Zion Williamson – O Outlier da NBA

Matheus Gonzaga e Pedro Toledo trazem mais uma edição da coluna Layups & Threes

Zion Williamson pelicans recuperação Fonte: Ned Dishman / AFP

Zion Williamson chegou à NBA com uma expectativa monstruosa, sendo visto por muitos como “o melhor prospecto desde LeBron James” e, com sua vinda, rapidamente se formou uma grande expectativa em torno do New Orleans Pelicans. No ano de novato, Williamson foi limitado a 24 jogos, e, por mais que tenha jogado extremamente bem (22.5 pontos em 61% de True Shooting%), era muito cedo para dizer algo sobre o jogador que viria a ser, especialmente devido a dúvidas sobre sua saúde.

Porém, nesta temporada, Zion tem se mantido saudável e se mostrado digno das expectativas recebidas antes do draft, ao ter, com apenas 20 anos, uma temporada histórica em diversos sentidos. Aqui, vamos explorar o fenômeno Zion Williamson e como ele tem sido uma estrela totalmente única na NBA atual, através dos números.

Vivemos na era dos três pontos – jamais se arremessou tanto do perímetro e é considerado praticamente um requisito que as grandes estrelas no basquete atual tenham um chute no mínimo confiável. Zion é a exceção. No gráfico abaixo, vemos os jogadores de maior usage rate na liga (eixo x) e o percentual dos seus arremessos tentados que vêm de três pontos (eixo y):

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Arte: Layups & Threes

Nenhum deles tem uma proporção de arremessos tentados de três pontos menor que Williamson  (míseros 2.6%) – e mais – sua diferença para o segundo colocado (Jimmy Butler) é bem significativa, e bem próxima à do próprio Butler para Collin Sexton (oitavo). 

Mas Zion é extremamente eficiente. Sua True Shooting% de 65.6% é a segunda maior da liga dentre os jogadores de alto volume, atrás apenas dos 66% de Stephen Curry. Apesar de serem jogadores totalmente diferentes, Williamson e Steph têm algo em comum: a dominância em uma região extremamente valiosa da quadra – se para Curry é o perímetro, para Zion é o garrafão.

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Muito se fala da bola de três pontos quando o assunto é analytics, mas a realidade é que bandejas, enterradas e lances livres são ainda mais valiosos – e todos eles são exclusivamente ou mais frequentemente gerados ao atacar a cesta. O ala-pivô do Pelicans é uma aberração no quesito.

Como bem apontou Seth Partnow em sua coluna no The Athletic, nenhum jogador na liga nos últimos 15 anos chegou ao aro com tanta facilidade quanto Zion (são cerca de 20 tentativas por 100 posses de bola!). Ainda que seu aproveitamento de 65% não seja de elite comparado a outros jogadores, gerar 1.3 pontos por arremesso em volume gigantesco é quase um cheat code de basquete. Williamson atacando a cesta é algo tão devastador quanto Stephen Curry arremessando de três! 

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Além disso, há a questão de faltas cavadas: segundo o pbpstats, a pick 1 do draft de 2019 é o sexto jogador com a maior shooting foul drawn rate de toda a NBA: sofrendo uma falta em 23.16% de suas tentativas de finalizar. Por mais que não seja um grande batedor de lance livre, com seu aproveitamento atual de cerca de 70% de FT, Zion gera 1.4 pontos por posse, algo muito valioso e que dificulta ainda mais pará-lo.

Apesar das famosas enterradas, essa dominância do prodígio vem principalmente através de bandejas. O gráfico abaixo cruza o número de bandejas tentadas (eixo x) com o aproveitamento nelas (eixo y). 

Arte: Layups & Threes

O gráfico chega a ser ridículo! Nenhum outro jogador da NBA tentou mais de 350 bandejas – Zion tentou 600! E seu aproveitamento, ainda que seja apenas ok dentre esses jogadores com muitas tentativas, é de 60%, o que traz 1.2 pontos por arremesso –  isto é – ataque extremamente efetivo.

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E as próprias enterradas também vão além do espetáculo, trazendo valor para a equipe:

Arte: Layups & Threes

Zion é o terceiro jogador que mais tentou enterradas na liga, e converte cerca de 90% das mesmas, 1.8 pontos por arremesso em volume relativamente alto. Novamente, cheat code.

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Para chegar nesses arremessos, Zion age de diversas formas: seja em isolação (1.01 PPP em 2.6 posses por jogo), comandando pick and rolls como armador (1,05 PPP em 3 posses por partida – aproveitamento melhor que 86% da liga) ou agindo como roll man (1.21 PPP). Em seus toques no post, ele consegue 0.99 PPP, nada demais, mas bem acima da média da jogada. Por outro lado, seus cortes para a cesta são devastadores: Williamson é o terceiro jogador na NBA que mais os executa, e gera 1.46 PPP na  jogada.

Além disso, não trata-se apenas de um pontuador: a estrela de New Orleans  tem se mostrado um iniciador ofensivo em potencial, criando cada vez mais do drible e passando melhor (suas 4.5 assistências por jogo de fevereiro para cá são notórias para sua posição).

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Defensivamente, Williamson tem sido mediano – na realidade, um pouco abaixo da média – métricas como D-LEBRON e D-RAPTOR o colocam como um defensor negativo, mas não terrível. Ele não irá contribuir para um bom desempenho defensivo e até irá prejudicar (principalmente por ser um protetor de aro bem abaixo da média – permitindo 63.4% de aproveitamento perto da cesta para adversários), mas também não é o tipo de jogador que impede  uma boa defesa de performar.

O Pelicans tem sofrido na temporada e pode nem ir ao play-in, mas não por culpa de Zion Williamson – ele tem sido uma superestrela ofensiva, e com ele em quadra, NOLA tem uma eficiência ofensiva de 115.3, marca que seria um dos dez melhores ataques da história, caso mantida por toda uma temporada! Sim, New Orleans tem ido muito mal defensivamente, especialmente nos minutos do ala-pivô (eficiência defensiva de 114.6). Mas no geral, a equipe tem saldo positivo (+0.5) com o jovem em quadra, e negativo (-2.5 sem). 

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Há furos no jogo de Zion – sua defesa é de fato ruim, sua falta de um arremesso do perímetro talvez seja exposta na pós-temporada (quando o Pelicans a alcançar) e seu jogo enquanto criador ainda precisa de mais polimento. Mas isso é pouco perto do positivo: um jogador dominar o garrafão no nível geracional de Williamson já transforma ataques. Quanto o jogador em questão ainda está em sua primeira temporada saudável e tem apenas 20 anos, é um sinal de um jogador possivelmente histórico por vir. Caso New Orleans construa bem ao redor de sua estrela, eles têm um futuro brilhante.

* Por Matheus Gonzaga e Pedro Toledo (Layups & Threes)

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