Estrelas ou profundidade: qual o segredo para um time campeão na NBA?

Atualmente, existe fórmula mágica para a construção de um time campeão?

estrelas time campeão nba Fonte: Garrett Ellwood / AFP

Afinal, ainda é preciso ter um time recheado de estrelas para ser campeão da NBA? De antemão deixo a resposta: a receita na real não existe. Ela varia conforme narrativas. Ano após ano. Ou você acha que não vamos elogiar o Phoenix Suns se o trabalho for bem feito? O ponto aqui é contextualizar o momento histórico que a liga vive. E pra isso voltamos cinco anos no passado.

Relembramos o mercado da temporada 2018/19. O Golden State Warriors vive o auge da sua dinastia. São 32 vitórias em 38 jogos de playoffs em dois anos. Dois títulos pouco questionáveis. Dominância total. Ninguém além do Houston Rockets de James Harden conseguia bater de frente.

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Os supertimes afinal, existiram quase sempre. Em tempos mais recentes, temos o Los Angeles Lakers de 2004, o Boston Celtics de 2008 e o Miami Heat de 2011. Movimentos como esse já aconteciam. Além deles, claro, o Golden State de Stephen Curry, Kevin Durant, Klay Thompson e Draymond Green. Mas também houve o desastroso Brooklyn Nets de 2013 com Deron Williams, Kevin Garnett, Brook Lopez, Joe Johnson e Paul Pierce.

O domínio porém ficaria ainda mais temido. DeMarcus Cousins foi o melhor jogador do calvário de 17 anos do Sacramento Kings. Assim, foi alçado ao posto de melhor pivô da liga, ao mesmo tempo em que era criticado por questões comportamentais.

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Ele logo seria trocado para o New Orleans Pelicans, formando as torres gêmeas com um Anthony Davis. A passagem durou 68 jogos, entre duas temporadas, incluindo um rompimento no tendão de Aquiles que encerrou sua trajetória em Luisiana. Como resultado, acabou também com seu auge, quando se mostrava um monstro ofensivo.

Cousins não recebeu propostas. Seria, então, um presságio do que viria. No futuro, não conseguiu ser sombra do jogador que foi no seu auge. O Warriors, que já era “vilão” pela dominância e por ter assinado com Kevin Durant, aproveitou. Eles conseguiram mais uma estrela e, acima de tudo, por um valor irrisório: US$5 milhões.

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Se a competitividade já não estava tão alta, o movimento assustou quase que todos os fãs de outros times. Afinal, como um time reunia tantas estrelas juntas e não seria campeão da NBA? Quem poderia parar uma dinastia ainda mais forte? Ironicamente, foi depois disso que a liga entrou em seu maior recorte de equilíbrio em quase 40 anos.

Marco histórico do momento

Nos últimos cinco anos, cinco times diferentes foram campeões da NBA. O cenário é muito raro, ainda mais depois da maior popularidade da liga a partir dos anos 1980 com Magic Johnson e Larry Bird. Transitamos entre domínios e dinastias desde então. Por exemplo, com o Chicago Bulls de Michael Jordan que viria a seguir. Sempre acompanhado por títulos consecutivos do Detroit Pistons de Isiah Thomas ou do Houston Rockets de Hakeem Olajuwon.

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Logo após a aposentadoria de Jordan em 1998? Títulos do San Anotnio Spurs intercalados pelo tricampeonato do Lakers de Kobe e Shaquille O’Neal. Títulos se intercalam ao longo da próxima década.

Dois anos depois da última conquista de Los Angeles com Bryant, temos o bicampeonato do Miami Heat de LeBron e Dwyane Wade. Em sequência, quatro decisões seguidas entre a dinastia Warriors e a resistência de James e o Cleveland Cavaliers.

Desde então, porém, equilíbrio total. Começando com a queda desse superpoderoso Golden State. Das lesões de Cousins, Durant e Klay Thompson, à brigas internas durante a temporada. A queda nas Finais para um time mais coeso, como o Toronto Raptors, que arriscou em Kawhi Leonard em contrato expirante, foi simbólica.

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O Warriors, aliás, nos fez pensar que venceriam aquela final se ficassem saudáveis – fique a vontade para achar o que quiser. O fato é que de lá pra cá, nenhum campeão venceu duas vezes. Toronto Raptors (2019), Los Angeles Lakers (2020), Milwaukee Bucks (2021), Golden State Warriors (2022) e Denver Nuggets (2023).

Isso só aconteceu em cinco oportunidades na história da NBA. A última foi entre 1976 e 1981: Portland Trail Blazers (1977), Washington Bullets (1978), Seattle SuperSonics (1979), Los Angeles Lakers (1980) e Boston Celtics (1981).

O elenco é vital

Não existiu alguma outra era do jogo com mais talentos disponíveis do que a atual. Não estou falando do topo da pirâmide aqui, mas da base. A quantidade de jogadores incríveis na liga agora é simplesmente ridícula. Isso aumenta, e muito, a importância de obter os coadjuvantes certeiros. Os exemplos estão por todos os lados. Espalhados entre os últimos campeões.

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Excluo Toronto que foi vítima da saída de Leonard. Mas você lembra de algum campeão que alterou tanto a base de seu time vencedor como o Lakers de 2019/20 para 2020/21?

