Charlotte Hornets
Campanha na temporada 2016-17: 36-46, décimo primeiro colocado na conferência Leste
Playoffs: não se classificou
Técnico: Steve Clifford (quinta temporada)
GM: Rich Cho (sétima temporada)
Destaque: Kemba Walker
Time-base: Kemba Walker – Michael Kidd-Gilchrist – Nicolas Batum (Jeremy Lamb) – Marvin Williams – Dwight Howard
Elenco
15- Kemba Walker, armador
10- Michael Carter-Williams, armador
32- Julyan Stone, armador
4- Marcus Paige, armador
11- T.J. Williams, armador
3- Jeremy Lamb, ala-armador
1- Malik Monk, ala-armador
7- Dwayne Bacon, ala-armador
21- Treveon Graham, ala-armador
33- Terry Henderson, ala-armador
5- Nicolas Batum, ala
14- Michael Kidd-Gilchrist, ala
51- Luke Petrasec, ala
2- Marvin Williams, ala/ala-pivô
44- Frank Kaminsky, ala-pivô
8- Johnny O’Bryant, ala-pivô
24- Isaiah Hicks, ala-pivô
9- Mangok Mathiang, ala-pivô
40- Cody Zeller, ala-pivô/pivô
12- Dwight Howard, pivô
Quem chegou: Michael Carter-Williams, Julyan Stone, Marcus Paige, T.J. Williams, Malik Monk, Dwayne Bacon, Terry Henderson, Luke Petrasec, Isaiah Hicks, Mangok Mathiang e Dwight Howard
Quem saiu: Ramon Sessions, Brian Roberts, Briante Weber, Marco Belinelli, Christian Wood e Miles Plumlee
Revisão
O Hornets enfrentou decisões difíceis no ano passado, com diversos agentes livres importantes tornando-se agentes livres ao mesmo tempo e uma folha salarial que não permitia manter todos. Para poder assegurar a permanência dos atletas mais importantes (Batum, Zeller, Marvin Williams), a equipe abriu mão de alternativas no elenco e da profundidade de rotação – o que, meses mais tarde, revelaria ser fundamental para uma temporada muito decepcionante.
Após um sólido início de competição, com 19 vitórias em 33 jogos até a virada do ano, o time desmoronou ao passo em que lesões começaram a minar o elenco e sobrecarregar um quinteto titular que, naturalmente, já tinha que jogar minutos demais pela falta de banco de reservas mais qualificado. Vários titulares tiveram queda de produção e reposições duvidosas (Jeremy Lin por Ramon Sessions e Al Jefferson por Miles Plumlee, por exemplo) cobraram seu preço.
A verdade é que, embora o Hornets tenha mantido diversas das virtudes exibidas em temporadas anteriores (poucos desperdícios de posse, ritmo lento, segurança nos rebotes defensivos), a deficitária construção do elenco exigiu excessivamente de titulares que chegavam ao fim dos jogos passando a clara impressão de já não terem mais “gás” para decidir – afinal, o time já dependia deles para manterem a competitividade ao longo da noite.
Mais do que isso, esse deficitário plantel expôs as limitações de uma cultura de jogo excessivamente conservadora. Quando falta talento ou um elenco mais recheado, você precisa compensar com soluções técnicas e táticas mais arrojadas, criativas – algo que não é o ponto forte do (bom) treinador Steve Clifford. Assustadoramente, Charlotte não conseguiu achar saídas.
O resultado foi ruim e decepcionante na temporada passada, mas a maior ferida do Hornets foi notar que, mesmo interessado em ir aos playoffs e jogando da forma como queria, o time não conseguiu fazê-lo em um enfraquecido Leste.
O perímetro
Pela terceira temporada seguida, o perímetro titular do Hornets deverá ser formado por Kemba Walker, Michael Kidd-Gilchrist e Nicolas Batum. Teoricamente. O time já inicia a campanha com sua rotação comprometida pela recente lesão do último, que não deverá atuar até o fim do ano. Esse é um golpe mais duro do que parece: o ala francês é o ballhandler e criador secundário da ofensiva de Charlotte, “aliviando” a carga em Walker, dentro de uma rotação que ainda busca uma opção que se firme como armador reserva. O astro tende a ter dois meses bem puxados.
Jeremy Lamb vai assumir a vaga aberta no quinteto inicial, expondo uma situação não muito ideal. Primeiro, ele não repõe características específicas: ele não é um criador ou arremessador do calibre de Batum. A substituição, em segundo plano, ainda começa a expor certas lacunas do elenco: perde-se o principal reserva das posições dois e três, forçando um remanejamento de rotação e, provavelmente, manutenção jogadores com contratos não-garantidos (Treveon Graham e Luke Petrasec). Parece certo que Steve Clifford será obrigado a utilizar mais formações baixas, com dois armadores.
Falando em armação, Michael Carter-Williams é a grande aposta da franquia – com folha salarial bastante engessada – para a reserva de Walker. Ele é uma alternativa interessante por permitir mudar características do comando da ofensiva (armador mais alto e orientado para o passe) e também poder atuar, pontualmente, ao lado do titular pela boa estatura. Mas Julyan Stone, depois de uma experiência na Itália, oferece diversas dessas qualidades (menos passador) com uma vantagem atlética. Talvez, de fato, exista uma disputa aqui.
