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Por Ricardo Romanelli
Antes de todas as temporadas, torcedores e analistas criam expectativas sobre determinados atletas. Há jogadores de quem nós esperamos notável evolução, outros para os quais se projeta queda de rendimento e aqueles de quem se espera apenas “mais do mesmo”.
Com uma infinidade de manchetes de maior destaque, algumas histórias de superação de expectativas acabam passando despercebidas. O que não faz, porém, que sejam menos importantes. Observe, por exemplo, a espetacular reviravolta que Monta Ellis conseguiu em sua carreira neste ano.
Selecionado pelo Golden State Warriors no draft de 2005, o ala-armador havia se destacado por ser um pontuador explosivo no basquete colegial americano, com médias superiores a 40 pontos. Por este motivo, aproveitando regras da época, decidiu “pular” a universidade e entrar direto na NBA. Foi o último ano em que a liga permitiu o “salto direto” dos high schoolers.
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No começo de carreira, Ellis era visto com bastante entusiasmo pelo Warriors e até como futuro franchise player da franquia. Ficou sete anos no time e, neste período, foi de jovem promessa a jogador-problema. O tempo passou e não conseguia pontuar com eficiência ou mostrar sinais de que pudesse distribuir mais a bola. A chegada de Stephen Curry foi o estopim para que a equipe elegesse um novo “dono do time” e o atleta foi trocado com o Milwaukee Bucks – onde passou duas temporadas com os mesmos números e ineficiência que vinham marcando a carreira.
Em julho do ano passado, Ellis tornou-se agente livre e sua história já parecia escrita: aos 28 anos, tinha oito temporadas na NBA e uma reputação não muito boa. A maioria dos times já não acreditava que ele poderia mudar depois de tanto tempo jogando da mesma maneira – com extrema dificuldade de liderar um time, baixo aproveitamento de arremessos, defesa nula e fama de jogador egoísta. Ele se lançou no mercado desacreditado e foi aí que sua carreira mudaria para sempre.
O Dallas Mavericks, pelo segundo consecutivo, não conseguiu usar o espaço disponível em sua folha salarial para contratar um jogador de renome. O time tinha acabado de perder a disputa por Dwight Howard com seu rival do Texas, o Houston Rockets. Mark Cuban, polêmico dono do time, tinha que dar uma resposta aos torcedores e resolveu contratar Ellis, último atleta com certa fama ainda disponível. A contratação por quase US$10 milhões anuais foi duramente criticada, pois poucos acreditavam que o jogador poderia se adaptar a um time na situação do Mavs: em desmanche, mas sob o comando de um veterano cujo profissionalismo e senso coletivo eram exemplares (Dirk Nowitzki).
Então, o improvável aconteceu. Ellis, contra todas as previsões, mudou seu estilo de jogo radicalmente. Manteve as médias de pontuação, aumentou para níveis bem aceitáveis seus percentuais de arremesso e até teve uma melhora defensiva. O resultado foi que, ao trazer seu basquete com muita agressividade a um time de veteranos, ele conseguiu ajudar o Mavericks a encontrar o ritmo que levou-os novamente a competir em alto nível – tanto que, agora, a equipe ruma aos playoffs com campanha respeitável no concorrido Oeste.
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É óbvio que ele não se tornou o all star que muitos imaginavam, um craque para quebrar recordes de pontuação, como aquelas primeiras previsões antecipavam. Mas é inegável que, contra tudo que era provável, o ala-armador conseguiu encaixar seu estilo de jogo dentro da filosofia de um time e técnico vencedor (Rick Carlisle). Com isso, tornou-se um atleta muito mais eficiente e com condições de ajudar o Mavs a alcançar altos níveis de competição.
Em meio a outras manchetes de maior impacto, a recuperação do ex-jogador do Warriors vem passando meio batida na maioria das análises sobre a atual temporada. No entanto, isso não faz esta mudança de atitude menos louvável e admirável. A Monta Ellis, estendemos nossos parabéns. Ele mostrou que, mesmo quando as coisas parecem definitivas, sempre é tempo para que o talento amadureça e se desenvolva da maneira mais construtiva para um time e para si mesmo.