Quem diria, há algumas semanas, que o Dallas Mavericks seria o dono da pior campanha da NBA? Acho que nem o torcedor mais pessimista da franquia esperava isso. Neste primeiro mês da temporada 2016/17, o time texano, que tem a sexta maior folha salarial da liga, ganhou apenas dois dos 14 jogos que disputou. Com um plantel mediano, incluindo sete atletas com 30 anos ou mais, e um draft cheio de talentos que está por vir, a franquia precisa começar a pensar na reconstrução do elenco.
Obviamente, os desfalques dos lesionados Dirk Nowitzki, Deron Williams e Devin Harris contribuem para essa campanha ruim. A baixa mais recente foi o porto-riquenho J.J. Barea. Mas não são apenas as lesões que estão minando o time de Dallas. O técnico Rick Carlisle, que, na minha opinião, é um dos melhores da liga, fez um pequeno milagre no ano passado ao levar o Mavs aos playoffs, com a sexta melhor campanha da conferência Oeste (42 vitórias e 40 derrotas). Lembre-se, o time do ano passado tinha Raymond Felton e Zaza Pachulia entre os titulares.
Em 2016/17, o Mavs está sendo liderado pelo principal reforço da equipe na offseason. O ala Harrison Barnes, que assinou um vantajoso contrato com a franquia, é o cestinha do time e já se coloca em condições para brigar pelo prêmio de jogador que mais evoluiu (MIP). Com Nowitzki no estaleiro, o ex-jogador do Golden State Warriors assumiu a condição de líder da equipe em quadra e apagou as más apresentações da pré-temporada. Barnes, que pode atuar tanto na posição 3 quanto na 4, é figura-chave na reconstrução do time.
Nowitzki, o maior jogador da história da franquia, parece que vem para sua última temporada na NBA. Não dá para cobrar do alemão, no alto de seus 38 anos, que ele carregue o time nas costas como fez em outros tempos. Para se ter uma ideia da importância de Nowitzki, desde que ele chegou a Dallas, há 18 anos, a equipe só ficou de fora dos playoffs em três oportunidades (1999, 2000 e 2013). Além disso, ele liderou o time na conquista do título inédito em 2011. Só que não dá para brigar com uma coisa: as condições físicas do ala-pivô já não são das melhores, tanto que ele disputou apenas quatro partidas em 14 possíveis. Ficarei surpreso se ele atuar em mais de 50 jogos na temporada.
Não dá para esperar muito também dos outros veteranos da equipe. Williams, de 32 anos, definitivamente, não é nem sombra daquele jogador que nos encantou na época de Utah Jazz. As seguidas lesões em ambos os tornozelos limitam (e não é de hoje) e muito o rendimento do armador. Já Harris, de 33 anos, ainda nem atuou na temporada devido a uma lesão no dedão do pé direito. A verdade é que ambos estão em declínio em suas carreiras.
Devido aos desfalques dos veteranos, Carlisle está dando tempo de quadra aos jovens Justin Anderson, Dwight Powell e Dorian Finney-Smith. Até o momento, nenhum deles me chamou a atenção na tábua ofensiva, mas na defesa eles estão sendo muito úteis. Muita força física, atleticismo e juventude a serviço do Mavs. Carlisle precisa trabalhar, sobretudo, a questão dos arremessos com o trio citado (eles estão chutando abaixo de 39%). Outro jogador que vem tendo espaço é o armador Seth Curry, que ainda é muito irregular. Aos 26 anos, o irmão mais novo de Stephen Curry tem a sua grande chance na NBA. Vamos ver se ele vai aproveitar.
Antes do início da temporada, o Jumper Brasil publicou a previsão de que o Mavs seria o décimo colocado do Oeste. Até o momento, o rendimento está aquém do que esperávamos. O time de Dallas é o pior da liga em: eficiência ofensiva (95.7 pontos por 100 posses de bola), média de pontos anotados (90.7), assistências (16.8), rebotes (40.2), aproveitamento em bolas de três pontos (31.0%), aproveitamento nos arremessos de quadra (40.7%) e cestas por partida (33.6).