Disputa que pode ganhar o “reforço” de Malik Monk. O calouro tornou-se o teórico reserva imediato de Kidd-Gilchrist com a efetivação de Lamb, mas já exibiu certo potencial para iniciar o ataque a partir de pick and rolls e vem trabalhando nisso em treinamentos. Ele seria a opção que melhor emula as virtudes de Batum, mas sua presença em um perímetro já composto pelo “baixinho” Walker tende a criar sérias dificuldades defensivas. Essa limitação possibilita pensar em uma abertura para que outro novato, Dwayne Bacon (um legítimo steal na segunda rodada do draft), possa conseguir espaço na rotação.
Essa ausência de alas no elenco deverá forçar Clifford a retomar um expediente que tentou deixar no passado: utilizar Marvin Williams, hoje ala-pivô titular, como uma alternativa na posição três até a volta de Batum. A opção não é ruim, mas, como efeito colateral, estende “buracos” e remanejamentos da rotação para o frontcourt.
O garrafão
A tendência é que o Hornets siga usando Marvin Williams como ala-pivô espaçado, mas, agora, com um novo parceiro de garrafão: o recém-adquirido Dwight Howard assume a vaga de Cody Zeller. Encontrar um pivô de ofício “rodado”, que pudesse exercer a função, era prioridade do Hornets na offseason após a equipe ter perdido 17 das 20 partidas em que não contou com o ex-titular na última temporada.
O reserva natural de Williams é Frank Kaminsky, que oferece uma alternativa mais “típica” da posição: embora tenha bom arremesso, ele oferece arsenal para operar de costas para a cesta e marcar mais perto da cesta. Ele deverá ter controle desse espaço na rotação. Johnny O’Bryant vai ser outra opção para a reserva da posição, muito menos utilizada, aproveitada em situações bastante específicas por emular a habilidade de defender múltiplas posições do titular.
Zeller vai retornar para o banco de reservas com a chegada de Howard, mas pode oferecer alguma competição pela titularidade ao longo da campanha. O pivô de 24 anos vem da melhor temporada da carreira e dá alternativa de maior versatilidade defensiva e mobilidade para Clifford. O time pode estar acostumado a jogar com o jovem, mas o veterano é o tipo de atleta de garrafão que o técnico gosta de usar: uma presença física e impositiva na área pintada, que empurra defesas para perto de aro e domina a tábua defensiva.
Uma opção que Clifford certamente tentaria testar em algum momento e deve ser “acelerada” pelo desfalque de Batum é a formação alta, com Howard e Zeller em quadra impulsionado pelos sinais animadores no arremesso de média distância do segundo. Esse seria um recurso na contramão da NBA e do próprio Clifford – que gosta de espaçar a quadra até a linha de três pontos com seus alas-pivôs –, mas, em termos de talento, o Hornets aproveitaria melhor seu material humano assim.
Análise geral
O Hornets é uma equipe superior do que os resultados da temporada passada, em especial inserido em um Leste cada vez mais enfraquecido. A franquia “tropeçou” em seus próprios pés na última campanha, mas, na medida do que a folha salarial permitia, reforçou seu elenco de forma lógica para ter uma rotação mais robusta. Trata-se de aprender com os erros sem fazer loucuras. É um elenco que soa mais preparado do que antes, embora as profundas mudanças que a lesão de Batum já causa na rotação prove ainda seguir longe da perfeição.
O grande ponto positivo para o Hornets nesta “batalha contra o cobertor curto” é que, diferente de muitos times, Clifford conseguiu implantar uma identidade em Charlotte. Por mais monótona que seja. Estatísticas das últimas três temporadas ajudam a confirmar a imagem de um time ultraconservador em quadra: comete pouquíssimos erros de ataque, desacelera o ritmo de jogo, prioriza os rebotes defensivos e abdica da tábua ofensiva em nome de ter uma defesa sempre bem postada e que não faz faltas. A tônica é não ceder pontos fáceis, mesmo que a solidez da marcação custe maior fluidez no ataque.
Isso é possível, claro, porque a equipe possui um astro capaz de criar arremessos para si mesmo e outros no lado ofensivo da quadra em Walker. Por mais que seja baixo para a posição, ele é um habilidosíssimo jogador que possui forte senso de liderança e responsabilidade. Como o sistema, a estrutura, que permite que faça sucesso e tenha sido all-star no último ano vai ser abalada pela ausência de seu apoio na condução do ataque (Batum) e o ala-pivô arremessador (com Williams possivelmente remanejado)? Esse é o ponto de interrogação.
Um ponto de interrogação, provavelmente, muito pequeno para comprometer o rendimento do Hornets em um enfraquecido Leste. Charlotte quer ir aos playoffs, possui um time melhor do que seus resultados mais recentes indicam e melhorou em termos de opções de elenco. A verdade é que, depois das cinco franquias que deverão retornar aos playoffs da conferência em 2018, o Hornets talvez possua o melhor elenco no papel.
Previsão: sexto lugar na conferência Leste