tem como ser diferente: empate.
Resultado: Empate, 5 a 5.
Defesa (20)
Duas vezes eleito o melhor defensor da NBA, Olajuwon terminou a carreira com médias de 3.1 bloqueios e 1.7 roubada. Em cinco temporadas, o ex-Rockets superou a marca de dois roubos de bola. Em 1990-91, ele conseguiu incríveis 4.6 tocos. Shaq, por outro lado, teve números mais modestos: 2.3 bloqueios e 0.6 roubada. Só existem coisas que os números não conseguem ler. A dominância de O’Neal era no ataque, certo? Certíssimo. Mas defensivamente, ele, apenas por estar dentro do garrafão, tinha o papel de intimidador. Já li depoimentos diversos que apontavam o ex-Lakers como aquele que ninguém queria enfrentar justamente porque tinham medo de atacar contra ele. Daí, a única coisa que os números mostram é que os times que atacavam contra Shaq, optavam pelo arremesso de média distância. No fim, apesar disso, Hakeem foi nove vezes eleito para times de defesa, contra três de O’Neal, levando vantagem no quesito.
Resultado: Olajuwon, 20 a 18.
Arremessos de lances livres (5)
Aqui, uma mudança em relação a outras comparações. Olajuwon e O’Neal jogaram em uma época diferente de hoje, quando pivôs praticamente não arremessavam de três. Então, o melhor que podemos fazer é ver como eram na linha do lance livre. Olajuwon não era especialista. Longe disso. Terminou a carreira com 71.2% de aproveitamento e fez 78.7% em seu melhor ano. Shaq, no entanto, jamais superou 62.2% e fez seis temporadas abaixo de 50%. Olajuwon foi melhor.
Resultado: Olajuwon, 5 a 3.
Cuidado com a bola (5)
Como não eram os principais coordenadores de jogadas de seus times, Olajuwon e O’Neal cometeram poucos erros de ataque na carreira. Um teve 3.0 e o outro, 2.7. Nada significativo, entretanto. Empate.
Resultado: Empate, 5 a 5.
Poder de decisão (5)
Quando falamos de pivôs dos anos 90, a gente sabe que eles não eram responsáveis pelas decisões. Muitas vezes, para proteger uma liderança, Shaq era retirado de quadra nos lances de ataque para não sofrer falta e ser obrigado a cobrar lances livres, sua kryptonita. Olajuwon, no entanto, não tinha a mesma deficiência no quesito e sabia sair do garrafão para arremessar. Acontece que existe um número que comprova que O’Neal, nos dois minutos finais, tinha um impacto superior ao de Hakeem. Bom, pelo menos, desde quando começou a ser medido. Shaq foi ligeiramente melhor.
Resultado: O’Neal, 5 a 4.
Presença em quadra (10)
Imposição física, todo mundo sabe que Shaq teve mais que qualquer outro pivô que pisou numa quadra de NBA. A diferença era brutal quando ele estava dentro de quadra. Em geral, ele foi o 20º em todos os tempos, com 5.15. Olajuwon teve 4.66, o 27º. Como indicamos, Shaq fazia coisas que os números não conseguiam provar na defesa. Seu impacto era sentido quando forçavam nos arremessos de média distância. Olajuwon, no entanto, teve mais desafios, digamos assim. Como o jogo passava muito pelo garrafão, seus oponentes eram obrigados a a tentar a sorte. Geralmente, falhavam. Shaq foi um pouco superior.
Resultado: O’Neal, 10 a 9.
Durabilidade (10)
Decisão difícil. Os dois fizeram 18 temporadas. Os dois passaram dos 1.200 jogos na carreira. A diferença é de 31 partidas, no total, em favor de Olajuwon. Mas a diferença aqui fica por conta do que conseguiram fazer na reta final de suas carreiras. Aos 36 anos, eles tiveram números relativamente parecidos: 18.9 pontos, 9.6 rebotes, 2.5 bloqueios para Hakeen, contra 17.8 pontos, 8.4 rebotes e 1.4 bloqueio de O’Neal. Nada muito discrepante. Nos dois anos seguintes, portanto, os últimos de suas carreiras, Shaq fez 10.6 pontos em 90 jogos, enquanto o nigeriano somou 9.4 em 119 partidas. De novo, muito parecido. Empate.
Resutado: Empate, 10 a 10.
Final
Complicado. Antes de tudo, essas análises são feitas da forma mais imparcial possível. Estamos falando de dois dos melhores jogadores da posição em todos os tempos. Da era moderna, certamente os melhores. Ambos são vencedores (quatro títulos de Shaquille O’Neal contra dois de Olajuwon), mas tudo aqui foi levado em consideração. Todos os quesitos são importantes para determinar algo.
Claro que estamos comparando friamente, mas detalhes foram impostos aqui para não haver nenhum tipo de desmerecimento, como a presença em quadra. São números que raramente aparecem, como a ideia de que oponentes evitavam enfrentar Shaq. Mesmo que os dois tenham jogado em épocas parecidas, Olajuwon já tinha oito, nove anos de experiência quando O’Neal entrou na liga. O título no confronto individual, em 1994-95, passa um pouco por isso. Tanto que no confronto direto, Shaq possui números melhores, pois encarou um Hakeem em fim de carreira de 1998 para frente, enquanto ele estava em seu melhor momento.
É impossível dizer que Shaq era só força. Imagine um sujeito daquele tamanho correndo a quadra toda. Se ele não fosse técnico, jamais saberia passar a bola para o arremesso de três. Os dois tiveram exatamente 2.5 assistências na carreira, mesmo sabendo que Olajuwon tinha como jogar fora do garrafão.
Se você me perguntar de quem eu gosto mais, eu vou de Shaq sem pensar duas vezes. Vi toda a sua carreira. Foi um jogador que mudou a liga. Ele obrigava seus oponentes a marcarem com dois ou até três atletas. Era imparável. No entanto, não dá para ignorar a qualidade de Olajuwon com o jogo em geral. Seu trabalho de pernas, a defesa… Hakeem foi melhor. Não sei se maior, porque aí teríamos que levar em consideração os títulos, o que os times faziam contra O’Neal, por exemplo. Aqui, o nigeriano foi ligeiramente melhor.
Quesito | Olajuwon | O’Neal |
Pontuação | 18 | 20 |
Rebotes | 20 | 18 |
Assistências | 5 | 5 |
Defesa | 20 | 18 |
Lances livres | 5 | 3 |
Cuidado com a bola | 5 | 5 |
Poder de decisão | 4 | 5 |
Presença em quadra | 9 | 10 |
Durabilidade | 10 | 10 |
Total | 96 | 94 |