O Draft é sempre cercado de mistério para conhecer o primeiro escolhido no processo de seleção de calouros da NBA. Aquele que é selecionado à frente dos outros que se inscreveram passa a ter a responsabilidade de atender à expectativa depositada por seu novo time. Mas, Anthony Bennett, canadense que teve a honra de ser o número um do Draft em 2013, desapontou a todos que escutaram seu nome ser anunciado no Barclays Center, em Nova York.
Selecionado pelo Cleveland Cavaliers, Bennett, atualmente com 22 anos recém-completados, estava cotado para aparecer entre as primeiras escolhas do Draft à época, mas vale lembrar que o favoritismo pertencia aos pivôs Nerlens Noel e Alex Len. O canadense como escolha número um foi de certa forma uma surpresa. Bennett veio da Universidade de Nevada e tinha obtido bons números (média de 16 pontos e oito rebotes) no campeonato universitário no qual a UNLV foi eliminada na segunda rodada.
Com um poder ofensivo que era difícil de ser marcado pelos oponentes, o canadense era apontado como o melhor ala-pivô universitário daquele ano, na frente de nomes como Cody Zeller e Mason Plumlee, atualmente atletas estabilizados em suas equipes na NBA. Além disso, Bennett havia faturado medalhas de bronze com a seleção do Canadá na Copa América Sub-16, em 2009, e no Mundial Sub-17, no ano seguinte.
Após os acontecimentos citados acima, Bennett surpreendentemente não tem rendido na NBA. O ala-pivô teve uma primeira temporada negativa pelo Cavs, sendo trocado em seguida para o Minnesota Timberwolves, onde segue mantendo os números decepcionantes. Se comparado com as primeiras escolhas de Draft anteriores, Bennett leva uma surra nos números.
Coincidentemente, o número 1 do Draft de 2012 foi um jogador da mesma posição: Anthony Davis. A comparação chega a ser desleal: no primeiro jogo como profissional, Bennett anotou dois pontos, enquanto Anthony Davis cravou 21; em média de pontos na temporada como rookie, Bennett teve 4 e Davis 13; em rebotes, 8 a 3 para Davis. Na porcentagem dos arremessos, o ex-jogador do Cavs teve 35% e o atleta de New Orleans apresentou 51%. Por tudo isso, ele chegou a ser vaiado pela torcida de Ohio em meados da temporada, quando um arremesso dele de três resultou em air ball (assista aqui).
Os números do canadense pouco mudaram após ele ir para Minnesota. E para piorar, o ala-pivô ainda sofre com outro problema: asma. O próprio técnico Mike Brown, que o treinou em Cleveland, admitiu que não gostava de olhar para Bennett em quadra, pois ele ficava muito ofegante durante os jogos. Recentemente, o jogador ainda passou por procedimentos para corrigir um problema na vista e também para amenizar a apneia do sono.
Atualmente, o ala-pivô está com um problema no tornozelo e não tem atuado pelo Wolves. Nesta temporada, não deve receber mais muitas oportunidades, pois a franquia tem o ídolo Kevin Garnett e o jovem Adreian Payne, que tem jogado bem, para a posição. O canadense foi especulado em possíveis trocas antes do trade deadline em fevereiro. Ou seja, o Wolves admite a possibilidade de envolver o jovem em uma nova troca futuramente, o que pode fazer com que ele se transforme, em cerca de dois anos, em uma espécie de andarilho (o journeyman para os americanos).
Em entrevistas, o próprio jogador já admitiu que na NBA erros são cruciais para jogadores jovens, o que não ocorria na universidade. Além disso, chegou a reclamar de ser escalado no Cavs como ala, posição em que nunca havia atuado. Bennett também se queixou por ter jogado acima do peso em sua primeira temporada, alegando que gostaria de ter recebido mais tempo para entrar em forma após a lesão no ombro. Jogando como ala-pivô e agora em boa forma no Wolves, porém, pouca coisa mudou em seu rendimento.
Greg Oden certamente tinha sido a última grande decepção entre as escolhas número 1 de Draft. O pivô sofreu muito com lesões, mas em sua primeira temporada jogando, em 2008-2009, conseguiu em média nove pontos e sete rebotes por noite, estatísticas quase que dobradas em relação às de Bennett. Estava aumentando consideravelmente esses números na temporada seguinte até sofrer a segunda lesão séria no joelho.
A situação de Bennett é menos dura de ser revertida que a de Oden. O canadense é jovem, pode dar a volta por cima. Mas não vai ser promessa por muito tempo. Ele precisará fazer muito para apagar essas duas temporadas iniciais de sua carreira. Até lá, seu nome segue como sinônimo de decepção.
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