O Orlando Magic foi um dos times que mais se movimentou na última trade deadline da NBA. Quase todos os principais jogadores da equipe foram negociados. Nikola Vucevic foi para o Chicago Bulls, Aaron Gordon para o Denver Nuggets, e Evan Fournier para o Boston Celtics.
As movimentações preocuparam, imediatamente, grande parte da torcida do Magic, que viu o time ser desmontado em uma tarde (por um valor abaixo do esperado). No calor da emoção, os fãs da equipe de Orlando ficaram chateados com as trocas e bastante pessimistas com os próximos passos da franquia. Mas o pensamento não pode ser esse. O cenário está longe de ser o de terra arrasada. Vou tentar explicar, neste artigo, que o futuro da franquia é animador.
Finalmente, o Magic vai mergulhar de cabeça na reformulação do elenco. O presidente da franquia, Jeff Weltman, e o gerente-geral, John Hammond, perceberam que não dava para seguir montando um time mediano para brigar pelo sétimo, oitavo lugar no Leste, e ser eliminado na primeira rodada dos playoffs, como ocorreu nos últimos dois anos. Como o Magic não é uma franquia atrativa para grandes estrelas, o caminho a ser seguido não pode ser outro: reconstrução via Draft. E o recrutamento deste ano promete ser o mais forte (no topo) dos últimos tempos.
A base jovem do Magic é capitaneada pela dupla Jonathan Isaac e Markelle Fultz. Ambos estão fora da temporada por conta de graves lesões e só voltam às quadras em 2021/22. Sexta escolha do Draft de 2017, Isaac tem um potencial tremendo. Aos 23 anos, ele já é considerado um dos melhores defensores da NBA. O problema é ele se manter saudável para elevar o seu jogo. Em quatro anos de Magic, o ala disputou 136 de 309 jogos possíveis (já contando os 72 desta temporada), ou seja, entrou em quadra em apenas 44% das partidas da equipe. Mesmo assim, a direção da franquia confia em Isaac. Na última offseason, ele fechou uma extensão contratual de US$80 milhões pelas próximas quatro temporadas.
Depois de ser taxado de bust, Fultz desabrochou na NBA. A primeira escolha do recrutamento de 2017 enfrentou vários problemas (técnicos, físicos e psicológicos) em seu início na liga, no Philadelphia 76ers, e renasceu em Orlando. O armador de 22 anos agradou tanto que conseguiu uma extensão contratual de US$50 milhões válida pelas próximas três temporadas.
O que o Magic conseguiu na última trade deadline
– saídas de Nikola Vucevic e Al-Farouq Aminu para o Bulls: Wendell Carter + contrato expirante de Otto Porter + duas escolhas de primeira rodada de Draft – de 2021 (protegida até a quarta posição) e de 2023 (também protegida Top 4) + exceção de troca (trade exception) no valor de US$4,2 milhões
– saídas de Aaron Gordon e Gary Clark para o Nuggets: Gary Harris + RJ Hampton + uma escolha protegida (top 5) de primeira rodada do Draft de 2025
– saída de Evan Fournier: duas escolhas de segunda rodada de Draft (2025 e 2027)
Em termos de atletas, o principal retorno que o Magic conseguiu na trade deadline foi o pivô Wendell Carter. Sétima escolha do Draft de 2018, o jogador que está prestes a completar 22 anos não rendeu o esperado em Chicago. Além da bagunça que reinava no Bulls até o ano passado, Carter sofreu várias lesões. O pivô esteve em quadra em 119 de 190 partidas (63%) de sua ex-equipe. Em Orlando, a expectativa é a de que Carter tenha mais espaço, mais participação no ataque e, consequentemente, evolua o seu jogo. Mas, obviamente, é preciso ter sequência, não se lesionar com frequência. Nas seis partidas já disputadas com a camisa do Magic, o pivô atuou muito bem e já “iludiu” a torcida, com médias de 15 pontos e 8,5 rebotes. Uma promissora dupla de garrafão com Chuma Okeke, outro jovem que vem mostrando evolução, está se formando?
