Ah, o Minnesota Timberwolves, aquele time promissor que promete “fazer barulho” na próxima temporada. Aposto que a maioria de vocês já leu ou ouviu isso em algum lugar, inclusive no Jumper Brasil. A franquia de Minneapolis deu azar com lesões de jogadores importantes e errou muito nos últimos anos para continuar estagnada. Já são nove anos sem chegar aos playoffs. É o maior jejum da NBA. Até quando o Wolves será um time promissor?
Nesta temporada, a equipe comandada por Rick Adelman tem a quarta pior campanha da conferência Oeste, com 20 vitórias e 36 derrotas. O detalhe é que, nos últimos 25 jogos, o Wolves venceu apenas quatro vezes. A franquia, que começou a temporada com a esperança de voltar aos playoffs, chutou o balde nas últimas semanas. Começou a adotar uma velha artimanha: o tank, que acontece quando um time vê que não possui chances de classificação para os playoffs e então começa a não se esforçar para ganhar partidas.
Com mais uma lesão grave sofrida pelo ala-pivô Kevin Love, principal jogador da equipe, o Wolves decidiu fazer o tank para ter mais chances de se dar bem no draft deste ano. Pelas regras da NBA, os times que fazem as piores campanhas possuem maiores chances de escolhas altas no próximo recrutamento.
Mas cabe uma reflexão acerca dessa artimanha, condenada por muitos, inclusive por mim. Nos últimos anos, a equipe de Minnesota foi sempre chamada de promissora. O que aconteceu? Campanhas ruins, muitas escolhas altas de draft e nada… O Wolves continua sendo o time do futuro. Mas então, o que a franquia deve fazer para finalmente dar alegria ao seu torcedor?
Campanhas do Wolves desde a chegada de Kevin Love, em 2008
2008/2009: 24 vitórias e 58 derrotas (sexta pior campanha da Liga)
2009/2010: 15 vitórias e 67 derrotas (segunda pior campanha da Liga)
2010/2011: 17 vitórias e 65 derrotas (quarta pior campanha da Liga)
2011/2012: 26 vitórias e 40 derrotas (décima pior campanha da Liga)
O time de Minneapolis terá duas escolhas de primeira rodada e uma de segunda rodada no próximo draft, sendo que uma delas será de loteria. Essa lottery pick poderá ser bastante útil em uma negociação na offseason. Como o recrutamento deste ano, a princípio, não tem muitos talentos, a direção da franquia deveria pensar em trazer um jogador consolidado na NBA e não uma aposta vinda do basquete universitário. Se eu fosse David Kahn (GM do Wolves) abriria mão dessa escolha de loteria.
A única hipótese de manutenção dessa pick seria se a equipe ganhasse a loteria e tivesse a chance de selecionar o ala-armador Ben McLemore (Kansas), um jogador que ajudaria a resolver a carência da equipe na posição 2. Mas o detalhe é que a franquia nunca teve a chance de fazer a primeira escolha no draft. Será que a história muda neste ano?
Nos últimos cinco recrutamentos, o time de Minneapolis teve 13 picks, sendo cinco de loteria. Em 2008, O.J. Mayo foi selecionado na terceira escolha. Na noite do draft, ele foi trocado com o Memphis Grizzlies. Na negociação, o Wolves recebeu Kevin Love, quinta escolha daquele recrutamento.
No ano seguinte, o primeiro de Kahn à frente da gerência-geral da franquia, dois erros clamorosos do novo dirigente. Na quinta escolha, o time decidiu pelo espanhol Ricky Rubio. Bola dentro. Mas, na sexta escolha, Kahn selecionou outro armador, Jonny Flynn, que não arrumou nada na NBA até hoje. Tudo bem que o recrutamento de 2009 foi farto em armadores, mas o time de Minnesota deixou passar, entre outros, nomes como Stephen Curry, Jrue Holiday, Darren Collison, DeMar DeRozan, Brandon Jennings e Jeff Teague. E pior, além das duas escolhas de loteria, o Wolves ainda tinha a pick 18. E adivinha o que aconteceu? Outro armador selecionado. Só que Ty Lawson foi trocado com o Denver Nuggets. Por uma futura escolha de draft… Mais uma mancada de Kahn.
Em 2010, novo “azar” no draft. Na quarta escolha, o Wolves selecionou o ala Wesley Johnson. Mais um bust. Sabe quem foi escolhido depois de Johnson? DeMarcus Cousins (5), Greg Monroe (7) e Paul George (10). Kahn vacilou novamente! No ano seguinte, a equipe de Minneapolis apostou no ala Derrick Williams, na segunda pick do recrutamento. Williams é outro jogador que não ainda se afirmou na NBA. E, no ano passado, o Wolves não teve escolha de primeira rodada.
