Jumper Brasil Discute – The Last Dance

Integrantes do site e convidados especiais “passam a régua” em polêmico documentário sobre Michael Jordan e o Bulls da década de 1990

Fonte: Integrantes do site e convidados especiais “passam a régua” em polêmico documentário sobre Michael Jordan e o Bulls da década de 1990

A paralisação da temporada da NBA prometia deixar os fãs de basquete em abstinência extrema. E, então, apareceu “The Last Dance”! 

O documentário de quase 10 horas produzido pela ESPN e a Netflix, com material inédito de bastidores da temporada do último título do Chicago Bulls, levantou vários debates na quarentena enquanto retratava a jornada de glória da franquia na década de 1990 e do lendário Michael Jordan. E também teve enorme repercussão por conta da imagem deixada de muitos dos envolvidos naquelas campanhas. 

Nessa semana, nós convocamos três de nossos integrantes e dois convidados especiais – Gabriel Martins, do podcast “Cara dos Sports”, e Alana Ambrosio, comentarista da ESPN Brasil – para “passar a régua” no documentário dirigido por Jason Hehir. Vamos refletir sobre algumas das discussões mais importantes trazidas e causadas pelo documentário encerrado na semana passada. 

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O que realmente impressionou nessa fantástica história? O que virou polêmica? E o que vai ficar na memória em “The Last Dance”. É isso que vamos discutir agora! 

  

1. Verdadeiro ou falso: “The Last Dance” foi um veículo pontual para engrandecer (ainda mais) o legado de Michael Jordan. 

Gustavo Lima: Falso. Para mim, o documentário não altera a percepção de que Jordan é o maior jogador de basquete de todos os tempos, o atleta mais midiático e um ícone do marketing esportivo. Mostra a grandeza do seu protagonista a uma nova geração, que não pode vê-lo ao vivo. Além disso, ele expõe claramente que o eterno camisa #23 não é um Deus, uma figura intocável e teve falhas como qualquer ser humano. 

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Alana Ambrosio: Verdadeiro. “The Last Dance” contou uma história onde cabem muitas lentes sob a perspectiva de pessoal de Jordan. Cada um tem a sua visão e interpretação do que rolou naquela temporada e na carreira do craque. Por ele sempre aparecer dando a “explicação” para os fatos, a ótica é sempre dele. Apesar dos momentos de “vilão”, eu acho que serviu para engrandecer a mística em torno dele. 

Gustavo Freitas: Verdadeiro. Para quem viu Jordan na época, isso serviu apenas como uma reafirmação e lembrança afetiva. Mas, para as pessoas que não o viram no auge, esse documentário faz um ótimo trabalho dando a chance de que entendam o que ele significa para a NBA de modo geral, não apenas para o Bulls ou para os seus fãs mais ardorosos. 

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Gabriel Martins: Verdadeiro, mas não tem problema. Faltava um relato definitivo sobre Jordan e não adiantaria fazê-lo sem a sua presença. Se o “custo” é ignorar uns pontos mais polêmicos ou abordá-los pelo ponto de vista do mesmo, ainda assim vale a pena. Decepciona um pouco não ter abordado como a pressão que exercia deu errado com alguns atletas, mas, de novo, é o preço a ser pago para o documentário existir. 

Ricardo Stabolito Jr.: Falso. Vejo muito mais como uma produção para mostrar Jordan a uma nova geração do que uma forma de engrandecê-lo. Apesar da narrativa ter suas “romantizadas” claras, há uma disposição até surpreendente em discutir vários pontos negativos de sua vida, carreira e abordagem de elenco. Os seis títulos são seis títulos. Jordan é um gigante, o maior. Estranho seria se conseguissem não o retratar assim. 

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2. Todos os companheiros de Jordan receberam espaço e tratamento justo ao longo dos episódios?

Gustavo Lima: Não. Titular no segundo tricampeonato, por exemplo, Luc Longley não foi sequer entrevistado – provavelmente, por ter uma mágoa com Jordan. Outro dos “esquecidos” foi Craig Hodges, armador nos dois primeiros títulos de Chicago e um ativista por justiça social que virou desafeto de Jordan por criticá-lo pela indiferença com questões sociais e políticas. 

