Russell Westbrook é um ponto fora da curva. Antes de mais nada, essa frase não é uma crítica nem um elogio, mas um fato. Seus recordes inacreditáveis de triplos-duplos, sua energia em quadra, seus turnovers por vezes bisonhos e seus arremessos forçados de péssima qualidade são, no mínimo, extremamente incomuns de serem vistos na NBA. É raro um jogador apresentar um bom tão bom e um ruim tão ruim quanto Russ apresenta. Assim, torna-se compreensível de que Westbrook seja extremamente divisivo entre analistas e fãs do basquete (além, é claro, de sua forte personalidade e postura única também contribuir para tal).
Nesse sentido, os números são um recurso valioso para compreendermos seu jogo. Sua percepção para o público varia entre “jogador tóxico e incapaz de vencer” para “um dos maiores líderes da NBA e um dos melhores armadores de todos os tempos”. Mas, em que nível está o real impacto de Russell Westbrook dentro de quadra? Então, vamos destrinchar isso através de números objetivos e tentar chegar a uma possível resposta.
Estatísticas básicas
A princípio, quando falamos de números, é natural que se pensemos nas estatísticas básicas – pontos, rebotes e assistências – onde Westbrook é inacreditável. Porém, esses números passam longe de contar toda a história do que acontece em quadra. Além disso, dizem pouco sobre a performance de um jogador. Estatisticamente falando, pontos estão muito mais correlacionados à quantidade de arremessos tentados do que à sua capacidade de acertá-los. Em contrapartida, os rebotes defensivos, em muitos casos, são uma consequência do acaso e do esquema tático do que uma habilidade. E, por fim, as assistências dependem da capacidade dos companheiros em converter arremessos.
Claro, não é ruim ter grandes números no box score. Fazer pontos, pegar rebotes e dar assistências, por vezes, é um bom sinal, mas existem maneiras que considero mais efetivas de analisar a capacidade de pontuar, criar, ou pegar rebotes, que serão utilizadas para este artigo. A ideia será utilizar análises estatísticas mais avançadas em busca de compreender o impacto de Westbrook em múltiplas facetas do jogo, e compreender onde está sua produtividade, quando comparado ao restante da liga. Assim, serão utilizados dados das suas últimas cino temporadas na liga (incluindo a atual).
Pontuação
Vamos começar pela capacidade de pontuação. Sim, Russell Westbrook teve médias superiores a 20 pontos por jogo em todas as temporadas em questão (exceto em 2021-22, até o momento). Porém, a realidade é que ele tem sido terrível enquanto pontuador. O gráfico abaixo mostra o volume de arremessos tentados por jogo e a eficiência em tais arremessos de todas as temporadas de jogadores com volume total de tentativas. Vale ressaltar que a medida de volume é a de true shot attempts, que inclui faltas cavadas, e a de eficiência é a true shooting, que considera o fato de arremessos além do perímetro valerem mais pontos, e também inclui o aproveitamento de lances livres.
Além do fato de ele nunca estar sequer perto do aproveitamento médio da liga (linha branca), veja que Westbrook tem as piores temporadas no quesito de eficiência para jogadores de volume similar. Nenhum jogador na faixa de 17 a 20 arremessos por partida foi pior que Russ em 2022 em TS%, enquanto nenhum na faixa dos 20-23 foi pior que Westbrook em 2019, e nenhum na de 23 a 26 foi pior que a marca do armador em 2018. Trata-se, portanto, do pontuador mais ineficiente da liga, e provavelmente o mais prejudicial a seus times.
Bolas de três e arremessos de meia distância
A sua faceta mais criticada, enquanto pontuador, é referente ao arremesso de três pontos, ao qual se refere o gráfico abaixo:
Os números, de fato, confirmam que Russ é um arremessador muito ruim. Basicamente, em várias temporadas, ele foi o pior dentre os jogadores de volume similar. Contudo, vale ressaltar que ele não é possui alto número de tentativas, o que é uma virtude. Sim, Westbrook provavelmente deveria tentar ainda menos bolas do perímetro, mas ao menos ele parece ter ciência de que não é seu ponto forte. Já na meia distância…
Novamente, ele teve várias das piores temporadas para jogadores com volume semelhante. Pelo menos, Russ parece ter entendido que não é seu forte e passou a tentar poucos arremessos dessa região na atual temporada.
Ataque à cesta
Já no quesito de atacar o aro, é um pouco mais complexo:
Em termos de eficiência, Westbrook é um finalizador abaixo da média no aro. Porém, veja que seu aproveitamento “ruim” entre 2018 e 2021 ainda foi na casa dos 60% de TS%, que é uma jogada eficiente para padrões gerais. Além disso, o seu altíssimo volume de tentativas para um guard agregou bastante valor entre 2018 e 2020. Vale mencionar que seu aproveitamento caiu significativamente na atual temporada. Agora, com 55% de TS%, essa não é mais uma jogada tão boa assim.