O combo guard RJ Hampton é o outro jovem que chegou ao Magic no final do mês passado. Com apenas 20 anos, o novato teve pouco tempo de quadra no forte Nuggets. No time de Orlando, ele já atuou em seis jogos e também não decepcionou. O que chama a atenção neste início no Magic é o aproveitamento dele nos arremessos do perímetro: 37,5% (seis acertos em 16 tentativas). O volume ainda é baixo, mas o aproveitamento é promissor. Na série de posts sobre as necessidades dos times no último Draft, o Jumper Brasil apontou Hampton como um dos prospectos que o Magic deveria selecionar. Hampton se encaixa no perfil de prospecto que o GM do Magic adora: longo, atlético e com enorme upside. Cole Anthony, o escolhido pela franquia de Orlando, também aparece no post. Agora, eles estarão juntos na equipe de Steve Clifford.
Por falar no treinador, Clifford tem contrato com o Magic até o final da próxima temporada. Ele foi trazido para comandar um time que brigava por vaga nos playoffs. Como ficará a situação do técnico, com a mudança nos rumos da franquia? Ainda não está claro o que a direção do Magic vai fazer, se vai manter Clifford por mais um ano ou se vai trocar o comando na próxima offseason. Resta saber ainda se o treinador estará disposto a trabalhar com um elenco jovem, sem grandes aspirações, no curto prazo. Acho que a mudança de técnico será inevitável.
Para a próxima temporada, o Magic terá pelo menos sete atletas com idade igual ou inferior a 23 anos. A base formada por Fultz, Anthony, Hampton, Isaac, Okeke, Bamba e Carter é muito animadora. Michael Carter-Williams (29) e Gary Harris (26) terão contratos expirantes e, por isso, deverão ser moedas de troca em 2021/22. Outro que poderá ser negociado é o ala Terrence Ross, o mais “veterano” do time (30 anos), que tem um contrato “amigável” (US$24 milhões pelas próximas duas temporadas).
Atletas com contratos garantidos na próxima temporada
– armadores: Markelle Fultz (22 anos, US$16,5 milhões) / Cole Anthony (20 anos, US$3,4 milhões) / RJ Hampton (20 anos, US$2,3 milhões) / Michael Carter-Williams (29 anos, expirante de US$3,3 milhões)
– alas: Jonathan Isaac (23 anos, US$17,4 milhões) / Gary Harris (26 anos, expirante de US$20,5 milhões) / Terrence Ross (30 anos, US$12,5 milhões) / Chuma Okeke (22 anos, US$3,3 milhões)
– pivôs: Wendell Carter (22 anos, expirante de US$6,9 milhões) / Mo Bamba (22 anos, expirante de US$7,5 milhões)
Em relação ao Draft de 2021, a franquia de Orlando tem garantidas, até o momento, duas escolhas de primeira rodada (hoje seriam duas de loteria com o Bulls fora dos playoffs) e uma no início da segunda rodada. O recrutamento deste ano possui muito talento em seu Top 5 (Cade Cunningham, Evan Mobley, Jalen Suggs, Jalen Green e Jonathan Kuminga). Está claro que o Magic tem um cenário muito confortável, com a chance de ter pelo menos um desses talentos.
É sempre bom lembrar que o Magic tem muita sorte na Loteria do Draft, pois ficou com a primeira escolha em três oportunidades (1992, 1993 e 2004). No caso, Shaquille O’Neal, Chris Webber (trocado com o Golden State Warriors por Penny Hardaway e futuras escolhas do recrutamento) e Dwight Howard. Shaq e Penny levaram o Magic à final de 1995, e Howard liderou a equipe à decisão de 2009. Está mais do que claro o caminho a ser seguido pela franquia de Orlando.