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Alana Ambrosio: Não. Alguns atletas foram deixados de fora e outros retratados sem o devido valor. Apesar de não achar que Scottie Pippen foi tão desprezado assim – e ele próprio acredita ter sido menosprezado –, talvez faltasse dimensionar um pouco quem ele era para o coletivo. Senti falta de um episódio mais detalhado sobre Toni Kukoc. E Longley, tricampeão, não valeu nem uma visita à Austrália pelos olhos dos produtores.  

Gustavo Freitas: Não. Aliás, essa é uma parte ruim desse documentário. Algumas das acusações feitas a companheiros de elenco de Jordan são baseadas em puros palpites. Horace Grant virou informante, Pippen soa ingrato. Trouxe informações muito desnecessárias, como o vestiário do Bulls de quanto entrou na NBA, há 35 anos. Não tem sentido nenhum. Achei estranho Longley não aparecer em momento algum. 

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Gabriel Martins: Sim. Eu entendo porque Pippen ou Grant possam estar chateados com a forma como foram retratados na série, mas o documentário é todo sob a perspectiva de Jordan. Como as passagens que não falavam a respeito de MJ foram as mais chatas para mim, então digo que tiveram espaço mais do que suficiente. 

Ricardo Stabolito Jr.: Não. Jogadores importantes daquelas campanhas são ignorados (Longley), enquanto outros são tratados de forma bastante questionável (Pippen, Grant, Kukoc). Fica complicado defender que Jordan não excluiu Isiah Thomas do Dream Team quando até os entrevistados desse documentário parecem ter passado por sua peneira, deixando de lado exatamente quem não é lá muito seu fã. 

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3. Qual foi a grande revelação, o detalhe mais interessante que não sabia, no documentário?

Gustavo Lima: A história envolvendo LaBradford Smith, do Washington Bullets, que fez o jogo da carreira contra o Bulls em 1993 e provocou a ira de Jordan. Ele inventou uma frase que teria sido dita pelo então calouro para automotivar-se a acabar com o “rival” no jogo seguinte. Inventou. Menção honrosa: a forte amizade entre o maior de todos os tempos e seus seguranças.  

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Alana Ambrosio: Ver como todos os entrevistados sabiam que, quando Jordan levava algo para o lado pessoal, o negócio ficava louco. Ele era tão obcecado por competição que inventava história para motivar-se, como o que aconteceu com LaBradford Smith. Que jogava moedas na parede valendo dinheiro, que ficava bravo porque um técnico não lhe deu oi em um restaurante. 

Gustavo Freitas: O motivo que fez Jordan passar mal no histórico “flu game”, contra o Jazz. Não tinha a menor ideia de que ele havia comido uma pizza inteira, que deixou-o naquelas condições. E ele, debilitado, conseguiu fazer 38 pontos e vencer o jogo? Que inveja! Se aquilo acontecesse comigo, eu não saía da cama por uma semana. 

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Gabriel Martins: Não é uma revelação, mas o documentário faz um excelente trabalho mostrando os motivos que levaram Jordan a aposentar-se pela primeira vez. O retrato da pressão da imprensa pela questão das apostas, o desgaste físico e a morte do pai tornam a ideia de deixar as quadras, naquele momento, muito mais plausível. 

Ricardo Stabolito Jr.: A amizade de Jordan com os seus seguranças, especialmente no segundo tricampeonato. A forma como ele tomou aqueles homens, que até agora nunca haviam sido “percebidos”, como figuras paternas depois da morte do pai é um toque de humanização do craque durante os episódios em que seu ímpeto motivacional beira o caricatural. 

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https://www.youtube.com/watch?v=fL8H1LQ_f3Q

  

4. Como Toni Kukoc, você concorda que o ex-GM Jerry Krause é o grande injustiçado da narrativa? 

Gustavo Lima: Sim. Por mais que Krause tenha sido desafeto de Jordan e Pippen, uma figura com ego inflado e com suas decisões equivocadas na passagem pelo Bulls, ele não está mais aqui para defender-se. De certa forma, o homem que montou o time campeão foi desmoralizado. Mas lembre-se que deixaram de fora algo que poderia vilanizá-lo de forma cabal: quando disse que Jordan, após a lesão em 1986, era sua propriedade.  

