Depois de publicada a análise dos times que tiveram escolhas de loteria, chegou a hora de apresentar as avaliações das picks restantes de primeira rodada e destacar os “achados” no Draft.
Antes da segunda e última parte da análise do recrutamento, gostaria de deixar registrado o agradecimento da equipe do Jumper Brasil a vocês, caros leitores, que tanto nos prestigiaram nas postagens sobre o Draft durante toda a temporada. Em sua oitava cobertura do recrutamento, o site publicou a ficha de 49 prospectos desde meados de abril, fez mais um programa ao vivo que adentrou a madrugada e trouxe informações sobre todos os 60 atletas escolhidos.
Nos vemos na próxima temporada, com mais uma cobertura (a nona) sobre o Draft da NBA.
Washington Wizards
Escolhas: Troy Brown (15) e Issuf Sanon (44)
Avaliação: Há pouco tempo saiu a notícia de que o Wizards pretende se livrar de algum de seus pivôs – Marcin Gortat / Ian Mahinmi, que não são nada atléticos. Com a folha salarial engessada, a impressão que muita gente tinha era a de que o time de Washington colocaria à disposição para trocas um pacote contendo a escolha de primeira rodada deste ano e, muito provavelmente, Gortat. Não veio a troca e o Wizards manteve a pick. Sinceramente, achei que a equipe da capital norte-americana fosse selecionar o pivô Robert Williams, que tem atributos físico-atléticos de elite e um potencial para tornar-se um protetor de aro de alto nível na NBA. Ledo engano. O Wizards selecionou Troy Brown, que deve ajudar na rotação das alas. Um dos prospectos mais jovens deste ano, o ex-jogador da Universidade de Oregon tem um alto QI de basquete e é capaz de criar oportunidades para os companheiros. Brown possui habilidade para iniciar as ações ofensivas como ballhandler secundário, tem controle de bola elogiável e sente-se muito confortável operando no pick-and-roll. Além disso, ele traz versatilidade defensiva, ao combinar seus atributos atléticos com a leitura avançada de jogo para defender múltiplas posições com eficiência. O problema é que Brown não é uma ameaça nos chutes do perímetro, já que sua mecânica de arremesso é problemática, e tem dificuldades em criar espaço após o drible. Em tese, ele pode funcionar bem como ballhandler vindo do banco, ao lado de companheiros capazes de espaçar a quadra, e em uma formação de small ball. Como disse, ele não seria a minha primeira opção a essa altura, mas entendo o que o Wizards planeja ao selecionar Brown.
Na segunda rodada, o time de Washington selecionou um prospecto estrangeiro. O combo guard ucraniano Issuf Sanon deverá ficar mais algum tempo no basquete europeu (stash). Não tenho dúvidas de que o jovem de 18 anos foi escolhido por conta da boa impressão deixada no NBA Global Camp 2018. Atlético, Sanon mostrou ser polido em termos de criação de arremessos, tem um ótimo controle corporal, capacidade de trabalhar em diferentes velocidades e de converter arremessos após o drible. Ele não é um produto pronto, já que precisa melhorar seus passes e tomadas de decisões. Vai ficar na Europa para amadurecer. Aqui, o Wizards foi muito bem.
Philadelphia 76ers
Escolhas: Zhaire Smith (16), Landry Shamet (26) e Shake Milton (54)
Avaliação: O Sixers teve a chance de escolher o encaixe perfeito para o time, tanto que selecionou o ala Mikal Bridges na décima escolha. Essa era uma pick cantada em nove de cada dez Mocks. Campeão universitário por Villanova e natural da Philadelphia, Bridges jogaria em casa. Só que o Sixers preferiu negociar o ala com a intenção de angariar um prospecto que seria selecionado em uma pick mais baixa e que agradou bastante ao time nos workouts: Zhaire Smith, que saiu na 16. De quebra, ainda recebeu do Suns uma futura escolha de primeira rodada (2021) desprotegida. A negociação parece que agradou aos dois lados. Ao contrário de Bridges, Smith não é um 3 and D e não está pronto para contribuir de imediato. Ele é um projeto de médio e longo prazo. Mas o prospecto de 18 anos talvez seja o mais atlético da classe deste ano e tem um grande teto para evolução. A combinação ferramentas físico-atléticas de elite e alto QI de basquete pode lhe render uma carreira longa na NBA. Smith possui atributos físico-atléticos de elite e potencial para se tornar um defensor de alto nível. Ele exibe versatilidade defensiva, pois consegue marcar com eficiência as três posições do perímetro. No entanto, Smith precisa evoluir seu controle de bola e as habilidades como criador de jogadas, especialmente no jogo de meia-quadra. Falta polidez ofensiva em seu jogo e sua mecânica de arremesso é problemática. Se Smith evoluir o esperado, o Sixers pode ter conseguido um novo Andre Iguodala. Portanto, ao ficar com um jogador que queria e, ainda por cima, angariar mais uma escolha de primeira rodada, não dá para criticar a movimentação feita pelo time da Philadelphia, por mais que Bridges fosse um encaixe perfeito em uma equipe que planeja se fixar no topo.
