Milwaukee Bucks: Jrue Holiday era a peça que faltava para o título?

Matheus Gonzaga e Pedro Toledo analisam o desempenho do Bucks na fase regular em 2020/21

Fonte: Gary Dineen / AFP

A eliminação do Milwaukee Bucks para o Miami Heat, na última temporada, junto à queda para o Toronto Raptors, dois anos atrás, fizeram com que boa parte dos que acompanham a NBA parassem de ver o time como um verdadeiro candidato ao título. Na atual temporada, a equipe tem testado coisas novas e Jrue Holiday pode ter sido a peça que faltava para levar o troféu para Milwaukee.

Na atual temporada, o Bucks tem o sexto melhor ataque e a oitava melhor defesa. Vale lembrar que, estar no top 10 nos dois quesitos, é tradicionalmente um indicador de contender. Sua identidade é similar à dos últimos anos, porém, um pouco mais moderada.

Ofensivamente, trata-se de um time focado em devastar adversários na transição (quase 20% de suas posses é finalizada já na transição – maior taxa da liga), uma boa dose de mano a mano (terceira taxa da NBA) e toques no post (quarto lugar). É um ataque que puxa o ritmo na transição, e, na meia-quadra, funciona principalmente através de jogadas individuais, o que ocasiona por vezes em bolas de três para arremessadores em catch-and-shoot (Milwaukee converte 40.6% delas, quarta posição da liga).

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Giannis Antetokounmpo é o primeiro polo do funcionamento desse ataque. O grego está entre os 15 jogadores que mais executam jogadas de um contra um na liga e gera muito sólidos 1.09 pontos por arremesso. Por outro lado, o MVP não é muito eficiente no post, onde gera apenas 0.93 pontos por tentativa em suas cerca de três posses em cada partida. Na realidade, o que transforma Giannis em um jogador de elite ofensivamente é sua capacidade geracional na transição, onde é o jogador que mais arremessa bolas na liga (4.5 por partida) e gera ótimos 1.22 PPP. A  ameaça de Antetokounmpo atrai o foco defensivo, gerando arremessos fáceis para os demais jogadores. 

Na meia-quadra, o papel de Khris Middleton é muito importante. Por mais que faça um pouco de tudo, Giannis não é um condutor ofensivo na meia quadra durante toda a partida, diferente de várias outras superestrelas na NBA moderna. Desse modo, cabe a Middleton comandar parte do ataque nessas situações. O ala é o jogador que mais chama pick-and-rolls no ataque do Bucks (cerca de 5.4 por partida) e também tem um alto volume de jogadas de isolation. A questão é que ele não é tão bom nessas situações, gerando menos de um ponto por posse. O maior talento dele está em receber a bola após outras ações e explorar as falhas da defesa. Middleton ele está entre os jogadores mais eficientes da liga em spot ups (1.29 PPP, mas em volume relativamente baixo). O ala é uma válvula de escape boa enquanto criador, mas o melhor seria que ele não precisasse ter um papel tão grande nesse sentido.

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Aí é que entra Holiday. O ataque do Bucks, nos últimos anos, tem sido excelente, mas acaba sendo bem dependente da transição. As eficiências do armador em isolation e pick-and-roll não são tão altas e, no mundo ideal, não precisaria criar tanto, assim como Middleton. Por outro lado, a presença de outro criador satisfatório ao lado de Giannis e Middleton traz um valor bem grande: o ataque de meia quadra não é tão simples de anular, uma vez que há três potenciais iniciadores. A participação de Holiday não deve tornar o ataque de meia-quadra de Milwaukee em algo espetacular nos playoffs, mas eleva o nível a ponto que a transição talvez seja o suficiente para que o time vá mais longe na pós-temporada.

Middleton, Holiday e Giannis também possuem papéis importantes enquanto passadores. A competência dos três criando gera arremessos no perímetro para os role players do elenco, que como dissemos acima, são extremamente capazes de convertê-los. São essas bolas que fazem o ataque de meia-quadra do time funcionar.

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Defensivamente, a filosofia continua a mesma: impedir tentativas no aro (o Bucks é o segundo time que menos cede bolas perto da cesta e o que permite o segundo pior aproveitamento, muito graças a Giannis e também a Brook Lopez), levando os adversários a tentar muitos arremessos na meia distância (segundo maior volume cedido da liga), que são bem ineficientes (0.87 pontos por arremesso). O preço a pagar por priorizar tanto proteger a cesta são as bolas de três permitidas. O Bucks é o time que mais vê os adversários arremessando bolas de três pontos. A questão é que essas bolas geram, em média, 1.1 pontos por tentativa, contra um número de cerca de 1.2 perto da cesta. Estatisticamente é melhor permitir chutes do perímetro do que ataques à cesta (onde inclusive, há um risco maior de cometer faltas, e vale lembrar que o lance livre é o arremesso mais eficiente do basquete). Matematicamente, Milwaukee está correto em sua filosofia de defesa. Sim, há questionamentos sobre sustentabilidade nos playoffs devido aos últimos anos (as quais não ponho muito peso, pois trata-se de um período de amostragem curta), mas a equipe tem testado eventuais abordagens diferentes durante a temporada, para as situações em que os ajustes forem necessários.

O Bucks é uma defesa de elite, baseada em princípios estatisticamente sólidos e tem um ataque incrível na transição. Sim, o ataque na meia-quadra não é tão chamativo, mas ainda é bom. Não vejo nenhum impeditivo para que Milwaukee seja considerado um candidato ao título, apesar do histórico ruim nos últimos dois anos.

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* Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)

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