O Portland Trail Blazers aparece novamente na série “Times históricos que não foram campeões”. No primeiro texto, publicado no dia 21 de dezembro do ano passado, falei da equipe de 1990/91, liderada por Clyde Drexler e que fez a melhor campanha da história da franquia. Hoje, a homenagem vai para o Portland de 2000.
A equipe treinada por Mike Dunleavy tinha nomes importantes como Scottie Pippen, Arvydas Sabonis, Damon Stoudamire, Steve Smith e Rasheed Wallace. Era um timaço. Assim como ocorreu com a equipe de 1991, o algoz foi o Los Angeles Lakers, nas finais da conferência Oeste.
Antes de falar do Blazers de 2000, vamos recapitular o que foi feito nos anos anteriores, que culminou na formação desse grande elenco que entrou para a história da franquia de Portland.
O período pós-Clyde Drexler
Depois do sucesso do time do começo da década de 90 (chegou a duas finais e a uma decisão de conferência), o Blazers passou por uma grande reformulação, cujo ápice foi a saída do maior jogador da história da franquia. Em meados de 1994/95, com o time de Portland fora dos holofotes, Drexler, na época com 32 anos, pediu para ser trocado para uma equipe postulante ao título. Em respeito ao atleta, o novo gerente-geral da franquia, Bob Whitsitt, aceitou o pedido e mandou The Glide (O Escorregadio) para o Houston Rockets. De volta à cidade que o consagrou no basquete universitário, o astro se juntou ao velho amigo Hakeem Olajuwon e finalmente conquistou o seu anel de campeão. A inesquecível equipe formada por Drexler, Terry Porter, Jerome Kersey e Kevin Duckworth, e treinada por Rick Adelman, virou coisa do passado em 1995.
Contratado depois de fazer um grande trabalho no Seattle SuperSonics, entre 1986 e 1994, Whitsitt chegou a Portland com a missão de formar novamente um time competitivo. Depois de “causar” com a troca de Drexler, o dirigente adquiriu o ala-pivô Gary Trent (novato) junto ao Milwaukee Bucks e mandou o também ala-pivô Otis Thorpe para o Detroit Pistons. A intenção era abrir espaço na folha salarial para assinar com Sabonis. O pivô lituano havia sido selecionado pelo Blazers na 24ª escolha do draft de 1986, mas só desembarcou na NBA nove anos depois, já com 30 anos de idade e várias conquistas e lesões no currículo.
Whitsitt manteve P.J. Carlesimo no comando do time em 1995/96, e o Blazers terminou aquela temporada com a sexta melhor campanha do Oeste, com 44 vitórias e 38 derrotas. Sem grandes pretensões nos playoffs, a equipe de Portland, que tinha como destaques, além de Sabonis, o ala Clifford Robinson e o armador Rod Strickland, foi superada pelo Utah Jazz de John Stockton e Karl Malone, logo na primeira rodada, em uma série de cinco partidas. Terceiro cestinha e segundo maior reboteiro do Blazers na temporada, Sabonis foi escolhido para o time ideal de novatos e considerado um dos melhores reservas da liga. O detalhe é que aquela temporada foi a primeira da franquia na casa nova. O Memorial Coliseum saiu de cena e o Rose Garden (hoje chamado de Moda Center) se tornou a nova arena do Blazers.
A offseason de 1996 foi marcada por várias movimentações de Whitsitt. Primeiro, ele selecionou o ala-pivô Jermaine O’Neal, na 17ª escolha do draft. Dando prosseguimento à reconstrução do elenco, ele negociou os veteranos Strickland e Harvey Grant (irmão gêmeo de Horace e pai dos jogadores Jerian, do Chicago Bulls, e Jerami, do Oklahoma City Thunder) com o Washington Bullets (hoje Wizards) e recebeu o jovem ala-pivô Rasheed Wallace. Além disso, o Blazers assinou com o armador Kenny Anderson, que era agente livre, e adquiriu, via troca, o ala-armador Isaiah Rider, junto ao Minnesota Timberwolves. No decorrer da temporada, Whitsitt trouxe o ala Stacey Augmon, após uma negociação com o Pistons.
Com um time mais encorpado, o Blazers terminou a temporada com a quinta melhor campanha do Oeste – 49 vitórias e 33 derrotas. Nos playoffs, a equipe de Portland foi eliminada pelo quinto ano seguido na primeira rodada. O algoz da vez foi o Lakers, do dominante Shaquille O’Neal e do novato Kobe Bryant. Ao final da temporada, Carlesimo foi demitido.
