Era outubro de 2012. A equipe do Jumper Brasil já se preparava para começar mais uma temporada da NBA — as previsões já haviam sido divulgadas — e o Miami Heat era o principal candidato ao título após derrotar o Oklahoma City Thunder nas finais. Era uma madrugada de sábado para domingo e então resolvi acessar o site para saber como estavam as coisas. Levei um susto quando vi a troca de James Harden para o Houston Rockets.
Pudera, pois ele era parte vital daquele jovem time que acabara de ser derrotado em uma final. Imaginei inicialmente que o GM Sam Presti estava tentando encontrar meios de melhorar o bom elenco. Mas quando notei os jogadores envolvidos, constatei nada menos que uma insana caçada pela economia.
Tudo bem, até entendo o fato de ele não querer pagar multas por exceder o teto salarial e eu acho mesmo que ele queria ser o nome de uma nova fase da NBA. Ele pretendia ser o sujeito que conseguiu vencer economizando. Um verdadeiro símbolo.
Sinceramente, isso é uma bobagem.
No mundo politicamente correto, não é. Mas é um verdadeiro saco. Tem que ser bonzinho, tem que agir de acordo com o protocolo, precisa ser fácil de lidar. Não pode, em hipótese alguma, chegar na NBA dizendo que não queria jogar por determinada equipe. Kobe Bryant e Steve Francis seriam escorraçados se tivessem declinado um time hoje. Ninguém mais pode ter pensamentos, por mais absurdos que eles sejam. Jahlil Okafor fez cara de poucos amigos ao ser escolhido no draft pelo Philadelphia 76ers, jogou a camisa em cima de uma mesa e o resultado? Quase apanhou do mundo. Pessoalmente, achei ele errado pelo padrão “certinho” atual, mas corretíssimo por não gostar de uma situação e externar. Bem ao estilo “dane-se o mundo”. O Sixers é grande demais para estar tão bagunçado. Mas mais que isso, é o bom mocismo imperando.
Presti quis ser o bom moço. O carinha da auto-sustentabilidade, do filme Moneyball, do leite com pera. Quis ser campeão apoiado na sorte e no talento. Sim, talento. Kevin Durant, Russell Westbrook e Serge Ibaka são muito talentosos. Aliás, este último teria sido um dos motivos pela troca de Harden. A direção optou pelo ala-pivô e negociou o barbudo com o Rockets por um bando. E é verdade. Kevin Martin está hoje no Minnesota Timberwolves. Jeremy Lamb acabou de ser trocado para o Charlotte Hornets, enquanto Cole Aldrich, Lazar Hayward e Daequan Cook, estão vagando por aí.
Sim, o Thunder entregou um potencial MVP por absolutamente nada. E quase o fez novamente, agora com Reggie Jackson. O armador começou a temporada passada como o grande nome da equipe, após lesões de Kevin Durant e Russell Westbrook. Jackson perdeu tempo de quadra quando os dois retornaram e foi envolvido em uma troca tripla. Foi parar no Detroi Pistons. Em contrapartida, o Thunder recebeu o pivô Enes Kanter.
Vamos partir do princípio que pivôs estão cada vez mais raros e que o estilo de jogo da NBA mudou nos últimos anos. Deixou o garrafão mais aberto para infiltrações e espaçou a quadra com todo mundo aberto para o arremesso de longa distância. A área pintada tornou-se um local inabitado e convidativo para quem não tem medo de partir para a cesta. Mas o pivô mesmo, já era.
O Portland Trail Blazers, em frangalhos por ter perdido quase todo o seu quinteto inicial de 2014-15, tinha espaço de sobra e deu a Kanter um contrato pra lá de generoso. O turco receberia US$ 70 milhões pelos próximos quatro anos no Blazers. Kanter era agente livre restrito, e usando a lógica de Presti, o time jamais iria igualar a proposta.
Por mais que a partir de 2016-17 o teto salarial venha a aumentar, o Thunder teve a grande oportunidade de não fazer besteira. Ou no mínimo, evitar um outro erro. Se estava seguindo em um padrão, não seria por Kanter que o time alteraria seus planos.
E alterou.
Não é por nada não. Até acho Kanter bom no ataque, sabe arremessar de média distância e está tentando evoluir como um pivô moderno, mas US$ 70 milhões para um cara que não sabe defender, é para pedir o boné. E quando eu falo sobre ele ser ruim defendendo, imagine um cone marcando um outro pivô. O cone é melhor. Vai pegar muitos rebotes, mas quando o assunto é segurar o oponente, pode esquecer.
Kanter não vale esse valor nem aqui, nem em Istambul. A NBA acabou de valorizar o mediano e colocou-o em um patamar de astro. Me perdoem seus defensores, mas US$ 17.5 milhões por ano é para jogador All Star. Retirando os novos acordos, 11 dos 12 atletas que receberão mais na próxima temporada, foram para o Jogo das Estrelas. Sabe quem é o intruso aí? Pois é. Ele mesmo.
Presti deu um tiro no pé ao igualar a proposta do Blazers. Sobrecarregou e estourou o teto salarial, deu a um jogador mediano um salário de astro, não valorizou um bom armador, e agora vê todo o seu trabalho questionado.
Fugir do automático não é demérito para ninguém, mas também não precisava apelar. Acho correto ele tomar um rumo e seguir a partir de lá. Porém, Kanter não é Shaquille O’Neal.
Apenas não me entenda errado. Kanter sabe atacar como poucos, especialmente em uma NBA sem grandes jogadores para a posição. A questão aqui é o seu salário, sua defesa e por fim, a decisão de Presti.
Creio que a diretoria falhou e foi de forma crassa. Steven Adams está no elenco justamente para se desenvolver e poderia ser o pivô que o Thunder procurava em pouco tempo. Poderia, pois agora será Kanter. Boa sorte, Ibaka.