Na pick 26, o Sixers escolheu o combo guard Landry Shamet, considerado um dos melhores arremessadores da classe deste ano. Dotado de alto QI de basquete, ele ataca closeouts com inteligência e é um ótimo cutter (jogador que se movimenta subitamente buscando uma melhor posição para finalizar). Shamet não precisa da bola nas mãos para ser útil, pois sabe se posicionar e movimenta-se muito bem sem a bola. Encaixe perfeito com Ben Simmons.
Na segunda rodada, o time da Philadelphia selecionou outro combo guard. Shake Milton chegou a ser cotado como escolha de primeira rodada, mas caiu bastante nas últimas projeções. Apesar da concorrência pesada na posição, ele pode ser um steal na pick 54. Dono de atributos atléticos de elite e um sólido controle de bola, Milton consegue enxergar o jogo sobre o adversário, sobretudo pelo seu tamanho e consegue dar bons passes acima do marcador. Sua mecânica de arremesso é elogiável e ele foi um dos melhores chutadores de perímetro na última temporada da NCAA. Eficiente com e sem a bola nas mãos, Milton não precisa necessariamente ser o playmaker principal. Assim como Shamet, ele é um ótimo encaixe com Ben Simmons. Ele deverá passar a maior parte da temporada na G League.
Em suma, gostei das escolhas do Sixers. Com a saída do GM Bryan Colangelo, o técnico Brett Brown teve plenos poderes para fazer as movimentações na noite do Draft e não decepcionou.
Milwaukee Bucks
Escolha: Donte DiVincenzo (17)
Avaliação: A opção por Donte DiVincenzo é perfeitamente compreensível para um time que acabou de contratar Mike Budenholzer, que adora montar ataques que privilegiam a movimentação de bola e tenham versatilidade, bons criadores e arremessadores do perímetro. Eleito melhor jogador da final do basquete universitário, DiVincenzo subiu bastante nas projeções devido a um desempenho acima da média no Draft Combine e saiu em uma posição que poucos imaginavam. Combo guard dotado de atributos físico-atléticos de elite, ele é capaz de criar o próprio arremesso, tem uma leitura avançada de jogo, não precisa da bola nas mãos para ser útil e opera com facilidade no pick-and-roll. DiVincenzo ainda esbanja vigor na defesa, pois adora competir e pressionar o adversário que está com a bola. Pode funcionar como um bom complemento para Eric Bledsoe, Malcolm Brogdon e Khris Middleton e ser muito útil no sistema de jogo a ser implementado por Budenholzer. A essa altura, eu iria de Kevin Huerter, que me parece um jogador com mais qualidades e que também seria um ótimo fit nesse novo Bucks, mas a escolha por DiVincenzo é perfeitamente compreensível.
San Antonio Spurs
Escolhas: Lonnie Walker (18) e Chimezie Metu (49)
Avaliação: Mais um recrutamento em que não concordo muito com a escolha feita pelo Spurs. Em 2016 não curti a opção por Dejounte Murray. Dois anos depois, o jovem armador ganhou a condição de titular e foi eleito para o segundo time de defesa da NBA. Nunca duvide do Spurs, Gustavo. E cá estou novamente com um pé atrás, mas com o feeling de que vou quebrar a cara mais uma vez. Walker não rendeu o esperado no College e teve uma temporada de muitos altos e baixos em Miami, mas possui upside nos dois lados da quadra. Ele tem atributos físico-atléticos invejáveis e é um grande finalizador em torno da cesta, pois é capaz de protagonizar lances plásticos e bastante criativos que irão figurar nos highlights da rodada. Walker também exibe um interessante potencial criando o próprio arremesso e tem as ferramentas atléticas para se tornar um versátil defensor na NBA. No entanto, ele não parece ser o jogador mais inteligente, técnico ou instintivo em quadra. Walker apresenta noções, muitas vezes, bem rudimentares de ângulos, trabalho de pés e compreensão da dinâmica do jogo. Além disso, sua seleção de arremessos é bastante problemática. O Spurs parece o cenário ideal para desenvolver um prospecto marcado pela inconsistência no nível universitário, mas com grande teto de evolução. Não duvido nada que Gregg Popovich e seu gabaritado staff técnico consigam transformar Walker em um grande jogador de basquete.