A chegada de Mike Dunleavy
Para o comando do time, o Blazers contratou Mike Dunleavy, que já havia treinado Lakers e Bucks. Na offseason de 1997, Whitsitt deu passos importantes quanto à reformulação do elenco. Primeiro, assinou com o ala-pivô Brian Grant, que era agente livre. Depois fechou uma troca tripla com New York Knicks e Toronto Raptors. Nessa negociação, o pivô Chris Dudley foi enviado ao time novaiorquino, e o Blazers adquiriu escolhas de draft das outras duas equipes. Agente livre, Cliff Robinson deixou a equipe para assinar com o Phoenix Suns.
Na trade deadline de 1998, o time de Portland fez outra troca envolvendo o Raptors. Mandou Anderson, Trent e três escolhas de draft para Toronto, e recebeu o jovem armador Damon Stoudamire (eleito melhor novato dois anos antes) e o ala Walt Williams.
Como resultado dessas mudanças, o time fez a sexta melhor campanha do Oeste, com 46 vitórias e 36 derrotas. E adivinha o que aconteceu nos playoffs? Nova eliminação na primeira rodada. E mais uma vez pelo Lakers. E novamente em uma série de quatro jogos. Mas o que ficou marcado mesmo naquela temporada foi a derrota humilhante para o Indiana Pacers, na fase regular. Ao perder por 124 a 59, o Blazers entrou de forma negativa para a história da NBA como o único time a anotar menos da metade dos pontos do oponente.
Na temporada seguinte, o elenco sofreu poucas mudanças. O problemático ala Bonzi Wells foi contratado junto ao Pistons e os veteranos Jim Jackson e Greg Anthony assinaram com o time. Com um plantel mais experiente e com os jovens em franca evolução, o Blazers finalizou a fase regular com a segunda melhor campanha do Oeste, com 35 vitórias e 15 derrotas. Dono da sexta melhor defesa da liga, Portland tinha um dos quintetos mais fortes da NBA, com Stoudamire, Rider, Grant, Wallace e Sabonis, e um banco de respeito, com Williams, Jackson, Anthony, Augmon e O’Neal. Além disso, Dunleavy foi eleito o melhor técnico da temporada.
Vale lembrar que, devido ao locaute (termo usado para representar a situação em que as equipes proíbem seus atletas de jogarem em razão de um impasse trabalhista), a temporada 1998/99 foi mais curta e teve somente 50 partidas.
Nos playoffs, o time de Portland superou o fantasma das eliminações precoces. Varreu o Phoenix Suns na primeira rodada, superou o forte Jazz na semifinal, em uma série acirrada de sete partidas, e alcançou a decisão de conferência. O adversário na final do Oeste foi o San Antonio Spurs, de David Robinson e Tim Duncan, dono da melhor campanha da temporada. O Blazers foi varrido pelo time treinado por Gregg Popovich, que, posteriormente, conquistaria o seu primeiro título na liga.
A temporada inesquecível
O bom desempenho nos playoffs encheu a direção do Blazers de confiança. Era preciso dar o passo final na reconstrução do time e pensar em título. O GM Whitsitt foi agressivo na offseason de 1999 e fechou negociações importantes para a franquia. Primeiro, abriu mão de Rider e Jackson e adquiriu o ala-armador Steve Smith (All-Star no ano anterior), em uma troca com o Atlanta Hawks. Depois, assinou com o ala Detlef Schrempf. O veterano alemão chegaria para liderar o banco de reservas.
A cereja do bolo veio em outubro, com a chegada do já veterano Pippen (34 anos), após uma negociação com o Houston Rockets. Na troca, o Blazers enviou seis reservas para o time texano: Augmon, Williams, Kelvin Cato, Ed Gray, Carlos Rogers e Brian Shaw. Augmon foi dispensado pelo Rockets e, duas semanas após a negociação, como agente livre, voltou à equipe de Portland.
Inegavelmente, Dunleavy tinha um dos elencos mais fortes da liga em suas mãos. O quinteto inicial era formado por Stoudamire, Smith, Pippen, Wallace e Sabonis. Todos tiveram médias acima de 11 pontos em 1999/00. No banco de reservas, Schrempf, Grant, Anthony, O’Neal, Wells e Augmon combinavam para mais de 37 pontos de média. Wallace, o rei das faltas técnicas e o principal cestinha do Blazers, foi selecionado para o All-Star Game daquele ano. E Pippen foi eleito para o segundo time ideal de defesa da temporada.