Essa eficiência questionável, em geral, obviamente reflete em seu aproveitamento (pontos por posse) finalizando em jogadas de isolação e de pick-and-roll:
Perceba que várias das piores marcas de aproveitamento de mano a mano no período são de Russell Westbrook (menos de 0.8 pontos por posse é algo tenebroso). Ainda assim, ele apresentou um volume bem alto entre 2018 e 2021, que só parece moderado pelos dois pontos de aberração de James Harden no canto direito. Ao menos, Russ reduziu o volume na atual temporada.
Em pick-and-roll, seus aproveitamentos, ainda que na maioria dos anos sejam abaixo da média, não são tão ruins. Assim, para o padrão da jogada, ele foi até acima da média em 2020 (o super small ball do Houston Rockets o ajudou bastante).
Em suma, Russell Westbrook é um pontuador prejudicial a seus times, abaixo da média em todas as regiões da quadra e com dificuldades para ser produtivo em mano a mano e nos pick-and-rolls. Portanto, isso é algo bem complicado se considerarmos que ele tem dificuldades em ser útil sem a bola por conta de ser um armador péssimo arremessador.
Rebotes
Quanto aos rebotes, onde Russ é histórico para os padrões de um armador, é necessário apresentar uma métrica. A família de métricas do RAPM (será explicada mais adiante) apresenta uma estimativa do impacto de um jogador no percentual de rebotes pego pelo time. Ou seja, estima quanto um jogador ajuda o time a não ceder rebotes ofensivos, e a pegá-los, de modo que, indiretamente, valoriza mais rebotes “difíceis”, box outs e fatores do tipo. O gráfico abaixo mostra os impactos de rebotes da liga, ofensivamente e defensivamente:
Em 2017-18 e 2018-19, Westbrook teve certo impacto positivo nas tábuas, mas nada demais (exceto seu impacto em rebotes de ataque, em 2018, que foi significativo). Desde então, ele não tem ajudado suas equipes a serem melhores nessa área. No entanto, isso não quer dizer que ele pegar rebotes seja ruim para seu time. Na realidade, isso ajuda a trazer uma transição mais rápida, algo benéfico, Assim, o ponto é só que os rebotes que ele pega são consequências do esquema, e não valor adicionado pelo armador.
Assistências
Apesar de poder parecer até o momento, este texto não é só crítico a Russell Westbrook. Trata-se de um criador de jogadas fenomenal e que agrega um valor gigantesco ao passar a bola para os companheiros. Nesse sentido, acredito que ele seja injustiçado por apresentar momentos negativos caricatos. Dessa forma, não deixe eles te enganarem. Repito: Westbrook é um excelente passador.
Podemos definir posses usadas como a soma de arremessos tentados, faltas cavadas (que se transformam em lances livres), turnovers e assistências potenciais (passes para arremesso) de um jogador. Ou seja, em quantas posses um jogador tem papel determinante para o desfecho da jogada. Se cruzarmos as posses finalizadas com uma assistência potencial com as finalizadas de outras formas, conseguimos estimar a criação de um jogador por quanto ele tem a bola em mãos.
Assim, a linha branca mostra a quantidade esperada de assistências potenciais dadas para a usagem. Portanto, quanto mais acima da linha, mais valor enquanto passador é acrescentado.
Westbrook apresentou as três maiores marcas de assistências potenciais na liga, no período, e acrescentou muito valor em todas as temporadas (apesar de uma notável queda em 2021/22). Pouquíssimos jogadores são capazes de gerar tantos arremessos bons para os companheiros como ele.
Além disso, é visível que isso não se dá só por seu tempo prolongado com a bola em mãos. Ainda hoje, Russell Westbrook agrega muito valor enquanto passador.
Turnovers
Claro, existe a tão falada questão dos turnovers. O gráfico abaixo é equivalente ao anterior, mas para os desperdícios de bola. Dessa forma, quanto mais acima da linha, mais turnovers que o esperado pela usagem um jogador tem.
De fato, Westbrook tem um problema com turnovers. Entretanto, veja que esse saldo, especialmente de 2018 e 2020, foi bem pequeno. E, mesmo nos demais anos, não chegam perto da escala do valor que ele acrescenta com as assistências potenciais. Sim, desperdícios de bola são um problema, mas não apagam o fato de que se trata de um excelente passador.
Mas, afinal, como isso tudo se completa? A capacidade de passe compensa os problemas de pontuação? Russell Westbrook ajuda o time a vencer ou são estatísticas vazias?
