Pontos por jogo: eficiência x volume na NBA

Matheus Gonzaga e Pedro Toledo trazem mais uma edição da coluna Layups & Threes

Fonte: Orlando, FL - AUGUST 2: Khris Middleton #22 of the Milwaukee Bucks shoots the ball against the Houston Rockets on August 2, 2020 at The Arena at ESPN Wide World Of Sports Complex in Orlando, Florida. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and/or using this Photograph, user is consenting to the terms and conditions of the Getty Images License Agreement. Mandatory Copyright Notice: Copyright 2020 NBAE Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images/AFP

Pontos por jogo: eficiência x volume na NBA

Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)

Parte do debate sobre a qualidade de jogadores da NBA gira em torno de pontos por jogo: quantas vezes não vemos debates sobre “quem foi melhor” utilizando essa medida como argumento? esse ponto  é esperado, porque, bem, o time que ganha uma partida é o time que faz mais pontos, então, um jogador fazer muitos pontos é algo bom, correto? Isso é ainda mais forte quando o assunto é quem são os melhores scorers da liga, o que é bem óbvio porque scorer literalmente significa pontuador. Ou será que a história é diferente?

Publicidade

De certo modo, esses raciocínios estão certos, mas, no geral, acho a estatística de pontos por partida bem superestimada, de modo que às vezes parece que ela é encarada como o maior medidor de desempenho enquanto arma ofensiva: basta ver a posição dos jogadores considerados os melhores scorers da liga nessa métrica. Veja bem, eu não estou dizendo que James Harden, Kevin Durant, Damian Lillard, Kawhi Leonard e companhia não são os melhores nisso: apenas estou dizendo que não acho que isso seja por seu volume de pontuação.

Um jogador fazer muitos pontos não necessariamente ajuda seu time a vencer. No basquete as posses são limitadas, portanto o que interessa é quão bem se aproveita cada uma delas, isto é, a sua eficiência. Um volume alto de pontuação na realidade está mais associado com um volume alto de arremessos do que com a eficiência de quem arremessa (cerca de 98% da variabilidade de PPG está associada a FGA, enquanto apenas 2% se relaciona com sua efetividade). 

Publicidade

Quanto maior sua quantidade de arremessos tentados (que tem uma relação fortíssima com pontuação), maior a dimensão em que seu desempenho neles (aproveitamento) impacta no rendimento ofensivo geral de sua equipe. Desse modo, um jogador que faz muitos pontos em baixa eficiência, prejudica seu time em vez de ajudar, pois “arrasta” a qualidade do ataque do time para esse aproveitamento ruim. 

Portanto, é fácil ver que a estatística pontos por jogo é limitada: sua relação mais forte é com o volume, então é totalmente possível que um jogador faça muitos pontos enquanto prejudica o ataque de seu time a partir de sua má eficiência.

Publicidade

Vamos a um exemplo. Na temporada 2019-20 da NBA, ninguém teve mais tentativas de arremesso (considerando shooting fouls) que James Harden: foram cerca de 27.8 por jogo. Harden foi extremamente eficiente, conseguindo 34.3 pontos nessas tentativas (1.23 pontos por arremesso). Vamos supor que Jordan Poole, o jogador menos eficiente da liga (0.91 pontos por arremesso) tivesse o mesmo número de tentativas que o jogador do Rockets, e conseguisse manter sua eficiência atual: Poole conseguiria fazer 25.8 pontos por partida, o que transformaria ele no décimo segundo maior pontuador do campeonato. Isso faria ele ser um bom scorer? Claro que não! Ele prejudicaria mais ainda o time com um volume tão grande!

Bom, é claro que ninguém daria a Poole essa quantidade de tentativas: esse é um exemplo extremo, mas que serve para ilustrar que um jogador fazer muitos pontos por si só não é exatamente algo bom. Normalmente, a estatística de pontos por partida acaba indicando vários dos melhores pontuadores da liga porque as equipes tendem a ser espertas, direcionando mais arremessos para seus jogadores que conseguem ser mais eficientes: Harden não é o melhor scorer da NBA por fazer mais pontos por jogo, mas sim por conseguir uma eficiência altíssima: isso fez com que o Houston Rockets desejasse que ele arremessasse dezenas de vezes por partida, o que levou a uma quantidade altíssima de pontos. Mas nem sempre os jogadores com muitos arremessos são eficientes: o que ocorre as vezes por alguns times não terem jogadores bons no quesito. Vamos a um exemplo real. Vamos falar de Andrew Wiggins.

Publicidade

Pontos por jogo: eficiência x volume na NBA
Na tabela, vemos a pontuação por partida de Wiggins e do ala do Milwaukee Bucks Khris Middleton nas últimas duas temporadas da NBA. As médias dos dois foram similares nos dois anos, e inclusive favoreceram o jogador de que atuou por Minessota e Golden State em 2019-20. Porém, Wiggins é considerado um jogador ruim enquanto scorer e um dos piores contratos da liga, enquanto Middleton foi a segunda engrenagem e peça crucial do time de melhor campanha da última temporada, tendo inclusive ido para o all-star game e recebido 62 votos para all-nba teams. Qual a diferença entre eles enquanto pontuadores? A eficiência.