O Blazers terminou a fase regular com a segunda melhor campanha da temporada, atrás somente do Lakers treinado por Phil Jackson, e a segunda melhor da história da franquia: 59 vitórias e 23 derrotas. O time de Portland foi o líder em aproveitamento nos arremessos de quadra (47%), o terceiro em eficiência ofensiva (107.9 pontos por 100 posses de bola) e em média de pontos sofridos (91.0), e o quinto em eficiência defensiva (100.8 pontos sofridos por 100 posses de bola). Em suma, a equipe de Dunleavy era forte nos dois lados da quadra e iria brigar pelo título naquela temporada.
Portland Trail Blazers (1999/00)
Time-base: Damon Stoudamire (PG), Steve Smith (SG), Scottie Pippen (SF), Rasheed Wallace (PF) e Arvydas Sabonis (C)
Principais reservas: Detlef Schrempf (SF), Brian Grant (PF), Greg Anthony (PG), Bonzi Wells (SG/SF), Jermaine O’Neal (PF/C) e Stacey Augmon (SG/SF)
Técnico: Mike Dunleavy
Jogador | Idade | Pontos | Rebotes | Assistências | Roubos | Tocos | Minutos |
Rasheed Wallace | 25 | 16.4 | 7.0 | 1.8 | 1.1 | 1.3 | 35.1 |
Scottie Pippen | 34 | 12.5 | 6.3 | 5.0 | 1.4 | 0.5 | 33.5 |
Steve Smith | 30 | 14.9 | 3.8 | 2.5 | 0.9 | 0.4 | 32.8 |
Damon Stoudamire | 26 | 12.5 | 3.1 | 5.2 | 1.0 | – | 30.4 |
Arvydas Sabonis | 35 | 11.8 | 7.8 | 1.8 | 0.7 | 1.2 | 25.6 |
Detlef Schrempf | 37 | 7.5 | 4.3 | 2.6 | 0.5 | 0.2 | 21.6 |
Brian Grant | 27 | 7.3 | 5.5 | 1.0 | 0.5 | 0.4 | 21.0 |
Greg Anthony | 32 | 6.3 | 1.6 | 2.5 | 0.7 | 0.1 | 18.9 |
Bonzi Wells | 23 | 8.8 | 2.8 | 1.5 | 1.0 | 0.2 | 17.6 |
Jermaine O’Neal | 21 | 3.9 | 3.3 | 0.3 | 0.2 | 0.8 | 12.3 |
Stacey Augmon | 31 | 3.4 | 2.0 | 0.9 | 0.5 | 0.2 | 11.7 |
Na primeira rodada dos playoffs de 2000, o Blazers enfrentou o Timberwolves, que tinha o ala-pivô Kevin Garnett e o armador Terrell Brandon como destaques. O time de Portland levou a melhor na série, em quatro jogos bastante equilibrados. Na semifinal, a equipe de Oregon teve o Jazz dos veteranos Stockton e Malone pela frente. Curiosamente, a série foi mais tranquila que a anterior, com Portland fechando em 4 a 1. Destaque para a cesta da vitória convertida por Pippen no quinto jogo contra Utah.
Na decisão de conferência, o aguardado duelo contra o Lakers treinado pelo multicampeão Phil Jackson, que havia conquistado seis títulos nos anos 90 com o Bulls. Os dois melhores times da temporada ficariam frente a frente. Era quase consenso de que o campeão daquele ano sairia desse confronto. Para ter sucesso na série, o Blazers precisaria encontrar alguma forma de “parar” o pivô mais dominante da época: Shaquille O’Neal.
No primeiro jogo, realizado em Los Angeles, o time da casa venceu com facilidade por 109 a 94. Shaq teve uma atuação monstruosa: 41 pontos, 11 rebotes, sete assistências e cinco tocos. Já Sabonis saiu zerado de quadra.