Existe uma tese de que existem certos arremessos ruins que um time irá dar de qualquer forma. Portanto, nem todas as tentativas de pontuar serão fáceis. O estilo de Russ faz com que ele tenha a bola em mãos a maior parte do tempo e, de tal modo, tenha que tentar esses arremessos difíceis. Isso facilita a vida de seus companheiros, que ficam com os arremessos fáceis. Trata-se de uma tese plausível e que é possível verificar. Basta ver o quanto os times de Westbrook rendem melhor ofensivamente por conta de sua presença em quadra
Impacto
A melhor maneira de verificar o desempenho de um time é através do net rating, offensive rating e defensive rating. Entretanto, para sabermos o impacto de um jogador, precisamos comparar quão bem o time rende nos minutos em que ele está em quadra com aqueles em que ele está fora. Assim, podemos ter uma primeira estimativa do impacto ofensivo e defensivo de um jogador.
Porém, há um problema: se um jogador joga ao lado dos piores de seu time, contra os melhores do adversário, é esperado que a sua equipe caia de produção. Assim, o jogador em questão não é responsável por isso. Para corrigir isso foi criado o RAPM (Regularized Adjusted Plus Minus), uma estimativa de quanto um jogador ajuda o seu time a vencer. Vale ressaltar que tal métrica não considera as estatísticas de box score.
Aqui será usado o LA-RAPM, uma leve variação do RAPM que considera ajustes de sorte. Por exemplo, o fato de adversários arremessarem pior ou melhor do lance livre nos minutos em que um jogador analisado está em quadra não diz nada sobre suas capacidades defensivas. Ou seja, é puro acaso. Dito isso, vamos ver o LA-RAPM ofensivo e defensivo de Russell Westbrook:
Em 2017-18 e 18-19, Westbrook foi um jogador bastante positivo ofensivamente. Além disso, acrescentou valor defensivo. Apesar do péssimo papel de pontuador, sua incrível capacidade de criação o tornou uma estrela ofensiva. No entanto, em 19-20 e 20-21, seu valor ofensivo decaiu, mas houve valor defensivo adicionado.
Na atual temporada, o bom e o mau de Westbrook no ataque basicamente se equivalem. Além disso, a sua defesa tem sido bem prejudicial. Dessa forma, hoje ele é um jogador abaixo da média da NBA em termos de valor adicionado para vitórias.
Encaixe no Lakers
Assim, a queda ofensiva não se deve necessariamente a uma queda de talento. Há uma questão de encaixe. Para Westbrook acionar os companheiros, ele precisa da bola nas mãos, o que é mais raro quando você tem LeBron James (talento de elite enquanto passador e um pontuador muito mais eficiente) como companheiro de time. Se James está em quadra, não há motivos para deixar Russ comandar o ataque. Essa superposição de talentos tira boa parte do valor de Westbrook e explica sua queda de performance observada até enquanto passador.
Além disso, sua incapacidade de arremessar o torna pouco efetivo nos papéis sem a bola. Dessa forma, ele não acrescenta no ataque. Portanto, sobressai é a faceta do pontuador ineficiente. De tal modo, o atual Los Angeles Lakers mantém as piores características do armador em destaque, enquanto o contexto faz com que seus pontos positivos não sejam tão úteis para a equipe. Um efeito parecido pode ser observado em suas outras temporadas com ball handlers estrelas. Veja que suas temporadas com James Harden e Bradley Beal foram as outras de pior impacto ofensivo.
Portanto, Russ precisa da bola em mãos para ajudar o time a vencer, mas mesmo quando o faz, não é no mais alto nível. Sim, em 2017-18 e 2018-19 ele foi ótimo em impacto, mas não bom o suficiente a ponto de estar no topo, de ser o principal nome de um time campeão.
Conclusão
Essa é a dualidade de Russell Westbrook. Ao colocar a bola em suas mãos, o seu time produz bem, mas não possui um teto ofensivo tão alto. Em contrapartida, se ele está sem a bola nas mãos, simplesmente não é útil ofensivamente, o que torna a sua presença complicada para times serem campeões.
Entretanto, isso não faz com que ele seja um mal jogador. Sua capacidade de criar através de passes é fantástica, e ele pode auxiliar times com ataques engessados a serem ao menos produtivos o suficiente para competirem.
Westbrook não é um jogador de elite para auxiliar equipes a brigar por um título, mas também não é um caçador de estatísticas que não ajuda a vencer e atrapalha a produtividade de seus companheiros. Portanto, trata-se de um ótimo jogador para certos contextos específicos, e um abaixo da média para outros. Por fim, é bom deixar claro que, de qualquer forma, em qualquer contexto, Russell Westbrook é um jogador fascinante.
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