O Orlando Magic faz a segunda pior campanha desta temporada (18 vitórias e 54 derrotas), mas isso é o de menos, afinal, a franquia está em modo de reconstrução. O processo de rebuild começou com as saídas do pivô Dwight Howard, do técnico Stan Van Gundy e do GM Otis Smith, na última offseason. E para comandar a reconstrução da equipe, a franquia da Flórida fez uma aposta ousada: trouxe o desconhecido Rob Hennigan. Com apenas 30 anos de idade, ele é o mais jovem GM da história da Liga.
O trabalho de Hennigan, inspirado no modelo desenvolvido por Sam Presti no Oklahoma City Thunder, começou muito bem. Ele chegou a Orlando sob a desconfiança da torcida e de boa parte da imprensa, mas vem dando mostras que a recompensa para a franquia pode ser grande daqui a algumas temporadas.
Hennigan chegou com a missão ingrata de reerguer uma equipe que perdeu seu melhor jogador, e que, atualmente, está acima do teto salarial da NBA. Antes do cargo mais importante de sua vida, ele trabalhou quatro anos no San Antonio Spurs e outros quatro no Oklahoma City Thunder. Portanto, Hennigan aprendeu com dois dos GMs mais gabaritados da Liga – R.C. Buford (Spurs) e Presti (Thunder).
O jovem executivo já está implantando a filosofia que ele viu de perto, principalmente a que mudou os rumos da franquia de Oklahoma nos últimos anos. Vamos recapitular rapidamente o que rolou com o Thunder. Em junho de 2007, quando Presti assumiu a gerência-geral da franquia (na época era Seattle SuperSonics), a equipe iniciava o processo de rebuild, com as saídas dos veteranos Ray Allen e Rashard Lewis, principais jogadores do time. Em troca vieram escolhas de draft (uma delas foi o ala Jeff Green) e alívio salarial. O resultado imediato foi a campanha de 20 vitórias e 62 derrotas, a pior na história do Sonics. Ah, mas vale lembrar que foi naquele ano que a equipe selecionou o ala Kevin Durant, na segunda escolha geral do draft.
Mas, obviamente, o projeto de Presti era a médio e longo prazo. Na temporada seguinte, já como Thunder, chegaram à Oklahoma, via draft, o armador Russell Westbrook e o ala-pivô Serge Ibaka. A campanha voltou a ser ruim: 23 vitórias e 59 derrotas. Mas isso era o de menos.
Em 2009, mais um grande talento foi draftado pelo Thunder: o ala-armador James Harden. O comando técnico do time já estava nas mãos do jovem treinador Scott Brooks, outra aposta ousada de Presti. A partir daquele ano, os resultados começaram a aparecer. Desde então foram três playoffs consecutivos, incluindo uma final de conferência (2010/2011) e um vice-campeonato (2011/2012), e a equipe passou a ser respeitada por todos os adversários.
A receita de Presti – acumular escolhas de draft e aliviar a folha salarial – já está sendo seguida à risca por Hennigan. Em sua primeira offseason como GM da franquia de Orlando, ele trouxe o ala-armador Arron Afflalo, o ala-pivô Al Harrington, o pivô Nikola Vucevic e o ala novato Moe Harkless, em troca de Dwight Howard e dos contratos nada baratos de Jason Richardson e Chris Duhon, entre outras coisas. Além disso, a equipe selecionou o ala-pivô Andrew Nicholson (pick 19) e o pivô Kyle O’Quinn (pick 49) no draft.
Não posso deixar de mencionar também a mudança no comando da equipe. Saiu o desgastado Stan Van Gundy e chegou Jacque Vaughn, ex-assistente técnico de Gregg Popovich no Spurs. Aos 38 anos, Vaughn comanda sua primeira equipe na NBA. O treinador, que é o mais jovem da Liga, foi mais uma aposta de Hennigan. Ele contratou um técnico em início de carreira, que vai ter a chance de crescer junto com os seus comandados.
Sobre os jogadores que chegaram à equipe, vale dizer que Afflalo será peça importante na reconstrução do time. Ele é um jogador talentoso, experimentado na Liga (27 anos) e que tem um contrato razoável (22,8 milhões de dólares pelas próximas três temporadas). Harrington foi o “mal necessário” da troca. O veterano, que atuou em apenas dez partidas com a camisa do Magic, deverá ser dispensado ao final desta temporada, já que seu contrato é parcialmente garantido para os próximos dois anos.
Já Vucevic é uma das grandes surpresas da temporada. O pivô não tinha muitas chances no Philadelphia 76ers, na temporada passada, mas ganhou espaço em Orlando. Em sua segunda temporada na NBA, Vucevic tem médias de 12.4 pontos e 11.5 rebotes. Ele conseguiu a marca de 37 double-doubles, em 68 jogos. Dificilmente o time de Orlando vai gastar muita grana para contratar outro pivô.
Harkless, Nicholson e O’Quinn são talentos a serem desenvolvidos. O primeiro, inclusive, vem sendo titular nos últimos jogos, e mostrando um basquete de alto nível. Harkless já caiu nas graças da comissão técnica e da direção da franquia. Tem tudo para ser o titular do Magic na posição 3 pelos próximos anos. Nicholson e O’Quinn são dois jogadores que tendem a ser bons role players.