Na segunda rodada, o Spurs selecionou o pivô Chimezie Metu, que é um razoável protetor de aro, mas que ainda não tem a força física suficiente para encarar os pivôs da NBA. Metu é um big man atlético, dotado de grande explosão e que finaliza bem ao redor da cesta (alvo frequente de pontes aéreas e enterradas). Porém, não exibe um arremesso consistente e não é dos mais qualificados tecnicamente. Metu deverá passar a maior parte da temporada na G League.
Minnesota Timberwolves
Escolhas: Josh Okogie (21) e Keita Bates-Diop (48)
Avaliação: O Timberwolves selecionou um jogador que pode preencher lacunas consideráveis na equipe. O nigeriano Josh Okogie é um ala-armador dotado de atributos físico-atléticos de elite, explosivo e que consegue criar para si e para os companheiros. Agressivo, ele consegue chegar à cesta sem muitos problemas, utiliza bem seu corpo para absorver contato nas infiltrações no garrafão adversário, tem facilidade para atacar closeouts e é um ótimo cutter (jogador que se movimenta subitamente buscando uma melhor posição para finalizar). De quebra, Okogie é um sólido defensor, especialmente no um contra um. Entretanto, ele tem uma mecânica de arremesso problemática e uma questionável seleção de chutes. Além disso, seu controle de bola é apenas mediano e ele peca na tomada de decisões, pois abusa do atleticismo e não é muito de pensar o jogo, de manipular as defesas adversárias, o que suscita dúvidas quanto à sua efetividade no jogo de meia-quadra na NBA. Mas o aspecto que o Timberwolves mais precisa trabalhar com Okogie é o mental. Ele tem uma linguagem corporal e mentalidade questionáveis, pois é fácil notar quando está frustrado, quando as coisas começam a não dar muito certo e ele perde o foco nos dois lados da quadra. Jimmy Butler pode e deve servir como influência positiva para o jovem nigeriano.
Na segunda rodada, o time de Minnesota conseguiu um verdadeiro achado. O versátil ala Keita Bates-Diop era projetado como escolha de primeira rodada, mas caiu inexplicavelmente até a pick 48. O Timberwolves não titubeou e selecionou outro jogador com características que a equipe necessita. Bates-Diop é um combo forward que espaça a quadra e ainda se garante na defesa. Por isso, ele é projetado para ser um 3 and D na NBA. Apesar de ser considerado baixo para a posição 4 (2.04m), ele tem uma envergadura invejável (2.21m) e exibe versatilidade defensiva – ótimo timing para dar tocos, grande defensor no um contra um e no pick-and-roll, não se perde nos bloqueios e marca quase sempre com os braços estendidos. Dono de um ótimo controle corporal, Bates-Diop é capaz de criar o próprio arremesso e tem facilidade de gerar separação para os marcadores. Possui um turnaround jumper quase letal na meia distância. Porém, ele não é dotado de atributos físico-atléticos de elite, exibe problemas no controle de bola e carece de um primeiro passo de elite após o drible. Bates-Diop tem poucas lacunas em seu jogo e não oferece muito upside. Melhorou ano a ano no basquete universitário, mas dá a impressão de que atingiu o teto como atleta. Escolha segura do Timberwolves e Bates-Diop é um candidato a steal.
Utah Jazz
Escolha: Grayson Allen (21)
Avaliação: O Utah Jazz selecionou o outrora polêmico Grayson Allen na escolha 21. O ex-jogador de Duke possui uma reputação de jogador destemperado, explosivo e até sujo, o que ele garante ter ficado para trás. Apesar disso, considero uma boa escolha por parte do time de Salt Lake City. Allen é um combo guard que pode funcionar perfeitamente em Utah, seja com Ricky Rubio ou com Donovan Mitchell. Arremessador eficiente e dinâmico, ele é capaz de exercer a função de um ballhandler secundário no próximo nível por conta de sua evolução sensível como criador e iniciador de jogadas. Além disso, ele é um dos prospectos que melhor movimenta-se sem a bola. Constantemente subestimada, sua condição atlética ganhou destaque com alguns dos resultados dos testes do Draft Combine. Allen é um jogador que costuma corresponder em termos de entrega e competitividade em quadra. No entanto, ele não é um grande finalizador em torno da cesta, também não é particularmente criativo como passador, e seu rendimento defensivo deixa a desejar. Ter sido escolhido pelo time com a segunda defesa mais eficiente da NBA parece ser um cenário perfeito para Allen.
