Não adianta. Jogador muito atlético, quando chega a uma certa idade, precisa se reinventar para seguir em alta na NBA. E digo isso, muito por conta da sequência de lesões de Derrick Rose, ilustrada muito bem pelo Eduardo Ribeiro no artigo de ontem.
Rose não é veterano, mas nem precisa ser. Ele se machucou com certa frequência nos últimos anos e necessita urgentemente mudar seu estilo de jogo. Ficar só batendo para dentro do garrafão, vai sobrecarregar ainda mais seus joelhos.
A questão aqui nem é Rose, em si. Eu tenho alguns exemplos de como evoluir. Entre eles, sim, Michael Jordan.
Claro que quando Jordan atuava, a NBA não vivia dos arremessos de três pontos. O camisa 23 era, até um certo ponto de sua carreira, muito parecido com Rose. O estilo de jogo, pessoal. O estilo. Jordan investia seu repertório especialmente invadindo o garrafão alheio e não por menos, fazia lances sensacionais.
Mas ele, um dia, viu que essa explosão física ia acabar. Para seguir como o melhor jogador de sua época, ele apostou suas fichas nos arremessos de média distância. Aos poucos, acabou expandindo sua zona de conforto e tratou de arriscar de mais longe, da linha dos três.
Claro que em sua época, essa linha era mais distante e apenas os especialistas faziam uso das tentativas. Só que enquanto jogava, as regras mudaram e o chute de três ficou bem mais próximo. Claro que aí foi uma farra e qualquer jogador mediano estava fazendo uso desse artifício.
A NBA voltou atrás, puxou um pouco a linha e gradativamente, aqueles medianos deixaram de arriscar tanto. Novamente, aqueles especialistas foram alçados ao destaque, como Steve Kerr e Reggie Miller.
Jordan, em sua primeira temporada, teve apenas 3% de seus arremessos tentados de três. Isso mesmo. De todas suas tentativas, ele praticamente não utilizava esse recurso. Ele mudou de vez apenas em seu nono ano na liga. Seu físico já não era mais o mesmo, e claro, foi obrigado a evoluir, com 11.3%. MJ atingiu o seu máximo na 12ª, com 15.6%. Você só percebe uma queda brusca quando a porcentagem cai junto. Na temporada 13, ele teve apenas 23.8% de aproveitamento. Logo suas tentativas diminuíram sensivelmente, para 6.5%.
O astro máximo do basquete para muitos, percebeu que se seguisse arriscando tanto, poderia prejudicar sua equipe. Então, ele tratou de diminuir essa alternativa e passou a investir novamente nos de média distância. Foi assim no Washington Wizards, também.
Mas deixemos Jordan de lado agora para falarmos sobre Vince Carter.
Qual é a maior característica que você apontaria em Vince Carter? A enterrada, claro. Um dos melhores no quesito, se não for o melhor de todos os tempos. Mas já parou para perceber que há um bom tempo o seu jogo mudou?
Carter não é uma criança. Ele está com 38 anos e em janeiro assopra mais uma velinha. É óbvio que ultimamente, ele já não faz mais aquelas jogadas plásticas, como a que o consagrou diante de Frederic Weis, nas Olimpíadas de 2000.
Porém, é aí que tem o ponto da virada de Carter. O sujeito, que arriscava apenas 8.5% de seus arremessos vindos de fora, percebeu como poucos a importância nos treinamentos exaustivos. Esse número pulou para 14% no ano seguinte e atingiu quase 24% nas temporadas que vieram. Depois dos 30, ele tornou-se um dos maiores especialistas de todos os tempos da NBA.
Para enfatizar isso, mostro seus números após a 12ª temporada:
12- 31.8%
13- 36.1%
14- 39%
15- 38.2%
16- 46.2%
17- 46%
18- 56.4%
Sim, meus amigos. Ele nunca mais arremessou menos que 31% de três desde então. E o aproveitamento? Sempre acima de 36.7%, exceto no último ano, no Memphis Grizzlies, quando ele abusou e teve inacreditáveis 56.4%, mas para apenas 29.7% de acerto. Também, o Grizzlies não possui muitos jogadores com essa característica. O time conta muito com Zach Randolph e Marc Gasol. Então, ele foi obrigado a arriscar. Detalhe: apenas pela segunda vez em sua carreira, ele não atingiu os 30% de conversões. A outra foi a primeira. Mas lembram-se que falei sobre os treinamentos? Pois é.
