A temporada do Indiana Pacers é extremamente conturbada, com problemas de vestiário, inúmeras lesões, insatisfação com o técnico… algo bem surpreendente para uma das franquias mais estáveis da liga nos últimos anos. Dentro de quadra, isso se refletiu em um desempenho bem abaixo do esperado, com o time sendo forçado a jogar o play-in do Leste. É um pouco complicado falar de desempenho coletivo em meio a essa situação. Portanto, o foco será em entender o estilo de jogo da equipe e articular sobre o eterno dilema Myles Turner-Domantas Sabonis.
O Pacers é a definição de um time mediano, tendo ataque e defesa próximos à média da liga. Não se trata de uma equipe com problemas seríssimos em quadra. Só parece faltar capacidade em ser mais do que digno em quase todos os aspectos. Falando em estilo de jogo, o Indiana de 2020-21 é bem diferente do da última temporada. Até ano passado, o time era um dos que mais tentava bolas de meia distância, enquanto hoje é um dos que menos tenta. A filosofia de Nate Bjorkgren também favorece um ritmo de jogo acelerado (top 5 da liga), enquanto Nate McMillan pregava o contrário (um dos dez menores números de posses por partida).
Os jogadores do Pacers se movem muito em quadra (maior marca da liga). Em parte, isso é explicado pelo ritmo intenso, mas não totalmente. Em termos de velocidade de locomoção média dos jogadores, Indiana é o time que mais corre na liga. Os jogadores mal ficam nos dois lados da quadra. Todo o funcionamento em quadra provém dessa movimentação, já que a equipe usa poucas jogadas de pick-and-roll, de um contra um e de costas para a cesta (isto é, situações em que os próprios atletas que criam a jogada a finalizam), optando por muitos handoffs, tentativas de cortes para a cesta e uma dose relevante de arremessos através de corta-luzes.
Talvez parte disso não seja opção do técnico, e sim a falta de jogadores para executar bem o papel de criador. Não há nenhum grande criador no perímetro (o melhor jogador comandando pick-and-roll e em mano a mano é Malcolm Brogdon, que tem um aproveitamento ok, mas não excelente nas duas categorias, e nem uma real ameaça de costas para a cesta (Sabonis é extremamente ineficiente na jogada, com 0.85 pontos por arremesso, marca pior que a de dois terços da NBA). Desse modo, resta pontuar através do coletivo – que torna o ataque da equipe decente, mas não leva a um grande desempenho.
No outro lado da quadra, é inevitável falar de Myles Turner, um dos jogadores que cede menor aproveitamento a adversários no aro, além de ser uma gigantesca âncora defensiva. A defesa de Indiana cede 107.9 pontos por 100 posses com seu pivô titular, enquanto o número sobe para 112.6 sem o mesmo. Essa é a diferença entre a quarta e a 22ª defesas!
Porém, há um dilema no garrafão de Indiana: a equipe se sai muito melhor tendo apenas um entre Sabonis e Turner. O saldo de pontos da equipe por 100 posses com os dois juntos é -2.65, inferior a todas as outras variações da dupla – o que indica que um dificulta o jogo do outro. Com apenas o lituano em quadra, o ataque do time tem uma peça superior, mas a defesa sofre (tenebrosos 1.158 pontos por posse cedidos), enquanto com apenas Turner, a defesa flui bem melhor (107.5 de eficiência defensiva), mas não há tanta produção ofensiva.
Sabonis é um jogador que produz muito bem no ataque. Ele é uma engrenagem ofensiva valiosa e eficiente (60% True Shooting), enquanto Turner é uma âncora de defesa de elite. São perfis de jogadores extremamente importantes para uma equipe ter, mas esses dois jogadores em específico não parecem capazes de conviver em quadra, com um atrapalhando o impacto do outro. Parece-me que o Pacers precisa escolher um dos dois…
No geral, o estilo de jogo implantado pelo Pacers é interessante, com seu alto ritmo, movimentação de jogadores e perfil ofensivo diferente do padrão da NBA atual. Porém, a falta de criadores de altíssimo nível, as lesões e problemas internos o fizeram em um time mediano. Com todos os desfalques, imagino que não passe do play-in, mas há peças e ideias interessantes na equipe, que se reorganizar, pode evoluir na próxima temporada.
* Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)