Na segunda partida, disputada novamente na Califórnia, o Blazers conseguiu uma vitória inacreditável: 106 a 77. Foi um autêntico massacre. Pippen, Wallace e Smith combinaram para 74 pontos e 27 rebotes. Shaq, por sua vez, não repetiu a atuação do duelo anterior, mas mesmo assim conseguiu o duplo-duplo: 23 pontos e 12 rebotes. O pivô do Lakers foi muito bem marcado, seja por Sabonis, Wallace ou Grant. Detalhe: o time de Portland não teve o menor pudor de fazer o Hack-a-Shaq. Sabonis e Grant foram eliminados em faltas. O’Neal foi 22 vezes para a linha do lance livre, e acertou apenas cinco arremessos. A impressionante vitória no jogo 2 mostrou que o Blazers tinha totais condições de chegar às finais.
Com os dois próximos jogos sendo disputados no Rose Garden, o time de Portland tinha a chance de abrir vantagem no confronto. Só que não foi bem isso que aconteceu. Na terceira partida, o Blazers fez um grande primeiro tempo (venceu por 55 a 45), mas sofreu a virada na segunda metade. Desta vez, Shaq contou com a ajuda de Kobe Bryant. A dupla combinou para 51 pontos, 19 rebotes, dez assistências, quatro tocos e 60% de aproveitamento nos arremessos de quadra. Nem o Hack-a-Shaq salvou a equipe de Portland. Vitória do Lakers por 93 a 91.
https://www.youtube.com/watch?v=HLvVfHtpk1M
Na quarta partida, o roteiro foi parecido com o do jogo anterior. O Blazers foi melhor na primeira etapa, mas levou a virada no segundo tempo. Rasheed Wallace foi o destaque do time da casa, com 34 pontos e 13 rebotes. Mas do outro lado, o Lakers contou com uma grande atuação dos coadjuvantes para sair com o triunfo. O armador Ron Harper e o ala Glen Rice combinaram para 39 pontos e 14 rebotes. Shaq, para variar, alcançou o duplo-duplo: 25 pontos e 11 rebotes. O curioso é que o pivô, conhecido entre outras coisas pelo péssimo aproveitamento nos lances livres, acertou os nove que cobrou na partida.
Por causa das inesperadas derrotas em casa, o Blazers ficou com a corda no pescoço na série. Era preciso ganhar o quinto jogo, em Los Angeles, trazer a série de volta para Portland e, depois, forçar a sétima partida. Graças ao ótimo desempenho de sua defesa, o Blazers conseguiu o triunfo na quinta partida. Shaq teve mais um duplo-duplo: 31 pontos e 21 rebotes, mas o resto do Lakers foi muito mal no ataque. Pelo time de Portland, Pippen reviveu os bons tempos de Bulls e fez uma partida irretocável no dois lados da quadra: 22 pontos, seis rebotes, seis roubos de bola, quatro tocos e 67% de aproveitamento nos arremessos de quadra.
No sexto jogo, o Blazers esperava dar alegria à sua torcida, já que havia perdido as duas partidas disputadas no Rose Garden. A equipe da casa teve o controle do duelo desde o início e empatou a série, após vencer por 103 a 93. Smith e o reserva Bonzi Wells foram os destaques do Blazers, combinando para 46 pontos e um aproveitamento de 58% nos arremessos de quadra.
O sétimo jogo da decisão do Oeste é um daqueles que vai ficar marcado para sempre na história da NBA. O resultado do confronto era imprevisível, dada a qualidade das equipes. O Blazers já havia mostrado que a vantagem do Lakers quanto ao mando de quadra não significava muita coisa.
O time de Portland fez uma partida espetacular nos três primeiros quartos. Shaq foi muito bem marcado e a dupla Wallace e Smith teve um grande desempenho no ataque. O Blazers entrou no período final com uma confortável vantagem de 13 pontos: 71 a 58. A classificação para as finais estava próxima. Seria um feito e tanto superar o time de melhor campanha da temporada, com direito a duas vitórias em Los Angeles. Só que faltou combinar com o adversário…
No quarto final, o Blazers entrou em colapso e foi engolido pela defesa angelina. Com uma sequência de 12-0, em seis minutos, o Lakers empatou a partida. Nesse intervalo, a equipe de Portland desperdiçou 13 arremessos seguidos e só voltou a pontuar quando restavam pouco menos de três minutos para o fim.
A dois minutos do final da partida, o Lakers conseguiu a improvável virada. Com Sabonis eliminado em faltas, Shaq não teve dificuldades para girar, vencer a marcação de Grant e conseguir a cesta com o auxílio da tabela. Na posse de bola seguinte, Wallace igualou o marcador. Na sequência, Kobe converteu dois lances livres e o time angelino voltou à liderança.
