Aos 36 anos e com três títulos da NBA e mais um dos Jogos Olímpicos na carreira, Manu Ginóbili convive com lesões há anos, que vem reduzindo gradualmente seu tempo de quadra no San Antonio Spurs. Em entrevista aos jornalistas Daniel Arcucci e Juan Manuel Trenado, do site Canchanella, o argentino confessou que pensou em se aposentar antes do fim da temporada passada.
“No final da temporada, no meio dos playoffs, pensei muito. Sofri por três ou quatro meses. Minha esposa estava cansada disso, e eu pensei em aposentadoria. Enquanto eu não estava convencido, eu a questionei: ‘E se?…’, e ela disse que a decisão era minha”, desabafou. “Mas quando eu me recuperei fisicamente, eu comecei a me sentir um pouco melhor. Quando a temporada terminou, eu fiz esse mini-duelo comigo mesmo por uns dois dias. Decidi não parar, sabia que estava faltando alguma coisa e ainda queria jogar”.
Ainda assim, ele também admite que a parte física o atrapalhou. “Tive que jogar com o freio de mão puxado porque eu venho de uma lesão. Estava cansado e eu lutei, e tenho sorte por essa equipe e pela comissão técnica. Mas os problemas físicos pesaram”.
O armador foi bastante criticado durante os playoffs, quando cometeu 55 desperdícios de bola, alguns deles cruciais – como os que cometeu nos últimos jogos das Finais. Manu afirma que não lê jornais durante uma série, mas dessa vez não conseguiu evitar as críticas, que o motivaram: ” Eu queria levar o time nas costas e não consegui. Os dois momentos mais difíceis foram após os jogos 4 e 6, aí eu voltei e tive meus dois melhores jogos. Deu certo por um tempo, mas eu não poderia manter essa raiva”.
“Às vezes eu joguei enfrentando essa raiva que senti, mas depois baixei minha guarda e não pude continuar. Foi muito frustrante, doloroso, porque antes eu tinha um combustível, um motor constante que não encontrei nestes playoffs. A raiva invariavelmente dá determinação”, conta o argentino.
Ele reafirma porquê não vai se aposentar agora. “Volto porque me sinto bem quando jogo saudável. Quando estou bem e jogo 30 minutos sem pensar, o faço pelo prazer de ter Tony [Parker], Tim [Duncan] e Gregg [Popovich] ao meu lado. Ainda tenho a mesma paixão de sempre”, diz, acrescentando que não pensa em revanche contra o Miami Heat. “Não tenho a gana de voltar por causa LeBron James ou do Miami Heat… nem sei se terei. Não há um espírito de vingança”.
Na temporada passada, Ginóbili teve as piores médias desde o seu ano de calouro na NBA, muitas vezes atuando como armador principal do time. Em 23.2 minutos em quadra, anotou 11.8 pontos, 3.4 rebotes, 4.6 assistências e mais de 42% de aproveitamento nos arremessos.
—
Arcucci e Trenado finalizaram a entrevista com o seguinte texto:
“Houve um momento nesse ano em que Manu Ginóbili se sentiu um ex-jogador. Foi, com certeza, em algum momento vago durante o quarto ou sexto jogo da Final da NBA, em que seu San Antonio Spurs acabou perdendo para Miami Heat. ‘Joguei mal e acima de tudo meu time perdeu’ disse para definir sua impotência após verificar que o físico não responde a comandos dados pelo seu caráter vencedor, e a sensação de que estava lhe escapando sua última grande chance.
Mas não. Foi só um momento. Com 36 anos recém-completados, decidiu continuar lutando. Mais dois anos no Spurs. Com um contrato que a NBA, dura e cruel, não faz qualquer um nessa idade. Não há nada que Ginóbili não tenha feito, mas ainda há mais. Deixou isso transparecer na conversa, que não escondeu as fraquezas ou pontos fortes”.