Indiana Pacers
Escolhas: Aaron Holiday (23) e Alize Johnson (50)
Avaliação: Cotado para ser escolhido logo após a loteria, Aaron Holiday foi um achado para o Indiana Pacers na pick 23. Com Darren Collison e Cory Joseph entrando no último ano de contrato, o time de Indianápolis visualizou a oportunidade perfeita para trazer um novo armador. Irmão mais novo de Jrue e Justin, Holiday é um jogador veloz com a posse da bola, que sabe “dividir” marcações duplas e ataca a cesta com excelente controle de corpo para cavar faltas. Além disso, ele é um dos melhores chutadores da classe e mostra potencial como um criador de arremessos para si próprio, pela capacidade de gerar separação para os marcadores e arremessar em progressão. Seu potencial defensivo é maior do que parece, já que possui boa agilidade lateral para impedir infiltrações, além de sua combinação de força e envergadura sugerir que possa ser um ótimo marcador no um contra um. Entretanto, sua condição atlética e explosão não soam particularmente impressionantes e seu controle de bola não é dos mais refinados. Holiday não é um armador que controla o ritmo do jogo, tenha apurada visão de quadra ou faça leituras avançadas das defesas que enfrenta. Geralmente, ele joga em uma (e só uma) velocidade: rápido. Não por acaso, Holiday é comparado com Collison, seu novo companheiro de time. Por tudo o que foi dito, ele é um bom encaixe com a estrela do Pacers, Victor Oladipo.
Na segunda rodada, o time de Indiana selecionou o ala-pivô Alize Johnson. Reboteiro de primeira linha e dono de atributos atléticos de elite, o ex-jogador de Missouri State atua sempre com muita disposição e energia e evoluiu como passador no post. Agressivo no ataque à cesta, Johnson tem um arremesso pouco consistente na média e longa distância e deixa a desejar como defensor. Ele também precisa ganhar massa muscular para enfrentar o jogo mais físico no nível profissional. Muito provavelmente, Johnson deverá passar boa parte da temporada na G League.
Portland Trail Blazers
Escolhas: Anfernee Simons (24) e Gary Trent Jr. (37)
Avaliação: Com a folha salarial engessada e um elenco que não condiz com os gastos anuais, o Blazers utilizou suas duas escolhas no recrutamento deste ano para selecionar dois jogadores da mesma posição e que não devem contribuir de imediato para a equipe. Na primeira rodada, a opção foi Anfernee Simons, único prospecto que fez mais de um workout para o time de Portland. O Blazers realmente gosta do estilo de jogo de Simons e acredita na evolução de um dos dez melhores prospectos colegiais da classe de 2017. Vindo direito do high school, ele ainda soa como uma criança do ponto de vista físico. Só que Simons é um prospecto atleticamente fantástico: fluido e explosivo, movimenta-se com notável leveza pela quadra e sua impulsão realmente impressiona. Seu controle de bola é muito bom e ele é um excelente e dinâmico arremessador, com mecânica de chute rápida. O grande diferencial de Simons está em uma habilidade natural e já avançada de criar arremessos para si próprio: gera separação para os marcadores fluidamente, saindo do drible com extrema coordenação. Quando empenhado, ele já exibiu flashes de boa capacidade defensiva: sua agilidade lateral está em nível para acompanhar armadores rápidos. Porém, Simons tem uma visão de quadra absolutamente nula e sua seleção de arremessos e tomada de decisão em quadra deixam a desejar, o que é compreensível para um jogador que não passou pelo nível universitário. Pelo inegável upside, vale a aposta no fim da primeira rodada. Simons é muito mais um projeto para ser deixado por algum tempo na G League e adaptar-se ao jogo profissional do que alguém para entrar na rotação e jogar na NBA imediatamente.
Na segunda rodada, o Blazers selecionou Gary Trent Jr., filho do ex-ala-pivô que atuou em Portland entre 1995 e 1998. O ala-armador oriundo de Duke está mais pronto que Simons, mas também deve passar um período na G League. Trent Jr. sabe atacar closeouts e tem um arremesso consistente do perímetro. Seu controle de bola parece ser adequado e bastante seguro para um jogador da posição, sem tendência a “inventar”. Na NBA, ele deverá ter um papel ofensivo semelhante ao que teve no College: ser um arremessador em situação de spot up, já que tem dificuldades para criar o próprio chute. Vale dizer ainda que Trent Jr. passa longe de ser um atleta de elite: não se trata de alguém particularmente explosivo e sua velocidade está abaixo da média de um atleta de perímetro da NBA.
A meu ver, o Blazers poderia ter selecionado ao menos um prospecto mais pronto para contribuir de imediato, como Landry Shamet, Jacob Evans, Khyri Thomas, Jevon Carter e Bruce Brown. Com pouca flexibilização salarial, o time de Portland, hoje, não tem um reserva imediato para Damian Lillard, e possui apenas C.J. McCollum e Evan Turner para complementar o backcourt. Como continuar competitivo em uma conferência Oeste com cada vez mais times qualificados? Enfim, não gostei do recrutamento feito pelo Blazers.