Na última trade deadline, Hennigan fez mais uma movimentação. Liberou o ala-armador J.J. Redick, que tem um contrato expirante, e trouxe do Milwaukee Bucks o ala-armador Doron Lamb (novato), o ala Tobias Harris (segundanista) e o armador Beno Udrih (contrato expirante). Harris, por sinal, vem surpreendendo desde que chegou a Orlando. Em 17 jogos pelo Magic, o ala já angariou médias de 15.8 pontos, 7.7 rebotes e 1.4 toco. Quando era jogador do Bucks, Harris praticamente não entrava em quadra. Um achado de Hennigan.
Dando continuidade à flexibilização da folha salarial da equipe, Hennigan deverá dispensar o ala Hedo Turkoglu, que não jogou nada nesta temporada. O contrato do turco é parcialmente garantido em 2012/2013. Do time que chegou à final da NBA, em 2009, só o restaram Turkoglu e o armador Jameer Nelson. O baixinho, por sinal, vem fazendo uma das melhores temporadas de sua carreira. Nelson, de 31 anos, tem contrato garantido até o final da próxima temporada e será importante para ajudar os mais jovens do elenco.
Jogadores do Magic com contrato garantido na próxima temporada
Jameer Nelson (31 anos): 8,6 milhões de dólares
Arron Afflalo (27 anos): 7,5 milhões de dólares
Glen Davis (27 anos): 6,4 milhões de dólares
Nikola Vucevic (22 anos): 1,9 milhões de dólares
Moe Harkless (19 anos): 1,8 milhões de dólares
Tobias Harris (20 anos): 1,6 milhões de dólares
Andrew Nicholson (23 anos): 1,5 milhões de dólares
E’Twaun Moore (24 anos): 884 mil dólares
Doron Lamb (21 anos): 788 mil dólares
Kyle O’Quinn (22 anos): 788 mil dólares
Contratos parcialmente garantidos na próxima temporada
Hedo Turkoglu (34 anos): 12 milhões de dólares
Al Harrington (33 anos): 7,2 milhões de dólares
O time de Orlando terá aproximadamente 42 milhões de dólares comprometidos em 2013/2014. Como o teto salarial da NBA é de 58 milhões de dólares, a franquia terá 16 milhões de dólares para reforçar o elenco. No entanto, Hennigan não deverá gastar muita grana no período de agência livre. A intenção do Magic é poupar dinheiro agora para gastar na hora certa.
Uma pequena parte desses 16 milhões será usada para pagar o jogador que será selecionado no próximo draft, em junho. Vale lembrar que a franquia da Florida terá uma valiosa escolha de loteria. Na troca envolvendo a saída de Howard, o Magic ainda levou as escolhas de primeira rodada do Denver Nuggets (2014), do Philadelphia 76ers (2015) e do Los Angeles Lakers (2017). Serão cinco escolhas de primeira rodada nos próximos três anos. Alguém ainda acha que a equipe de Orlando fez mau negócio?
Mais um detalhe. Em 2015, a franquia terá um espaço de mais de 30 milhões de dólares na folha salarial para “brincar” na agência livre. Portanto, daqui a dois anos, se Hennigan mantiver a política atual (não há motivo para mudar), o time de Orlando terá uma base sólida de jovens talentosos e, quem sabe, dois jogadores de elite adquiridos na free agency.
Então é isso. Para voltar aos seus melhores dias, a equipe da Flórida vai penar por mais uma temporada. Isso é bom porque a franquia terá escolhas de loteria no draft e a chance de qualificar seu núcleo jovem. É inegável que o trabalho de Hennigan começou muito bem. Seguindo o modelo de sucesso do Thunder e dando sorte no draft (tem que ter competência também), os fãs do Magic podem estar certos de que terão um time competitivo daqui a duas, três temporadas.
Ah, para fechar o artigo, saibam o que algumas pessoas que conviveram e convivem com o jovem GM têm a dizer a respeito do trabalho dele. O cara realmente tem muita moral.
Scott Brooks (técnico do Oklahoma City Thunder): “Rob é muito bom. Ele é talentoso, ama o jogo e tem uma paixão pelo que faz. A franquia de Orlando tem um cara que vai ser muito cuidadoso em todas as suas decisões. Ele é completo e nunca tem medo de trabalhar. Os jogadores que ele trouxe e ainda irá trazer darão muito orgulho para a comunidade de Orlando. Hennigan vai ser muito, muito bom, por vários anos na Liga. O Magic contratou um cara pelo qual tenho o maior respeito”.
Kevin Durant (ala do Oklahoma City Thunder): “Eu realmente acredito em Rob Hennigan. Ele estava aqui com a gente nos últimos anos e acredito que o trabalho que ele está fazendo com esses jovens atletas é muito bom. Os jogadores tendem a crescer muito. Eu sou um grande fã do Magic e gostaria de vê-los bem novamente”.
Moe Harkless (ala do Orlando Magic): “Nosso GM veio do Thunder e eu acho que ele está montando um time jovem e atlético, semelhante ao de Oklahoma. Se você olhar em volta, temos grande parte do elenco com idade inferior a 25 anos. Eu acho que Hennigan está definitivamente tentando usar o Thunder como um modelo. E acho que ele está fazendo um grande trabalho até agora”.
Jacque Vaughn (técnico do Orlando Magic): “Eu acho que as comparações são óbvias por causa da relação de Rob com Sam Presti e o trabalho incrível que ele tem feito em Oklahoma City, mas as situações são diferentes. Um monte de coisas têm que acontecer para nós chegarmos ao nível do Thunder. Eles fizeram isso da maneira certa. E essa é a inspiração que temos aqui”.