Por Ricardo Romanelli
Anos 90-95: o primeiro reinado de Jordan
Depois de uma década marcada pela renascença da rivalidade Lakers/Celtics e grandes jogos, a NBA entrou nos anos 90 com grandes expectativas. Ninguém esperava, no entanto, o que viria a seguir. Michael Jordan se consolidaria como o grande nome da história do esporte em nível mundial. Se alguns até hoje questionam se Jordan foi realmente o mais habilidoso da história, é inegável que ele foi o jogador que mais deu retorno de mídia para a NBA, e que mais deu resultado dentro de quadra na era do basquete moderno. Por esse motivo, é impossível narrarmos os acontecimentos dos anos 90 sem o fazermos sob a ótica da trajetória de Jordan.
Michael Jordan entrou na liga em 1984, mas em seus primeiros anos sofreu com equipes ruins e a força de outros times mais consolidados. No entanto, já mostrava que era diferenciado. Se destacava com jogadas explosivas, inclusive tendo protagonizado os melhores campeonatos de enterrada até hoje. Foi MVP em 1988, e logo seu reinado começaria. Após os “Bad Boys” do Detroit Pistons conquistarem o bicampeonato em 1990, no ano seguinte começaria efetivamente o reinado de Jordan.
Em 1991, o Chicago Bulls se tornou a grande potencia da liga. Com uma base que tinha, além de Jordan, Scottie Pippen, BJ Armstrong, Bill Cartwright, John Paxson e Horace Grant, o Bulls chegou a 61 vitórias na temporada regular. Jordan teve médias de 31.5 pontos por jogo, com aproveitamento de 53% dos arremessos, e ganhou seu segundo MVP da carreira. O Bulls venceu o Lakers na Final deste ano, o que pode ser considerado inclusive como uma passagem do trono simbólica entre Magic Johnson e Jordan. Nesta Final, inclusive, aconteceu uma passagem curiosa e até hoje comentada. A comissão técnica do Lakers fazia anotações sobre as estratégias utilizadas em blocos de notas, e após o jogo deixava os papeis amassados embaixo do banco. Isso permitiu que Phil Jackson, então ascendente técnico do Bulls, coletasse essas informações e fizesse os ajustes táticos que permitiram ao time de Chicago vencer a série, como por exemplo utilizar Scottie Pippen como defensor de Magic.
O Bulls voltaria a vencer em 1992 e 1993, de maneira dominante, se consolidando como o time a ser batido na liga em um período tão glorioso da história da NBA. Em 92, a equipe venceu 67 jogos e superou o Portland Trail Blazers de Clyde Drexler nas Finais, que era considerado na época o rival número 1 de Michael Jordan pela Sports Illustrated. Mais uma vez, Jordan tinha sido eleito o MVP da temporada, e o Bulls não parecia que poderia ser derrotado, como novamente não foi em 93.
Dessa vez, o time superou o forte Phoenix Suns de Charles Barkley, Dan Majerle. Barkley era o MVP da liga, e o Suns parecia uma equipe capaz de derrotar o Bulls, mas isso não aconteceu. John Paxson converteu uma bola de três nos segundos finais do jogo 6, e o primeiro “3peat” estava consolidado.
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Durante este período, tivemos dois outros pontos importantes da trajetória da liga. O primeiro foi o All-Star Game de 1992, considerado por muitos a melhor edição do evento até hoje. Poucos meses após Magic Johnson anunciar que estava infectado com o vírus HIV, ele participou do jogo das estrelas de 92, que tinha dito que seria sua última partida na liga. Foi eleito o MVP, com uma lendária performance que incluiu duelos 1×1 contra Isiah Thomas e Michael Jordan, além de uma bola de três que efetivamente acabou com o jogo com 14 segundos no relógio. Poucas vezes, quem sabe nunca, se viu um All-Star Game com tantas estrelas. Pelo Leste, comandado por Phil Jackson, participaram Jordan, Thomas, Larry Bird, Charles Barkley, Patrick Ewing, Joe Dummars, Scottie Pippen, Dennis Rodman e Dominique Wilkins. Pelo Oeste, sob o comando de Don Nelson, jogaram Johnson, Clyde Drexler, Chris Mullin, Karl Malone, David Robinson, Tim Hardaway, Jeff Hornacek, Dan Majerle, Dikembe Mutombo, Hakeem Olajuwon, John Stockton e James Worthy.
Na offseason de 1992, tivemos o Dream Team na Olimpíada de Barcelona, a lendária equipe que venceu todos os jogos com no mínimo 32 pontos de diferença. O plantel incluía Michael Jordan, Larry Bird, Magic Johnson, David Robinson, Scottie Pippen, Patrick Ewing, Clyde Drexler, Karl Malone, John Stockton, Chris Mullin, Charles Barkley e Christian Laettner, esse último sendo até hoje o mais contestado, por ter custado a vaga de nomes como Isiah Thomas ou do emergente Shaquille O’Neal.
Após o título de 1993, Michael Jordan se aposentou do basquete para jogar baseball. Isso abriu o caminho para que outras equipes pudessem tentar o título. Vale ressaltar que, durante os anos 90, tivemos grandes equipes que não são tão lembradas por não terem conquistado o campeonato. Podemos citar o New York Knicks de Patrick Ewing, Alan Houston e John Starks, treinado por Pat Riley; o Miami Heat chegou a contar com Alonzo Mourning, Glen Rice, Tim Hardaway e treinado por Pat Riley; o Indiana Pacers de Reggie Miller, Rik Smits e os irmãos Davis, que protagonizou grandes batalhas com o New York Knicks e até mesmo com Spike Lee nos playoffs.
Com o caminho aberto pela ausência de Jordan, o Houston Rockets aproveitou como ninguém o espaço criado. Hakeem Olajuwon foi eleito o MVP e melhor defensor do ano em 1994, e o Rockets bateu o Knicks de Patrick Ewing nas finais, com uma performance lendária de Olajuwon. No ano seguinte, apesar de dificuldades na temporada regular, a equipe novamente levou o título, dessa vez sobre o Orlando Magic de Shaquille O’Neal e Penny Hardaway. A conquista de dois títulos seguidos sobre dois pivôs igualmente dominantes fez com que Olajuwon conquistasse, momentaneamente, o topo das ligas de pivôs dominantes, que eram muitos nos anos 90. Esses dois anos foram de grande equilíbrio de forças na liga, mas isso estava prestes a mudar, no ano seguinte, Jordan retornaria para tomar novamente seu posto no topo da liga, e o faria de maneira a deixar poucas dúvidas sobre seu legado.
A década de 90 foi um período muito rico para a NBA, de modo que decidimos fatiar este artigo em duas partes. No próximo capítulo, concluiremos a trajetória de Michael Jordan, bem como abordaremos outros aspectos não tão lembrados deste período.