Três equipes – Cleveland Cavaliers, Charlotte Hornets e Minnesota Timberwolves – estão superando as expectativas na NBA. Cerca de um quarto da temporada está completo e todas as equipes já jogaram pelo menos 20 partidas. Dessa forma, os fatores de sorte, variância e calendário se tornam menos fortes, e já começamos a conhecer quem os times de 2021/22 realmente são.
Assim, já podemos apontar certas surpresas para a temporada. Claro, é impossível saber se as equipes vão se manter atuando da mesma maneira, mas existem, de fato, comportamentos e tendências interessantes a serem explorados. Este texto vai focar-se em Cavaliers, Hornets e Timberwolves, a partir de um nível de elite em um dos lados da quadra.
Cleveland Cavaliers
É normal novatos (especialmente picks altas) terem grandes minutagens, um bom volume de chances e, assim, postarem grandes números. Porém, em termos de impacto em vitórias, não é tão comum um calouro apresentar contribuições positivas fortes. Segundo o RAPTOR, métrica de impacto do Five-Thirty-Eight computada desde a temporada 2013-14, apenas 61 novatos de um total de 301 (aproximadamente 20%) apresentou um impacto maior que 0. Além disso, apenas 31 (pouco mais que 10%) possuíram RAPTOR maior ou igual a 1. Evan Mobley é um desses 31 jogadores.
Por essa métrica, o impacto ofensivo do ala-pivô não é bom, estando dentre os piores por parte de atletas de alta minutagem. Defensivamente, porém, isso é mais que compensado. Mobley é, segundo o D-RAPTOR, o sexto defensor de mais impacto da liga, uma posição à frente de seu companheiro de equipe, Jarrett Allen.
O pivô, aliás, é outro pilar da defesa de Cleveland (a terceira melhor da liga) e um complemento excelente para Mobley. Com os dois em quadra, o Cavs cede 99.5 pontos por 100 posses (números do pbpstats), marca que seria a melhor defesa da liga, com folgas. Nos minutos só com um dos dois, o Cavaliers apresenta uma defesa mediana, e, sem ambos, uma que estaria entre as dez piores da temporada.
Sim, o ataque flui melhor quando apenas um dos dois atua e o espaçamento de quadra é otimizado, mas o saldo do garrafão com dois pivôs vale a pena pelo desempenho defensivo arrasador (como curiosidade: a formação gigantesca com Lauri Markkanen na posição 3 também apresenta excelentes números defensivos, com uma eficiência defensiva que seria a segundo melhor na temporada, e uma leve melhoria no ataque).
Como esperado pelo perfil das formações, o melhor ponto defensivo de Cleveland é a proteção de aro. Mobley é o sexto jogador que mais contesta arremessos na cesta, permitindo apenas 51.9% de aproveitamento aos adversários (marca de elite – a título de comparação, Rudy Gobert permitiu 48% na sua histórica temporada defensiva de 2020-21). Allen, por sua vez,está entre os 20 jogadores com mais contestações e cedendo 53.3% de eficiência aos adversários perto do aro.
Porém, vale ressaltar que há um certo nível de sorte envolvido no aproveitamento defensivo do Cavaliers. Os adversários têm acertado menos de 36% em bolas de três sem contestação alguma contra a equipe (a média da NBA é por volta dos 38%-39%) e 31% em bolas com contestação bem leve (também abaixo da média).
Esses números devem se normalizar ao longo da temporada, mas ainda assim acredito que a defesa de Cleveland se manterá em alto nível, ainda que talvez deixe de ser de elite.
Minnesota Timberwolves
Karl-Anthony Towns, Anthony Edwards e D’Angelo Russell. Sim, o Timberwolves tem talento ofensivo. Ao ver esses nomes e a campanha razoável de Minnesota, esperamos um ataque potente levando o time. Porém, esse não é o caso. A equipe tem apenas a vigésima eficiência ofensiva da NBA, ou seja, o mérito dos lobos é na defesa, a quinta melhor da temporada.
Sim, existe um fator de sorte. Os adversários têm chutado menos de 36% nas bolas de três livres contra o Wolves e 29% nas com pouca contestação. Mas o time de Minneapolis também tem seus méritos. São 8.7 roubos e 6 tocos por 100 posses (respectivamente a sexta e a quarta maiores marcas na liga). A proteção de aro tem sido ao menos decente (Towns está longe de ser um jogador de elite no fundamento, mas não tem sido um grande negativo).
