O elenco era tão mais fraco assim?

Gustavo Freitas analisa como o Oklahoma City Thunder está (muito) abaixo das expectativas

Fonte: Gustavo Freitas analisa como o Oklahoma City Thunder está (muito) abaixo das expectativas

Eu me lembro bem, até porque foi esses dias. Mas um dos argumentos que davam ao MVP de Russell Westbrook na temporada passada era que o elenco de apoio do Oklahoma City Thunder era infinitamente pior que o do Houston Rockets de James Harden. Tá, eu sei. O MVP tem seus motivos. Já discuti muito isso e sempre que toco no assunto, algumas dúzias de adolescentes começam a chiar. Não pode falar. Não pode debater que começam a reclamar. Mas com quase dois meses de temporada, eu faço aqui uma análise sobre o que é e o que deixa de ser. Sem frescuras. Sem clubismo, até porque torço para o Boston Celtics e o assunto nada tem a ver com isso.

Há alguns meses, Sam Presti, GM do Thunder, foi ovacionado por suas movimentações na offseason. E com razão. Do nada, o sujeito coloca Paul George e Carmelo Anthony ao lado de Westbrook. Ora, qual a razão para não aplaudir um cara desses? Simplesmente, não tem nenhuma. Os comentários aqui eram unânimes: o Thunder estava montando um time para bater o Golden State Warriors. Nos prêmios da temporada, obviamente, votei em Presti. E foi sem pensar muito, justamente pelos mesmos motivos dos comentários.

Quando ocorreu a troca de George, a expectativa era imensa. Ele é reconhecidamente um astro e qualquer um que conhece um pouquinho de basquete sabe que ele é melhor que Victor Oladipo. Domantas Sabonis foi na negociação como peso para papel, já que, apesar de ele ser jovem e promissor, o torcedor entendia que ele era apenas o filho de Arvydas. E só. A certeza era uma só: o Pacers tomou uma das maiores mantas dos últimos tempos.

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Acontece que a coisa não está sendo bem assim.

Oladipo está fazendo uma temporada impecável no Pacers. O ala-armador, em seu quinto ano de NBA, lidera a equipe e, sem forçar nada, é um dos melhores alas-armadores de 2017-18. Se você ainda não entendeu, Oladipo faz em média, 23.3 pontos, 5.2 rebotes e 3.9 assistências na atual campanha. Isso, arremessando 48.3% nos lances de quadra e 43.7% de três. Ah, e ele possui quase duas roubadas e pouco mais de um toco por jogo.

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Já Sabonis, mais do que duplicou seus rebotes. Saiu de 3.5 em 2016-17 e está com 8.7 nessa temporada. Além disso, anota 12.2 pontos (5.9 na temporada passada) e tem mais de 53% de aproveitamento nos arremessos. Mas aí você pode pensar que ele está com muito mais tempo de quadra, certo? Se você jurar que cinco minutos a mais por jogo são suficientes para isso tudo, então tá.

O Pacers? Vai muito bem, obrigado. Claro que sente a falta de George. É óbvio. Mas o time virou a página. Eu mesmo cheguei a pensar que a equipe ficaria longe dos playoffs e que dependeria demais de Myles Turner. Só que não. Olha o elenco. Veja quem está ali: Darren Collison, Thaddeus Young, Bojan Bogdanovic, além dos já citados Oladipo, Sabonis e Turner. Parece um time de refugos, né? Mas o Pacers ocupa hoje um honroso sétimo lugar no Leste. Você pode até dizer que é o Leste e que daqui a pouco, outros times vão passar o carro. Sim, verdade. Não duvido que caia de produção, mas em 25 partidas, venceu 14.

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E o Thunder? Bem, aí podemos analisar de diversas formas.

Primeiro, um time com três astros precisa ser bem treinado. Billy Donovan passa longe de ser ruim, porém, não é da noite para o dia que vai funcionar, especialmente se essa equipe estiver em uma conferência tão forte quanto a do Oeste. Em 24 jogos, o Thunder está hoje em nono, com 11 vitórias e 13 derrotas.

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Sim, Enes Kanter, até então não citado aqui, tinha muita importância vindo do banco. E em uma NBA em que NINGUÉM defende mais, o turco (ou ex, dependendo da vontade do presidente) era de grande valia naquele grupo. Pontuando e nos rebotes, principalmente dando a Steven Adams um descanso maior.

Mas o elenco é melhor, certo?

Bem, nome por nome, o upgrade é muito grande. Você sai de Oladipo, Sabonis e Kanter, e recebe George e Anthony, mais rodados, experimentados e consagrados. Então, claro que é melhor. Isso não muda o fato de que Oladipo e Sabonis estão bem. Apenas podemos começar a concluir alguns detalhes.

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O Thunder é um time que consegue extrair emoções diferentes dos fãs de NBA. Em geral, até por ter sido alvo de chacota na década passada, acaba atraindo simpatizantes. A equipe estava em reconstrução quando saiu de Seattle e, aos poucos, conseguiu montar um quarteto muito promissor com Kevin Durant, Serge Ibaka, Harden e Westbrook. O problema é que após esse grupo disputar sua única final até aqui, ele foi desfeito e só sobrou o último. Daí, existe a tendência em acreditarmos que apenas o camisa 0 jogava basquete de verdade em 2016-17, o que é uma lástima pensar assim.