Los Angeles Lakers
Escolhas: Moritz Wagner (25), Isaac Bonga (39) e Sviatoslav Mykhailiuk (47)
Avaliação: Elogiado por conta do recrutamento de 2017, quando foi extremamente feliz nas escolhas de fim de primeira rodada (Kyle Kuzma e Johs Hart), o Lakers, a meu ver, não foi tão bem este ano. Na pick 25, o escolhido foi o big man alemão Moritz Wagner, destaque da Universidade de Michigan, vice-campeão do último torneio da NCAA. Wagner é um autêntico stretch five que possui um chute consistente do perímetro e mostra muita eficiência nas situações de pick-and-pop. Bom arremessador de média e longa distância, ele tem a capacidade de chutar em movimento que poucos atletas de garrafão costumam ter. Além disso, seu controle de bola é muito avançado para um pivô. Ele possui a versatilidade para atacar closeouts e tentar infiltrações partindo do perímetro. O alemão comete pouquíssimos erros de ataque para um atleta com seu volume e recursos ofensivos, produto direto de uma tomada de decisões segura e inteligente na maior parte do tempo. No entanto, ele deixa a desejar no ponto de vista físico-atlético. Wagner precisará de um trabalho físico específico para atuar como pivô na NBA e aguentar o jogo mais físico. Ele é um reboteiro ofensivo dos mais inexpressivos por causa de suas limitações físicas e atléticas, e já apresentou sérias dificuldades no confronto com outros prospectos e atletas de elite dentro dos garrafões do basquete universitário: Wagner simplesmente sofre para manter espaço perto da cesta e finalizar contra adversários mais longos. É complicado não projetar o alemão como um pivô que vai ter muitas dificuldades para defender em espaço, sendo forçado a trocas no perímetro e obrigado a acompanhar armadores mais rápidos. Em suma, ele não é um bom encaixe para o que pede a NBA atual, e dificilmente terá a condição de titular na liga. Foi especulado durante semanas que o pivô Mitchell Robinson tinha a promessa de ser escolhido pelo Lakers, algo que acabou não se concretizando.
Na segunda rodada, o Lakers selecionou mais dois prospectos estrangeiros: Isaac Bonga e Sviatoslav Mykhailiuk. O ala-armador alemão tem apenas 18 anos e deverá continuar atuando mais algum tempo na Europa. Bonga tem grande altura (2.05m) e envergadura (2.13m) para um jogador da posição, enxerga passes e ângulos por cima da defesa. Ele é um passador avançado e criativo, muitas vezes jogando de ballhandler primário, e exibe visão de quadra acima da média para alguém com seus atributos físicos. Bonga possui ótimo QI de Basquete, mostra boa compressão do jogo ao seu redor nos dois lados da quadra e oferece muito upside. Aposta mais do que válida feita pelo Lakers.
Na pick 47, o escolhido foi o também ala-armador Sviatoslav Mykhailiuk. Apesar de ter apenas 20 anos, o ucraniano completou o ciclo universitário por Kansas. Seus pontos fortes são o arremesso consistente do perímetro e a movimentação sem a bola (ótimo cutter). Aliás, seu aproveitamento nos chutes de longa distância foi superior aos de dois pontos na última temporada, o que demonstra sua extrema dificuldade em finalizar em torno da cesta. Outro detalhe referente a Mykhailiuk que chama a atenção: ele tem 2.02m de altura e 1.95m de envergadura. É o famoso ‘braço de Jacaré’.
Boston Celtics
Escolha: Robert Williams(27)
Avaliação: Eu simplesmente não acreditei que, à medida em que o recrutamento foi se desenrolando, Robert Williams simplesmente era ignorado pelas equipes. Cotado para ser uma escolha de final de loteria, o ex-pivô de Texas A&M sobrou até cair no colo do Celtics na pick 27. Por isso, ele é o grande candidato a steal do Draft. Segundo a imprensa norte-americana, vários times ficaram com um pé atrás em selecioná-lo por conta de alguns fatores: uma potencial lesão no joelho, comportamento questionável e por não ter apresentado a melhor forma física nos workouts. Apesar desses problemas, o Celtics foi muito feliz em não deixá-lo passar. E Williams deve ficar muito agradecido por ter sido escolhido por uma franquia organizada, que tem um técnico de muita capacidade e que pode extrair o máximo do jogador. Ele é um pivô dotado de atributos físico-atléticos de elite – ágil, corre a quadra com fluidez, salta bastante, tem uma envergadura invejável (2.21m) e está pronto fisicamente para encarar o basquete profissional. Williams é um eficiente finalizador ao redor da cesta, alvo fácil de pontes-aéreas, um rim runner de primeira linha. Além disso, ele tem potencial para tornar-se um protetor de aro de alto nível na NBA – timing impressionante para dar tocos, boa capacidade de antecipação graças à sua agilidade lateral, excelente nas coberturas defensivas, não foge do jogo físico. Williams é o cara perfeito para fazer o ‘trabalho sujo’ no garrafão. Quanto aos pontos negativos, ele tem uma mecânica de arremesso pouco confiável e seu jogo ofensivo é praticamente nulo fora do garrafão (pontua basicamente através de enterradas e pontes-aéreas). Vale dizer que o esquema de Texas A&M de jogar com dois pivôs prejudicou seu desenvolvimento no ataque. Williams possui todas as ferramentas físicas para se tornar um defensor de elite, mas ainda peca na falta de concentração e disciplina nesse lado da quadra. Às vezes, ele simplesmente desaparece das partidas. O jovem pivô precisa ser mais consistente e focado em quadra. O Celtics terá que ter calma e trabalhar a cabeça de Williams. Imaturo, ele foi suspenso por três jogos na última temporada por conduta prejudicial à equipe. A influência positiva de Al Horford deverá ser utilizada para que Williams alcance o seu potencial e seja um profissional exemplar. O novo jogador do Celtics começou a sua trajetória em Boston de uma maneira pouco recomendada: ele admitiu que dormiu demais e perdeu a coletiva de apresentação, na manhã dessa sexta-feira.