Pontos por jogo: eficiência x volume na NBA
Andrew Wiggins, em ambas as temporadas, foi um jogador pouco eficiente, enquanto Middleton foi bem melhor. Um jeito de ilustrar essa situação é o seguinte: suponha que um time hipotético (e louco) deixasse Andrew arremessar todas as bolas durante a temporada 2018-19 e ele mantivesse essa eficiência. A equipe em questão teria offensive rating de 98.6, marca que deixaria o time como o pior ataque da liga desde o Philadelphia 76ers de 2016-17. Por outro lado, um ataque que deixasse Khris Middleton arremessar todas as bolas durante a temporada 2019-20 teria ORTG de 124 , o que seria disparadamente o maior desempenho da história da NBA.

Publicidade

É óbvio que é fisicamente impossível que um jogador arremesse todas as bolas em uma partida, e que a eficiência não é escalável a esse ponto. Mas o que quero dizer com essa comparação é o seguinte: quanto mais bolas Andrew Wiggins arremessa, mais perto o ORTG do seu time chega de 98.6, enquanto quanto mais Middleton arremessa, mais perto o ORTG da equipe chega de 124. Desse modo, Khris Middleton é um melhor scorer que Andrew Wiggins, pois ele arremessar leva seu time a um desempenho ofensivo melhor.

Porém, o número de pontos por arremesso por si só não determina a capacidade de um jogador enquanto scorer. Como dissemos, jogadores de volume baixo acabam por não auxiliar muito a equipe mesmo que sejam muito eficientes, pois ao tentar poucos arremessos, influenciam pouco no Offensive Rating de seus times. Desse modo, o importante é ser altamente eficiente em volume considerável. Um bom jeito de considerar isso é ver quantos pontos um jogador fez a mais do que o jogador médio com esse volume de tentativas faz. Desse modo, os melhores scorers seriam os jogadores que mais fizeram pontos a mais do que se espera por seu volume de arremessos tentados, ou seja, os jogadores que mais aumentaram o ORTG de seus times através deles. Basicamente, o cálculo foi o seguinte: um jogador faz em média 1.08 pontos por arremesso. Portanto, se espera que caso ele tenha 20 arremessos, ele faça cerca de 21 pontos. Um jogador que fez 23 em 20 arremessos está adicionando dois pontos a mais que o esperado para sua equipe a cada jogo, isto é, contribuindo nessa escala para o aumento do Offensive Rating de seu time a partir desses chutes.

Publicidade

Por outro lado, existe mais um ponto a se considerar: arremessos assistidos são mais fáceis: em média, jogadores têm aproveitamento 17% maior em arremessos a partir de passes dos companheiros do que em arremessos que eles mesmos criaram. Então, vamos deduzir 17% dos pontos que jogadores adicionaram (ou subtraíram) de suas equipes através de arremessos do primeiro tipo (pois isso seria uma margem associada ao passador).  Portanto, o total de pontos que um jogador acrescenta é o total de pontos adicionados em arremessos não assistidos + 0.83* o total de pontos adicionados em arremessos assistidos.

Desse modo, criamos a medida de Pontos Adicionados Individualmente (ou PAI, com trocadilho não intencional): isto é, quantos pontos um jogador agrega comparado a um de volume igual, mas com a eficiência média da NBA. Vamos a um gráfico que mostra o número de PAI por partida dos jogadores na última temporada da liga, cruzando com o volume de arremesso:

Publicidade

Veja que há um padrão de funil: isto é, jogadores com mais tentativas tendem a ser mais extremos quanto ao número de pontos por jogo que adicionam/subtraem de seus times a partir de sua eficiência (isto é, quanto impactam no ORTG de suas equipes). James Harden e Damian Lillard são disparadamente os jogadores que mais fizeram isso, enquanto RJ Barrett foi o jogador que mais foi prejudicial. Quanto a nossos exemplos, Middleton e Wiggins, é notória a diferença, apesar de serem muito similares em pontos por jogo: Middleton foi um jogador dentre a elite dos pontuadores, enquanto Wiggins esteve entre os piores. Agora vamos ver como esse fenômeno se deu nos playoffs:

Publicidade

Observe a absurda pós temporada de Donovan Mitchell! Ele fez cerca de 6 pontos a mais do que se espera de um jogador com essa quantidade de tentativas! Por outro lado, Pascal Siakam e Russell Westbrook decepcionaram muito.

Publicidade

A capacidade de um jogador em pontuar é crucial para determinar quanto ele ajuda seu time a vencer. Entretanto, o número de pontos por partida não é um grande estimador para isso: fazer muitos pontos tem grande relação com arremessar muito, o que muitas vezes passa uma ideia enganosa de produtividade: é possível que um jogador faça muitos pontos sendo pouco eficiente, o que danifica muito seu time (pois quanto mais arremessos tentados, maior o impacto de sua eficiência na qualidade do ataque de sua equipe). Para avaliar capacidade de pontuar, o ideal é ver quanto um jogador pontua a mais do que se espera de alguém com esse volume. 

Basquete é um jogo de posses limitadas: avaliar pontuação é avaliar eficiência de arremessos. O volume serve como catalisador: ele simplesmente aumenta o tamanho da diferença que a eficiência de um jogador faz no sucesso da equipe, seja para bem ou para mal. Então tome cuidado ao usar pontos por jogo para avaliar o sucesso de atletas.

Publicidade

Siga o Layups & Threes no Twitter!

Siga o Jumper Brasil em suas redes sociais e discuta conosco o que de melhor acontece na NBA: 

Publicidade

Instagram
YouTube
Twitter
Facebook 

Últimas Notícias

Comentários