Houston: um problema?

Guilherme Gonçalves analisa a temporada da equipe texana

Fonte: Guilherme Gonçalves analisa a temporada da equipe texana

A temporada regular 2016-2017 da NBA se aproxima do final. Em cerca de um mês, teremos definidos todos os classificados para os playoffs dessa campanha, e não poderíamos estar mais ansiosos para que isto aconteça. Não pela falta de excelentes jogos, quebras de recordes, espetáculos apresentados noite após noite: mas, sim, pela expectativa de que esta seja uma pós-temporada recheada de ainda mais memórias para a posteridade. Um possível bicampeonato do Cleveland Cavaliers, que demorou tanto a ser campeão; a consagração do supertime de astros montado pelo Golden State Warriors; a volta ao Olimpo máximo pelo habitualmente grande San Antonio Spurs; ou mesmo algum ponto fora da curva, além dos prognósticos iniciais. Algo que pode ser algum time do Leste tirar o trono real de LeBron James em sua conferência, ou mesmo um novo xerife no selvagem Oeste – algo que responda por Houston Rockets, por exemplo.

O Rockets é, ao passo em que este artigo é escrito, o terceiro colocado na conferência Oeste. Seu posto, em condições normais de temperatura e pressão – ou seja, sem qualquer lesão de sua superestrela James Harden -, está assegurado na pós-temporada, fatalmente nesta mesma colocação. O que acontece ao redor de Houston é que não é tão imutável assim e passa a ser considerado em decorrência dos últimos acontecimentos relativos aos favoritos deste lado dos Estados Unidos. Contando-se até o dia 13 de março, o Warriors havia perdido cinco das suas últimas sete partidas disputadas. Desde a lesão no joelho esquerdo do ala Kevin Durant na derrota contra o Washington Wizards em 28 de fevereiro, o que o tirou de combate por, ao menos, seis semanas e pode afastá-lo do início dos playoffs, o time californiano chegou a perder para os cambaleantes Chicago Bulls e Minnesota Timberwolves, além de retirar suas estrelas para descanso contra o Spurs e ver o time texano diminuir a vantagem pelo primeiro lugar da conferência. San Antonio, de igual maneira, perdeu uma peça essencial para seu esquema de jogo: em decorrência da descoberta de um arritmia cardíaca, o ala-pivô LaMarcus Aldridge está afastado por período indeterminado de jogos, treinos e quaisquer tipos de atividades físicas relacionadas ao basquete. Na citada peleja contra o Warriors, em casa, a equipe também não contou com sua estrela Kawhi Leonard, em função de concussão sofrida em partida anterior.

Ou seja: baixas importantes que impactam o momento vivido no Oeste de agora em diante, até que ambas equipes possam se adequar às perdas sofridas – e altamente doloridas. Em tendência, o Warriors sofre mais em perder um dos melhores jogadores do mundo, alguém que vinha realizando uma temporada que o colocava na listagem de jogadores a disputar o prêmio de MVP. O Spurs, em contrapartida, parece responder melhor ao golpe em razão de sua filosofia, estilo de jogo e profundidade no banco de reservas. Entretanto, a perda de Aldridge certamente será sentida nos mata-matas, caso ele não retorne até lá – o que é mais provável de ocorrer. Pausa dramática, como em uma marcação de roteiro de peça de teatro: aqui entra o Rockets.

Publicidade

Dwight Howard e James Harden

Parceria entre Dwight Howard e James Harden não deu certo

O time de Houston é uma das – quiçá, a maior – grandes surpresas desta temporada. A mediana campanha de 41 vitórias e igual número de derrotas em 2015-2016 ficou para trás, bem como as presenças do pivô Dwight Howard – hoje no Atlanta Hawks -, do treinador Kevin McHale – dispensado ainda no início da temporada – e do assistente técnico e treinador interino J.B. Bickerstaff. Buscado no fundo do banco do Philadelphia 76ers depois de campanhas desastrosas com o New York Knicks e o Los Angeles Lakers, Mike D’Antoni ressuscitou. O treinador, que ficou conhecido pelo frenético, relativamente baixo e chutador time do Phoenix Suns liderado pelo armador Steve Nash no final dos anos 2000, espécie de precursor do atual run and gun, trouxe vida nova a Houston. Para ele, para o time, para Harden. O agora armador principal teve assegurada em suas mãos, o tempo todo, a bola e as responsabilidades ofensivas da equipe. Aliada a ausência de Howard, com quem teve conhecidos problemas de ego e relacionamento, a nova função despertou o melhor do camisa 13, favorito ao primeiro prêmio de melhor jogador da temporada em sua carreira. Harden trava com Russell Westbrook, do Oklahoma City Thunder, uma batalha por triplos-duplos – que ele certamente perderá – e pelo valia de MVP, que ele pode ganhar, apesar das fortes presenças de James e Leonard em concorrência.