Quando restava pouco mais de um minuto para o fim, Wallace, a principal arma ofensiva do Blazers, foi para a linha do lance livre. Era a chance de um novo empate, mas ele desperdiçou os dois arremessos. No ataque seguinte, Kobe não se intimidou com a marcação de Pippen e converteu o chute de média distância para deixar o Lakers em situação confortável. Pippen ainda tentou diminuir o prejuízo com um arremesso de três, mas a bola não caiu. Shaq pegou o rebote e, então, a sintonia com Kobe em quadra entrou em cena. Bryant carregou a bola, driblou Pippen, viu a chegada de Grant na marcação e tirou da cartola uma ponte área para o pivozão.
Com 40 segundos para o fim, e seis pontos atrás no placar, o Blazers não se deu por vencido. Wallace acertou uma bola de longa distância e a diferença caiu para três pontos. Na posse de bola seguinte, Harper sofreu falta de Pippen, seu ex-companheiro no Bulls, e converteu os dois lances livres.
Na sequência, Smith tentou uma infiltração no garrafão do Lakers, mas “parou” em Shaq e perdeu a bola. O Blazers reclamou muito com a arbitragem, pois queria a marcação da falta contra o Lakers. Pippen foi eliminado do jogo após cometer falta em Bryant. O camisa 8 do Lakers desperdiçou os dois lances livres e deu mais emoção ao duelo. Nos últimos momentos da partida, Robert Horry foi para a linha do lance livre e converteu três arremessos, dando números finais a uma virada que entrou para a história. O Blazers acabava de desperdiçar uma chance de ouro.
https://www.youtube.com/watch?v=F1PLav8H6kI
Vocês notaram que, em três das sete partidas da decisão do Oeste, o Blazers fez um grande primeiro tempo e sofreu a virada? Pois é. O time de Portland não soube fechar os jogos. E isso foi fatal, já que, do outro lado estava o pivô mais dominante da NBA e uma jovem astro em ascensão. Ficou aquela sensação amarga, aquele sentimento de que a equipe de Portland esteve muito próxima de eliminar o Lakers e chegar às finais. Whitsitt apostou tudo na montagem daquele elenco, e o máximo que a franquia conseguiu foi alcançar uma final de conferência.
O surgimento do Jail Blazers
Na offseason de 2000, o jovem Jermaine O’Neal pediu para ser trocado, já que estava sem espaço no time. O GM do Blazers enviou o jogador para o Indiana Pacers, e, em contrapartida, recebeu o veterano Dale Davis. Em Indianápolis, O’Neal se tornaria uma estrela. Whitsitt ainda trouxe um veterano que ele já conhecia dos tempos de Sonics, o ala-pivô Shawn Kemp, após troca com o Cleveland Cavaliers. Para fechar as movimentações, Strickland retornou à equipe de Portland, e Brian Grant deixou o time. Vale dizer que o quinteto inicial da temporada anterior foi mantido.
O dirigente esperava que, com essas mudanças, o Blazers continuasse no topo e chegasse ainda mais forte nos playoffs. Só que deu tudo errado. Era para que o time chamasse a atenção dentro de quadra, com grandes exibições, mas ganhou os holofotes por conta de inúmeros problemas extra-quadra. Foi naquela temporada que começou a era “Jail Blazers“, uma alusão às prisões de vários jogadores do elenco.
Por causa dos problemas de peso, vício em cocaína e abuso de álcool, a carreira de Kemp desceu ladeira abaixo. O jogador precisou ser afastado para fazer uma reabilitação. Depois de duas temporadas em Portland, o ala-pivô foi dispensado.
Stoudamire foi preso três vezes por posse de drogas. Ele chegou a ser multado em US$ 250 mil e foi suspenso pela equipe por três meses. Assim como Kemp, o armador entrou em um processo de reabilitação. Stoudamire deixou o Blazers em 2005, após assinar com o Memphis Grizzlies.
Jogador de pavio curto, Wells se envolveu em confusões tanto dentro quanto fora da quadra. Ofendeu o técnico do Blazers, fez gestos obscenos para a torcida, quase “saiu na mão” com um árbitro e foi citado criminalmente por uma confusão em uma casa noturna. Em 2003, Wells foi trocado para o Grizzlies.
