21 de janeiro de 2013.
Essa data é motivo de sentimentos conflitantes em duas cidades nos Estados Unidos: em Seattle, todos estão felizes com a volta do SuperSonics à NBA, depois de cinco temporadas, quando a franquia foi vendida e se transformou no Oklahoma City Thunder. Porém, em Sacramento, isso significou o fim de uma história de 28 anos com o Kings.
Como uma forma de homenagear a franquia, relembrarei aqui uma das equipes mais emblemáticas que já jogaram na NBA, que foi o centro de uma das maiores polêmicas da história da liga. Vocês sabem do que eu estou falando, não é? Só pode ser do Sacramento Kings da temporada 2001-02.
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Na temporada 01-02, o Sacramento Kings chegou ao auge de um processo construído desde de 1996 com a chegada de Pete Carrill, treinador da Universidade de Princeton que foi responsável por implantar e consagrar a Princeton Offense no basquete universitário, para ser assistente técnico.
Sim, o mesmo sistema ofensivo que o Los Angeles Lakers tentou adotar nesta temporada. Basicamente, não existem posições definidas nesse sistema, com o pivô, por exemplo, sendo o playmaker da equipe. Quem quiser se alongar mais, recomendo a leitura deste artigo.
Em 2001-02, o Kings trocou Jason Williams por Mike Bibby com o Vancouver Grizzlies: a troca de armadores ocorreu por motivos extra-quadra, pois Williams era indisciplinado, e também porque a franquia queria espaço na folha salarial para oferecer um contrato máximo para Chris Webber.
Bibby rapidamente assimilou o conceito da Princeton Offense, se tornando um dos líderes do time que teve a melhor campanha da temporada regular, com 61 vitórias e 21 derrotas, e o segundo ataque mais efetivo (104.6 pontos de média).
O jogador mais importante da franquia era o ala-pivô Chris Webber: rápido, inteligente, podia jogar tanto dentro quanto fora do garrafão. Ele foi o principal pontuador e reboteiro do time, além de só não ter dado mais assistências do que Bibby.
Poderia ter sido o MVP da temporada se não tivesse se machucado e jogado apenas 54 jogos, ou se Tim Duncan (que foi o premiado) não fosse Tim Duncan. Outro que poderia ter ganho: Jason Kidd, que comandou o elenco limitado do New Jersey Nets até às Finais.
A franquia ainda contava com Vlade Divac – que era aquele tiozão que sabia todos os truques pra ganhar de você no videogame – no garrafão, Peja Stojakovic, mortal da linha de três pontos, e Doug Christie, defensor incansável, no time titular.
Este quinteto marcou época em Sacramento, e chegou a ser capa da Sports Illustrated em fevereiro de 2001 (ainda com Jason Williams) com a manchete “The Greatest Show on Court”. No comando de tudo, Rick Adelman, treinador que começara a trabalhar na franquia em 1998.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=Iw0mUeChQDE]
Eles jogaram o basquete mais bonito, divertido e altruísta da NBA durante o ano, e eram considerados os francos favoritos ao título. Davam show, mas, acima de tudo e mais importante, eram eficientes.
Nos playoffs, eles derrotaram o Utah Jazz, dos intermináveis John Stockton e Karl Malone, na primeira rodada por 3-1 e o Dallas Mavericks, com Steve Nash e Dirk Nowitzki no auge, na semifinal da Conferência por 4-1. Na Final do Oeste, eles enfrentaram o Los Angeles Lakers, então bicampeão da liga, sob a liderança de Shaquille O’Neal e Kobe Bryant.
A Final do Oeste
A Final de Conferência Oeste de 2002 é marcada por muitas controvérsias relacionadas à arbitragem, não para favorecer uma ou outra franquia, mas para prolongar ao máximo o número de partidas (estendendo a série a sete jogos), e assim conseguir vender o espetáculo, faturando com os direitos de transmissão na televisão.
Vamos aos fatos: na primeira partida da série, o Lakers saiu-se vitorioso por 106×99, com Kobe e Shaq combinando 56 pontos, porém o Kings virou de forma relativamente tranquila, vencendo os jogos 2 e 3 por 96×90 e 103×90. Chegamos então ao jogo 4 da série, que terminou com o famoso Game Winner de Robert Horry.
Porém, isso poderia não ter ocorrido, se uma cesta do meio da quadra de Samaki Walker não tivesse entrado… ou se os juízes não a tivessem validado mesmo que o cronômetro tivesse zerado quase um segundo antes de a bola sair de suas mãos. No jogo 5, mais uma vitória do Kings, em uma partida memorável de Mike Bibby.