Golden State Warriors
Escolha: Jacob Evans (28)
Avaliação: O atual bicampeão da NBA, mais uma vez, fez uma escolha sólida no recrutamento. NA pick 28, o Warriors selecionou o ala Jacob Evans, considerado um dos melhores defensores de perímetro no basquete universitário. Possui ótimo timing para dar tocos, é um grande marcador no um contra um e no pick-and-roll – não se perde nos bloqueios, defensor agressivo e que marca quase sempre com os braços estendidos. Sólido atleta, Evans tem uma envergadura elogiável (2.06m) e força física necessária para encarar o basquete profissional. Além disso, ele não precisa da bola nas mãos para se destacar, pois é um bom chutador do perímetro, especialmente nas situações de catch and shoot e sua mecânica de arremesso é elogiável. Evans exibe boa visão de quadra, cuida bem da bola, faz o básico e não força passes. Ele entende bem o seu papel em quadra e é disciplinado. Protótipo de 3 and D, tão em alta na NBA, com o plus de ser um criador de jogadas, Evans tem tudo para estabelecer uma carreira sólida como role player.
No entanto, ele não é dos mais atléticos para a posição, carece de um primeiro passo de elite após o drible e não é muito agressivo no ataque à cesta. Apesar das poucas lacunas em seu jogo, não demonstra excelência em nenhuma área específica.
Em suma, Evans foi uma ótima escolha do Warriors e tem tudo para contribuir de imediato. Muitos se esquecem que a base do time californiano que faz sucesso na NBA nos últimos quatro anos foi montada graças a bons recrutamentos: Stephen Curry (7), Klay Thompson (11), Draymond Green (35), Kevon Looney (30), Patrick McCaw (38) e Jordan Bell (38). Nenhum deles foi escolha TOP 5.
Brooklyn Nets
Escolhas: Džanan Musa (29) e Rodions Kurucs (40)
Avaliação: Aos poucos, o Nets vai se reerguendo depois da famosa e desastrosa troca com o Boston Celtics feita em junho de 2013. No recrutamento passado, o time do Brooklyn selecionou o pivô Jarrett Allen, que terminou bem a temporada e atuando como titular. Sem contar as escolhas adquiridas de outros times que viraram Rondae Hollis-Jefferson e Caris LeVert, dois jogadores sólidos na equipe. Neste ano, o Nets selecionou dois prospectos internacionais. No fim da primeira rodada, o escolhido foi o ala Džanan Musa, de 19 anos. Poucos imaginavam que o bósnio sobrasse na pick 29. O GM Sean Marks não pensou duas vezes e escolheu um dos atletas europeus mais promissores dos últimos anos. Muita experiente no nível profissional, Musa estreou na Euroliga aos 16 anos de idade e já possui minutos relevantes desde os 17. Ele é um dos atletas mais competitivos do Draft e possui instintos como pontuador muito elevados para alguém de sua idade: capaz de criar o próprio arremesso em jogadas de isolation ou pick-and-roll, possui conjuntos de dribles avançados como stepbacks, crossovers eshamgods, busca criar seperação. No entanto, Musa não é um jogador explosivo, deixa a desejar quanto aos atributos físico-atléticos, não é muito de passar a bola e é muito limitado na defesa. Sua postura corcunda, quase sempre com as costas curvadas, faz com que jogue menor do que sua altura real (2.06m). Em termos de personalidade, Musa lembra um pouco o croata Mario Hezonja (excessiva autoconfiança e postura questionável fora de quadra), o que é temeroso. Na coletiva de apresentação, Musa revelou que suas maiores inspirações no basquete são Kobe Bryant (pela mentalidade Mamba) e Manu Ginobili (pela liderança).
