O Utah Jazz entrará em quadra nessa noite para realizar o primeiro jogo oficial da retomada da temporada, contra o New Orleans Pelicans. Uma partida que, para Rudy Gobert, promete ser o encerramento de um dos capítulos mais complicados de sua carreira. O teste positivo do atleta para o coronavírus, em 11 de março, foi o marco para a suspensão das atividades da liga por mais de quatro meses.
“A imprensa retratou-me como se fosse a causa da paralisação da temporada, em vez de dizer que estávamos em uma pandemia e eu havia sido contaminado. Para muitas pessoas que não veem ou pensam além do que é colocado em suas caras, eu virei aquele jogador francês que trouxe a COVID-19 para os Estados Unidos”, desabafou o astro, em longa entrevista ao jornal The Washington Post.
Gobert foi alvo de uma enxurrada de críticas, na verdade, por mais do ter sido o “paciente zero” da doença nos esportes norte-americanos. Ele teve uma conduta altamente irresponsável e debochada diante das precauções que a NBA impôs para tentar limitar contágio. Ele reconheceu o erro e o comportamento infantil mais tarde, fazendo até doações para o combate do coronavírus.
“Foi difícil ver tantas pessoas questionando meu caráter. Mas, no fim das contas, acabou sendo um aprendizado. Eu sei quem sou. Meus amigos e família também sabem quem sou. Todos podem ter suas opiniões e, se começar a gastar minhas energias com isso, estarei entregando-me a uma vida muito dolorosa”, refletiu o pivô, que também participou de um vídeo de conscientização sobre a doença.
O grande problema é que sua conduta teve consequências: horas após o anúncio da contaminação de Gobert, o astro Donovan Mitchell também testou positivo para a COVID-19. Embora não haja qualquer chance de confirmação, o segundo caso no Jazz foi vinculado ao comportamento “descuidado” do atleta europeu. A relação entre ambos, segundo várias fontes, deteriorou-se com a situação.
“Quando tudo aconteceu, Donovan ficou frustrado. Eu também fiquei. Realmente só queria que ficássemos bem, nada de discussões ou conflitos. O tempo passou e nós conversamos. É assim que homens devem resolver os seus problemas: sem colocar a mídia no mesmo, reservadamente. As pessoas viram tudo como algo que poderia destruir nosso time, mas eu acho que foi algo que nos fortaleceu”, contou.
Assim que a bola subir, Gobert vai deixar os últimos meses para trás e levar apenas o que aprendeu consigo: ficam as críticas e ofensas, segue a certeza de que não se pode brincar com algo tão sério e mortal. Ele também espera, porém, outras duas coisas: que o seu caso inspire pessoas a não minimizarem a doença e que sejamos menos impiedosos ao julgarmos uns aos outros por nossos erros diários.
“Todos temos a tendência de julgar as pessoas sem as conhecer. Você assiste aos jogos todos os dias, mas não sabe quem nós somos e o que passamos. É possível espalhar mensagens positivas nas redes sociais ou divulgar ódio, ficar julgando os outros. E a escolha sobre qual desses lados adotar, no fim das contas, é sua. Você pode escolher”, alertou um arrependido Gobert.