O reavivamento proporcionado por D’Antoni a sua própria carreira e, ao que parece ser, o ápice do jogo produzido por Harden chegaram para proporcionar a extração dos melhores talentos dos companheiros ao redor. O Rockets é forte candidato a receber ao menos três prêmios individuais ao final da temporada regular: o de treinador do ano, o de most valuable player e também o de melhor reserva. O armador Eric Gordon é outro favorito que deverá levar em sua categoria. Depois de duas últimas temporadas frustrantes no New Orleans Pelicans, ainda que titular,o camisa 10 viu sua importância aumentar no esquema pontuador em Houston sendo, depois de Harden, talvez a maior arma ofensiva da equipe – agora, vindo diretamente dos suplentes. Seu principal concorrente à honraria era o também armador Lou Williams que, uma vez trocado pelo Los Angeles Lakers e atrás de Gordon como gatilho vindo do banco, viu suas chances diminuírem em repetir o feito de 2014-2015, quando ainda atuava no Toronto Raptors. Até mesmo atletas vistos anteriormente com relativo desprezo por seu estilo de jogo e poder de contribuição, como o ala Ryan Anderson e o pivô Clint Capela, e outros veteranos já em curva descendente na carreira, como o ala Trevor Ariza, o armador Patrick Beverley e o pivô brasileiro Nenê, tem atuado muito bem em suas posições e funções, maximizando seus potenciais em nome do show regido por Harden, orquestrado por D’Antoni. Ainda assim: é o suficiente para vencer? É o suficiente para chegar às finais? É suficiente para o troféu de campeão?

Publicidade

No duelo texano da temporada regular, o Rockets perdeu três dos quatro jogos disputados contra o Spurs. A única vitória veio fora de casa, ainda em 9 de novembro, por dois pontos. Na partida seguinte, derrota para o mesmo adversário, agora em casa. Contra o Warriors foram dois confrontos, com uma vitória e um revés. Ainda haverá mais duas pelejas contra o atual vice-campeão da Liga. Atualmente, pelo andar da carruagem do “Barba”, Houston enfrentaria o sexto colocado Thunder na pós-temporada, uma equipe que só bateu o Rockets uma vez nas três partidas entre eles já disputadas, faltando ainda um jogo a ser celebrado: um embate de tirar o fôlego e de produzir faíscas entre dois possíveis MVPs, amigos e ex-companheiros em Oklahoma City, oriundos da periferia de Los Angeles. Na briga por esta sexta colocação, o Grizzlies persegue o time de Westbrook por uma classificação melhor e pela chance teórica de pegar o Rockets na primeira rodada: um empate de dois a dois entre essas equipes ocorreu na parte regular da atual campanha. Contra o Cavaliers, projetando um confronto inédito na final, uma vitória e uma derrota. Contra o Boston Celtics, atualmente a maior ameaça ao Cavs em sua conferência, mesmo retrospecto.

Mike D'Antoni

Times de Mike D’Antoni “aceleram” o jogo

Em termos estatísticos, o Rockets comprova a impressão geral apresentada pelos times montados por D’Antoni, liderados por Harden e este que se apresenta em 2016-2017: a equipe lidera a NBA nas percentagens de eficiência ofensiva e tentativas de arremessos de longa distância; e é o segundo colocado em percentagem de arremessos convertidos e tentativas de lances livres. Entretanto, na defesa é que o calo aperta: é apenas o 17º colocado em pontos cedidos a cada 100 posses de bola; o 18º em taxa de erros cometidos por 100 posses de bola; o 20º em percentagem de arremessos convertidos pelos adversários; e o 21º lugar na taxa de rebotes defensivos obtidos.

Publicidade

Claramente, algumas das estatísticas defensivas são resultados do estilo rápido e objetivo que é uma contrapartida ao ataque proposto pelo Rockets, mas o alto número de erros praticados na parte ofensiva leva a cestas fáceis por parte do adversário, o que também explica a alta porcentagem de arremessos convertidos contra sua própria cesta. Contra ataques altamente perigosos e diversificados, como os de Warriors e Cavaliers, ou equipes altamente estruturadas nos dois lados da quadra, como o Spurs, isso até pode render vitórias, mas talvez não renda o fato de ganhar séries de playoffs. Ainda assim, o Rockets é o terceiro colocado – atrás de Spurs e Warriors, nessa ordem, no quesito de diferença de pontos convertidos e tomados. Em resumo: ataque é muito poderoso, a defesa nem tanto assim, o ritmo é intenso, e a bola vai e volta com rapidez pros dois lados da quadra, pro bem e pro mal.

Noves fora: Houston é um problema? Ou Houston tem um problema? Tendo em vista a incógnita criada pelos desajustes de seus maiores concorrentes ao título da conferência Oeste e vendo seu time encorpar mais e mais poderio ofensivo ao fim da fase de classificação, o Rockets tanto pode ser capaz de vitórias espetaculares, cheias de emoção e jogadas impactantes – como a recente batalha vencida contra o time de Cleveland, em casa, no dia 12 de março -, como também pode ser capaz de desapontar na hora mais importante da temporada, como mostram as oscilações contra os possíveis próximos adversários. O Rockets conta na briga pela conferência, mas até que ponto? Em que situação? Somente nas ausências de Durant e Aldridge, ou nas presenças de sua rica história, seu letal armador-estrela e sua máquina ofensiva bem azeitada? Cerca de um mês é o que resta para que o time de Houston seja testado a cada três noites, somente contra os melhores, para dirimir todos os questionamentos que vem suscitando atualmente. Talvez mais preparado, mais condecorado, mais equilibrado até lá. Está nas mãos da equipe ser, e não também ter, um problema frente aos adversários.

Publicidade

Últimas Notícias

Comentários