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Vá lá. O Thunder optou por Ibaka ao invés de Harden. Tudo para não pagar taxas por conta do teto salarial. Dava para manter todo mundo, até. Fazendo sacrifícios, claro, mas principalmente quando houve aquele aumento significativo da folha de pagamentos da NBA, após o contrato da TV. Veio depois da saída de Harden, é fato. Porém, já existia a previsão de que o tal acordo aconteceria e os times poderiam barganhar salários. Mas vem cá: com aquele quarteto, em algum momento da vida, você acha que Durant iria querer sair para o Warriors? O Thunder trocou a melhor oportunidade de ser campeão múltiplas vezes por conta de grana. Anos depois, concorda que aquela estratégia era um erro, resolve investir em dois astros e agora tem a terceira maior folha da liga. Pagando taxas, claro.

Tudo bem. Anthony já não é mais um prospecto e provavelmente passou de seu auge. É pra lá de prematuro e simplista dizer que sem ele, o New York Knicks é melhor ou mais competitivo. As coisas mudam. Assim como é errado dizer que o Thunder é menos competitivo. Apenas podemos garantir que…

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1- Três caras acostumados com o status de primeira opção em suas carreiras agora precisam dividir espaço. Nunca é fácil.

2- Perdeu Kanter como a principal referência no banco de reservas. Era aquele cara que pontuava na segunda unidade e segurava a bronca no placar quando os titulares retornavam à quadra.

3- Westbrook, por toda sua importância, relevância e tudo mais, tira espaço de qualquer outro jogador de seu elenco, o que é até normal na maioria dos casos. O mesmo acontecia quando Durant estava por perto. Com o então colega, ele não precisava se desdobrar para fazer tudo. Quando Durant se machucou ou foi embora, a necessidade de monopolizar as ações ofensivas ficou nítida.

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4- Oladipo poderia ser muito mais útil se tivesse mais posses de bola e o time esquecesse a preocupação com recordes pessoais. Talvez, até por ter sido muito questionado ele tratou de produzir. Mas ainda acho que o motivo principal está no 3.

5- Sempre que um bom jogador ganha espaço, se ele for bom de verdade, vai produzir. O exemplo claro aqui é Sabonis, mas se você parar para olhar em um passado recente, vai encontrar Hassan Whiteside no Miami Heat, Dennis Schroder no Atlanta Hawks e Jae Crowder no Boston Celtics. Todos eles, quando tiveram mais tempo de quadra ou mais importância em seus elencos, melhoraram suas equipes. Agora, pela ausência de Kanter, Steven Adams deu um salto.

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6- Administração de egos em um elenco é algo muito importante e você precisa ter um treinador que seja experiente o suficiente para lidar com isso. É óbvio que o papo hoje é de querer ajudar Westbrook. Anthony e George já disseram que querem somar e que precisam jogar de uma forma para que o armador tenha mais controle do jogo. Mas a campanha pode refletir nesse ânimo. É meramente especulativo, porém os reforços podem querer resolver o que não está dando certo.

7- Seja lá qual for a posição do Thunder nos playoffs, até porque o time vai se classificar, exceto um aborto da natureza, qualquer time que o enfrentar vai tomar sufoco. Seja San Antonio Spurs, Warriors, qualquer um. Quando as individualidades forem deixadas de lado, o Thunder vai dar dor de cabeça para todos os adversários. Já vimos esse filme antes. O mesmo Rockets, mas lá dos anos 90, com Hakeem Olajuwon, Clyde Drexler e Charles Barkley, e depois Scottie Pippen, sempre era candidato ao título.

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8- O trabalho ainda é muito novo. Ao contrário do que aconteceu com o Warriors, quando Durant chegou naquela equipe já montada, preparada e com cada um de seus jogadores sabendo suas funções, Anthony e George chegaram ao Thunder sem muito disso. Tá. Westbrook, Adams e Andre Roberson já estavam por lá, mas a filosofia do ano passado não pode, em momento algum, se repetir em 2017-18. Está mais do que na cara que não dá para viver de quebra de recordes e números espetaculares.

9- Todos nós esperávamos mais do elenco formado por Presti. Quando você junta em um mesmo quinteto caras com cacoete de pontuar o tempo todo, é esperado que os ajustes aconteçam. Do outro lado, porém, o time teve uma aparente melhora na defesa. Mas isso tem a ver com a velocidade no ataque. Levava quase 106 pontos e permitia 45.9% de aproveitamento do adversário em 2016-17. Hoje, sofre 99 e aceita 44.8% em 2017-18. O Thunder diminuiu a intensidade ofensiva e isso fez com que seus números defensivos subissem. No entanto, nas estatísticas avançadas toma 1.24 pontos por posse de bola, mesmo índice da temporada passada.

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10- Hoje, o Thunder é um time comum, por mais bizarro que pareça. Falo disso não só no que vejo em quadra, mas nos números. É uma equipe que possui problemas ofensivos. Westbrook, Anthony e George convertem somados 41.0% dos arremessos tentados. Eles são responsáveis por 60.5% das tentativas no ataque. O tiro de três é que empurra para baixo, na teoria.

Existe uma estatística chamada EFG%. Isso eleva a qualidade e a importância do arremesso de três, comparando com o de dois. Enquanto George (50%) apresenta eficiência próxima do que fez na carreira, Westbrook caiu de 47.6% no ano do MVP para 45.0% em 2017-18. Isso, arremessando em média cinco bolas a menos. Sua pontuação despencou dos 31.6 da campanha passada para 22.9. Seu TS% (True Shootinge Percentage – estatística que mede a eficiência de todos os arremessos, incluindo os de lance livres) está em 49.9%, muito longe de comparação com os 55.4% obtidos nos dois anos anteriores.

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Em suma, o Thunder não perdeu nas trocas. Não creio que Presti tenha errado agora, embora eu acredite que o tiro no pé tenha ocorrido há muitos anos, na negociação de Harden.

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