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Alana Ambrosio: O documentário foi impiedoso com Krause, mas, se tem uma coisa que a própria série ensina através de Jordan, é que não dá para viver acreditando em maniqueísmo. Ninguém é só bom ou mau. Ele foi responsável por desmontar o elenco campeão, mas foi GM de 1985 a 2003. Impossível só errar ou acertar, né? Tanto que Pippen, um desafeto, admite que ele foi crucial para os seis títulos no episódio final.  

Gustavo Freitas: Sim. Krause não está lá para defender-se, antes de qualquer coisa. Havia uma má vontade do grupo. Ele também não era de ceder, mesmo diante de caras como Jordan. Por não aceitar imposições e ser linha-dura, acabou como vilão. Mas e o fato de que Pippen passar metade da temporada sem condições de atuar, Rodman estar em declínio físico e Jordan não querer atuar para outro técnico? 

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Gabriel Martins: Sim. Meu maior problema com essa produção é a forma como Krause foi retratado. É evidente que sua responsabilidade no desmanche da equipe de 1998 foi grande, mas colocar toda a culpa nele sem estar vivo para defender-se é injusto. Grande parte daquele elenco nunca mais jogaria tão bem, então será que a reconstrução foi tão errada assim? Até as piadas às custas de Krause passaram dos limites. 

Ricardo Stabolito Jr.: Sim. Krause teve óbvia parcela de culpa no desmanche do Bulls, mas chega a ser indecente vê-lo ser detonado no início de “The Last Dance” sem direito a defesa – e as próprias entrevistas de época do executivo são usadas de forma escassa quase totalmente para comprometê-lo –, enquanto o dono da franquia, Jerry Reinsdorf, aparece eximindo-se quase de toda a culpa. Documentários não podem fazer isso. 

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5. E qual é o momento de “The Last Dance” que não vai sair da sua memória tão cedo? 

Gustavo Lima: Os 30 segundos finais do sexto jogo das finais contra o Jazz, em 1998. Jordan faz bandeja para deixar o Bulls um ponto atrás, rouba a bola de Karl Malone, carrega a bola ao ataque, deixa Bryon Russell a ver navios com drible sensacional e converte a cesta do título. Só essa sequência já mostra a grandeza de Jordan, o quanto ele era dominante nos dois lados da quadra. 

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Alana Ambrosio: Jordan sendo abraçado por Pippen e Kukoc durante o “flu game”, no nono episódio. Chorei pelo simbolismo daquilo, pela humanização: ele era o protagonista do Bulls, quem colocava a bola embaixo do braço e brilhava mesmo doente. Esse abraço dos companheiros foi um “deixa comigo agora” muito bonito, que traduz a força de um grupo alinhado nos esportes coletivos. 

Gustavo Freitas: Não é um momento, mas a sensação constante de que Jordan vivia sob pressão interminável. Era pressão o tempo todo. Não sei como ele conseguia produzir com tanta gente cercando-o, com as mesmas perguntas sendo disparadas sempre. É, aquilo era demais – até para um cara como ele. 

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Gabriel Martins: A sequência sobre o Jogo das Estrelas, quando explora-se a relação entre Jordan e Kobe Bryant. Dava para notar como o veterano já via o então jovem jogador do Lakers com um respeito diferente pelas imagens de época. E a entrevista recente de Kobe, onde fala com uma reverência enorme, mostra como ambos tinham um laço especial. 

Ricardo Stabolito Jr.: O trecho final do sétimo episódio, a definição definitiva de Jordan sobre quem foi como jogador. Fala sobre sua mentalidade e liderança sem pedir desculpas a ninguém, indo da raiva e incisão às lágrimas em menos de um minuto. É um momento poderoso, arrepiante e brilhante. Se o tratamento a Krause é tudo o que um documentário não deve fazer, esse trecho é tudo o que um documentário deve procurar. 

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