As lideranças foram as mesmas, mas foram as pequenas perdas, então, que levaram ao movimento quase emergencial por Russell Westbrook um ano depois. Adicionar vários jogadores de contratos mínimos, enquanto a flexibilidade salarial se perdeu, foi um dos motivos do colapso que seguiria.

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Pequenos movimentos fazem diferença

O Bucks foi campeão em 2020/21 e seguia forte candidato para o ano seguinte, mesmo com a saída de PJ Tucker. Um pequeno movimento em falso, no entanto, atrapalhou. Donte DiVincenzo, que voltava de lesão ainda sem grande ritmo, foi trocado por Serge Ibaka.

Além disso, Brook Lopez se recuperava de lesão e não sabia quando voltaria. No fim o pivô tiular retornou, Ibaka mal jogou e Milwaukee perdeu Khris Middleton, machucado, para a série com Boston. Eliminados, portanto, com profundidade inexistente nas alas.

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O contexto é mais rico quando lembramos que Middleton retornava de uma lesão que tinha acontecido nos playoffs de um ano antes. Tucker entrou em seu lugar e o Bucks mal sentiu a ausência do titular. O Warriors voltaria à cena em 2021/22. Depois de sofrer com duas temporadas longe dos playoffs e com a ausência de Klay Thompson, eles voltaram com título.

No entanto, as assinaturas com jogadores que se encaixavam no sistema, como Otto Porter e Gary Payton II, foram fundamentais. Outro “pequeno movimento” como a chegada de Andrew Wiggins também se provou fundamental. Saíram nomes mais badalados, que não se encaixaram. Como D’Angelo Russell e Kelly Oubre Jr.

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O mesmo aconteceu na última temporada. Houve lesões e o time parecia mais desconexo. Payton, que tinha saído para Portland, voltou no meio da temporada, mas Otto Porter foi uma saída sentida. Golden State caiu mesmo com a boa adição de Donte DiVincenzo.

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Cada vez mais em alta

A nova temporada marca a chegada do selvagem novo acordo de trabalho. Times com várias super estrelas terão menos artifícios para atrair coadjuvantes. Por exemplo, aqueles com salários mid-level. Olhem, então, alguns nomes que estiveram sobre este contrato na última temporada: Joe Ingles (Bucks), Lonnie Walker IV (Lakers), Bruce Brown (Nuggets), Donte DiVincenzo (Warriors) e Otto Porter (Raptors).

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Afinal, é por isso que a renovação de Bruce Brown com o Nuggets é tão comentada. Peça central vindo do banco, o ala pode ganhar mais dinheiro em outro lugar do que em Denver. Isso porque a franquia poderá acrescer, no máximo, US$1 milhão em seu salário atual. Duro, ainda mais quando outros times podem oferecer até US$12 milhões.

A troca de John Collins para o Utah Jazz na segunda-feira (26), é um ótimo exemplo. Contratos ruins nunca estiveram tão desvalorizados no mercado como agora. O ala não encontrou o melhor contexto possível em Atlanta há algum tempo. Mas ainda é jovem. Mesmo assim, foi trocado por um veterano pouco útil (alguém ainda acredita em Rudy Gay?) e uma escolha de segunda rodada.

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Resistência

Em contrapartida, juntar estrelas em um time para ser campeão da NBA ainda é uma alternativa. Mas que tem funcionado menos. Isso não nos impediu de assistirmos Kyrie Irving, Kevin Durant e James Harden juntos. Elencos problemáticos são as previsões mais seguras para times como Phoenix. Isso porque é o novo lar de Durant com Devin Booker e Bradley Beal. Ou para o Dallas Mavericks de Luka Doncic e Irving.

Mas o melhor exemplo, com certeza, está no Arizona. São seis jogadores sob contrato totalmente garantido no momento. Além do trio, temos DeAndre Ayton (que deve ficar), Cameron Payne e Ish Wainright. São US$168.9 milhões comprometidos. A luxury-tax é de US$165 milhões, com um segundo teto que chega até US$182.5 milhões.

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Ou seja, a adição de jogadores para o entorno deste núcleo, será apenas feita por contratos mínimos. Devastador, acima de tudo, para trazer coadjuvantes de ponta no mercado. É o novo dilema, portanto, que pode decretar o fim dos supertimes? Todos estarão de olho no Phoenix Suns. É o time de estrelas que, na contramão do que manda a NBA mais diversa, tenta ser campeão.

Não há receita

Como disse de antemão, não existe um manual de regras para ser campeão. Construções de longa data como temos com as lideranças de Denver Nuggets ou Milwaukee Bucks, podem ser vencidas. Por que, afinal, esta é a liga das estrelas. O Lakers, que muitos acusam de só estar vivo por conta de LeBron James, saiu do fundo do poço para as Finais do Oeste. Mas isso, graças a um par de trocas.

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A cantada construção do time mais regular da liga como o Bucks perderia se Kevin Durant não tivesse um pé menor? Narrativas mudam conforme a música. Mas uma era com tantos talentos nos mostra, sobretudo, o fascinante fato: seja com várias estrelas em trocas, seja através do Draft ou seja como for, seu time pode ser campeão da NBA. Isso porque é a era mais democrática que já vimos na liga.

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