Dentre os destaques defensivos, estão Josh Okogie (+8 em defensive raptor, mas em minutagem limitada), Patrick Beverley (+2.7), Jaden McDaniels (+2.1) e, surpreendentemente, Russell (+2.4), que, na temporada passada, esteve entre os piores defensores da liga.
Ofensivamente, o caso é curioso. Com Towns em quadra, o Wolves tem uma eficiência ofensiva de 111, uma marca bem positiva. Porém, sem o astro, a marca cai para 100, um número perto dos desempenhos de Thunder e Pistons, os piores da temporada. Sim, Edwards e Russell ajudam, mas a chave ofensiva do time é, sem dúvida alguma, o pivô dominicano.
Não acredito que os números defensivos de Minnesota se mantenham nesse nível. Eventualmente, as bolas de três dos adversários devem começar a cair, e a proteção de aro da equipe é bem limitada. Porém, a capacidade de gerar turnovers é bem útil. Se o ataque engrenar, ao longo da temporada, algo que será muita responsabilidade de Edwards e Russell (ambos atualmente possuem eficiência ruim de arremessos), talvez dê para os lobos sonharem com a pós-temporada.
Charlotte Hornets
Falamos de duas defesas fortes que têm compensado ataques limitados. Agora, vamos falar do contrário. O Hornets tem o quinto melhor ataque da temporada, e a sétima pior defesa.
O funcionamento ofensivo do Hornets é bem único e interessante. Trata-se do segundo time com o maior pace da liga, o oitavo que mais passa, o sexto com maior percentual de assistências (algo não muito diferente do time da temporada passada e até um pouco menos extremo) e o quarto que menos comete turnovers (uma grande mudança, considerando que em 20-21, era o sétimo time que mais desperdiçava a bola). Essa evolução passa muito pelo melhor cuidado com a bola de LaMelo Ball, Terry Rozier e Miles Bridges (todos tiveram quedas bem relevantes nas suas taxas de turnover individuais). Em geral, parece que o time aprendeu a balancear melhor o risco-recompensa de passes.
Como consequência do estilo de jogo, o Hornets possui muitas oportunidades em spot ups, e tem sido o time com maior aproveitamento da liga nelas: 1.13 pontos por posse (Kelly Oubre, Cody Martin e Jalen McDaniels estão entre os jogadores mais eficientes da temporada nessa situação). Além disso, é a equipe que mais ataca na transição (e é bastante bem sucedida nessa condição).
Claro, o funcionamento ofensivo de um esquema de movimentação de bola depende de bons passadores, e isso faz com que o ataque só tenha esse nível por conta dos minutos com Gordon Hayward e/ou Lamelo Ball, onde são excelentes. Nos minutos sem ambos, o ataque seria o pior da temporada (eficiência ofensiva de 96.5).
Em suma, o Hornets possui uma defesa muito fraca, e isso limita o teto da equipe. No entanto, essa capacidade ofensiva coloca Charlotte na briga para a pós-temporada do Leste e, com certeza, brinda o público com jogos muito divertidos.
Destaques dos outros 27 times
* Divisão do Atlântico
Boston Celtics: Jayson Tatum é uma estrela, mas sua insistência em isolações é um ponto bem negativo. São péssimos 0.82 pontos por posse em seis tentativas por partida.
Brooklyn Nets: Kevin Durant é injusto: 56% de aproveitamento em meia distância em alto volume era algo jamais visto até essa temporada. É o que ele tem feito.
New York Knicks: Os números concordam com a saída de Kemba Walker da rotação. O Knicks tem saldo de +7.4 nos minutos sem o armador, e -13.3 nos com o mesmo;
Philadelphia 76ers: Tyrese Maxey possui mais de 1 ponto por posse comandando pick and roll em alto volume – se mostrando de fato um ótimo ball handler.
Toronto Raptors: Apesar de apresentar um elenco com bastante talento nesse lado da quadra, o Raptors está com a sexta pior defesa da liga
* Divisão Central
Chicago Bulls: A surpreendente defesa de Chicago (nona melhor da liga) está muito nas mãos de Lonzo Ball e Alex Caruso. Na ausência dos dois, o desempenho defensivo da equipe é de quase 117 pontos por 100 posses, o que seria a pior marca da liga.
Detroit Pistons: Detroit tem o pior ataque da liga e está convertendo menos de 33% das bolas de três totalmente livres.
Indiana Pacers: Indiana tem sido o time mais “azarado” da liga. Pelo seu saldo de cestas, deveria ter vencido 4.6 jogos a mais.
