O Los Angeles Lakers é, sem dúvidas, a franquia mais poderosa da NBA. É verdade que o Boston Celtics tem mais títulos e o New York Knicks possui maior exposição (por estar na maior cidade do mundo), mas nenhum time combina os dois fatores como os angelinos. Por décadas, jogadores fizeram fila para atuar lá e ter a oportunidade de escrever seus nomes na história da liga.
Enquanto isso, a NBA criou mecanismos para diminuir o “poder” dos mercados e deixar todas as equipes em condições de competitividade. Teto salarial, maior divisão de receitas e investimento em mercados emergentes tornaram a liga mais justa e democrática: qualquer franquia com boa administração e um pouco de sorte consegue montar um elenco forte se souber executar seu planejamento corretamente.
Por isso, é chegada a hora do Lakers passar por uma reciclagem e profissionalizar a gestão da franquia. Quanto mais tarde perceberem isso, pior será. É fato que a má fase do time não se explica apenas por isso. Lesões e negociações frustradas tem seu papel na história. Mas também é certo que uma administração fraca só poderia entregar um resultado abaixo das expectativas.
Ao longo da história, o Lakers sempre demonstrou competência administrativa. Jerry Buss, falecido em 2013, foi um dos maiores donos de franquia do esporte americano: carismático e bom de negócio, ele sempre soube vender sua franquia como poucos para os atletas que recrutava. Também teve excelente instinto na escolha de bons GMs, como o lendário Jerry West e o competente Mitch Kupchak. Ambos fizeram grandes negócios que deixaram o time sempre no topo.
Falamos aqui de atletas do quilate de Shaquille O’Neal, Kareem Abdul-Jabbar, Wilt Chamberlain, James Worthy, Kobe Bryant, Pau Gasol e muitos outros de talvez menor expressão, mas grande contribuição (Robert Horry, A.C Green, Michael Cooper). Todos chegaram via grandes contratos como agentes livres ou por trocas engenhosamente arquitetadas, sob a promessa de brilhar na constelação que é Los Angeles. Mesmo alguns que foram adicionados via draft, como Kobe, forçaram sua ida para a organização – declarando que não jogaria por nenhuma equipe.
É por conta disso que temos que colocar relativizar também a gestão do Lakers. Ao mesmo tempo em que não podemos questionar os ótimos trabalhos de Kupchak, West e do finado Dr. Buss, podemos e devemos reconhecer que a atuação deles foi imensamente facilitada pela história vencedora da franquia e pela atratividade que Los Angeles sempre teve para atletas jovens de alto nível. Isso não ameniza, mas sim deixa ainda mais alarmante a situação atual do time.
Desde o falecimento de Jerry Buss, quem herdou o comando da franquia foi seu filho, Jim. Todos sabiam que ele tomaria as decisões esportivas da organização após o falecimento do pai. Todos também sabiam que sua administração poderia arruinar uma das franquias mais vitoriosas de todos os tempos. E assim aconteceu: Jim não tem preparo para assumir a função e evidencia a incapacidade através de escolhas questionáveis. Desde o falecimento de Jerry, ele já promoveu duas mudanças de treinadores e três grandes reformulações no elenco, ainda sem sucesso. Os angelinos “patinam” na temporada – o que é uma pena, pois estamos assistindo os últimos anos de Kobe Bryant serem desperdiçados sem qualquer pretensão competitiva.
Em uma liga onde meritocracia e necessidade de boa gestão reinam absolutas, o Lakers precisa reconhecer a importância de um trabalho de bastidores competente o mais rápido possível. Jeanie Buss, irmã de Jim e gestora de finanças do Lakers, já deu declarações (pasmem) reconhecendo a inaptidão do irmão. Falta ainda a tomada de alguma atitude mais enérgica para reverter o quadro, mas é impossível saber como funcionaria uma manobra tão drástica na prática (seria um golpe de poder, por exemplo?). Afinal, não temos acesso aos bastidores da franquia.
O fato é que o Lakers não pode mais contar com seu nome e com sua tradição para atrair atletas de ponta. Cada vez mais vemos franquias de pequenos mercados, sem tradição, formando boas equipes – veja o que acontece em Memphis e Oklahoma City nos últimos anos, por exemplo. Hoje, a NBA espelha-se no modelo pioneiro do San Antonio Spurs e sua cultura vencedora que estende-se por quase duas décadas completas. Resta ao time de Los Angeles reconhecer que vive outros tempos ou sofrer o mesmo destino do New York Knicks, que não consegue montar equipes vencedoras por abissal incompetência desde os anos 90.