Na segunda rodada, o escolhido foi o também ala Rodions Kurucs. O jogador letão tem um excelente conjunto de tamanho, braços longos e força para ser um ala no nível da NBA, podendo ainda atuar na posição de ala-pivô em formações com quatro jogadores abertos. Seus atributos físicos lhe dão versatilidade defensiva para defender múltiplas posições no basquete profissional. Além disso, Kurucs é muito versátil ofensivamente: ele é capaz de atacar a cesta usando passadas largas, arremessar com dinamismo e passar a bola em movimento, estilo que se encaixa na NBA em esquemas de passe-drible-chute, tão em alta na liga. Sua mecânica de arremesso é alta e compacta, e ele já mostrou versatilidade para arremessar após o drible ou saindo de corta-luzes. Kurucs exibe potencial para ser um arremessador dinâmico em todo o canto da quadra. Porém, o jogador letão é um arremessador inconsistente e não possui agilidade lateral de elite, o que pode lhe trazer problemas contra jogadores muito explosivos ou velozes na NBA. Ele também não costuma tomar as melhores decisões com a bola em mãos – muitos chutes contestados e visão de túnel em infiltrações. Assim como Musa, Kurucs também tem uma personalidade forte e não costuma medir as palavras, tanto que já chegou ao Nets dizendo que está louco para enfrentar seu compatriota Kristaps Porzingis, do rival New York Knicks, e que seu estilo de jogo é semelhante ao de Gordon Hayward, do Boston Celtics.
O cenário parece ser perfeito para a dupla de europeus, já que o Nets é um time em fase de reconstrução, cheio de jovens no elenco e que não está queimando etapas nesse processo.
Detroit Pistons
Escolhas: Khyri Thomas (38) e Bruce Brown (42)
Avaliação: Sem escolha de primeira rodada graças à negociação que culminou na chegada de Blake Griffin à equipe, o Pistons fez um grande trabalho com as duas picks de segunda rodada. O time de Detroit selecionou dois jogadores prontos para encarar o basquete profissional e considerados grandes defensores de perímetro. Apesar da baixa estatura para a posição (1.92m), Khyri Thomas tem uma envergadura invejável (2.10m) e força física necessária para atuar na NBA, o que lhe permite marcar todas as três posições do perímetro. Ele é agressivo na marcação individual, utiliza muito bem seus braços longos para antecipar linhas de passe e contestar arremessos. Thomas não precisa da bola nas mãos para ser útil, é um excelente chutador do perímetro e tem capacidade de criar para os companheiros. Em suma, ele é um autêntico protótipo de 3 and D, tão em alta na NBA. Mas vale dizer que Thomas não é dos mais atléticos para a posição, não tem um primeiro passo explosivo, não é agressivo no ataque à cesta, e exibe um controle de bola apenas mediano e pouca variedade de dribles. Cotado para sair na primeira rodada do recrutamento, Thomas pode ser considerado um steal a essa altura.
Já Brown, selecionado na 42, é um atleta explosivo com um físico já bem desenvolvido. Ele opera de forma mais assertiva em transição, movimenta-se para preencher linhas de passe nos contra-ataques quando está sem a bola e, com a posse, usa o perfil atlético para atacar agressivamente em quadra aberta. Brown vem atuando cada vez mais (e evoluindo) como um iniciador do ataque: sabe utilizar bloqueios para criar espaço e ver por cima das defesas, e melhorou a visão de quadra sensivelmente no último ano. É um dos melhores guards reboteiros do recrutamento, se não for o melhor. Usa o corpo para proteger espaço e pegar rebotes defensivos e, do outro lado, não hesita em atacar a tábua contra atletas mais altos. Brown exibe potencial para ser um excelente marcador individual no nível profissional, pois combina recursos atléticos de elite com braços longos e uma disposição natural para enfrentar o jogo mais físico. Ele também sai de bloqueios com facilidade quando está focado e possui capacidade de trocar marcações no perímetro. Agilidade lateral e força física conferem-lhe potencial para defender até quatro posições diferentes. Entretanto, não é dono de um controle de bola particularmente refinado: seu drible é alto e exibe dificuldades para mudar de direção, o que limita sua capacidade de criar separação para marcadores. Brown retrocedeu bastante como arremessador na temporada passada, apesar de ter uma mecânica de arremesso sólida, e ele não soa como um jogador de basquete com instintos dos mais apurados.