Estamos em uma nova era do basquete, onde a quadra fica toda espaçada, jogadores de garrafão são cada vez mais raros e aqueles que possuem a qualidade do arremesso, ganham a preferência. Natural, mas não gosto muito disso. Ainda sou da época em que o pivô recebia a bola no garrafão, era marcado individualmente, no máximo em dupla, e então, ele tentava o giro para a cesta ou passava para fora. Shaquille O’Neal foi mestre nisso e toda a atenção que davam a ele na defesa, deixava clarões para atletas na linha de três tentarem seus arremessos. E isso consagrou muita gente, amigos.
Agora, um ex-colega de Shaq, o ala-armador Dwyane Wade, do Miami Heat.
Isso aqui é mais uma percepção minha e algo que falei em alguns programas do Jumper Brasil no passado: LeBron James só saiu do Heat quando viu que Wade não expandiu o seu jogo. As inúmeras contusões, claro, contribuíram. Mas quais são as condições reais do camisa 3?
Ele é um astro, sem dúvida alguma. Mas não conseguiu evoluir. Pode ter tentado, no entanto, eu não sou nenhum insider para saber se ele treinava arremessos de três depois que todo mundo ia embora. Só posso falar o que parece. Wade não melhorou e isso é fato.
Todo mundo sabe o quanto o atleta é adepto ao jogo de infiltração, contra-ataques, e muito por isso, é um dos maiores and one da NBA — aquele que faz a cesta, sofre a falta e ainda acerta o lance livre.
O problema é que as lesões vieram com ele no passar dos anos. Os joelhos estão debilitados e desde 2010-11, não chega aos 70 jogos. Só nas últimas duas temporadas, ele perdeu 48 partidas por lesões ou por ser poupado por conta delas. Beirando os 33 anos, o número tende a crescer.
Não estou pedindo para que Wade ou Rose (28% de acerto em 2014-15) sejam extremamente dependentes do arremesso de três. Nem quero isso. Acho que é um artifício. Mas como falei antes, o basquete mudou e alguns times vivem assim.
O veterano Paul Pierce, agora no Los Angeles Clippers, não precisou mudar muita coisa durante a carreira. Ele nunca foi explosivo. Sempre teve no arremesso, uma de suas maiores qualidades. Então, jogar em uma época dessas, ele tira de letra.
Já citei LeBron e é um caso parecido com Jordan. Vejam bem: parecido.
James ainda é explosivo. Ainda. Mas um dia, isso vai acabar.
“Ah, mas LeBron só faz bandeja”, você menos informado deve pensar.
Então, aqui vão alguns números para entender o que o tio diz:
Desde 2011-12, James acerta ao menos 35.4% de suas tentativas. Ele não é Pierce ou Carter, mas na temporada seguinte, converteu 40.6%, sendo 18.5% dos arremessos de quadra, atrás da linha. Já contabiliza 339 acertos de longa distância a partir de 2012-13. Bastante razoável, não?
Para finalizar, quero mostrar o caso de Michael Redd.
Você sabia que na Universidade de Ohio State, ele acertou apenas 31.9% das tentativas de três? Vale lembrar que na NCAA, essa linha é mais próxima do que na NBA por cerca de 40 centímetros.
Mas Redd treinou. E como treinou.
Seu auge, porém, durou pouco tempo. Mais uma vez, as contusões fizeram com que ele parasse de jogar aos 32 anos, não sem antes ter feito mais de mil cestas de longa distância na carreira em 629 partidas, com respeitáveis 38% de aproveitamento.
Um jogador extremamente atlético precisa se reinventar. Seja evoluindo nos arremessos de três, algo que bati na tecla hoje, ou no outro lado da quadra, defendendo melhor. O físico ajuda até certo ponto. Depois, se o sujeito quiser ter vida longa na NBA, é melhor procurar algo a mais para fazer.
Abra o olho, Rose. Não defende tão bem e seu arremesso vai deixando a desejar. O físico já cobrou, e agora?