Com tantos números ruins, três estatísticas se salvam: o Mavs é o nono em eficiência defensiva (101.5 pontos sofridos a cada 100 posses de bola), o sétimo em média de pontos sofridos (97.9) e o que menos sofre pontos no garrafão (35.2). Muito desse bom desempenho na defesa se deve ao pivô australiano Andrew Bogut, que continua sendo um dos melhores protetores de aro da NBA, e ao ritmo lento do time em quadra (94.1 posses de bola por 48 minutos, segunda equipe que mais cadencia o jogo na liga).
Com esse plantel, o Mavs não vai para os playoffs. É preciso pensar, desde já, em negociações para rejuvenescer o time, dar um alívio à folha salarial e angariar escolhas de draft. Três veteranos do elenco (Bogut, Williams e Harris) têm contratos expirantes e já passaram da casa dos 30 anos. Eles podem perfeitamente ser moedas de troca para algum contender. Outro que pode ser negociado é o ala-armador Wesley Matthews, que ainda não repetiu em Dallas o bom desempenho da época de Portland Trail Blazers. Nowitzki é um caso à parte. Ele possui contrato garantido até o fim da temporada, mas a franquia tem a opção de estender o vínculo por mais um ano. Sem chance do ala-pivô ser trocado. Começou e vai encerrar a carreira na mesma equipe, algo raro de se ver na NBA e digno de aplausos.
Jogadores com contratos expirantes
Dirk Nowitzki (38 anos): US$25 milhões e uma team option de US$ 25 milhões
Andrew Bogut (31 anos): US$11 milhões
Deron Williams (32 anos): US$9 milhões
Devin Harris (33 anos): US$4,3 milhões
Salah Mejri (30 anos): US$874 mil
Nicolás Brussino (23 anos): US$543 mil
Jogadores com contratos não garantidos
Dorian Finney-Smith (23 anos): US$543 mil nesta temporada
Jonathan Gibson (29 anos): US$470 mil nesta temporada
Jogadores com contratos garantidos na próxima temporada
Harrison Barnes (24 anos): US$69,4 milhões até 2019 e uma player option de US$ 25,1 milhões em 2019/20
Wesley Matthews (30 anos): US$53,7 milhões até 2019
Dwight Powell (25 anos): US$27 milhões até 2019 e uma player option de US$ 10,3 milhões em 2019/20
J.J. Barea (32 anos): US$11,7 milhões até 2019
Seth Curry (26 anos): US$5,9 milhões até 2018
Justin Anderson (23 anos): US$3,1 milhões até 2018 e uma team option de US$ 2,5 milhões em 2018/19
A.J. Hammons (24 anos): US$2,6 milhões até 2019
- Caso Dirk Nowitzki atue por mais uma temporada, o Mavs terá cerca de US$92 milhões comprometidos na folha salarial em 2017/18
- Caso Dirk Nowitzki se aposente das quadras, o Mavs terá cerca de US$67 milhões comprometidos na folha salarial em 2017/18
- O teto salarial da NBA em 2017/18 deverá ser de US$102 milhões.
O fato é que a aposentadoria de Nowitzki está batendo à porta e o Mavs tem que estar preparado. Por isso, a ideia de reformulação do elenco tem que ser colocada em prática o mais breve possível, e não do jeito que o dono da franquia quer. Mark Cuban (foto), que parece acreditar que o time possa chegar aos playoffs, disse há alguns dias que o Mavs não vai tankar até o mês de março, quando estará disputando o jogo 70 na temporada. O período final para trocas (trade deadline) será em 23 de fevereiro. Até lá, a equipe de Dallas tem que negociar ao menos dois de seus veteranos. Não dá para esperar a próxima offseason.
Enfim, a direção do Mavs precisa se esforçar para angariar mais uma escolha de primeira rodada no próximo recrutamento, que tem tudo para ser o melhor dos últimos anos, sobretudo no que se refere à quantidade de armadores talentosos (destaque para Markelle Fultz, Lonzo Ball, Dennis Smith Jr. e De’Aaron Fox). Com a aposentadoria do maior ídolo da equipe, as picks no Draft de 2017 (até agora uma de primeira e outra de segundo round), a folha salarial mais enxuta e menos veteranos no elenco, a franquia de Dallas estará iniciando um processo de reconstrução que promete ser traumático e de longo prazo. É importante que o GM Donnie Nelson e o técnico Rick Carlisle contem com o apoio do dono da franquia para iniciar o rebuild. Acorda, Mark Cuban!