Milwaukee Bucks: Giannis Antetokounmpo é a maior força no garrafão de toda a NBA. O MVP das finais tem um aproveitamento de 77% na área restrita, em 8.6 tentativas por jogo (maior marca da temporada).
* Divisão Sudeste
Atlanta Hawks: Apesar da campanha abaixo das expectativas, o saldo de pontos do Hawks é melhor que o da temporada passada – um indício de que a equipe vai se recuperar.
Miami Heat: A queda de Duncan Robinson aumentou a importância de Tyler Herro. O ataque de Miami cai seis pontos por 100 posses nos minutos sem o camisa 14.
Orlando Magic: Robin Lopez é o jogador com maior taxa relativa de post ups na liga e tem tido uma eficiência quase igual à de Nikola Jokic. Não, isso não é uma piada.
Washington Wizards: O Wizards tem se saído levemente melhor nos minutos sem Bradley Beal. Esse tipo de comportamento é raro para um time de uma estrela e diz bastante sobre a profundidade do elenco.
* Divisão Sudoeste
Dallas Mavericks: Luka Doncic sofreu uma grande queda de eficiência de arremessos e agora possui TS% abaixo da média da liga, algo preocupante para um condutor de bola de elite.
Houston Rockets: A transição de Kevin Porter Jr. para armador não tem sido fácil. São 0.67 PPP (marca pior que 80%) comandando pick-and-roll, em 7.8 tentativas por partida.
Memphis Grizzlies: Memphis tem tido bastante “sorte”. O seu saldo de pontos é típico de um time com menos de 50% de aproveitamento. Porém, através de vitórias apertadas, o Grizzlies tem boa campanha.
New Orleans Pelicans: Devonte’ Graham tem sido o pilar ofensivo da equipe, que tem uma eficiência ofensiva de 110 com ele em quadra. Sem ele, cai para 97.
San Antonio Spurs: Apesar da campanha ruim, San Antonio tem um saldo de pontos neutro, típico de um time de 50% de aproveitamento. Pode ser uma surpresa na corrida para o Play-In do Oeste.
* Divisão Noroeste
Denver Nuggets: Com as lesões, a Jokic-dependência do time é avassaladora: são +12.71 pontos de saldo por 100 posses com o MVP, contra -13.87 sem ele. A primeira marca é semelhante à do Warriors. Entretanto, a segunda é pior que a do Pistons.
Oklahoma City Thunder: O time de OKC é ainda pior que parece. O saldo de pontos revela que o time ganhou dois jogos a mais que deveria na temporada.
Portland Trail Blazers: Apesar das dificuldades de Lillard, o ataque não tem sido problema em Portland, sendo o terceiro melhor da liga. A questão é que a defesa do time é, disparadamente, a pior da temporada.
Utah Jazz: Utah tem, com muita folga, o melhor ataque da liga: são 118.3 pontos por 100 posses. E a diferença para o segundo colocado (Warriors) equivale à do segundo para o 16º.
* Divisão do Pacífico
Golden State Warriors: O saldo de cestas do Warriors com Curry é surreal: +16.48, mas a equipe tem até se mantido de pé sem o astro. São +2.35 pontos por 100 posses, baseados em uma defesa fortíssima.
Los Angeles Clippers: O Clippers é mais um caso de defesa boa/ ataque ruim. Trata-se da quarta melhor marca defensiva da liga, e a sétima pior ofensiva. Mesmo nos minutos com Paul George, o ataque tem sido abaixo da média.
Los Angeles Lakers: A Campanha do Lakers tem sido decepcionante, mas poderia ser pior. Vitórias em jogos apertados fazem o time ter 50% de aproveitamento, enquanto o esperado pelo saldo de pontos seria uma campanha de 9-15 ou 10-14.
Phoenix Suns: O Suns tem saldo de pontos de +11 nos minutos sem os astros Chris Paul e Devin Booker. Novamente, a segunda unidade de Phoenix tem sido assustadora de boa.
Sacramento Kings: Começo de temporada complicado de De’Aaron Fox, que tem uma péssima TS% de 50.6%. Na temporada passada, o ataque de Sacramento era bom e o problema era a defesa (historicamente ruim). Já em 2021/22, o Kings tem apenas o décimo oitavo ataque da liga, e a defesa continua péssima, estando entre as cinco piores.
Siga o Jumper Brasil em suas redes sociais e discuta conosco o que de melhor acontece na NBA:
Instagram
YouTube
Twitter
Canal no Telegram
Apostas – Promocode JUMPER