Escolhas de draft do Wolves desde 2008
2008: O.J. Mayo (pick 3, trocado com o Memphis Grizzlies), Nikola Pekovic (pick 31), Mario Chalmers (pick 34, trocado com o Miami Heat)
2009: Ricky Rubio (pick 5), Jonny Flynn (pick 6), Ty Lawson (pick 18, trocado com o Denver Nuggets), Wayne Ellington (pick 28), Nick Calathes (pick 45), Henk Norel (pick 47)
2010: Wesley Johnson (pick 4), Lazar Hayward (pick 30)
2011: Derrick Williams (pick 2)
2012: Robbie Hummel (pick 58)
Então, o objetivo do Wolves era qualificar o time através de escolhas altas de draft. Não conseguiu até hoje. Kahn acertou apenas em selecionar Rubio. Foi uma sucessão de erros e o time paga a conta até hoje. Por não ter muito feeling em draft, conforme demonstrado acima, o Wolves tem que fazer de tudo para contratar jogadores consolidados.
O criticado Kahn foi feliz em trazer os russos Alexey Shved e Andrei Kirilenko, na última offseason. Brandon Roy, que estava aposentado e acabado para o basquete, foi uma aposta de alto risco. Hoje sabemos que o time se deu mal por isso. Roy disputou apenas cinco jogos pela equipe antes de voltar a sentir dores no seu tão sofrido joelho direito. Ninguém sabe se ele volta a jogar.
A direção do Wolves vai ter que “rebolar” para qualificar o elenco na próxima temporada. A franquia já tem 48 milhões de dólares comprometidos para o pagamento dos salários de apenas oito jogadores, sendo 5,3 milhões de dólares para o sempre lesionado Brandon Roy, que estará no último ano de contrato. E vale lembrar que o pivô Nikola Pekovic será agente livre e deverá pedir um salário anual girando em torno de dez milhões de dólares. Por isso, dificilmente a franquia conseguirá ficar abaixo do teto salarial da NBA.
Folha salarial do Wolves para a próxima temporada
Kevin Love: 14,7 milhões de dólares
Andrei Kirilenko: 10,2 milhões de dólares
Brandon Roy: 5,3 milhões de dólares (expirante)
Derrick Williams: 5,3 milhões de dólares
J.J. Barea: 4,7 milhões de dólares
Luke Ridnour: 4,3 milhões de dólares (expirante)
Alexey Shved: 3,1 milhões de dólares
Malcolm Lee: 854 mil dólares
Além da renovação de Pekovic, hoje, a intenção do Wolves é manter os outros quatro jogadores do núcleo da equipe – Ricky Rubio, Alexey Shved, Andrei Kirilenko e Kevin Love. Ah, e vocês sabem em quantas partidas esse quinteto, considerado o ideal, atuou junto nesta temporada? Em apenas três. Isso mesmo. O número é assustador. Todos eles tiveram lesões em algum momento da temporada. Que fase!
As moedas de troca serão os armadores Luke Ridnour, J.J. Barea, e o ala Derrick Williams, além das escolhas de draft, sobretudo a de loteria. Como eu disse, os dirigentes da equipe terão uma dura missão pela frente. Ridnour terá contrato expirante, e Williams ainda tem mercado na Liga. São dois jogadores que têm grandes chances de serem negociados. Já com relação a Barea, a situação se complica, já que seu vínculo se encerra apenas em 2015. O porto-riquenho vai receber 9,2 milhões de dólares nos próximos dois anos.
A maior necessidade da equipe é um ala-armador especialista em arremessos de média e longa distância. O Wolves tem o pior aproveitamento na temporada no que diz respeito às bolas de três pontos (29.8%). Além disso, o time precisa de um jogador de garrafão mais experiente para participar da rotação com Love e Pekovic.
Boas opções para o Wolves na offseason (agentes livres)
Perímetro: O.J. Mayo, J.J. Redick, Kevin Martin e Kyle Korver
Garrafão: Jermaine O’Neal, Elton Brand, Chris Kaman e Samuel Dalembert
Acredito que 2012/2013 será um divisor de águas para a franquia, sobretudo para a manutenção de Kevin Love. O astro do Wolves, que tem contrato garantido até 2015 e uma player option em 2016, já deu sinais de insatisfação com os vexames da equipe. Love chegou à NBA em 2008 e até hoje não sabe o que é disputar os playoffs.
Sobre o treinador, acredito que Rick Adelman deverá ser mantido no comando da equipe. O experiente treinador chegou à franquia em 2011 e ainda não teve as peças necessárias em quadra para fazer uma boa campanha. Enfim, o problema do Wolves não está na comissão técnica.
Portanto, a equipe de Minnesota terá que ser mais audaciosa na próxima temporada e mostrar os resultados na prática. Eu não aguento mais ouvir que o Wolves é um time promissor. Com um time mais encorpado, com menos apostas, e mais jogadores “cascudos”, o Wolves tem tudo para voltar a figurar nos playoffs. Mas para isso, a direção precisa mudar a mentalidade. Vamos aguardar a próxima offseason.