O Denver Nuggets, oitavo colocado da conferência Oeste, com 25 vitórias e 31 derrotas, tem um dilema nesta semana em que se encerra o prazo para negociações na NBA. A equipe do Colorado tem dois caminhos a seguir até quinta-feira: um deles é fazer uma mini-reformulação no elenco, o que significaria, na prática, trocar alguns de seus veteranos ou jogadores que não estão nos planos para o futuro, e acumular escolhas de draft e atletas jovens. A outra opção é arriscar e trazer um jogador de calibre para assegurar o retorno aos playoffs após quatro temporadas. Já descartei a opção de não trocar ninguém porque acho muito improvável que isso aconteça.
Caso resolva seguir o primeiro caminho, o Nuggets vai deixar claro que estará reconstruindo o elenco em torno da estrela em ascensão Nikola Jokic. O pivô sérvio é uma das sensações da temporada e já alcançou o status de franchise player em Denver. No início de 2016/17, o técnico Mike Malone experimentou uma formação com Jokic e Jusuf Nurkic juntos em quadra. Não deu certo como esperado por causa da velocidade do jogo na NBA atual. Depois, Jokic foi para o banco e começou a produzir ótimos números. Já Nurkic foi caindo de produção até perder o lugar para o sérvio e desaparecer quase que totalmente da rotação no garrafão. Malone encontrou a formação ideal, com os alas Danilo Gallinari e Wilson Chandler se revezando na posição 4 (small ball) e Jokic atuando como o pivô principal e sendo o principal passador e finalizador do time. O QI de basquete do sérvio, que tem apenas 22 anos, é assustador. Ele compensa a falta de atleticismo com um pacote de habilidades de se tirar o chapéu. Realmente, Jokic é um jogador especial.
Com Nurkic insatisfeito por ter perdido espaço no time, o Nuggets resolveu trocá-lo com o Portland Trail Blazers. Em contrapartida, o time de Denver recebeu o contrato expirante do também pivô Mason Plumlee. O novo reforço chega à equipe para ser o reserva imediato de Jokic. Inicialmente, Plumlee não deverá renovar com o time em julho, já que a tendência é que o jogador receba ofertas mais lucrativas. O Nuggets não vai fazer loucuras para estender o contrato de um pivô reserva.
Os jogadores com mais rodagem como Gallinari (28), Chandler (29), Kenneth Faried (26) e Jameer Nelson (34) são valiosas moedas de troca. O ala italiano tem a opção de deixar o último ano de contrato e se tornar agente livre em julho. Deve pedir uma boa grana para renovar. Ele é o favorito a deixar o time nas próximas 72 horas, justamente pelo Nuggets não correr o risco de perdê-lo “de graça” na offseason. Chandler e Faried têm contratos garantidos até 2019 e, combinados, vão receber US$ 51,5 milhões nas próximas duas temporadas. Dado o aumento do teto salarial da NBA, eu diria que são contratos razoáveis. Já Nelson, o mais veterano da equipe, seria o armador reserva ideal para qualquer contender. Ele ainda é produtivo em quadra, tem uma liderança positiva junto ao elenco e seu contrato é uma barganha (US$ 9,2 milhões contando 2016/17 e a próxima temporada).
Outro que poderia entrar no pacote de disponíveis é Emmanuel Mudiay, que não dá sinais de evolução em seu segundo ano como armador principal da equipe (continua não cuidando bem da bola e o arremesso segue inconsistente). Não sei se estou me precipitando, mas não vejo o congolês com capacidade de ser a primeira opção na posição 1 em qualquer time da liga, em um futuro não muito distante, ainda mais com a classe de armadores do draft deste ano pedindo passagem. Mas Mudiay tem 20 anos e apenas uma temporada e meia na NBA. Talvez seja melhor para o jogador e para o Nuggets que ele seja trocado. A saída dele significaria mais espaço ao novato Jamal Murray, em quem a franquia aposta muito.
Ao negociar pelo menos um dos atletas citados (todos estão envolvidos em rumores de negociações nas últimas semanas) por escolha (s) de draft e jovens com potencial, o GM Tim Connelly teria a chance de moldar, com calma, um grupo ao redor de Jokic. Seria um planejamento de médio e longo prazo, sem pressão por resultados imediatos, sem pressão pela vaga nos playoffs este ano. Do atual elenco, além de Jokic, eu tentaria manter Murray (19), Gary Harris (22), Malik Beasley (19), Will Barton (25) e Juancho Hernangómez (20). Até o momento, o Nuggets tem garantidas uma escolha de primeira rodada e duas no segundo round do recrutamento deste ano.
Nas últimas duas temporadas, Connelly foi agressivo na trade deadline. À exceção da troca que levou JaVale McGee ao Philadelphia 76ers, que custou uma escolha de primeiro round à equipe (por causa do contrato indigesto do pivô), o GM do Nuggets procurou acumular ativos enquanto negociava veteranos para times com pretensões nos playoffs. Connelly mandou Arron Afflalo para o Blazers e Randy Foye para o Oklahoma City Thunder, e recebeu Will Barton (que veio a ser um dos principais reservas da equipe), uma escolha de primeira rodada (Beasley) e duas escolhas de segunda rodada. Fica a expectativa se ele vai manter a postura nesse prazo final para trocas.