Na partida seguinte o Kings foi, e me perdoem o termo, roubado.
Jogo 6
No jogo 6, o Kings chegou a vencer por 24 pontos de diferença, e dominou o Lakers durante toda a partida, mas os árbitros interferiram diretamente no resultado, marcando faltas muito contestáveis no último quarto, que começou empatado em 75×75.
Vlade Divac e Scott Pollard (seu reserva imediato) foram exclusos com seis faltas cada. Michael Wilbon, do Washington Post, declarou à época que a falta que excluiu Pollard (jogou apenas 11 minutos no jogo), não seria considerada uma infração em nenhuma liga do mundo.
Divac, assim que cometeu sua quinta falta, disse para Webber (que cometeu cinco faltas): “Nós vamos nos f****”. Sem Divac e Pollard, o reserva Lawrence Funderburke teve que marcar Shaq no fim do último quarto – ele cometeu três faltas em seis minutos.
O Lakers, que estava cobrando, em média 22 lances livres na série, bateu 40 no jogo 6, sendo 27 apenas no último quarto. De fato, eles passaram quase seis minutos sem pontuar, se mantendo no jogo exclusivamente por causa dos lances livres.
Shaq acertou impressionantes 13 de 17 tentativas, levando-se em consideração seu aproveitamento pífio na carreira, porém, ele chutou de forma irregular, pois dava um passo para frente antes da bola encostar no aro – o que é contra as regras da NBA.
Ainda assim, o Kings perdeu por apenas quatro pontos: 106×102. Antes do jogo 7, Chris Webber declarou que parecia que a equipe já havia vencido cinco jogos na série. Visivelmente abalados pelo que havia acontecido no jogo anterior, eles não foram capazes de vencer, perdendo por 112×106 – acertando apenas 16 lances livres em 30 tentativas.
Aqui, uma compilação dos erros da arbitragem: [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=qjRcTiwVEwo]
Esse foi o fim do Kings.
Na temporada seguinte, mais uma vez venceram a Divisão do Pacífico, com 59 vitórias e 23 derrotas, mas a lesão de Webber (rompeu o ligamento anterior cruzado), o melhor jogador do time, acabou com as esperanças da franquia. Após isso, o elenco foi sendo desbaratado, o ânimo da torcida esfriou, trocas mal feitas ocorreram… e agora a cidade de Sacramento se despede do Kings.
Sinceramente? Acho que tudo seria diferente se, como deveria ter acontecido, a franquia tivesse avançado à Final da NBA – e muito provavelmente seria o campeão, embora ainda tivesse à frente o New Jersey Nets, comandado por Jason Kidd no auge.
Aqui, o jogo completo, dividido em 12 partes. Assistam e tirem suas próprias conclusões, por favor.
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Tim Donaghy
Cinco anos depois desta série, estourou o escândalo de manipulação de jogos da NBA, protagonizado pelo árbitro Tim Donaghy. Após as denúncias, ele confessou que participava de um esquema de apostas, e citou que outros jogos além dos que ele estava diretamente relacionado também foram manipulados.
Dentre eles, Donaghy citou o jogo 6 das finais da Conferência Oeste de 2002, entre Los Angeles Lakers e Sacramento Kings. Segundo ele, pelo menos um dos três árbitros daquela partida foi responsável pela excessiva marcação de faltas contra o Kings.
Naturalmente, as suspeitas recaíram sobre Dick Bavetta. O árbitro também esteve presente em outros seis jogos polêmicos de playoffs – Jogos 3 e 6 da série entre New York Knicks e Indiana Pacers em 1999; Jogo 3 da série entre San Antonio Spurs e New York Knicks em 1999; Jogo 7 da série entre New York Knicks (mais uma vez!) e Miami Heat em 2000; Jogo 7 da série entre Los Angeles Lakers e Portland Trail Blazers em 2000; e o Jogo 4 da série entre Boston Celtics e New Jersey Nets em 2002.
No mínimo, é suspeito. David Stern, o manda-chuva da NBA, sempre negou veementemente essas acusações, que obviamente nunca puderam ser comprovadas. O fato é que o jogo 6 das finais da Conferência Oeste de 2002 está marcado para sempre como um dos que teve uma das piores arbitragens de todos os tempos.
Recomendo também esse vídeo:
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=IdOe4IxIvo0]
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Daquele time do Sacramento Kings, Chris Webber e Vlade Divac tiveram suas camisas aposentadas; Peja Stojakovic ainda é o líder em cestas de três pontos (1070), em tentativas de três pontos (2687) e em porcentagem nos lances livres (89,3%) da franquia.