Houston Rockets
Escolhas: De’Anthony Melton (46) e Vince Edwards (52)
Avaliação: Outro steal na segunda rodada foi angariado pelo Rockets. Projetado para sair ao final da primeira rodada, o combo guard De’Anthony Melton sobrou até a metade da segunda rodada e o time de Houston não hesitou em selecioná-lo. Aos 19 anos, ele já possui um físico bem desenvolvido, forte o bastante para a competição profissional. Melton se destaca quando opera em transição e mostra instintos agressivos e alta capacidade de finalização em velocidade. Além disso, ele é um ótimo defensor no um contra um: força o jogo mais físico para fechar espaços e evitar infiltrações dos defensores, pressiona o homem da bola com mãos rápidas e move-se lateralmente com agilidade. Melton apresenta uma compreensão natural e avançada da dinâmica defensiva, com uma combinação raríssima de instintos apurados, inteligência e atenção nas ações e trocas de marcação fora da bola. Seu calcanhar de Aquiles é o arremesso inconsistente: a forma pode ser boa, mas o chute de Melton é ruim e deverá ser facilmente explorado entre os profissionais. Ele também não é capaz de criar o próprio arremesso contra defesas consolidadas, possui baixa eficiência arremessando em movimento e seu controle de bola deixa a desejar. Vale dizer que o envolvimento em um esquema de pagamentos ilegais para ser recrutado para a USC, além da saída voluntária do basquete universitário por um ano, criam algumas dúvidas sobre sua integridade e background.
Na pick 52, o Rockets selecionou o combo forward Vince Edwards. Forte fisicamente e dono de um arremesso consistente do perímetro (aproveitamento de quase 40%), o ex-jogador de Purdue também é um bom reboteiro, movimenta-se muito bem sem a bola (ótimo cutter) e consegue criar jogadas para os companheiros (passador em franca evolução). Pode funcionar bem no esquema do time de Houston que privilegia os chutes de longa distância. Em linhas gerais, o Rockets conseguiu recrutar dois bons prospectos na segunda rodada.
New Orleans Pelicans
Escolha: Tony Carr (51)
Avaliação: Na única escolha que teve no recrutamento, o Pelicans selecionou o armador Tony Carr. O ex-jogador de Penn State foi um dos cestinhas mais produtivos na última temporada do College. Ele não é um passador do mais criativos, tem uma questionável seleção de arremessos e deixa a desejar na defesa, mas tem um chute consistente do perímetro (aproveitamento acima de 43%) e pode funcionar muito bem sem a bola nas mãos. Além disso, ele não foge da responsabilidade nos momentos decisivos das partidas. Aposta válida a essa altura. Carr deverá passar o primeiro ano na G League.
Oklahoma City Thunder
Escolhas: Hamidou Diallo (45), Devon Hall (53) e Kevin Hervey (57)
Avaliação: Sem escolha na primeira rodada, o Thunder selecionou três prospectos na segunda rodada do recrutamento. O primeiro deles, adquirido em uma troca com o Nets, foi o ala-armador Hamidou Diallo, uma das maiores decepções na última temporada do College. Prejudicado pela falta de espaçamento da equipe de Kentucky, ele foi caindo de produção ao longo da temporada e também caiu nas projeções do Draft. Diallo é um atleta de elite, extremamente ágil e explosivo, capaz de jogadas impressionantes em quadra aberta. Ele realmente destaca-se operando em transição, usando seus recursos atléticos para preencher linhas de passe em velocidade com a quadra aberta e até trazendo a bola, puxando contra-ataques. Muito bom finalizador, Diallo é capaz de fazer cestas atacando espaços tumultuados e absorver contato, em especial, por conta de seu sensacional controle corporal. A tendência é que o espaçamento da NBA ajude tremendamente o jogo de ataque à cesta e infiltrações do ala-armador. No entanto, ele carece de mais força física para aguentar o basquete profissional. Além disso, o seu controle de bola carece de maior refinamento. Tecnicamente, os arremessos de média e longa distância são o seu grande problema: sua mecânica de tiro é extremamente instável. Sua seleção de arremessos é bastante questionável e que reflete, em uma análise mais ampla, pouca consciência sobre suas limitações em quadra. Em suma, Diallo parece ser muito mais um atleta (que corre a quadra, salta alto) do que efetivamente um jogador de basquete (com técnica e instintos apurados em quadra).
Além de Diallo, o Thunder selecionou o ala-armador Devon Hall na pick 53 e o combo forward Kevin Hervey na 57. Hall é produto da Universidade de Virginia e foi um dos pilares da melhor defesa do College. Apesar de não ser muito atlético, ele faz de tudo um pouco: cria para os companheiros, toma boas decisões em quadra, é um grande marcador um contra um e arremessa com consistência do perímetro. Ele chega à NBA para fazer o papel de 3 and D. Das três apostas do Thunder, considero Hall a melhor delas.
Já Hervey foi um dos grandes cestinhas na última temporada do basquete universitário. Muito atlético e dono de uma envergadura invejável (2.22m), ele joga com muita agressividade, mas peca bastante na tomada de decisões, não tem um bom controle de bola e não chama a atenção na extremidade defensiva. Como ele vai se encaixar em um time cujo volume de ataque se concentra nas mãos de Russell Westbrook, Carmelo Anthony e, talvez, Paul George? Complicado…