Contratos dos 14 jogadores do Nuggets
Kenneth Faried: US$ 38,8 milhões garantidos até 2019
Wilson Chandler: US$ 36 milhões garantidos até 2019
Darrell Arthur: US$ 15,4 milhões garantidos até 2018 e uma player option de US$ 7,4 milhões em 2018/19
Danilo Gallinari: US$ 15 milhões garantidos nesta temporada e uma player option de US$ 16,1 milhões em 2017/18
Jamal Murray: US$ 10 milhões garantidos até 2019 e uma team option de US$ 4,4 milhões em 2019/20
Jameer Nelson: US$ 9,2 milhões garantidos até 2018
Will Barton: US$ 7 milhões garantidos até 2018
Mike Miller: US$ 7 milhões garantidos até 2018
Emmanuel Mudiay: US$ 6,6 milhões garantidos até 2018 e uma team option de US$ 4,3 milhões em 2018/19
Malik Beasley: US$ 5,1 milhões garantidos até 2019 e uma team option de US$ 2,7 milhões em 2019/20
Gary Harris: US$ 4,2 milhões garantidos até 2018
Juancho Hernangómez: US$ 4 milhões garantidos até 2018 e uma team option de US$ 2,2 milhões em 2018/19
Nikola Jokic: US$ 2,7 milhões garantidos até 2018 e uma team option de US$ 1,5 milhão em 2018/19
Mason Plumlee: expirante de US$ 2,3 milhões
A segunda opção
Malone e os dirigentes do Nuggets disseram algumas vezes, ao longo da temporada, que o objetivo era levar a equipe de volta aos playoffs. Com a boa fase do time, explicada pela ascensão de Jokic, e a oitava melhor campanha no Oeste, o sonho de chegar à pós-temporada ficou mais próximo. Mas a troca realizada nesse domingo entre New Orleans Pelicans e Sacramento Kings pode ter sido um balde de água fria nas pretensões da franquia de Denver. O Pelicans, atual 11º colocado do Oeste (23 vitórias e 34 derrotas), está a dois jogos e meio de alcançar o Nuggets e, agora, conta com o reforço do pivô DeMarcus Cousins. Se não fortalecer o elenco nesta trade deadline, acho difícil o time de Denver manter a oitava posição. Até porque Nuggets e Pelicans se enfrentam três vezes até o fim da temporada regular.
Connelly e todos os executivos da franquia devem estar avaliando se essa é a hora de arriscar e tentar uma grande troca. Nomes como Jimmy Butler (Chicago Bulls) e Paul George (Indiana Pacers) levariam o time de Denver a outro patamar. O Nuggets tem as moedas de troca necessárias para arriscar e US$ 19 milhões de espaço na folha salarial para acomodar um grande contrato. Um pacote com alguns dos nomes citados acima (à exceção de Jokic, obviamente) mais escolhas de draft, pode perfeitamente seduzir Bulls ou Pacers, no caso dessas franquias realmente estarem dispostas a abrirem mão de seus principais jogadores. O Nuggets também pode esperar a próxima offseason para tentar um movimento mais arriscado.
Classificação da Conferência Oeste
1- Golden State Warriors (47-9)
2- San Antonio Spurs (43-13)
3- Houston Rockets (40-18)
4- Los Angeles Clippers (35-21)
5- Utah Jazz (35-22)
6- Memphis Grizzlies (34-24)
7- Oklahoma City Thunder (32-25)
8- Denver Nuggets (25-31)
9- Sacramento Kings (24-33)
10- Portland Trail Blazers (23-33)
11- New Orleans Pelicans (23-34)
12- Dallas Mavericks (22-34)
13- Minnesota Timberwolves (22-35)
14- Los Angeles Lakers (19-39)
15- Phoenix Suns (18-39)
Inegavelmente, a classificação à pós-temporada serviria para dar rodagem aos jovens do time, seria importante para que uma cultura de vitórias começasse a ser implementada em Denver e ainda renderia dinheiro e visibilidade para a franquia. Mas os torcedores ou os próprios dirigentes do Nuggets devem estar se perguntando: vale a pena chegar aos playoffs na oitava posição e ser varrido pelo Golden State Warriors na primeira rodada? Não seria melhor apostar na loteria de um draft tão recheado de talentos?
Se eu fosse o GM do Nuggets, tentaria uma troca por Butler. O ala de 26 anos tem US$ 56 milhões garantidos até 2019 e uma player option de US$ 19,8 milhões em 2019/20. Caso não desse certo, iria atrás de George. Assim como Butler, a estrela do Pacers tem 26 anos, mas seu contrato é de US$ 58,5 milhões garantidos até 2019. Em ambos os casos, o Nuggets teria uma estrela por pelo menos duas temporadas inteiras ao lado de Jokic. Agora, se nenhuma troca grande se concretizasse, tentaria trocar alguns veteranos (Gallinari e Chandler, principalmente) e Mudiay.
A batata quente está nas mãos de Connelly. Resta saber se ele faz pequenas trocas com o objetivo de acumular ativos e moldar um time jovem em torno de Jokic ou se arrisca e monta um pacote para atrair um grande nome. Ou se ele derruba o articulista e não faz absolutamente nada. Façam suas apostas.
Legenda
Player option: o atleta pode optar por deixar o último ano de contrato e testar o mercado como agente livre
Team option: a equipe pode optar por não exercer o último ano de contrato com o atleta