Quando Anthony Davis e o New Orleans Pelicans conquistaram a oitava e última vaga do Oeste aos playoffs da temporada passada, a impressão de que aquele era o time do futuro cresceu. Uma impressão que caiu por terra nas últimas semanas: a equipe começou a campanha 2015-16 muito mal, com seis derrotas consecutivas e somente uma vitória em nove jogos – em noite que o astro lesionou a coxa.
Davis é um monstro e isso já parece bem claro. O time ao seu redor também não parece ruim. Eric Gordon e Tyreke Evans não são gênios, mas bons e ainda relativamente jovens jogadores com potencial de crescimento. Ryan Anderson espaça a quadra e sempre converte suas cestas nos minutos em que atua. Enquanto isso, caras como Quincy Pondexter, Omer Asik e Jrue Holiday não teriam problemas para encontrar espaço na maioria das rotações da liga. Portanto, alternativas em quadra não parecem faltar.
O treinador Alvin Gentry assumiu nesta temporada trazendo combinação de experiência e um estilo moderno, com intensidade ofensiva e modernos princípios de movimentação ofensiva. Ele é amplamente creditado como um dos mentores do sistema do Golden State Warriors, como um dos assistentes de Steve Kerr. Técnico não parece ser problema também. As peças todas, aliás, não parecem ser. Então, quais seriam os obstáculos neste início de temporada do Pelicans?
Obviamente, as lesões são o primeiro. Problemas físicos costumam ser o motivo – ou, pelo menos, a desculpa principal – para insucessos de times montados para ter sucesso imediato. Pondexter e Evans, dois possíveis titulares, sequer pisaram em quadra ainda. É o mesmo caso de Norris Cole, principal armador reserva do elenco. Contratado para conferir um pedigree vencedor e fortalecer uma rotação frágil, o veterano pivô Kendrick Perkins já se contundiu também. Além deles, Asik e Holiday não estão 100% fisicamente. Agora, Davis “reforça” o departamento médico. São questões complicadas, recorrentes, que demorar para estarem curadas por inteiro. Imaginem “atacando” em conjunto, como agora.
A ausência de titulares e atletas importantes expõe um segundo problema do Pelicans: o banco de reservas. Com os desfalques citados, o papel de válvula de escape e colocar a bola nas mãos de Davis sobra para jogadores como Dante Cunningham, Toney Douglas, Ish Smith e Alonzo Gee – uma temeridade, diante do altíssimo nível da conferência Oeste. No garrafão, pivôs como Alexis Ajinca são obrigados a atuar mais do que qualquer torcedor gostaria.
A principal razão para a saída de Monty Williams foi o pífio desempenho defensivo na temporada passada, quando Nova Orleans teve somente a 22ª melhor defesa da liga em pontos sofridos por jogo. No entanto, Gentry ainda não foi capaz de mudar essa fragilidade. É um trabalho que demora um pouco para ser implementado e aparecer, então é natural que a franquia continue sendo uma defesa deficitária.
Na última campanha, o técnico participou do processo de transformação de Draymond Green em um dos pilares defensivos da liga e parece querer fazer o mesmo com Anthony Davis. O ala-pivô já é um distribuidor de todos e ladrão de bolas de primeira linha, mas marcar é mais do que só isso: o bom homem de garrafão defensivo patrulha o garrafão e não fica apenas esperando os oponentes embaixo do aro. Neste começo de temporada, é possível identificar o “toque” do novo treinador na postura bem mais ativa do jovem ao redor da cesta – o que, ao mesmo tempo, gera oportunidades de infiltração ao adversário por incentivá-lo a sair mais de próximo da cesta.
O calendário do Pelicans até agora foi ingrato também. A equipe já enfrentou o Warriors e Atlanta Hawks por duas vezes, por exemplo. Teve jogos com times que surpreendem neste começo de ano, como Portland Trail Blazers e Orlando Magic. A esperança é que sua vitória única, contra o Dallas Mavericks, seja o prenúncio de um acerto e uma correção nos rumos. Este ainda soa como um elenco bem estruturado para o futuro, em torno de Davis, mas seis derrotas e as más atuações em um Oeste muito competitivo podem dificultar o acesso aos playoffs.
Não dá para esperar mais do que vimos no fim da campanha passada, por enquanto. A boa base ainda não é a ideal e o time precisa buscar reforços para fortalecer o apoio em torno de Davis para os próximos anos. O Pelicans não deixou de ser o time do futuro, mas claramente não é o time do agora.
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