Em 2001, Whitsitt contratou o ala Ruben Patterson, um jogador que era sinônimo de confusão. Na época, o dirigente foi duramente criticado por assinar com um criminoso sexual condenado. Patterson foi acusado de crime sexual e se declarou culpado pela tentativa de estupro da babá de seu filho. Além disso, também em 2001, Patterson foi condenado por agredir um homem que arranhou seu carro do lado de fora de uma boate. No ano seguinte, ele foi agredido por um companheiro de time durante um treino. O agressor foi o jovem ala-pivô Zach Randolph, escolha do Blazers no draft do ano anterior. Randolph que, aliás, tem os seguintes crimes no currículo: roubo de calças de uma loja, condenação por agressão, posse de maconha e dirigir embriagado.
Patterson estava discutindo com o novato Qyntel Woods, quando Randolph interveio e deu um soco na cara do “problema ambulante”. Ainda em 2002, Patterson foi preso após acusações de abuso doméstico por parte de sua esposa. Na temporada 2005/06, ele foi suspenso pela franquia após ofender o técnico Nate McMillan e se recusar a entrar em quadra em uma partida. Pouco tempo depois, ele foi trocado com o Denver Nuggets.
Woods, aquele que se envolveu em uma confusão com Patterson, foi outro que deu dor de cabeça ao Blazers. Em 2004, ele foi acusado de crime contra os animais. O jogador se declarou culpado por promover lutas entre cães em sua casa. A franquia suspendeu o jogador e, posteriormente, o dispensou.
Em diversas ocasiões, Whitsitt foi acusado de não prestar atenção à “química” no vestiário e por trazer jogadores problemáticos para o time. A ideia do dirigente era sempre a de qualificar o elenco, mesmo que o jogador tivesse problemas comportamentais. Como ficou comprovado, as apostas do dirigente não tiveram a maturidade emocional necessária para se tornarem vencedores em quadra. O responsável pela montagem do Jail Blazers deixou a franquia ao final da temporada 2002/2003.
Depois do sucesso do time de 2000, o Blazers amargou três eliminações seguidas na primeira rodada dos playoffs e emendou um período de cinco anos sem conseguir chegar à pós-temporada. Em 2009, o time de Portland se tornou competitivo novamente, quando teve a dupla LaMarcus Aldridge e Brandon Roy liderando em quadra.
O legado do time de 2000
Quase duas décadas depois, e revendo aqueles minutos derradeiros das finais do Oeste, dá para considerar que faltou um cara decisivo para que o Blazers eliminasse o Lakers. O time era muito forte nos dois lados da quadra, tinha talvez a torcida mais barulhenta da liga, mas sentiu falta daquele jogador que pega a bola na hora decisiva e fala “deixa comigo que eu resolvo”. Pippen, apesar de ter sido um dos maiores jogadores de todos os tempos, nunca foi esse Go-to guy. Smith e Wallace eram grandes jogadores, mas não tinham a característica de resolver os jogos. Limitado pelas lesões, Sabonis pouco poderia ajudar. E olha, os mais novos não devem saber, mas o lituano jogou muita bola. Uma pena ter ido tão tarde para a NBA.
Não tenho dúvida em afirmar que, se tivesse passado pelo Lakers, o Blazers teria superado o Indiana Pacers nas finais de 2000 e conquistado seu segundo título na história. O “azar” do time de Portland foi que o time angelino tinha o pivô mais dominante da liga da época e um jovem Black Mamba que não fugia dos momentos decisivos.
Em termos de talento, aquele elenco do início da década de 2000 talvez tenha sido o melhor do Blazers em toda a sua história. Uma pena que não tenha conquistado nada na NBA. Whitsitt teve mérito em montar aquele time, mas o ônus foi o Jail Blazers que surgiria logo em seguida, e que parece ser mais lembrado do que a equipe que quase eliminou o Lakers, em Los Angeles, na final do Oeste.
P.S. Marque na sua agenda o cronograma dos textos que fecham a série “Times históricos que não foram campeões”.
– Sacramento Kings (2002): dia 25/07
– Minnesota Timberwolves (2004): dia 08/08
Times históricos que não foram campeões – Portland Trail Blazers (1991)
Times históricos que não foram campeões – Phoenix Suns (1993)
Times históricos que não foram campeões – New York Knicks (1994)
Times históricos que não foram campeões – Orlando Magic (1995)
Times históricos que não foram campeões – Seattle Supersonics (1996)
Times históricos que não foram campeões – Utah Jazz (1997)
Times históricos que não foram campeões – Indiana Pacers (1998)